sábado, 12 de março de 2016

Governo e Renamo num ping pong de pré-condições

O presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, manifestaram uma vez mais, esta semana, a disponibilida￾de de reatarem o diálogo para devolver a estabilidade ao país. Mas, como tem sido hábito, na hora do avanço começam a sur￾gir entretantos que podem hi￾potecar estas expectativas. Um dia depois de ter respondido favoravelmente ao convite de Nyusi, mas com a condição de incluir o grupo dos mediado￾res, o governo, através do vice- -ministro da Justiça, Assuntos constitucionais e Religiosos, Joaquim Veríssimo, veio dizer publicamente que o diálogo não pode ter condicionantes. É caso para recordar os impasses que se verificaram nas negocia- ções havidas no Centro de Con￾ferências Joaquim Chissano que levaram mais de 100 rondas sem consensos. O interesse de retomada do diá- logo entre as partes não é novo, mas esta semana ganhou nova dinâmica, dada a tensão polí- tico-militar em que o país está mergulhado e que já começou a fazer vítimas civis. No entanto, o porta-voz do maior partido da oposição na￾cional, António Muchanga, acu￾sa o governo de criar manobras para retardar a materialização do encontro ao mais alto nível, uma vez que está a criar múlti￾plos grupos focais. Em contacto com SAVANA, Muchanga argumenta que, na passada sexta-feira, por via da presidência da República, Nyusi endereçou um convite a Dhlakama para a retomada do diálogo, tendo na ocasião de￾signado uma equipa composta por Jacinto Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, Maria Benvinda Levi, Conselheira do Presidente da República para assuntos Jurí- dicos, e Alves Muteque, quadro da presidência, para tomarem conta das demarches para o re￾ferido encontro. Mas estranhamente, de acordo com o porta-voz, depois do seu partido ter respondido favora￾velmente à missiva do PR, com a condicionante de incluir o grupo dos mediadores composto pelos Bispos da Igreja Católica, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da União Europeia, eis que surge um elemento “alheio” o vice-ministro, Justiça, Assun￾tos Constitucionais e Religiosos, Joaquim Veríssimo, a fazer uma comunicação sem direito a per￾guntas. Na referida comunicação, Ve￾ríssimo garantiu que estavam asseguradas todas as condições logísticas e de segurança para o diálogo entre Nyusi e Dhlaka￾ma, tendo sublinhado que o mesmo deve acontecer sem quaisquer pré-condições. Muchanga diz que a comuni￾cação de Veríssimo constitui um atentado à preparação do encontro, uma vez que as par￾tes têm usado correspondências para troca de impressões. Diz ainda que isto denota falta de liderança do PR, porque na sua ausência os membros do gover￾no emitem comunicados acres￾centando novos dados que não constam da carta convite envia￾da ao seu partido. Precisou que o nome do vice- -ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos não consta da lista constituída por Nyusi para cuidar dos pre￾parativos, facto que mostra que desta vez nem os ministros e muitos menos os vice-ministros farão parte da comitiva. Assim, avança que este tipo de discur￾sos podem retardar o encontro ao mais alto nível, porque au￾mentam o nível de desconfian- ças entre partes, uma vez que o governo não partilhou com a sua contra parte as referidas medi￾das de segurança e de logística. Incluir mediadores Esta segunda-feira, a Renamo condicionou a realização do encontro entre Nyusi e Dhlaka￾ma à inclusão do grupo dos mediadores. De acordo com a Renamo, esta condicionante surge pela necessidade de cor￾rigir erros que se verificaram nos encontros passados, em que não havia agenda clara, conversa sem registo, falta de seriedade no cumprimento dos acordos alcançados e ainda o aperto de mão para tirar fotografia sem uma verdadeira reconciliação. Assim, entende ser pertinente que o governo credencie o gru￾po dos mediadores como forma de mostrar o seu comprometi￾mento com a paz e reconciliação nacional. Apesar da polêmica que surgiu em torno da resposta ou não do presidente sul-africano ao pe￾dido da Renamo para mediar o diálogo, este partido continua depositando plena confiança em Jacob Zuma, alegando que Governo e Renamo num ping pong de pré-condições Por Argunaldo Nhampossa quem criou o mal-entendido foi a ministra dos Negócios Es￾trangeiros daquele país vizinho, Maite Mashabane. 

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