Por Gustavo Mavie
O grosso das mães e pais moçambicanos e, dum modo geral, todos os mais velhos, queixam-se recorentemente pelo fraco empenho nos estudos e no trabalho árduo da maioria dos jovens de hoje, um fenómeno que nos últimos dias foi alvo duma análise crítica do nosso escritor-mor Mia Couto, através dum artigo que circulou nas redes sociais que intitulou Tinha de Acontecer.
É um problema intrigante, porque não faz sentido que seja esta geração de jovens, que tem acesso facilitado ao conhecimento porque basta um simples click, para que encontrem tudo o que lhes levaria a concluir todos os seus níveis escolásticos sabendo muito do que deviam saber, mas que, entretanto, a maioria termina sabendo pouco ou nada. Isto levou o Prémio Nobel da paz sul-africano, Desmond Tutu, a dizer há uns anos que se ele voltasse a ser jovem agora, faria mil e uma coisas a mais, justamente porque nos dias que correm, há uma grande facilidade de se ter acesso ao conhecimento de todas as áreas da vida. Eu assino por baixo desta asserção de Tutu, porque nos tempos em que eu estudei, não havia Internet e as livrarias andavam às moscas como nas bibliotecas havia poucas cópias para tanto estudante. Contrariamente agora que há bibliotecas cheias de livros como há tantas livrarias quanto lojas que agora vendem boa roupa que está bonitando as nossas meninas, que acabou levando um colega brasileiro, Juarez da Maia, que outrora viveu em Moçambique nos tempos da guerra dos 16 anos em que tudo faltava, a dizer-me há poucos anos que agora as meninas moçambicanas são tão bonitas e lindas como as do Brasil.
Para dissipar-lhe o engodo, disse-lhe que as mulheres moçambicanas sempre foram lindas e bonitas, e só pareciam feias porque no tempo da guerra murchavam de fome e não tinham boa roupa para catalisarem essa sua beleza. É por isso que devemos todos encorajar ainda mais o presidente Nyusi, a fazer tudo que esteja ao seu alcance, para evitar a reactivação da guerra no país, como o fez no último dia 19, quando voltou a Gorongosa para mais um diálogo com Dhlakama.
Alguns jovens de hoje, para não dizer a maioria, entram nas universidades sem saberem ler, escrever e contar correctamente, e depois ‘’concluem’’ o próprio ensino superior com muito pouco saber armazenado nas suas cabeças, e sem terem adquirido nenhuma habilidade que os permita fazer de facto o ofício de que se dizem licenciados, mestrados ou doutorados. Em vez de ocuparem o seu tempo estudando, o ocupam vendo vídeos nos seus smartphones ou tablets. Não usam estes meios para ter acesso à Internet e apreenderem ou assimilar os múltiplos saberes que nela está armazenado.
O mais que trazem das universidades são os canudos ou títulos de doutores ou engenheiros, mas o saber real que é bom, NADA. E aqui levanta-se outro problema não menos intrigante – que é o de que quem afinal passa esses estudantes se não sabem nada. A resposta a esta pergunta tenho-a eu e a darei ao longo deste artigo.
Mia Couto identifica correctamente o que faz com que haja muitos jovens que pouco ou nada sabem, não obstante tenham sido diplomados em universidades e outras instituições que se dizem de nível superior, ao apontar que as excessivas boas condições que lhes foram/ e ou são outorgados pelos seus pais é que lhes matam as mentes e as suas capacidades físicas. Bem diz Mia que tais jovens estão agora à rasca, porque não sabem fazer nada e muitos deles não conseguem vender o seu falso saber nesta era da ECONOMIA do CONHECIMENTO e da REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Mesmo o filósofo e motivador psicológico Napoleon (Napoleão) Hill, vinca que a falta duma actividade que nos leva a pensar intensamente atrofia e seca as mentes devido ao seu desuso ou falta dum uso criativo. Hill vinca que tal como o corpo para estar saudável e dinâmico tem que se exercitar, também as nossas mentes devem ser exercitadas através do pensamento criativo, para que estejam sempre activas e injectem no nosso corpo forças para executarmos as nossas tarefas ou missões. Ora, para quem logo de criança ou jovem passa a ter tudo sem ter que pensar porque não é obrigado a fazer nada pelos seus pais, o resultado é ter a tal mente atrofiada, murcha ou seca que não pode já estar em condições de resolver seja o que for. Já o escritor suíço Stefan Zweig diz que todo o sofrimento é a formação de um grande Homem. O mesmo Napoleon Hill diz, por outras palavras, que nós homens aprendemos muito das ADVERSIDADES E DAS DERROTAS, não obstante sejam algo que não gostamos que nos aconteçam.
Para vincar melhor, Napoleon Hill destaca, no seu livro Your Right to be Rich, esta asserção: Ninguém gosta de estar mergulhado em adversidades, circunstâncias desagradáveis, ou derrota. Mas depois duma cuidadosa consideração das reais circunstâncias e das leis da natureza, acredito agora que é imperioso que passemos pela adversidade, derrota, fracasso e oposição ou mesmo sofrimento. Sei que as pessoas não gostam da derrota ou adversidade, mas ainda assim estou compelido a dizer-te que se não tivesse sido a adversidade porque passei durante os primeiros anos da minha vida, não estaria diante de vocês aqui vos falando esta noite. Não teria completado esta filosofia que atinge milhoes de pessoas em todo o Mundo. Foi em função da oposição com que me enfrentei que fez crescer a minha psicose, sabedoria, e habilidade de completar esta filosofia e levá-la às pessoas nas condições em que está agora. Sabem que o gosto pelo mais fácil é o que leva alguns rios a se desviarem do curso normal que deviam ter e se tornam curvadinhos e os certos homens desonestos ou batoteiros? O comum dos seres humanos não quer pagar o preço do esforço intenso, independentemente do que estejam a fazer. Gostamos que as coisas nos venham pela maneira mais fácil. Mas temos que saber que a mente é tal como qualquer parte física do nosso corpo. Atrofia-se e fica amorfa ou seca e se torna fraca através do desuso. Uma das melhores coisas que te podem acontecer é ser confrontado por problemas, circunstancias, e incidentes que te forcem a pensar, porque sem um motivo, não poderás de alguma forma pensar tanto assim.
Devido a este nada fazer, as crianças e jovens começam a ir às escolas já com as suas mentes atrofiadas e secas, o que é como quem desenvolveu já uma tendência de preguiça física, que o impede de fazer seja o que for para manter a sua vida minimamente bem. O que agrava a sua situação é que tudo o que deviam fazer mandam fazer já que têm empregados e empregadas à sua disponibilidade. Eles superam mesmo os filhos dos pais dos países ocidentais, porque estes só têm direito a babas quando ainda são bebés, porque assim que atinjam a idade que os permitem saber o que é bom e mau, deixam de tê-las e passam a fazer tudo por si próprios. Entre nós há jovens que não sabem sequer arrumar a sua própria cama, como não sabem fritar um ovo, muito menos cozinhar o prato que lhes é predilecto.
No fundo, são as tais pessoas que John Maxwell diz que morrem logo na juventude, e ficam à espera pelo do dia do seu enterro. São os tais de que, segundo Guebuza, estão já cansados sem terem feito nada. Até as teses como que se ‘’licenciam’’ ou se ‘’doutoram’’ copiam-nas da Internet, e o mais que fazem são modificações para que não sejam reconhecidas pelos seus professores.
Outros as encomendam e pagam com as super-sobras das avultadas mesadas que recebem dos seus endinheirados pais. E assim passam a vender sem sucesso os seus falsos canudos. Os que têm mais sorte são nepotísticamnente nomeados a cargos de chefia e direcção para mandar aos que de facto deviam estar à frente das instituições que eles causam o seu afundamento, devido à sua incapacidade e incompetência. Claro que os culpados não são eles, mas os que os recomendam aos nomeantes, são os que os nomeiam na base do nepotismo, ou os que os mantém nessas cargos sabendo que não sabem nada, como dizia me Michael Robinson em 1986. Quanto aos que não têm padrinhos que os empreguem mesmo não sabendo nada, passam a vida a acusar o Governo de não criar empregos ou nada fazer pelo seu bem-estar, e vão ao ponto de culpabilizar os que nos libertaram do diabólico colonialismo português. Já os EUA tiveram este tipo de jovens e levaria o presidente John Kennedy a dizer-lhes que no lugar de se queixarem da América, deviam antes se perguntarem o que eles fizeram para a América! Pelo menos os que nos libertaram do colonialismo fizeram algo por Moçambique e por isso não merecem insultos.
Estes jovens indolentes com aversão aos estudos e ao trabalho árduo passam a ter como canção da sua falsa causa libertarem-se dos libertadores! Se é verdade a tese do autor do livro Os Espíritos, Allan Kardak, de que os mortos permanecem sempre espiritualmente no nosso convívio, imagino quão zangados e frustrados devem estar o Professor Doutor Eduardo Mondlane, Samora Machel e todos outros heróis já falecidos e ainda vivos que se sacrificaram para que fossemos independentes!
FALSAS UNIVERSIDADES AUMENTAM O NUMERO DE JOVENS COM CANUDOS QUE NÃO SÃO PROVA DO QUE APRENDERAM
A criação de falsas universidades pelos que só querem acumular fortunas veio piorar o problema da proliferação de jovens com falsos graus de nível superior, e esta é em parte a resposta à pergunta que deixei em aberto no começo deste artigo, em que indagava quem passa estes jovens sem que saibam do ofício que se dizem graduados. Outra das respostas é que mesmo nas universidades que são de facto, o nepotismo fez com que haja nelas legiões de professores ineptos que estão produzindo a sua burrice à sua imagem e semelhança em milhares de jovens. Conheço muitos desses ineptos que passam a vida a proclamar-se como académicos ou docentes universitários, mas que na verdade não dariam para porteiros das mesmas. É a tal dumbanenguização do ensino superior que Leonel Magaia denunciou também através dum artigo que foi largamente disseminado nas redes sociais. Pena que não haja ninguém de direito ou dever para pôr freio ou termo a esta banalização do que é o melhor e mais potente MOTOR para levar um Pais ao seu desenvolvimento e prosperidade – que é o ENSINO SUPERIOR. Foi este ensino que alavancou os países que se desenvolveram, incluindo a China que foi capaz de se super-desenvolver nos último 30 anos, porque investiu seriamente na educação seria de milhões de centenas das suas crianças e jovens durante mais de 50 anos, período em que quem se matriculasse numa universidade não era sequer permitido casar-se antes de concluir o seu curso.
Sei que foi como que escrever na água porque este artigo não será lido pelos que deviam – que são os tais jovens que não são dados ao estudo e ao trabalho. Não vão ler porque as suas mentes estão tão atrofiadas e secas pelo tal desuso e por isso acham que os que Iêem mesmo livros de 100 a 300 páginas são verdadeiros loucos. Se ler muito é de loucos, então países como a Grã-Bretanha e Rússia têm muitos loucos. Nestes países até lêem-se livros de 600 a 1.000 paginas! Os seus povos lêem porque sabem que os livros são os armazéns do conhecimento que os municia de ferramentas com que transformam os seus países em paraísos da Terra como se fossem deuses. Já Papini dizia que se estudarmos muitos sabermos tudo e interpretaremos todos os fenómenos como se fossemos deuses tambem. Com jovens de preguiça mental, Moçambique nunca sairá da cepa torta em que se encontra. Já Martin Luther King dizia que o Estado de Abundância não é algo que se encontra, mas que se cria.
gustavomavie@gmail.com
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