Um sacerdote argentino cumpre 15 anos de cadeia por abuso sexual e corrupção de um menor. Era director de um orfanato e assegura contar com o apoio de Francisco, segundo o jornal espanhol El País.
A pedofilia continua a ameaçar manchar a imagem da Igreja Católica e, neste caso, do Papa Francisco. O jornal espanhol El País recupera este domingo a história de um sacerdote argentino, Julio César Grassi, espécie de antiga estrela mediática no seu país, que está a cumprir pena de prisão desde 2013 por abuso sexual e corrupção de menores. Em Março passado, o Supremo Tribunal argentino, última instância de recurso, confirmou a condenação a 15 anos de cadeia, mas nem este desfecho parece suficiente para dar o caso por encerrado: o sacerdote, que muitos apontam como antigo confessor de Francisco, continua a usar o colarinho clerical na prisão, onde dispõe de regalias interditas aos outros prisioneiros, como casa de banho privativa, frigorífico, telemóvel e televisão.
Grassi era presença regular na televisão e movia-se dentro do círculo próximo do Governo argentino, muito por causa do seu trabalho à frente do orfanato Felices Los Ninos, que chegou a acolher 6300 menores que estavam na rua. Em 2002, voltou a ser presença televisiva pelas piores razões: três dessas crianças, com idades entre os 14 e os 16 anos, acusaram-no de ter abusado sexualmente deles. Grassi chegou a estar um mês em prisão preventiva mas depois pôde aguardar em liberdade a realização do julgamento em que era acusado de um total de 17 crimes cometidos contra menores.
Muitos anos depois, em 2009, um tribunal de primeira instância deu-o como culpado de dois casos de abuso sexual cometidos contra o mesmo menor, ilibando-o das restantes 15 acusações. Apesar de proibido de sair do país, Grassi continuou em liberdade. Até que em 2013 um tribunal superior confirmou esta sentença, atirando-o para uma prisão de Buenos Aires. Mesmo assim, segundo o jornal espanhol, Julio Grassi continuou a dar bom uso aos três telemóveis de que dispõe. Contactou uma vasta equipa de advogados para o defender e continuou a reclamar inocência, afiançando continuar a contar com o apoio do Papa Francisco, que era o chefe da Igreja argentina quando o escândalo rebentou.
"Bergoglio nunca me largou a mão. Falo com ele, que me apoia espirutualmente e acredita na minha inocência", chegou a dizer. Entre os que lhe estão próximos, alguns alegam que Grassi chegou a ser confessor de Francisco. Os mais próximos de Francisco, porém, desmentem esta tese, e, admitindo que o contacto entre os dois possa ter acontecido mas nunca de uma forma estreita ou continuada, garantem que o Papa nunca se pronunciou sobre este assunto. "Não o apoiou, não foi visitá-lo na cadeia e se não se pronunciou sobre o assunto foi porque nunca foi o seu bispo e havia muitas dúvidas sobre a sua culpabilidade", explicou ao El País uma fonte próxima do pontífice, lembrando que, por detrás deste escândalo, havia interesses económicos por parte de rivais do sacerdote acusado.
Do que Francisco não se livra é do descontentamento das vítimas de pedofilia. Apesar de o Papa ter decretado "tolerância zero" contra os abusos de crianças cometidos por membros do clero, e de ter reiteradamente criticado os bispos que encobrem ou ignoram estas situações, as medidas concretas tardam. A promessa de criação de uma nova instância judiciária no interior da Congregação para a Doutrina da Fé tarda em arrancar e já houve demissões entre os membros da comissão anti-pedofilia designada pelo Papa, entre as quais da irlandesa Maria Collins, uma vítima de abusos, que saiu "frustrada" com o que qualificou como "a falta de cooperação de outros departamentos da Cúria Romana".
Muitas das críticas dirigidas a Francisco nesta matéria prendem-se com o facto de ele se mostrar "demasiado misericordioso" contra os abusadores. De resto, e voltando ao caso protagonizado por Julio Grassi, o Papa nunca terá respondido aos apelos das vítimas e ignorado os seus pedidos para impor ao sacerdote a redução ao estado laical. Há quem acredite que Bergoglio terá custeado um parecer de 2600 páginas cuja conclusão apontava para a sua inocência.
Dentro de grades, Grassi é agora acusado de desviar para uso próprio parte dos donativos que continuam a chegar ao orfanato, que agora não acolhe mais do que meia centena de jovens. Supostamente, o sacerdote usava esse dinheiro para distribuir subornos entre os outros prisioneiros e os guardas prisionais, num (novo) escândalo que ganhou dimensões tais que motivou a demissão do director da cadeia.
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