Havia tempo em que eu admirava bastante o escritor Mia Couto e lia vorazmente os seus escritos porque os achava interessantes que sempre levantavam curiosidades. Queria ver o desfecho da estória. De há uns tempos a esta parte, a minha opinião mudei e mudou mesmo porque Mia Couto nunca conseguiu desmamar-se do seu partido, que ele acha que sempre tem razão quando todas as evidências demonstram, exactamente, contrário.
No presente conflito, segundo Mia Couto,quem não respeito o direito à vida é sempre o outro que saca hospitais e atira os doentes ao chão. Mia Couto nunca questionou a causa deste conflito. Nunca pôs em causa a composição dos órgãos eleitorais nem questionou o ordenamento jurídico na tonal, em particular, a Constituição da República que permite quem ganha ou consegue manipular para vencer um pleito eleitoral fique com tudo e o que perde perde tudo. Mia Couto nunca apelou à Procuradoria Geral da República para iniciar uma investigação imparcial e isenta para se apurar em que circunstâncias Armando Guebuza e a sua equipa apadrinharam em nome do governo dívidas de empresas privadas cujos dinheiros nunca entraram nos cofres do Estado nem das próprias empresas para que, havendo o culpados sejam responsabilizados.
Nunca se lembrou de escrever à Assembleia da República para que não adopte dívidas de privados como se fossem de todo o povo moçambicano. Nunca pensou que os votos depositados na urna têm significado que se deve reflectir no quotidiano das pessoas. O escritor Mia Couto não está preocupado com os raptos e desaparecimentos de membros da oposição que, mais tarde, aparece em criados de balas e alucinados, alguns deles arrancados à sua família em plena luz do dia. Como é isso, Mia Couto? Porquê não condena essas violações dos direitos humanos? É crime discordar? Em momento algum Mia Couto se posicionou em relação ao crime das dívidas ocultas contraídas por Armando Guebuza e o seu grupo que acabaram atirando o país e o seu povo para uma sarjeta.
Ficou calado no seu canto como se nada de anormal tivesse acontecido. Quem se cala é porque consente, diz um velho ditado popular. Aceita, Mia Couto, que as dívidas de privados sejam tomadas como dívidas de todos nós? Pagamos a factura de um prato servido a outros? É mau e eu condeno que a Renamo continue a atacar hospitais e postos de saúde e condeno, igualmente, a Frelimo os seus homens (esquadrões da morte) continuem a raptar cidadãos e os matem pelo facto de serem da oposição. Condeno também a ineficácia dos órgãos da justiça que se façam de cegos perante tamanha corrupção encabeça por altos dignitários públicos que a todos nos envergonha.
Condeno que as eleições sejam ganhas por uns espertinhos com recurso à fraude e truques. E o bom do Mia Couto consegue enxergar isso ou pensa apenas na defesa dos seus interesses empresariais? No nosso pais ocorrem massacres e as vitimas depositadas são depositadas em valas comuns. Em Macossa, província de Manica, ainda as provas podem ser encontradas - pessoas massacradas e os seus corpos jogados na mesma cova. Não interessa aqui dizer se são perpetrados pelas forcas governamentais ou pela guerrilha da Renamo. Sabemos que, antes de tudo, que são filhos de Moçambique que estão sendo dizimados.
Mia Couto nunca denunciou essas violações dos direitos fundamentais do homem. Eu desejaria de ver um Mia Couto imparcial para que continue a ser um escritor do Mundo e não um porta-voz da Frelimo, em particular, daqueles que conduziram o país para uma desgraça sem precedentes na nossa história. Diz-se que defender a injustiça é comprometer -se com o injusto, o gatinho e bandido. Estou tremendamente desiludido com a postura de Mia Couto por não saber separar o dom que tem de escrever, e escreve muito bem, com o seu apego ao partido dos camaradas que já nada tem para dar ao país e ao seu povo.
Ninguém pede a Mia Couto para ser um anti-frelimista, mas, pela sua estatura social, exige-se que seja justo e será tudo quanto basta. Ele tem a liberdade de pertencer a uma organização política ou ter simpatias com qualquer partido. Todavia, torna-se agonizante quando se posiciona do lado do mais forte, do injusto e prepotente porque este lhe facilita negociatas ou lhe facilita a vida. Um homem da estatura de Mia Couto deve lutar por causas nobres e inconfundivelmente estar ao lado do elo mais fraco. Infelizmente, este não tem sido a postura de Mia Couto.
Há dezenas de exemplos que elucidam de que lado sempre Mia Couto se posicionou. Nunca vi uma única palavra de contestação quando a Frelimo assalta o poder sem que tenha sido eleita nem o provar com editais.
Mia Couto nunca se posicionou contra a violência eleitoral que o partido Frelimo promove contra os seus adversários políticos. Uma voz ou uma palavra somente de Mia Couto contra esses atropelos e ilegalidades faria muita diferença e reconfortaria toda a sociedade moçambicana.
Edwin Hounnou
O QUE MIA COUTO TENTA ESCONDER
Eleições em Moçambique: “O que fica na memória é que chegaram ao poder por vias fraudulentas”
Borges Nhamire do Centro de Integridade Pública (CIP) tece duras críticas à organização das eleições gerais moçambicanas. Questiona a legitimidade do resultado e acha que isto também pode prejudicar a FRELIMO.
Borges Nhamire do Centro de Integridade Pública (CIP) tece duras críticas à organização das eleições gerais moçambicanas. Questiona a legitimidade do resultado e acha que isto também pode prejudicar a FRELIMO.
DW África: Normalmente há vários “selos de qualidade” de eleições como livres, justas e transparentes. Quais são os selos que iria atribuir a estas eleições?
Borges Nhamire (BN): É um pouco difícil atribuir os selos às eleições. Porque os principais interessados são os partidos políticos, os concorrentes. Portanto, por mais que nós, os cidadãos, achemos que as eleições correram bem, quando os concorrentes acham que as eleições não correram bem, e portanto não podem ser consideradas credíveis.
Eu daria só alguns exemplos como as eleições correram mal ...
DW África: Quais foram os piores acontecimentos?
BN: O que acho do ponto de vista processual muito pior é em primeiro lugar a não abertura das mesas de votação. Em segundo lugar, é o desaparecimento dos cadernos eleitorais. Quando um cidadão sai, vai votar, chega à mesa e mandam-no voltar para casa, não podemos dizer: o número de eleitores [que não conseguiu votar] é insignificante. Então não é um problema. É um problema, sim! Porque aquela pessoa foi vedado o direito de votar, de escolher quem vai dirigir o país.
Outra questão processual nas eleições tem a ver com a circulação de boletins de voto falsos. O boletim tem uma numeração. E aquela numeração significa uma coisa: tem o número da província, tem o número do distrito, tem o número da localidade e tem o número do posto de votação. Sequencialmente formam um número. E aqueles números são do conhecimento muito limitado lá dentro da Comissão Nacional de Eleições, que é daquela equipa operacional.
Como é possível haver duplicação de boletins com números verdadeiros? Como é possível um cidadão ter boletins fora da assembleia de voto? São evidências que os problemas foram criados dentro dos próprios órgãos eleitorais.
Para não falar da violência que é um aspecto muito negativo. Eu sonho mesmo que por uma vez os moçambicanos não sejam baleados nem agredidos pela polícia só porque o país está a organizar eleições.
Penso que mostramos nestas eleições que regredimos do ponto de vista organizacional como país.
DW África: Se comparamos estas eleições com as de 1999, que foram muito criticadas por observadores internacionais, estas eleições de 2015 foram realmente piores do que as de 1999, em que houve uma margem muito pequena nas presidenciais entre Joaquim Chissano [candidato vencedor da FRELIMO] e Afonso Dhlakama [candidato da RENAMO]?
PARANOIAS DE MIA COUTO
Mia Couto diz que é triste quando temos que mendigar respeito pela vida dos outros
Escritor moçambicano falava sobre a situação político-militar que o país atravessa
Em tempos não tinha reservas, mas agora, que a tensão político-militar está cada dia a agudizar-se e a intimidar os moçambicanos, a opinião do escritor Mia Couto já é limitada. Isso é também influenciado pela crise que se tornou insustentável por isso já nem sabe o que pensar sobre o assunto.
Para o escritor, “é uma extrema penúria quando temos que pedir a alguém que não ataque hospitais e não ataque civis e que respeite a vida dos moçambicanos”, lamenta e acrescenta que “é triste estar a negociar algo tão básico como a paz”.
Couto não vê a luta política mais do que uma luta digna, de ideias e de causas. Não pensou que em Moçambique chegasse ao extremo de termos que mendigar o respeito pela vida dos outros.
“A obsessão pelo poder tem que ser questionada internamente pelas duas forças (Governo e Renamo) ”, critica. Em segunda estância, Couto olha para a questão das cedências. Neste campo, o escritor elogia o posicionamento do Governo. Mas não se alonga, justificando que essas são questões meramente políticas.
O que não é uma questão de ordem política, refere, é o apelo para o calar das armas e que as negociações decorram em paz. “Não vejo em nenhum lugar do mundo um governo com uma situação dessas, um pouco estranha (diga-se): uma força política que está sentada no Parlamento a discutir umas coisas e a mesma força tem uma máscara militar a discutir outras coisas noutro fórum”, é por essas e por outras que o autor de “Terra Sonâmbula” volta a sublinha que não sabe pensar sobre este assunto, e termina a sua locução com a seguinte frase frase: “Estou perdido!”.
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