Wednesday, February 28, 2018

Mcel tem sido delapidada desde 2012, dívidas ascendem a 12,8 biliões de meticais

Mcel tem sido delapidada desde 2012, dívidas ascendem a 12,8 biliões de meticais
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Escrito por Adérito Caldeira  em 28 Fevereiro 2018
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@VerdadeOs Relatórios e Contas da Moçambique Celular (Mcel) analisados em exclusivo pelo @Verdade revelam que desde 2012 a empresa estatal, comandada pelo político Teodato Hunguana, foi deliberadamente delapidada e enfraquecida tendo acumulado até 2016 uma dívida líquida de 12,8 biliões de meticais da qual 5,1 biliões são responsabilidades com fornecedores e 3,8 biliões compromissos com a banca nacional e estrangeira. Paradoxalmente no ano em que a Mcel começou a perder negócio a Vodacom Moçambique (VM), empresa onde o ex-Presidente Armando Guebuza e antiga primeira dama Graça Machel têm interesses comerciais, iniciou o seu crescimento até a actual liderança do mercado de telefonia móvel.
“As telecomunicações em Moçambique desencadearam uma abrupta expansão tecnológica entre 2012 e 2014, com maior ênfase para a cobertura rural, bem como para a redução dos custos dos dados e dos serviços de fibra para casa” pode-se ler no segundo Relatório de Regulação publicado pelo Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique. Ironicamente o início desse “boom” nas telecomunicações móveis no nosso país marca o princípio do fim da primeira empresa do ramo: a Mcel.
Líder do mercado durante a primeira década da entrada do segundo operador, a Vodacom Moçambique, a empresa que tem como accionistas o Estado moçambicano (26%) e as Telecomunicações de Moçambique (76%) o fechou o exercício de 2012 a perder negócio e dinheiro pela primeira vez em 15 anos da sua existência, no início do mandato do influente membro do partido Frelimo, antigo Juiz do Conselho Constitucional e ex-deputado Teodato Hunguana como Presidente do Conselho de Administração da Mcel.
Relatório e Contas da Mcel 2012
O volume de negócios reduziu de 9.014.702.431 meticais para 9.014.153.760 com o resultado líquido do exercício de 2012 a fechar em 688.092.319 meticais, contra 1.090.802.552 meticais de 2011. O passivo não corrente desse ano fiscal foi de 2.752.999.092 meticais e o passivo corrente cifrou-se em 4.574.938.386 meticais.
No ano seguinte, o volume de negócios da Mcel voltou a cair para pouco mais de 8,1 biliões de meticais e o resultado líquido do exercício reduziu para apenas 175.665.471 de meticais, todavia continuava a manter os seus pouco mais de 4 milhões de clientes mesmo com a entrada de um terceiro operador no mercado, a Movitel, que tinha chegado aos 6 milhões de subscritores.
Relatório e Contas da Mcel 2013
Vodacom cresce enquanto Mcel é falida sob comando de Teodato Hunguana
Entretanto em 2014, no último ano do mandato de Armando Guebuza como Presidente de Moçambique, que é accionista da Vodacom Moçambique através da Intelec Holdings, a Moçambique Celular começou a perder grande parte dos clientes institucionais, nunca ficou claro se o abandono foi forçado ou opcional, e o seu volume de negócios desceu para 6,6 biliões de meticais registando pela primeira vez resultados negativos de 831.708.488 meticais.
Relatório e Contas da Mcel 2014
O passivo não corrente desse ano fiscal subiu para 4.142.150.648 meticais e o passivo corrente ascendeu a 6.500.884.085 meticais.
Já com a Vodacom a liderar o mercado, após assumir grande parte dos clientes institucionais da Mcel, o primeiro-ministro de Filipe Nyusi foi ver in loco os prejuízos da estatal de telefonia móvel aumentarem para 1.657.449.710 meticais e o volume de negócios a decresceu para pouco mais de 6 biliões de meticais.
Os gestores da empresa em 2015 - Teodato Hunguana, Presidente do Conselho de Administração, António Saize, Administrador-Delegado, e os restantes membros do Conselho de Administração eram Cláudio Chiche; Arlindo Mondlane; Madalena Atanásio; Albino Lemos e Cândido Gobo – em mais uma errônea decisão de gestão começaram a afunda-la em empréstimos de curto prazo para financiar a tesouraria. Nesse exercício económico o passivo não corrente reduziu para 2.797.305.068 meticais mas o passivo corrente disparou para 9.583.517.271 meticais.
Relatório e Contas da Mcel 2015
Essa administração ruinosa deixou a Mcel tecnicamente falida no exercício de 2016. “(...) As responsabilidade correntes da empresa excedem os seus activos correntes, no montante de 8.250.332.723 meticais e os resultados transitados apresentam-se negativos, no montante de 6.189.102.319 meticais, incluindo o prejuízo do exercício, no montante de 4.439.938.249 meticais”, refere o Auditor Externo no Relatório e Contas a que o @Verdade teve acesso com exclusividade.
Relatório e Contas da Mcel 2016
O volume de negócios em 2016 voltou a diminuir quedando-se em 4.987.407.061 meticais. A Moçambique Celular perdeu dinheiro na venda de recargas, nas interligações, na venda de telemóveis e até na facturação dos seus clientes com contratos. Cresceram ligeiramente a receitas de roaming dos serviços de USSD vendidos a um banco comercial.
Relatório e Contas da Mcel 2016
“Todo o mundo foi comendo e ninguém podia apontar o dedo a ninguém, era um forrobodó”
A estatal de telefonia móvel tem dívidas em todos os principais bancos nacionais e ainda com três instituições financeiras estrangeiras. Os maiores compromissos são correntes são com o Millenium Bim, 729 milhões de meticais, ao Standard Bank deve cerca de 372 milhões de meticais e ao Banco Comercial e de Investimentos deve aproximadamente 320 milhões de meticais.
Ironicamente até ao liquidado Nosso Banco a Mcel, já em situação de falência, foi pedir um empréstimo de 43 milhões de meticais, mas que no total custou 48.911.194 meticais, que foi disponibilizado antes mesmo da celebração do contrato. “Actualmente, decorrem negociações com a Comissão Liquidatária para o reembolso dos valores adiantados mas, não existem prazos para o reembolso do valor”, pode- se ler no Realtório a que o @Verdade teve acesso.
Relatório e Contas da Mcel 2016
No estrangeiro a estatal de telefonia móvel de pouco mais de 42 milhões de meticais ao Groupe Agence Francaise de Developpment, aproximadamente 218 milhões ao Consórsio BHF & KHW e mais de 397 milhões ao DSBA.
Mas para além dos empréstimos a juros altos para tesouraria, que agravaram o passivo corrente para 10.367.444.349 meticais, o custo com fornecedores disparou de 2,9 biliões de meticais para 5.177.417.203 meticais, principalmente devido a inúmeros contratos que o @Verdade apurou serem prejudiciais à Mcel.
Fonte sénior da Moçambique Celular que falou com o @Verdade sob a condição de anonimato disse existirem “contratos incestuosos”, “todo o mundo foi comendo e ninguém podia apontar o dedo a ninguém, era um forrobodó”.
A título de exemplo o @Verdade sabe que uma empresa do filho do antigo Presidente Armando Guebuza foi contratada para manter a operacionalidade das antenas da Mcel num trabalho que em termos práticos acaba por ser realizado pelos funcionários da própria empresa, “mas no fim do mês a factura gorda” entra para pagamento.
Para além da delapidação que foi alvo, até a decisão da sua fusão tomada em Novembro de 2016 pelo Governo de Nyusi, a Moçambique Celular foi enfraquecida com investimentos que não foram feitos e hoje a sua rede é a pior do mercado, como aliás reconheceu a fonte sénior entrevistada pelo @Verdade, “temos uma rede de 2G quando se consegue apanhar”.
As contas a que o @Verdade teve acesso revelam que a 31 de Dezembro de 2016 a dívida líquida da Moçambique Celular era de 12.802.793.494 meticais.
Relatório e Contas da Mcel 2016

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