terça-feira, 15 de março de 2016

Sinais de alarme na economia moçambicana


 
   
13/03/2016 13:30
    
Moçambique também foi um destino prioritário para os portugueses 
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Sinais de alarme na economia moçambicana
Mário mudou-se de malas e bagagens para Moçambique há quatro anos. Como tantos outros portugueses, procurava uma vida melhor que o país de nascimento não lhe dava. Encontrou em Maputo uma empresa de serviços que lhe deu uma alternativa para a família, que se mudou mais tarde. Hoje, com 40 anos, não esconde que os tempos mudaram. Moçambique já não é um oásis. “A quebra dos preços mundiais das matérias-primas tem prejudicado em Moçambique uma evolução mais rápida dos projetos de exploração de carvão e gás natural, o que vai adiando as receitas para o Estado”,  explica ao SOL.
No dia a dia, já se sentem alterações que afetam quem decidiu fugir à crise em Portugal nos últimos anos. “Os preços dos produtos nos supermercados têm subido e algumas empresas importadoras começam a ter algumas dificuldades em importar produtos de mercados estrangeiros devido à dificuldade de realizar os pagamentos dos produtos em moeda estrangeira. A seca que se sentiu este ano também não ajuda à produção de produtos nacionais, o que faz diminuir a disponibilidade de produtos alimentares, como hortícolas e fruta, e há um aumento do preço”.
Também Carlos, de 60 anos, que vive em Matola há alguns anos, admite que a situação do país onde abriu um restaurante está a complicar-se. “Começa a ser cada vez mais difícil enviar dinheiro para Portugal, tanto por parte das empresas como dos particulares”. Situação que Mário reforça: “As empresas importadoras - como as de bens alimentares - passam já por algumas dificuldades de pagar bens ou serviços no estrangeiro, o que ou dificulta a sua atividade ou torna desinteressante estar em Moçambique no curto-prazo”.
Corrupção preocupa
A braços com problemas financeiros causados também pela queda dos preços do petróleo, Moçambique sofre com o facto de a corrupção alastrar no país. Ricardo, português e construtor de 50 anos, não esconde que um dos maiores problemas que encontrou foi o facto de praticamente tudo no país funcionar à base de subornos. “Assaltaram-me um armazém e tive de ir fazer queixa à polícia. Quando cheguei à esquadra disseram-me que não tinham dinheiro para fazer a viagem até ao armazém. Tive de me oferecer para pagar o combustível. Mais tarde,  ainda tive de dar mais dinheiro porque argumentaram que era hora de almoço e tinham fome”, recorda.
Todos os que vivem ou viaja m até Moçambique conhecem o problema, que faz com que tenha de “haver sempre dinheiro para resolver situações”.
O país foi, aliás, analisado num relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos que, em 2015, fez saber que extorsão policial era uma prática generalizada neste país. O relatório sobre os Direitos Humanos no Mundo em 2014, publicado em Washington, esclarecia que, em Moçambique, a impunidade continuava a ser um problema, apesar de o governo ter dado alguns passos no sentido de processar e condenar funcionários que cometessem infrações.
Já em 2013 um estudo da Transparência Internacional chamava a atenção para o facto de Moçambique ser um caso problemático no que toca à corrupção, nomeadamente por causa do volume de subornos.
E os relatórios com este tipo de resultados multiplicam-se. Já em 2001 um inquérito financiado pela US Agency for International Development (USAID) denunciava que um quarto dos moçambicanos paga suborno para arranjar emprego.
Fluxo de entradas e saídas
A este problema soma-se um outro, que tem vindo a preocupar cada vez mais. Depois da crise que se instalou em Angola, muitos trabalhadores e empresas que se tinham estabelecido neste país estão a mudar-se para Moçambique, o que poderá vir a criar excedente de mão de obra.
Ao SOL, Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção Civil, confirma que “há centenas de trabalhadores da construção a ir para Moçambique”.
Mas se uns entram outros começam a sair.  Apesar desta entrada de trabalhadores e empresas que estavam em Angola, muitos que estavam neste país africano há mais tempo estão a pensar em deixar o país e já houve quem o fizesse, como explica Mário: “O que se percebe é que, neste momento, estão pessoas e empresas portuguesas a sair de Moçambique devido à perceção de que este é um mercado de longo prazo e não um oásis, onde se venha encontrar a fortuna de um dia para o outro. E, muitos não têm capacidade financeira ou força de vontade para se aguentar a longo prazo”.
De acordo com dados do Centro de Promoção de Investimentos de Moçambique (CPI), os projetos de investimento autorizados neste país africano caíram 74,5% em 2015, face ao ano anterior, para 1,5 mil milhões de euros.
Portugal representa 80 milhões de euros. Analisando o total de projetos aprovados pelo CPI em 2015, Espanha é quem lidera a lista, com 290 milhões de euros.
Portugal teve 48 projetos aprovados, atrás da África do Sul, com 61. O total de 80 milhões de euros representa uma quebra de 73,7% face a 2014, que tinha sido o ano mais representativo desde 2009. No entanto, o investimento português manteve-se como o principal impulsionador de postos de trabalho.
A maioria do investimento português foi para o setor da indústria (45,3%), serviços (34,9%), banca e seguradoras (12,1%). Já a construção, obras públicas, transportes, comunicações e turismo representaram, no total, apenas 7,7%.

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