Criada em 1982 com a
missão de trabalhar no
espírito humanista e solidário
para promover o desenvolvimento
económico e social
equitativo entre os povos, a Associação
Ajuda de Desenvolvimento
de Povo para o Povo (ADPP)
completa 35 anos de actividades em
Moçambique.
Em entrevista ao SAVANA, Birgit
Holm, directora executiva da
ADPP Moçambique, disse que a
organização desenvolve actividades
no sector da educação, saúde,
agricultura e desenvolvimento rural
bem como no sector de energias renováveis.
Contudo, o maior enfoque
vai para os capítulos de melhoria de
qualidade de educação no ensino
primário, luta contra o HIV/SIDA,
tuberculose bem como aumento de
segurança alimentar e dos meios de
subsistência nas áreas rurais do país.
Para a execução das suas actividades,
a ADPP conta com um orçamento
anual de cerca de 24 milhões de dó-
lares norte-americanos.
A entrevistada contou-nos que a
organização chegou à região austral
de África em 1980 proveniente
da Escandinávia com objectivo de
apoiar refugiados zimbabueanos em
Moçambique.
Após a materialização da independência
zimbabueana em 1980,
em 1982, a ADPP transformou-se
numa organização moçambicana e
alistou-se no grupo de movimentos
que lutavam contra atrocidades cometidas
pelo apartheid na região.
Além de ajudar os povos da região
austral de África na luta contra as
sevícias do governo segregacionista
da África do Sul, a ADPP, em coordenação
com o Governo de Mo-
çambique, virou os holofotes para o
desenvolvimento de programas que
pudessem ajudar as comunidades
rurais a melhorar as suas vidas.
De acordo com Birgit Holm, foi
nessa senda que, por indicação do
Governo, a ADPP iniciou suas actividades
apoiando o sector pesqueiro,
sobretudo na dotação de habilidades
aos pescadores a fim de melhorarem
a qualidade e aumentarem a produ-
ção.
Porém, devido ao seu comprometimento
com a construção do homem
através da educação, a ADPP, nas
actividades que desenvolvia com os
pescadores, introduziu a alfabetiza-
ção de adultos, visto que a maioria
não sabia ler nem escrever o que
podia dificultar a sua integração nos
mercados.
Conta Birgit Holm que, ciente de
que o sucesso de qualquer actividade
desenvolvimentista depende da formação
do homem, a ADPP virou as
suas atenções para este sector e, em
1984, abriu a primeira escola técnica
convencional no distrito de Matutuine,
província de Maputo.
Porém, devido ao conflito armado, a
escola foi transferida para a zona da
Machava no Município da Matola.
A partir dessa altura, a ADPP lan-
çou-se afincadamente no sector da
educação onde, para além do ensino
técnico vocacional, também apostou
na educação de crianças órfãs e vulneráveis
devido à guerra.
“Apostamos na educação por acreditarmos
que esta é uma das formas
mais importantes de investir no
desenvolvimento de Moçambique”,
frisou.
Birgit Holm referiu que, de 1984 a
esta parte, cerca de cinco mil técnicos
básicos e médios foram formados
nas escolas técnicas da ADPP
em todo o país.
No sector da educação, as actividades
da ADPP não se limitam apenas
à formação de técnicos de diferentes
áreas profissionais, mas também de
professores.
Em 1992, a organização introduziu
o curso de formação de professores
primários. Neste momento, são 11
centros de formação de professores
espalhados pelo país com um total
de dois mil alunos.
De acordo com Holm, em 24 anos, a
ADDP formou e entrou ao sistema
nacional de educação cerca de 17
mil professores.
Ainda no domínio da formação, em
2005 criou-se a OWU – One World
University (Instituto Superior de
Ensino e Tecnologia - ISET), que
já colocou no mercado um total de
747 bacharéis e licenciados em pedagogia
e Desenvolvimento comunitário.
No sector da saúde, a organização
está a trabalhar na luta contra o
HIV/SIDA, malária, tuberculose e
desnutrição infantil.
Estas epidemias foram eleitas pelo
facto de constituírem parte dos
principais desafios de saúde pública
que impedem o desenvolvimento
económico e social do país.
Conta Birgit Holm que, no que
concerne à epidemia de HIV/
SIDA, a sua organização está a trabalhar
na prevenção e na prestação
de cuidados intensivos através da
mobilização comunitária.
No caso concreto da tuberculose, a
organização apostou em campanhas
porta-a-porta onde sensibiliza as
comunidades a combater e controlar
a doença. Para tal, recorrendo a
activistas, a ADPP sensibiliza as comunidades
a aumentar o diagnóstico
precoce, a aderir ao tratamento e
fortalecer os serviços de saúde bem
como melhorar o acesso ao tratamento.
A nossa entrevistada sublinha que a
sua organização também está apostada
no combate à pobreza através
da agricultura.
Nessa senda, a ADPP tem sido activa
na promoção de práticas agrícolas
sustentáveis, desenvolvendo a produtividade
agrícola e melhorando os
meios de subsistência de pequenos
agricultores.
Segundo a directora Executiva da
ADPP em Moçambique, o desenvolvimento
de projectos no sector
agrícola iniciou em 1993 com o estabelecimento
do Centro de Caju e
Desenvolvimento Rural em Nampula.
“Inicialmente, no sector agrário, desenvolvemos
nossas actividades em
sete províncias, mas neste momento
estamos a trabalhar apenas nas províncias
da Sofala Zambézia, Cabo
Delgado e Tete onde trabalhamos
com 350 associações de agricultores”,
disse.
A nossa interlocutora frisou que
a sua organização intervém na organização
dos camponeses, treinamento
em técnicas agrícolas e no
agro-processamento, na distribuição
de insumos agrícolas e na melhoria
do acesso à água para irrigação e aos
mercados locais por parte de agricultores.
Com vista a tornar esta actividade
viável, a ADPP criou um projecto
denominado clube de agricultores.
Segundo Birgit Holm esta iniciativa
tem por objectivo a criação de
riqueza entre pequenos agricultores,
aumentando a segurança alimentar
e a melhoria das condições de vida
dos pequenos agricultores das províncias
da Zambézia, Tete e Cabo
Delgado e Sofala.
“Ao apoio agrícola também se juntam
as actividades educativas através
da alfabetização. Um agricultor
que não sabe ler nem escrever tem
muitas limitações, tem dificuldades
de negociar a comercialização
do seu produto. É por isso que em
todas as nossas actividades sempre
juntamos a componente educação”,
disse.
Alimentação escolar e o
combate à desnutrição
infantil
A fim de combater os problemas
de desnutrição infantil, aumentar
o aproveitamento académico e incentivar
crianças a ter paixão pela
escola, a ADPP em parceria com a
Planet Aid, uma organização não
governamental norte-americana,
está, desde 2013, a desenvolver um
Programa de Alimentação Escolar.
A iniciativa é desenvolvida em 269
escolas dos distritos de Matutuine,
Moamba, Magude e Manhiça e
consiste na distribuição de lanche
escolar a mais de 79 mil crianças.
Isaías Wate, coordenador do Programa
de Alimentação Escolar na
ADPP, contou ao SAVANA que,
para além de alimentação escolar, o
programa visa melhorar o desempenho
escolar através da assiduidade e
melhoria das habilidades de leitura
e escrita.
Neste domínio, a componente de
literacia está a desenvolver um programa
de reforço da leitura para as
primeiras classes em língua materna
que começou este ano em 63 das
269 escolas.
Sublinhou que também abarca as
componentes de água e saneamento,
construção de cozinhas e armazéns,
clubes de actividades extracurriculares,
hortas escolares, literacia e educação
nutricional.
Financiado pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos
da América (USDA), o programa é
implementado em colaboração com
o Ministério de Educação e Desenvolvimento
Humano de Moçambique.
Segundo Isaías Wate, mais de 12
milhões de refeições são distribuídas
anualmente às crianças dos quatro
distritos da província de Maputo.
“A componente alimentação motiva
os alunos a irem à escola, melhoram
a frequência, ajuda a aumentar a
atenção do aluno durante as aulas e
apoia o desenvolvimento cognitivo
global”, disse.
Segundo Wate, para viabilizar a sua
implementação, o programa criou
comités de alimentação escolar, que
contam, dentre os seus membros,
com professores, pais, membros de
comunidade e as próprias crianças.
São estes comités que se responsabilizam
pela preparação e distribuição
de refeições.
Para incentivar os encarregados de
educação que de forma voluntária se
disponibilizam a preparar refeições
para os alunos, o programa distribui
mensalmente sabão e capulanas para
as perto de 5300 voluntárias. Paralelamente,
são efectuados testes peri-
ódicos de tuberculose às cozinheiras
e às crianças é feita a desparasitação.
Conta Wate que, no que diz respeito
à água e saneamento, há a destacar
a construção ou reabilitação de 324
sistemas de água potável, o que permitiu
alcançar 227 escolas com fontes
de água limpas e seguras.
A instalação destes sistemas é
acompanhada de uma componente
de educação sanitária, com o envolvimento
dos professores e da comunidade.
Recordar que a ADPP Moçambique
implementa actualmente mais
de 60 projectos que abrangem todas
as províncias do país e conta com
cerca de três mil colaboradores beneficiando
anualmente mais de dois
milhões de moçambicanos.
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