Mudança policial
Causou alguma surpresa que Filipe Nyusi tenha escolhido um militar de carreira, e não um quadro da Polícia, para suceder a Khalau. Não percebo porquê. Se fosse eu a escolher, muito provavelmente teria escolhido um civil. Porque, para mim, o corpo de polícia deve ser um órgão civil, não militar nem militarizado. Mas não fui eu a escolher e quem o fez actuou de acordo com a realidade actual do país. Isto é, o facto de que, neste momento, a maioria dos meios policiais do país não está a exercer tarefas policiais mas sim militares. Em relação às actividades que, normalmente, constituem o principal esforço de uma polícia, deslindar assassinatos e raptos, capturar traficantes de drogas e coisas dessas, nada se ouve, a não ser o habitual “estamos a trabalhar”. Já quando se trata de escoltas armadas nas estradas, tentativas de assalto a bases da Renamo ou aparecimentos, em pé de guerra, para impedir actividades políticas da oposição, isso é o pão nosso de cada dia. Ainda por cima com péssimos resultados operativos. Aparentemente, a Renamo nunca conseguiu tanto armamento moderno como desde que foi decidido desarmá-la. O que não deixa de ter alguma lógica na medida em que grande parte desse armamento foi comprado com os impostos pagos pelos militantes e simpatizantes daquele partido. De qualquer forma, nas circunstâncias actuais, faz perfeitamente sentido ir buscar um general de carreira para dirigir um órgão cuja principal actividade é, neste momento, de carácter militar. Se o general Jane vai dar conta do recado onde Khalau falhou isso é o que o futuro nos dirá. Em relação a ter uma PIC a funcionar devidamente, segurança nas ruas, uma Polícia de Trânsito menos corrupta e outras coisas do género não tenho grandes esperanças na mudan- ça. Preferia, no entanto, que as habilidades militares do novo Comandante Geral da Polícia não tivessem oportunidade de ser demonstradas, por o país ter entrado, finalmente, num processo sério de negociações para uma Paz duradoura. Só que não sei se o bom senso demonstrado na retirada de Khalau é suficiente para afastar da paisagem política as múmias que impedem o avanço desse sentido.
Neste momento, os dois principais partidos do nosso parlamento tri-partido têm unanimidade sobre um único ponto. Uma rara excepcionalidade em si, considerando o seu patológico antagonismo. Embora a partir de abordagens completamente distintas, quer a Frelimo quer a Renamo estão de acordo quanto à necessidade de se avançar com um processo de revisão da Constituição da República. A única coisa que os distingue é o alcance dessa revisão constitucional. A Renamo quer que seja um acto pontual, destinado apenas a permitir que ela governe seis províncias que se situam a norte do Rio Save, onde reivindica ter obtido maioria nas eleições gerais de 2014. Por seu lado, a Frelimo pretende que a revisão seja mais abrangente. Mais abrangente do que a sua própria versão de revisão pontual na legislatura passada. O processo de produção de uma Constituição, que de entre outras coisas implica fazer escolhas sobre como a sociedade se organiza é, eminentemente, um acto político que deve ter como base experiências do passado, ao mesmo tempo que incorpora as aspirações do futuro. A actual Constituição em vigor foi um esforço para o estabelecimento do Estado de Direito, dentro de um novo contexto de democracia multipartidária introduzida pela revisão de 1990. De facto, foi a primeira Constituição da República a ser aprovada por um parlamento resultante de eleições multipartidárias. Uma revisão constitucional do tipo daquela que é proposta pela Renamo tem algumas limitações óbvias. Cria para um conjunto de províncias um estatuto que as diferencia das restantes em termos da sua relação com o poder central. Assim teríamos as três províncias do sul e uma do norte a serem regidas pela actual Constituição, e as restantes por um novo dispositivo consagrado a título pontual. É desnecessário dizer que este cocktail será o ponto de partida para o desmembramento do Estado moçambicano na sua actual configuração. Os que defendem esta posição insistem que esse não é o objectivo, mas em termos práticos é isso mesmo o que se pretende; dois países num único Estado. Se há necessidade de conferir uma maior autonomia às províncias, tal como isso tem vindo a ser defendido em vários sectores, é importante que esse processo seja conduzido numa base de igualdade. Mas há outras questões que a futura revisão da Constituição deve levar em conta. Uma delas é como garantir que o Presidente da República seja uma figura que se coloca acima de interesses partidários. No actual figurino, tem sido prática que o candidato à Presidência da República seja também o presidente do partido pelo qual ele concorre. Torna-se difícil que nessas circunstâncias, e no exercício das suas funções, ele não seja influenciado nas suas decisões pelo estatuto que ocupa como presidente de um partido. O actual debate sobre a despartidarização do Estado tem a ver em parte com esta coincidência das funções de Presidente da República com as de líder de um partido. Os recursos que são destacados para o presidente do partido, em missões de natureza puramente partidária, são muitas vezes confundidos com os que são colocados à sua disposição na qualidade de Chefe do Estado. Numa outra vertente, a transparência que se deseja no funcionamento das instituições do Estado poderia ser minimamente garantida se cargos como os do Governador do Banco de Moçambique, do Presidente do Tribunal Supremo e dos presidentes dos conselhos de administração das empresas públicas fossem preenchidos através de concursos públicos. Um modelo como este poderia também possivelmente aliviar os titulares destes cargos da pressão política que muitas vezes sofrem no processo de tomada de decisões por parte dos seus superiores na hierarquia partidária. E certamente que ajudaria muito a afastar os fantasmas da exclusão.
Causou alguma surpresa que Filipe Nyusi tenha escolhido um militar de carreira, e não um quadro da Polícia, para suceder a Khalau. Não percebo porquê. Se fosse eu a escolher, muito provavelmente teria escolhido um civil. Porque, para mim, o corpo de polícia deve ser um órgão civil, não militar nem militarizado. Mas não fui eu a escolher e quem o fez actuou de acordo com a realidade actual do país. Isto é, o facto de que, neste momento, a maioria dos meios policiais do país não está a exercer tarefas policiais mas sim militares. Em relação às actividades que, normalmente, constituem o principal esforço de uma polícia, deslindar assassinatos e raptos, capturar traficantes de drogas e coisas dessas, nada se ouve, a não ser o habitual “estamos a trabalhar”. Já quando se trata de escoltas armadas nas estradas, tentativas de assalto a bases da Renamo ou aparecimentos, em pé de guerra, para impedir actividades políticas da oposição, isso é o pão nosso de cada dia. Ainda por cima com péssimos resultados operativos. Aparentemente, a Renamo nunca conseguiu tanto armamento moderno como desde que foi decidido desarmá-la. O que não deixa de ter alguma lógica na medida em que grande parte desse armamento foi comprado com os impostos pagos pelos militantes e simpatizantes daquele partido. De qualquer forma, nas circunstâncias actuais, faz perfeitamente sentido ir buscar um general de carreira para dirigir um órgão cuja principal actividade é, neste momento, de carácter militar. Se o general Jane vai dar conta do recado onde Khalau falhou isso é o que o futuro nos dirá. Em relação a ter uma PIC a funcionar devidamente, segurança nas ruas, uma Polícia de Trânsito menos corrupta e outras coisas do género não tenho grandes esperanças na mudan- ça. Preferia, no entanto, que as habilidades militares do novo Comandante Geral da Polícia não tivessem oportunidade de ser demonstradas, por o país ter entrado, finalmente, num processo sério de negociações para uma Paz duradoura. Só que não sei se o bom senso demonstrado na retirada de Khalau é suficiente para afastar da paisagem política as múmias que impedem o avanço desse sentido.
Neste momento, os dois principais partidos do nosso parlamento tri-partido têm unanimidade sobre um único ponto. Uma rara excepcionalidade em si, considerando o seu patológico antagonismo. Embora a partir de abordagens completamente distintas, quer a Frelimo quer a Renamo estão de acordo quanto à necessidade de se avançar com um processo de revisão da Constituição da República. A única coisa que os distingue é o alcance dessa revisão constitucional. A Renamo quer que seja um acto pontual, destinado apenas a permitir que ela governe seis províncias que se situam a norte do Rio Save, onde reivindica ter obtido maioria nas eleições gerais de 2014. Por seu lado, a Frelimo pretende que a revisão seja mais abrangente. Mais abrangente do que a sua própria versão de revisão pontual na legislatura passada. O processo de produção de uma Constituição, que de entre outras coisas implica fazer escolhas sobre como a sociedade se organiza é, eminentemente, um acto político que deve ter como base experiências do passado, ao mesmo tempo que incorpora as aspirações do futuro. A actual Constituição em vigor foi um esforço para o estabelecimento do Estado de Direito, dentro de um novo contexto de democracia multipartidária introduzida pela revisão de 1990. De facto, foi a primeira Constituição da República a ser aprovada por um parlamento resultante de eleições multipartidárias. Uma revisão constitucional do tipo daquela que é proposta pela Renamo tem algumas limitações óbvias. Cria para um conjunto de províncias um estatuto que as diferencia das restantes em termos da sua relação com o poder central. Assim teríamos as três províncias do sul e uma do norte a serem regidas pela actual Constituição, e as restantes por um novo dispositivo consagrado a título pontual. É desnecessário dizer que este cocktail será o ponto de partida para o desmembramento do Estado moçambicano na sua actual configuração. Os que defendem esta posição insistem que esse não é o objectivo, mas em termos práticos é isso mesmo o que se pretende; dois países num único Estado. Se há necessidade de conferir uma maior autonomia às províncias, tal como isso tem vindo a ser defendido em vários sectores, é importante que esse processo seja conduzido numa base de igualdade. Mas há outras questões que a futura revisão da Constituição deve levar em conta. Uma delas é como garantir que o Presidente da República seja uma figura que se coloca acima de interesses partidários. No actual figurino, tem sido prática que o candidato à Presidência da República seja também o presidente do partido pelo qual ele concorre. Torna-se difícil que nessas circunstâncias, e no exercício das suas funções, ele não seja influenciado nas suas decisões pelo estatuto que ocupa como presidente de um partido. O actual debate sobre a despartidarização do Estado tem a ver em parte com esta coincidência das funções de Presidente da República com as de líder de um partido. Os recursos que são destacados para o presidente do partido, em missões de natureza puramente partidária, são muitas vezes confundidos com os que são colocados à sua disposição na qualidade de Chefe do Estado. Numa outra vertente, a transparência que se deseja no funcionamento das instituições do Estado poderia ser minimamente garantida se cargos como os do Governador do Banco de Moçambique, do Presidente do Tribunal Supremo e dos presidentes dos conselhos de administração das empresas públicas fossem preenchidos através de concursos públicos. Um modelo como este poderia também possivelmente aliviar os titulares destes cargos da pressão política que muitas vezes sofrem no processo de tomada de decisões por parte dos seus superiores na hierarquia partidária. E certamente que ajudaria muito a afastar os fantasmas da exclusão.
A
filosofia na África Lusófona
desde sempre representa uma
parte extremamente marginal
do pensamento filosófico africano que, por seu turno, é periférico se
comparado com os eixos fundamentais
do pensamento moderno e contemporâneo. Esta situação de «dupla perifericidade» não é difícil de entender, uma
vez que o continente africano não está
no centro da economia e das relações
internacionais e, dentro deste continente, os países de língua oficial portuguesa (PALOPs) também encontram-se
numa situação de marginalidade.
Assim sendo, são raros os congressos e
as conferências internacionais, sem falar
das publicações, em que pensadores da
África Lusófona conseguem mostrar as
suas reflexões sobre a sociedade actual,
nomeadamente sobre os países em que
eles encontram-se a actuar.
A revista internacional «Philosophia
Africana», no seu primeiro número de
2015 (o Volume 17 da sua história),
procura suprir parcialmente a esta lacuna. Fá-lo através das intervenções
de investigadores da área das ciências
sociais e da filosofia, que reflectem sobre o papel que esta disciplina tem desempenhado e continua a desempenhar
hoje em dia. O foco exclusivo é sobre
Moçambique, o país que mais de todos
os outros tem contribuído ao avanço da
filosofia nos PALOPs.
A figura central deste número da «Philosophia Africana» é sem dúvidas Severino Ngoenha, actualmente Reitor da
Universidade Técnica de Moçambique
(UDM), considerado por todos os outros como o iniciador dum pensamento
filosófico autónomo em Moçambique.
De forma mais ou menos explícita, os
textos de Elísio Macamo, José Castiano, Ergimino Pedro Mucale e Marco
Massoni reflectem a volta da proposta
filosófica de Ngoenha, principalmente
no que diz respeito ao paradigma de
libertação que ele há muito tempo vem
propondo, juntamente com o novo contrato social pensado para Moçambique.
Anke Graness, da Universidade de Viena, organizadora deste número especial
Por Luca Bussotti*
da revista «Philosophia Africana», é
quem conduz a entrevista central junto com Severino Ngoenha. Dos muitos assuntos que a entrevista aborda (e
que os vários artigos dos autores acima
mencionados tocam e desenvolvem,
cada um à sua maneira), gostaria aqui
de realçar dois, mutuando inclusive alguma temática do último livro de Ngoenha, Terceira Questão.
O primeiro tópico tem a ver com a postura da filosofia moçambicana relativamente às questões fundamentais que
ela aborda, desde a sua recente origem.
Como Ngoenha destaca, o objectivo
sempre foi, desde o início, olhar para o
futuro muito mais do que para o passado. E isso significa, citando Derrida,
procurar inter-relações, interculturalidades e encontros, uma vez que «a
filosofia não tem passaporte». Parecem
afirmações banais, mas não o são: se a
filosofia de Ngoenha, Castiano, Mazula, ou seja, dos iniciadores, tivesse
olhado para o passado, isto ia significar,
primeiro, criar uma fratura insanável
entre antigos colonizadores e, por extensão, Europeus, e o novo Moçambique, acima de tudo do ponto de vista
das referências culturais e éticas; segundo, e mais grave, ia significar continuar
a reproduzir o conflito, ora explícito,
ora latente, entre Moçambicanos, procurando responsabilizar esta ou aquela
fação política relativamente às circunstâncias que levaram ao conflito dos 16
anos, que infelizmente foi retomado em
2013 e continua até hoje. Olhar para
o futuro duma maneira intercultural,
portanto, revela o intuito de construir
uma sociedade nova e possível, em que
pessoas e grupos diferentes do ponto de
vista das suas ideias políticas, religiosas,
éticas, culturais, conseguem conviver
pacificamente entre elas, dando uma
esperança concreta às novas gerações.
O outro aspecto que convém realçar,
e que encontra uma explicação clara
sobretudo nas análises de Castiano e
Mucale, além que em Terceira Questão
do próprio Severino Ngoenha, tem a
ver com o papel que o filósofo pode desempenhar na sociedade moçambicana
contemporânea. Aqui o jogo de cintura
resulta evidente, assim como as dificuldades de propor um pensamento livre e
de libertação no interior dum país que
se encontra ainda «amarrado» aos fantasmas do seu passado e às promissoras
riquezas do seu presente e futuro. Que
tipo de espaço poderá haver um filósofo
que pauta pela procura duma democracia «autêntica», participada e consciente? Que tipo de espaço poderá haver
um filósofo que coloca no centro das
suas reflexões e, porque não, sugestões,
a questão «ética», o «bem comum», ou
seja, todos aqueles elementos que, desde
o seu surgimento, a filosofia considerou
como fundantes duma sociedade justa e
transparente?
Responder a estas perguntas é tarefa
complicada, pois o filósofo – e disso
Severino Ngoenha e todos os outros
têm pleno conhecimento – vive e actua dentro dum meio social e político
determinado historicamente e socialmente. Isso significa que ele não tem o
mesmo espaço de actuação (ou queremos usar a palavra certa: de liberdade?)
independentemente do país onde ele
se encontra. Por esta razão ele tem de
compreender os âmbitos de manobra
possíveis em Moçambique hoje, assim
como os dirigentes políticos deveriam
melhor delinear onde é que o filósofo
(ou, mais em geral, o cientista social)
poderá contribuir para que um caminho de paz e de bem-estar para todos
possa ser retomado, independentemente dos posicionamentos partidários.
A pergunta final que surge espontânea
é a seguinte: será que não estamos a
precisar dum novo contrato, além dos
que Ngoenha tem proposto há muito
tempo, em que os filósofos (e, no geral,
os cientistas sociais) concordam com os
dirigentes políticos um inédito espaço
recíproco de respeito, acção e interven-
ção, muito além das simpatias partidá-
rias que cada um pode ter?
Se Moçambique estiver preparado para
este desafio, o caminho da filosofia e da
liberdade poderá continuar a ter evolu-
ções particularmente interessantes.
O
Presidente da República (PR), Filipe Jacinto
Nyusi, enviou, na última
sexta-feira, 4 de Março,
por via do seu gabinete, uma carta
à liderança da Renamo, o maior
partido da oposição em Moçambique, através da qual o Chefe do
Estado convida Afonso Macacho
Marceta Dhlakama e o seu partido ao reatamento do diálogo, sem
pré-condições, visando o reestabelecimento da paz efectiva no
país.
O convite de Nyusi a Dhlakama
ocorre uma semana depois de o
PR, na sua qualidade de comandante-chefe das Forças de Defesa
e Segurança, ter presidido a um
encontro do Conselho Nacional
de Defesa e Segurança (CNDS),
de tal sorte que o próprio convite
ao líder da Renamo referia que o
mesmo era feito como corolário
7HPSRGH1\XVLVHUHYHODU
das “decisões” do CNDS, o que
se nos afigura no mínimo “interessante”, por este órgão, à semelhança do Conselho de Estado,
não nos parecer ter competências
para decidir seja o que for, limitando-se apenas à produção de
recomendações.
Por outro lado, o convite de Nyusi é feito numa altura em que a
Renamo já dissera, publicamente,
que a condição prévia para o reatamento do diálogo era que ela
assumisse, primeiro, plena e efectivamente, a governação nas seis
províncias em que, supostamente,
venceu nas eleições de 2014; outra
exigência da Renamo, de há duas
semanas, igualmente em jeito
de condição prévia, é no sentido
de a União Europeia (UE) fazer
parte da equipa de mediadores,
juntamente com o Presidente da
África do Sul, Jacob Zuma, e a
Igreja Católica, duas entidades
avançadas pelo maior partido da
oposição moçambicana em finais
de 2015.
Esta segunda-feira, 7 de Março, a
Renamo anunciou, em conferência de imprensa, ter já respondido
ao convite que lhe foi endereçado
pelo PR, tendo declinado entrar
em detalhes, alegadamente por
somente o gabinete de Nyusi ter
legitimidade para tal. Entretanto, a mesma foi por outras vias
tornada pública, significando, simultaneamente, uma vitória e um
desafio ao PR: se, por um lado, a
Renamo desiste do início da governação nas seis províncias em
que reivindica ter ganho, mantendo, entretanto, Jacob Zuma, Igreja Católica e a UE como mediadores (o que nos parece ser uma
vitória parcial para o PR), há, por
outro, o facto de a Renamo ter,
no mais curto espaço de tempo
possível, “devolvido a bola”, como
se diz na gíria desportiva, ao PR
(um claro desafio), a quem compete, igualmente, agir de imediato, a bem deste direito natural: a
paz!
Apesar de a Renamo manter algumas questões prévias, o que, a
nosso ver, até se acham justifi-
cáveis, por a confiança entre as
partes quase inexistir em absoluto por estes dias, o facto de ela
ter recuado da exigência que, em
boa verdade, constitui o âmago
da questão em diferendo (governação das seis províncias em que
diz ter ganho), é uma boa notícia.
Defendendo ele que “a única alternativa à paz é a própria paz”,
apesar de tal ainda carecer de
consubstanciação material, prevemos que o PR parta de imediato para a discussão das questões
prévias colocadas pela Renamo.
Muito provavelmente, talvez terá
que admitir a mediação de parte
dos entes que são propostos pela
Renamo ( Jacob Zuma e Igreja
Católica), sendo pouco provável
que faça o mesmo em relação à
UE. Nisso, não será de estranhar
que o PR também proponha um
ou outro mediador, eventualmente para ‘desequilibrar’ o aparente
‘equilíbrio’ existente entre Jacob
Zuma e a Igreja Católica.
Seja como for, há uma questão de
fundo nisto: quando endereçou a
carta-convite à Renamo, Nyusi
constituiu uma equipa, constituída por três moçambicanos da
sua confiança, para cuidarem da
preparação logístico-operacional
desse encontro entre si e Dhlakama, mas a Renamo, na sua tempestiva resposta, primou pelo
silêncio quanto a isso. Achamos
nós que se o maior partido da
oposição tivesse proposto quadros
seus ou da sua confiança para,
também, cuidarem das questões
práticas de preparação do encontro (incluindo, nisso, a discussão
de mediadores), tal seria ao todo
positivo, pois o tempo urge.
Enquanto isso, quanto mais o
tempo passa parece crescer a
pressão sobre Nyusi, que, há
cerca de um mês, admitiu publicamente que já estava a perder
paciência. Ou seja, Nyusi está já
a caminhar para o segundo ano
da sua administração, com muito
pouco, senão quase nada, de materialmente relevante em termos
de resultados, tendo em conta que
o ambiente de quase guerra acaba
esvaziando o pouco que ainda se
poderia citar como avanços.
O próximo (2017) será o último
da governação de Nyusi que não
seja um ano eleitoral, tendo em
conta que o país vai a eleições em
2018 (autárquicas) e em 2019
(gerais e para as assembleias provinciais). Se a questão da instabilidade político-militar não for
resolvida este ano, não é preciso
ser génio para prever que tal poderá ter custos políticos elevados
para a Frelimo, de que Nyusi é
presidente desde 29 de Março de
2015.
Diferentemente de muitos, que
dizem que Nyusi teve o azar de se
tornar PR num momento complicado para o país (conjuntura
económica desfavorável, severidade das mudanças climáticas,
instabilidade político-militar,
etc.), continuamos a pensar que
tal deve ser relativizado, pois é em
momentos destes que os líderes se
revelam. Como diria o outro: um
PR deve resolver os problemas
do povo e não se transformar em
mero analista ou comentador!
(
ssineta, sim, com dois esses.
Mas podes tratar-me por
Netinha. Hahaha… É um
tratamento de uso restrito,
mas traz-me à memória os momentos mais felizes da minha vida;
traz-me à memória a minha infância livre e despreocupada, feita de
cores e sons.
A cor verde, de finais de ano e
princípios de outro, quando os cajueiros ficavam verdes, de um verde
profundo e denso, quando as mangueiras também ficavam densas,
quando as mafurreiras e as árvores
de jambolão - a que na nossa ingénua infantilidade chamávamos
jambalão - assim também ficavam.
E mesmo assim, era um verde que
contrastava profundamente com o
vermelho do fruto, sob o peso do
qual essas mesmas árvores quase
que se ajoelhavam. Era o caju, era
a mafurra, eram as mangas, era o
jambolão.
Mas também me traz a cor alaranjada de Maio e Junho, quando
as tangerineiras, as laranjeiras e os
ananaseiros estavam em flor e se
distribuía no ar a fragrância delico-
-doce das flores dessas fruteiras.
Era um prazer de vida.
Uma cor que me marca muito e me
marcou desde essa altura é o azul
– o azul do mar e o azul do céu –,
porque me punham e ainda hoje
me põem essa necessidade e urgência de partir. Partir sem destino,
mas também sem vontade própria
de partir. Quer dizer, apetece-me
Depoimento 3
partir, ficando; ou me apetece ficar,
partindo. O azul do céu e o azul do
mar sugerem-me um universo sem
limites, uma vontade de ser e não
ser.
Netinha também me sugere outros momentos de felicidade, muito mais tarde: quando o céu ficava
sem estrelas e eu me enroscava no
corpo do Amós, meu marido, que
Deus o tenha, feita um novelo de
lã, ou de linho ou de seda; um cálice de néctar, os meus seios túrgidos,
duros de encontro ao peito dele, os
meus cabelos confundindo-se com
os pêlos do seu peito. Sim, porque
o Amós tinha essa particularidade
que eu adorava e que muito poucas mulheres conheciam. Talvez eu
fosse a única, tirando a mãe dele:
o Amós tinha um peito cheio de
pêlos. E no meio desse devaneio
de dilúvio, quando se dava o fragor
de terramoto sobre nós e os nossos
lábios se transformavam em tentá-
culos de mel, a única coisa que ele
conseguia dizer aos meus ouvidos
era esse meu diminutivo: “Netinha,
Netinha minha filha.”
Netinha é diminutivo. De nome
completo chamo-me Essineta João
Macassa, nasci em Morrumbene, fiz os meus estudos aqui mesmo perto, na Missão de Cambine.
Agora, que tenho 90 anos, cultivo
esta vontade que me vem de dentro
de tentar criar à volta de mim este
universo de esperança que é feito
desta casa onde albergo meia dúzia
de adolescentes e jovens a quem
a sociedade quer pôr de lado por
razões que nem têm racionalidade
nenhuma, ou seja, tenho aqui seis
raparigas declaradamente lésbicas.
Tenho também homossexuais e
transsexuais, e tenho duas senhoras a quem a vida quis pôr de lado,
mas que agora, aos 40 anos, sentem
que podem mudar um pouco de
estilo de vida sendo prestáveis para
a sociedade. Eram prostitutas, trabalharam durante muito tempo na
Rua Araújo, no Dancing Penguin.
Dou-me muito bem com todos
eles.
Apesar dos meus 90 anos, ainda
me sinto bem quando os bisnetos
ou trinetos me tratam por “vovó
Netinha”. Eu fui muito bela, sabes!
E, aliás, se reparares bem em mim,
vais notar que ainda tenho traços
dessa beleza no meu rosto. O meu
cabelo está todo branco, o que me
dá um ar, não digo de superioridade, mas de felicidade e autoridade
moral para abraçar quem quer que
seja a qualquer momento. E mesmo
assim, nunca perco a oportunidade
de dar um beijo na boca àqueles a
quem desejo bem, que não são poucos.
Podes tratar-me por Netinha, é
assim que gosto que me tratem,
porque gosto que as pessoas percebam que sou capaz de amar, e amar
profundamente e sem interesse nenhum imediato subjacente a esse
amor. Amo por uma questão muito
simples: gosto de amar. Sinto-me
bem quando amo.
A
s más condições de vida
de muitas das nossas
crianças podem afectar negativamente a sua
saúde e, por consequência, o rendimento escolar. São múltiplas
as situações de vida responsáveis
por problemas de saúde e pelo
mau rendimento escolar. Por
exemplo: casas sem ventilação ou
com ventilação deficiente, falta
de protecção na estação fresca,
água não potável e não canalizada, higiene, etc.
Malária, parasitoses e anemia
Crianças e aprendizagem
ancilostomótica são outros problemas sérios que afectam o rendimento escolar.
O rendimento escolar pode ainda ser afectado pela distância
que medeia entre a casa do aluno
e a escola. São muitas as nossas
crianças que, diariamente, em
particular nas zonas rurais, têm
de percorrer enormes distâncias
entre as suas casas e as escolas,
não poucas vezes sem terem comido o que quer que seja. Esse
esforço tem efeitos negativos no
rendimento escolar.
6$&2$=8/ 3RU/XtV*XHYDQH 3RU0DFKDGRGD*UDoD $ 3 O provável retomar do diálogo com vista a estabelecer novos caminhos para a paz em Moçambique já está a dar os seus sinais positivos. A Renamo pode ter ponderado, assim, a governação nas “suas províncias”. As partes em conflito, por esta via, dão indicações de abandono de hostilidades de índole político-militar que têm produzido um considerável número de óbitos (sobretudo jovens). Os acontecimentos ocorridos no centro do país, que nos fizeram temer a reedição do triste passado que Moçambique atravessou com a Guerra dos 16 anos, serviram uma vez mais para voltarmos a perceber que o diálogo entre o Governo/Frelimo e a Renamo é fundamental para o progresso deste país, que é mister reformular e/ou recriar a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e respectivo Secretariado Técnico de Admi- $PiTXLQDHOHLWRUDO nistração Eleitoral (STAE) para que ninguém duvide dos resultados eleitorais e que isso não cause mortes e destruições. Há em Moçambique, recorrentemente, uma fortíssima ligação entre os problemas político- -militares e o tipo e qualidade de trabalho realizado pela CNE e STAE (sobretudo em momentos de pico eleitoral). É importante que estes órgãos de gestão eleitoral sejam potenciados e realimentados em termos de ética eleitoral, em termos de reinterpretação do significado de “eleições livres, justas e transparentes”. Pode- -se dizer, aqui e ali, que as eleições na África subsaariana valem pelas reclamações de fraude, mas esta suposta verdade obriga-nos a que não nos acomodemos nesse rótulo. O que é mau não pode ser bom para nós! Ao que parece, para o nosso caso, as eleições gerais aparentam ter muito menos qualidade relativamente às municipais, em termos de controlo e isenção. Não basta cantarolar que a Renamo sempre reclama dos resultados eleitorais, é preciso, isso sim, não dar motivos para que ela se sinta obrigada a isso. Qual o alcance e o significado quando ressurgem expressões como “roubaram votos”, “encheram urnas”, “destru- íram editais”? E por outro lado reprova-se ou rejeitam-se tais pronunciamentos alegando que não devem reclamar porque eles estavam lá presentes. Ou seja, houve enchimento porque uns e outros distraíram-se. A vontade popular pode ser, assim, manipulada. Como dizia, é preciso repensar ou debater-se profundamente sobre a composição e o mérito que se pretende da CNE e do STAE. É que os políticos estão sempre a estragar a sopa. Esta é consumida em ambiente de repulsa (por todos) e, em função da “camisola partidária”, cada um diz se a sopa é boa ou péssima. O que se espera que as partes dialoguem, que ainda não dialogaram? O provável retomar do diálogo deve sanar a problemática da nossa máquina eleitoral. Esta é uma das questões de fundo. Muitos moçambicanos perderam a vida devido ao impacto negativo da problemática surgida da contestação dos últimos resultados eleitorais. A máquina eleitoral não pode e nem deve ser, directa ou indirectamente, uma máquina de produção de mortes, emigração forçada e exclusão. Sugerimos, deste modo, que este aspecto seja, sem delongas, um dos pontos em discussão entre as partes. A democracia tem os seus custos: à imagem, por exemplo, da Nigéria, Costa do Marfim e Tanzânia, já é tempo de enveredarmos pelo “voto electrónico” como solução, como motivação para a coesão entre os moçambicanos.
N os últimos dias a memória de Mandela associada ao que vivi na África do Sul, entre 1985 e 1997, não me sai da cabeça. Sim, falo desse herói que fez a primeira página dos jornais e a primeira notícia nas TVs em todos os cinco continentes do planeta quando morreu há pouco mais de dois anos, serenamente, de doença e idade avançada. Nem a morte de Samora, esse sim desaparecido em circunstâncias dramáticas, teve tal impacto. O que fez de Mandela uma personalidade fora do comum, admirado sem contestação pelos seus pares e amado por gente de países distantes nas geografias mais diversas, resumo-a assim: foi um jovem com sonhos simples a nível pessoal, mas com grandes ambi- ções para a África do Sul. Dedicou a vida ao ANC enquanto organização que devia libertar o povo sul- -africano do regime do apartheid e morreu com essa missão cumprida. Foram as suas qualidades morais e intelectuais aliadas à integridade e firmeza nos propó- sitos, que mais contribuíram para a rendição dos inimigos. O que se passa com Moçambique que não tirou lições da história do país vizinho quando, infelizmente, nos seus 40 anos de independência não teve praticamente uma década em paz? Mandela, como homem não teve uma vida comum, tranquila ou sem dramas. Casamentos e divórcios, a dor de perder um dos filhos, a sua ausência como chefe de família que não lhe permitiu cumprir esse papel, foram o fardo pessoal que carregou durante a maior parte da sua vida. Mas isso nunca o desviou da grande causa a que escolheu como destino: a luta por uma África do Sul livre, de vários povos reconciliados e unidos em torno de uma Constituição democrática, sem racismo e sem discriminações. O que se destaca na vida de Mandela é, em primeiro lugar, a maneira como se preparou para cumprir o destino que escolheu para si. Preparou-se estudando, trabalhando como profissional e nas estruturas do ANC. Criou o seu círculo de camaradas e amigos próximos que o viriam a acompanhar de perto até ao resto da vida, alguns deles a seu lado na cadeia. Foram eles que melhor compreenderam e reconheceram na sua grandeza moral, inteligência e sabedoria as qualidades necessárias para os dirigir nas tarefas e nos sacrifícios que a sua missão exigia. É hoje conhecido que Mandela, ainda como prisioneiro, consciente da evolução da situação política mundial mais favorável ao ANC, cedo na década de 80 come- çou conversações secretas com o governo do apartheid – mantendo aberta a opção da luta armada em caso de fracasso do diálogo. Mesmo correndo o risco de ser mal compreendido pelos seus próprios camaradas, ele sabia que aquele era o tempo da negociação e não do derramamento de sangue. E assumindo todos os riscos, corajosamente avançou. Esta situação durou quase uma década: camaradas seus iam sendo libertados, o apartheid procedia a algumas mudanças e chegou o dia da sua própria libertação. A partir daí o diálogo, agora já não em segredo, mas seguido e escrutinado pelos media nacionais e de todo o mundo, ia mostrando a complexa situação da África do Sul e as crises sucessivas a que Mandela, sempre ele, tinha de acudir. Conflitos que não degeneraram em banhos de sangue porque o país ouviu dele as palavras oportunas. Várias vezes a guerra civil e fratricida pareceu inevitável, mas ele sempre soube lidar com diferentes adversários usando a argumentação certa. Entretanto, as conversações terminaram, a Nova Constituição foi acordada, e os sul-africanos festejaram a vitória e exaltaram o seu principal protagonista, Nelson Mandela. Mandela sabia ser intransigente nos princípios e flexí- vel nos detalhes. Mas nunca lhe faltou o discernimento para separar o essencial do secundário e só assim diálogo e negociação podem avançar. Quando teve de fazer cedências, e conhecemos-lhe muitas, nunca saiu delas diminuído. Quem me está a ler já se perguntou a que propósito vem este elogio a Mandela? Vem a propósito do que estamos a viver em Moçambique neste preciso momento em que escrevo. Será possível que o conflito armado, que quase destruiu este país durante 16 anos de atrocidades e horrores, se vai repetir? O que se passa já não são sinais, já não são avisos, já não são ensaios. É um perigosíssimo jogo entre adversários que têm tudo em mente menos a vida do povo moçambicano que os suporta há demasiado tempo. É um jogo que ninguém ganhará mas que já sabemos quem perde: os moçambicanos jovens que atrasarão anos do seu futuro por causa dos que se entregam aos seus estúpidos desafios pelo poder. As crianças, os inocentes entre os inocentes, já não chegarão a viver uma vida digna desse nome por causa dos estragos que já foram feitos, somados aos que hão-de vir, e que resultam da ganância pelas coisas mais mesquinhas que vêm com o poder de decidir sobre outros. Perderemos todos nós, sem excepção, porque não há ilha para onde alguém possa fugir e sobreviver. Quem poderia ter imaginado isto em 1992 quando parecia que os desavindos se tinham finalmente entendido e assinado um Acordo de Paz em Roma? Onde estão os Mandela de Moçambique?
N uma atitude ousada, o ministro da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula, surpreendeu meio-mundo, ao afastar dos seus cargos figuras com larga experiência no dirigismo. Entre os sacrificados, conta-se António Munguambe, que já ocupou várias pastas no ministério, entre elas, as de director nacional de Desportos, director nacional adjunto, director de Estudos e Projectos, director da Juventude e Desportos da cidade de Maputo, director-geral do Instituto Nacional de Desportos, INADE, entre outras. Para além de Munguambe, Antó- nio Enes e José de Sousa Pereira, director-geral e director-geral adjunto do Complexo Desportivo do Zimpeto, foram despromovidos. Enes já esteve afecto à Direcção Provincial da Juventude e DesNkutumula afasta pesos-pesados portos de Cabo Delgado, enquanto que Pereira já foi porta-voz do Ministério. O assessor Inácio Bernardo, que também já foi director nacional e director nacional adjunto dos Desportos e director do Fundo de Promoção Desportiva não escapou à vassourada. Outros afastados foram: Alexandre Zandamela, jornalista sénior e antigo chefe da redacção desportiva do Notícias, e Ceise Mabjaia, que, entretanto, passa a chefiar o departamento de Gestão de Património no Fundo de Promoção Desportiva . Mas a vassourada de Nkutumula não termina por aqui, pois do Fundo de Promoção Desportiva mandou cessar funções Martinha Mulungo, chefe do Departamento de Administração, e Sandra Tembe, chefe do Departamento de Planifi- cação e Estatística. Cessaram ainda os directores provinciais da Juventude e Desportos de Gaza, Fernando Pinho, mas, entretanto, nomeado para o mesmo cargo em Sofala; Cruz Coimbra, de Sofala; Albino Perieia, de Cabo Delgado, e Ângela Reane, de Nampula. Nkutumula nomeou, ainda, Cláudio Njudi, para o cargo de director provincial da Juventude e Desportos de Cabo Delgado; Cachimo Raul, para Nampula e Rui de Sousa, para Gaza. A nível central, Sandra Tembe passa a dirigir o Departamento da Administração no Fundo de Promoção Desportiva e Ivan Ernesto, o Departamento de Planificação.
L úcio Lara morreu aos 86 anos em Luanda, no passado dia 27 de Fevereiro corrente. Lara foi um dos fundadores Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e foi Secretário-geral do MPLA durante a guerra pela independência de Angola e durante a guerra civil. Foi um dos fundadores do MAC (Movimento Anti-Colonialista / Movimento Anti-Colonial), que também incluiu Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Noémia de Sousa, Humberto Machado e Eduardo dos Santos, entre outros. Lúcio Lara, filho de pai português e mãe angolana, natural da província do Huambo, fez os seus estudos em Portugal. A sua militância no partido maioritário iniciou-se na década de 1950, em Angola e entre angolanos no exílio, tendo sido eleito secretário da organização e dos quadros do partido na primeira conferência nacional do MPLA, em Dezembro de 1962. Posteriormente, passou a secretário-geral. Para se saber com exactidão quem foi, na óptica do regime, Lúcio Lara, nada melhor do que transcrever o texto do Jornal de Angola: “Também conhecido por Tchiweka, pseudó- nimo de guerra escolhido em homenagem à terra da sua mãe, uma aldeia situada no Huambo, a morte de Lúcio Lara é a partida de uma das principais figuras da luta pela independência do país do jugo colonial. Lúcio Lara foi o exemplo de jovens que, na década de 40 do século XX, abraçaram os ideais de liberdade e de progresso e, determinados, formaram um amplo movimento de libertação nacional com o objectivo de quebrar as algemas da repressão e devolver Lúcio Lara empossou Agostinho Neto e Eduardo dos Santos ao povo angolano o sonho de independência que a implantação do colonialismo havia roubado. A repressão colonial fascista fez emergir uma geração de angolanos que procurou, dentro e fora do país, criar as condições para que o processo de luta anti-colonial ganhasse uma outra dinâmica e reconhecimento a nível africano e internacional. É neste contexto que Lúcio Lara se destaca como um dos impulsionadores de todo o processo de organização política que veio a desenvolver-se, tendo como ponto de partida a Casa dos Estudantes do Império, em Coimbra, onde se encontrava a estudar e onde deu início à actividade política, em 1949. Com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem, e outros nacionalistas, Lara fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, importante ponto de encontro para troca de informações, de documentos e de coordenação da luta clandestina contra o poder colonial. Quando a PIDE (polícia secreta portuguesa) desencadeia uma vaga de perseguições e detenções, entre 1950 e 1959, Lúcio Lara refugia-se na Alemanha. É seguindo, depois, a rota Tunes (Tunísia), Rabat (Marrocos) e Conacry (Guiné Conacry) que faz o regresso ao continente. A partir desta última capital, enceta um intenso trabalho político que, em conjunto com Agostinho Neto e demais nacionalistas, o vai guindar à posição de co-fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola. A participação na luta de libertação nacional, a entrega total à causa do povo angolano, o empenho para tornar Angola um país uno e indivisível, fizeram de Lúcio Lara uma figura incontornável no seio do MPLA. A luta gloriosa levada a cabo ao longo de 14 anos de guerrilha em Angola, que se espalhou praticamente por todo o país, a par das guerras de libertação que teve de enfrentar nas outras ex-colónias, levaram o poder colonial a claudicar. O golpe de Estado que em 25 de Abril de 1974 pôs fim à ditadura colonial fascista em Portugal foi o corolário de todo esse longo processo de desarticulação da máquina que Salazar havia montado. Como resultado, a 8 de Novembro de 1974 Lúcio Lara aterrava em Luanda à frente da primeira delegação do MPLA que se deslocou à capital angolana depois do derrube da ditadura em Portugal. Viria então preparar o regresso de Agostinho Neto, que teria lugar em Fevereiro de 1975. Foi Lúcio Lara quem empossou Agostinho Neto como primeiro Presidente de Angola, e foi também Lúcio Lara quem deu posse ao Presidente José Eduardo dos Santos, depois do desaparecimento físico do fundador da nação. Falar de Lúcio Lara é tão somente falar de um dos grandes vultos da política angolana que, ao lado de Agostinho Neto, marcou de forma inapagável um dos mais ricos períodos da história da luta pela autodeterminação do povo angolano e pela afirmação de Angola como país soberano no concerto das nações. Com a sua morte, parte o último fundador até então vivo do Movimento Popular de Libertação de Angola”. O autor de O Nome da Rosa, que tinha 84 anos, era um dos mais conhecidos intelectuais europeus. O escritor italiano Umberto Eco, autor de O Nome da Rosa, morreu na noite de 19 de Fevereiro na sua casa em Milão. Tinha 84 anos e era uma das mais relevantes figuras da cultura italiana dos últimos 50 anos. Não foi revelada a causa da sua morte, mas o intelectual e professor de Semiótica na Universidade de Bolonha sofria de um cancro há vários anos. O seu último livro, com o título Pape Satàn Aleppe, será publicado em Maio. O seu nome fica ligado a nível internacional ao grande sucesso que teve a obra O Nome da Rosa, editado em 1980, e que se transformou num best-seller internacional. O romance, um mistério passado num mosteiro medieval, foi traduzido em todo o mundo e vendeu mais de 10 milhões de cópias. Mais tarde, foi adaptado ao cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery a desempenhar o papel principal. Umberto Eco foi um pioneiro da semiótica, a ciência dos signos, um teórico da linguagem e autor de vários ensaios filosóficos. Foi só relativamente tarde que publicou o seu primeiro romance, precisamente O Nome da Rosa, mas foi este que lhe garantiu uma popularidade mundial ao pôr a sua enorme erudição ao serviço da construção do romance histórico. “A linguagem, a informação, a retórica dos discursos e a necessidade de compreender as configurações culturais em que vivemos, em comparação com as que existiam outrora, Umberto Eco ajudou a reinventar a figura do intelectual eram os seus temas”, diz o historiador Diogo Ramada Curto. “O ensaio, a história mas sobretudo, desde a publicação de O Nome da Rosa, a obra de ficção eram os instrumentos de que se servia para responder tanto às preocupações pelo presente, como pelo passado.” Dr. Eco nasceu em Alexandria, na região do Piemonte, a 5 de Janeiro de 1932. Cresceu durante a II Guerra Mundial, estudou filosofia e estética e formou-se com uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino mas, sublinha o Le Monde, não se mantém apenas na área da teoria e logo a partir de meados dos anos 50 entra no mundo dos media começando por trabalhar na RAI, a televisão pública italiana, em programas culturais. Ao mesmo tempo, em 1962, publica a Obra Aberta, referência incontornável do seu pensamento na área da semiótica na qual defende que cada obra é composta por uma infinidade de signos e por isso oferece a possibilidade de múltiplas interpretações. Entre os seus livros mais conhecidos está o já referido O Pêndulo de Foucault, editado em 1988, uma obra na qual cruza templários, kabala e sociedades secretas. Além de vários romances, em que se incluem ainda A Ilha do Dia Anterior (1994), Baudolino (2000), A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004) e O Cemitério de Praga (2011), Eco é autor de inúmeros ensaios sobre semiótica, estética medieval, linguística e filosofia. Mas considerava-se sobretudo “um filósofo”: “Só escrevo romances aos fins-de-semana.” O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça vai participar em Portugal, no Moda Lisboa, no dia 13 de Março corrente. O etnomusicólogo moçambicano vai actuar acompanhando o desfile da estilista angolana Nadir Tati. Ela vai apresentar uma colecção denominada A voz de Angola. “O meu trabalho é de “transportar” para o mundo toda uma história africana que passa por um processo de identidade e afirma- ção de um continente que acompanha cada vez mais o mundo num processo de globalização. Drapeados, bordados, transparências, rendas e tecidos africanos irão dar corpo a esta obra criativa desta que é a grande Mestre e Diva da moda angolana”, explica Nadir. Moreira Chonguiça afirma que o trabalho conjunto é uma referência na promoção e divulgação de cultura e criatividades africanas. “Conheço a estilista Nadir Tati. Na cultura não há fronteiras e temos os dois a parceria em outros projectos. Essa é mais uma experiência que resulta dessa cooperação existente entre nós como artistas e como países, Moçambique e Angola”. Nadir Tati é a principal referência quando se fala de moda contemporânea em Angola. Formada em CriminoloMoreira Chonguiça no Moda Lisboa gia, consultora de imagem e desenho de moda, trabalhou vários anos como manequim, uma profissão que lhe despertou a paixão pelas artes e pelo fascinante mundo da moda, em especial, a moda africana. Nadir Tati afirma que encontra inspira- ção na sua própria vida e na história de vida dos Angolanos. As suas colecções são elegantes, modernas e glamorosas sem, contudo, esquecer a identidade angolana . A voz de Angola é o tema da sua mais recente colecção africana. “Dedicada e refinada esta colecção foi inspirada na situação actual da mulher angolana no mundo. Tenho em atenção o desenvolvimento e a história da mulher angolana que cada vez mais sofisticada luta para um lugar de destaque na sociedade. É uma colecção sublime de vestidos de noite dourados e vermelhos trabalhados ao detalhe”, finaliza.A.S
6$&2$=8/ 3RU/XtV*XHYDQH 3RU0DFKDGRGD*UDoD $ 3 O provável retomar do diálogo com vista a estabelecer novos caminhos para a paz em Moçambique já está a dar os seus sinais positivos. A Renamo pode ter ponderado, assim, a governação nas “suas províncias”. As partes em conflito, por esta via, dão indicações de abandono de hostilidades de índole político-militar que têm produzido um considerável número de óbitos (sobretudo jovens). Os acontecimentos ocorridos no centro do país, que nos fizeram temer a reedição do triste passado que Moçambique atravessou com a Guerra dos 16 anos, serviram uma vez mais para voltarmos a perceber que o diálogo entre o Governo/Frelimo e a Renamo é fundamental para o progresso deste país, que é mister reformular e/ou recriar a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e respectivo Secretariado Técnico de Admi- $PiTXLQDHOHLWRUDO nistração Eleitoral (STAE) para que ninguém duvide dos resultados eleitorais e que isso não cause mortes e destruições. Há em Moçambique, recorrentemente, uma fortíssima ligação entre os problemas político- -militares e o tipo e qualidade de trabalho realizado pela CNE e STAE (sobretudo em momentos de pico eleitoral). É importante que estes órgãos de gestão eleitoral sejam potenciados e realimentados em termos de ética eleitoral, em termos de reinterpretação do significado de “eleições livres, justas e transparentes”. Pode- -se dizer, aqui e ali, que as eleições na África subsaariana valem pelas reclamações de fraude, mas esta suposta verdade obriga-nos a que não nos acomodemos nesse rótulo. O que é mau não pode ser bom para nós! Ao que parece, para o nosso caso, as eleições gerais aparentam ter muito menos qualidade relativamente às municipais, em termos de controlo e isenção. Não basta cantarolar que a Renamo sempre reclama dos resultados eleitorais, é preciso, isso sim, não dar motivos para que ela se sinta obrigada a isso. Qual o alcance e o significado quando ressurgem expressões como “roubaram votos”, “encheram urnas”, “destru- íram editais”? E por outro lado reprova-se ou rejeitam-se tais pronunciamentos alegando que não devem reclamar porque eles estavam lá presentes. Ou seja, houve enchimento porque uns e outros distraíram-se. A vontade popular pode ser, assim, manipulada. Como dizia, é preciso repensar ou debater-se profundamente sobre a composição e o mérito que se pretende da CNE e do STAE. É que os políticos estão sempre a estragar a sopa. Esta é consumida em ambiente de repulsa (por todos) e, em função da “camisola partidária”, cada um diz se a sopa é boa ou péssima. O que se espera que as partes dialoguem, que ainda não dialogaram? O provável retomar do diálogo deve sanar a problemática da nossa máquina eleitoral. Esta é uma das questões de fundo. Muitos moçambicanos perderam a vida devido ao impacto negativo da problemática surgida da contestação dos últimos resultados eleitorais. A máquina eleitoral não pode e nem deve ser, directa ou indirectamente, uma máquina de produção de mortes, emigração forçada e exclusão. Sugerimos, deste modo, que este aspecto seja, sem delongas, um dos pontos em discussão entre as partes. A democracia tem os seus custos: à imagem, por exemplo, da Nigéria, Costa do Marfim e Tanzânia, já é tempo de enveredarmos pelo “voto electrónico” como solução, como motivação para a coesão entre os moçambicanos.
N os últimos dias a memória de Mandela associada ao que vivi na África do Sul, entre 1985 e 1997, não me sai da cabeça. Sim, falo desse herói que fez a primeira página dos jornais e a primeira notícia nas TVs em todos os cinco continentes do planeta quando morreu há pouco mais de dois anos, serenamente, de doença e idade avançada. Nem a morte de Samora, esse sim desaparecido em circunstâncias dramáticas, teve tal impacto. O que fez de Mandela uma personalidade fora do comum, admirado sem contestação pelos seus pares e amado por gente de países distantes nas geografias mais diversas, resumo-a assim: foi um jovem com sonhos simples a nível pessoal, mas com grandes ambi- ções para a África do Sul. Dedicou a vida ao ANC enquanto organização que devia libertar o povo sul- -africano do regime do apartheid e morreu com essa missão cumprida. Foram as suas qualidades morais e intelectuais aliadas à integridade e firmeza nos propó- sitos, que mais contribuíram para a rendição dos inimigos. O que se passa com Moçambique que não tirou lições da história do país vizinho quando, infelizmente, nos seus 40 anos de independência não teve praticamente uma década em paz? Mandela, como homem não teve uma vida comum, tranquila ou sem dramas. Casamentos e divórcios, a dor de perder um dos filhos, a sua ausência como chefe de família que não lhe permitiu cumprir esse papel, foram o fardo pessoal que carregou durante a maior parte da sua vida. Mas isso nunca o desviou da grande causa a que escolheu como destino: a luta por uma África do Sul livre, de vários povos reconciliados e unidos em torno de uma Constituição democrática, sem racismo e sem discriminações. O que se destaca na vida de Mandela é, em primeiro lugar, a maneira como se preparou para cumprir o destino que escolheu para si. Preparou-se estudando, trabalhando como profissional e nas estruturas do ANC. Criou o seu círculo de camaradas e amigos próximos que o viriam a acompanhar de perto até ao resto da vida, alguns deles a seu lado na cadeia. Foram eles que melhor compreenderam e reconheceram na sua grandeza moral, inteligência e sabedoria as qualidades necessárias para os dirigir nas tarefas e nos sacrifícios que a sua missão exigia. É hoje conhecido que Mandela, ainda como prisioneiro, consciente da evolução da situação política mundial mais favorável ao ANC, cedo na década de 80 come- çou conversações secretas com o governo do apartheid – mantendo aberta a opção da luta armada em caso de fracasso do diálogo. Mesmo correndo o risco de ser mal compreendido pelos seus próprios camaradas, ele sabia que aquele era o tempo da negociação e não do derramamento de sangue. E assumindo todos os riscos, corajosamente avançou. Esta situação durou quase uma década: camaradas seus iam sendo libertados, o apartheid procedia a algumas mudanças e chegou o dia da sua própria libertação. A partir daí o diálogo, agora já não em segredo, mas seguido e escrutinado pelos media nacionais e de todo o mundo, ia mostrando a complexa situação da África do Sul e as crises sucessivas a que Mandela, sempre ele, tinha de acudir. Conflitos que não degeneraram em banhos de sangue porque o país ouviu dele as palavras oportunas. Várias vezes a guerra civil e fratricida pareceu inevitável, mas ele sempre soube lidar com diferentes adversários usando a argumentação certa. Entretanto, as conversações terminaram, a Nova Constituição foi acordada, e os sul-africanos festejaram a vitória e exaltaram o seu principal protagonista, Nelson Mandela. Mandela sabia ser intransigente nos princípios e flexí- vel nos detalhes. Mas nunca lhe faltou o discernimento para separar o essencial do secundário e só assim diálogo e negociação podem avançar. Quando teve de fazer cedências, e conhecemos-lhe muitas, nunca saiu delas diminuído. Quem me está a ler já se perguntou a que propósito vem este elogio a Mandela? Vem a propósito do que estamos a viver em Moçambique neste preciso momento em que escrevo. Será possível que o conflito armado, que quase destruiu este país durante 16 anos de atrocidades e horrores, se vai repetir? O que se passa já não são sinais, já não são avisos, já não são ensaios. É um perigosíssimo jogo entre adversários que têm tudo em mente menos a vida do povo moçambicano que os suporta há demasiado tempo. É um jogo que ninguém ganhará mas que já sabemos quem perde: os moçambicanos jovens que atrasarão anos do seu futuro por causa dos que se entregam aos seus estúpidos desafios pelo poder. As crianças, os inocentes entre os inocentes, já não chegarão a viver uma vida digna desse nome por causa dos estragos que já foram feitos, somados aos que hão-de vir, e que resultam da ganância pelas coisas mais mesquinhas que vêm com o poder de decidir sobre outros. Perderemos todos nós, sem excepção, porque não há ilha para onde alguém possa fugir e sobreviver. Quem poderia ter imaginado isto em 1992 quando parecia que os desavindos se tinham finalmente entendido e assinado um Acordo de Paz em Roma? Onde estão os Mandela de Moçambique?
N uma atitude ousada, o ministro da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula, surpreendeu meio-mundo, ao afastar dos seus cargos figuras com larga experiência no dirigismo. Entre os sacrificados, conta-se António Munguambe, que já ocupou várias pastas no ministério, entre elas, as de director nacional de Desportos, director nacional adjunto, director de Estudos e Projectos, director da Juventude e Desportos da cidade de Maputo, director-geral do Instituto Nacional de Desportos, INADE, entre outras. Para além de Munguambe, Antó- nio Enes e José de Sousa Pereira, director-geral e director-geral adjunto do Complexo Desportivo do Zimpeto, foram despromovidos. Enes já esteve afecto à Direcção Provincial da Juventude e DesNkutumula afasta pesos-pesados portos de Cabo Delgado, enquanto que Pereira já foi porta-voz do Ministério. O assessor Inácio Bernardo, que também já foi director nacional e director nacional adjunto dos Desportos e director do Fundo de Promoção Desportiva não escapou à vassourada. Outros afastados foram: Alexandre Zandamela, jornalista sénior e antigo chefe da redacção desportiva do Notícias, e Ceise Mabjaia, que, entretanto, passa a chefiar o departamento de Gestão de Património no Fundo de Promoção Desportiva . Mas a vassourada de Nkutumula não termina por aqui, pois do Fundo de Promoção Desportiva mandou cessar funções Martinha Mulungo, chefe do Departamento de Administração, e Sandra Tembe, chefe do Departamento de Planifi- cação e Estatística. Cessaram ainda os directores provinciais da Juventude e Desportos de Gaza, Fernando Pinho, mas, entretanto, nomeado para o mesmo cargo em Sofala; Cruz Coimbra, de Sofala; Albino Perieia, de Cabo Delgado, e Ângela Reane, de Nampula. Nkutumula nomeou, ainda, Cláudio Njudi, para o cargo de director provincial da Juventude e Desportos de Cabo Delgado; Cachimo Raul, para Nampula e Rui de Sousa, para Gaza. A nível central, Sandra Tembe passa a dirigir o Departamento da Administração no Fundo de Promoção Desportiva e Ivan Ernesto, o Departamento de Planificação.
L úcio Lara morreu aos 86 anos em Luanda, no passado dia 27 de Fevereiro corrente. Lara foi um dos fundadores Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e foi Secretário-geral do MPLA durante a guerra pela independência de Angola e durante a guerra civil. Foi um dos fundadores do MAC (Movimento Anti-Colonialista / Movimento Anti-Colonial), que também incluiu Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Noémia de Sousa, Humberto Machado e Eduardo dos Santos, entre outros. Lúcio Lara, filho de pai português e mãe angolana, natural da província do Huambo, fez os seus estudos em Portugal. A sua militância no partido maioritário iniciou-se na década de 1950, em Angola e entre angolanos no exílio, tendo sido eleito secretário da organização e dos quadros do partido na primeira conferência nacional do MPLA, em Dezembro de 1962. Posteriormente, passou a secretário-geral. Para se saber com exactidão quem foi, na óptica do regime, Lúcio Lara, nada melhor do que transcrever o texto do Jornal de Angola: “Também conhecido por Tchiweka, pseudó- nimo de guerra escolhido em homenagem à terra da sua mãe, uma aldeia situada no Huambo, a morte de Lúcio Lara é a partida de uma das principais figuras da luta pela independência do país do jugo colonial. Lúcio Lara foi o exemplo de jovens que, na década de 40 do século XX, abraçaram os ideais de liberdade e de progresso e, determinados, formaram um amplo movimento de libertação nacional com o objectivo de quebrar as algemas da repressão e devolver Lúcio Lara empossou Agostinho Neto e Eduardo dos Santos ao povo angolano o sonho de independência que a implantação do colonialismo havia roubado. A repressão colonial fascista fez emergir uma geração de angolanos que procurou, dentro e fora do país, criar as condições para que o processo de luta anti-colonial ganhasse uma outra dinâmica e reconhecimento a nível africano e internacional. É neste contexto que Lúcio Lara se destaca como um dos impulsionadores de todo o processo de organização política que veio a desenvolver-se, tendo como ponto de partida a Casa dos Estudantes do Império, em Coimbra, onde se encontrava a estudar e onde deu início à actividade política, em 1949. Com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem, e outros nacionalistas, Lara fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, importante ponto de encontro para troca de informações, de documentos e de coordenação da luta clandestina contra o poder colonial. Quando a PIDE (polícia secreta portuguesa) desencadeia uma vaga de perseguições e detenções, entre 1950 e 1959, Lúcio Lara refugia-se na Alemanha. É seguindo, depois, a rota Tunes (Tunísia), Rabat (Marrocos) e Conacry (Guiné Conacry) que faz o regresso ao continente. A partir desta última capital, enceta um intenso trabalho político que, em conjunto com Agostinho Neto e demais nacionalistas, o vai guindar à posição de co-fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola. A participação na luta de libertação nacional, a entrega total à causa do povo angolano, o empenho para tornar Angola um país uno e indivisível, fizeram de Lúcio Lara uma figura incontornável no seio do MPLA. A luta gloriosa levada a cabo ao longo de 14 anos de guerrilha em Angola, que se espalhou praticamente por todo o país, a par das guerras de libertação que teve de enfrentar nas outras ex-colónias, levaram o poder colonial a claudicar. O golpe de Estado que em 25 de Abril de 1974 pôs fim à ditadura colonial fascista em Portugal foi o corolário de todo esse longo processo de desarticulação da máquina que Salazar havia montado. Como resultado, a 8 de Novembro de 1974 Lúcio Lara aterrava em Luanda à frente da primeira delegação do MPLA que se deslocou à capital angolana depois do derrube da ditadura em Portugal. Viria então preparar o regresso de Agostinho Neto, que teria lugar em Fevereiro de 1975. Foi Lúcio Lara quem empossou Agostinho Neto como primeiro Presidente de Angola, e foi também Lúcio Lara quem deu posse ao Presidente José Eduardo dos Santos, depois do desaparecimento físico do fundador da nação. Falar de Lúcio Lara é tão somente falar de um dos grandes vultos da política angolana que, ao lado de Agostinho Neto, marcou de forma inapagável um dos mais ricos períodos da história da luta pela autodeterminação do povo angolano e pela afirmação de Angola como país soberano no concerto das nações. Com a sua morte, parte o último fundador até então vivo do Movimento Popular de Libertação de Angola”. O autor de O Nome da Rosa, que tinha 84 anos, era um dos mais conhecidos intelectuais europeus. O escritor italiano Umberto Eco, autor de O Nome da Rosa, morreu na noite de 19 de Fevereiro na sua casa em Milão. Tinha 84 anos e era uma das mais relevantes figuras da cultura italiana dos últimos 50 anos. Não foi revelada a causa da sua morte, mas o intelectual e professor de Semiótica na Universidade de Bolonha sofria de um cancro há vários anos. O seu último livro, com o título Pape Satàn Aleppe, será publicado em Maio. O seu nome fica ligado a nível internacional ao grande sucesso que teve a obra O Nome da Rosa, editado em 1980, e que se transformou num best-seller internacional. O romance, um mistério passado num mosteiro medieval, foi traduzido em todo o mundo e vendeu mais de 10 milhões de cópias. Mais tarde, foi adaptado ao cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery a desempenhar o papel principal. Umberto Eco foi um pioneiro da semiótica, a ciência dos signos, um teórico da linguagem e autor de vários ensaios filosóficos. Foi só relativamente tarde que publicou o seu primeiro romance, precisamente O Nome da Rosa, mas foi este que lhe garantiu uma popularidade mundial ao pôr a sua enorme erudição ao serviço da construção do romance histórico. “A linguagem, a informação, a retórica dos discursos e a necessidade de compreender as configurações culturais em que vivemos, em comparação com as que existiam outrora, Umberto Eco ajudou a reinventar a figura do intelectual eram os seus temas”, diz o historiador Diogo Ramada Curto. “O ensaio, a história mas sobretudo, desde a publicação de O Nome da Rosa, a obra de ficção eram os instrumentos de que se servia para responder tanto às preocupações pelo presente, como pelo passado.” Dr. Eco nasceu em Alexandria, na região do Piemonte, a 5 de Janeiro de 1932. Cresceu durante a II Guerra Mundial, estudou filosofia e estética e formou-se com uma tese sobre a estética de São Tomás de Aquino mas, sublinha o Le Monde, não se mantém apenas na área da teoria e logo a partir de meados dos anos 50 entra no mundo dos media começando por trabalhar na RAI, a televisão pública italiana, em programas culturais. Ao mesmo tempo, em 1962, publica a Obra Aberta, referência incontornável do seu pensamento na área da semiótica na qual defende que cada obra é composta por uma infinidade de signos e por isso oferece a possibilidade de múltiplas interpretações. Entre os seus livros mais conhecidos está o já referido O Pêndulo de Foucault, editado em 1988, uma obra na qual cruza templários, kabala e sociedades secretas. Além de vários romances, em que se incluem ainda A Ilha do Dia Anterior (1994), Baudolino (2000), A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004) e O Cemitério de Praga (2011), Eco é autor de inúmeros ensaios sobre semiótica, estética medieval, linguística e filosofia. Mas considerava-se sobretudo “um filósofo”: “Só escrevo romances aos fins-de-semana.” O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça vai participar em Portugal, no Moda Lisboa, no dia 13 de Março corrente. O etnomusicólogo moçambicano vai actuar acompanhando o desfile da estilista angolana Nadir Tati. Ela vai apresentar uma colecção denominada A voz de Angola. “O meu trabalho é de “transportar” para o mundo toda uma história africana que passa por um processo de identidade e afirma- ção de um continente que acompanha cada vez mais o mundo num processo de globalização. Drapeados, bordados, transparências, rendas e tecidos africanos irão dar corpo a esta obra criativa desta que é a grande Mestre e Diva da moda angolana”, explica Nadir. Moreira Chonguiça afirma que o trabalho conjunto é uma referência na promoção e divulgação de cultura e criatividades africanas. “Conheço a estilista Nadir Tati. Na cultura não há fronteiras e temos os dois a parceria em outros projectos. Essa é mais uma experiência que resulta dessa cooperação existente entre nós como artistas e como países, Moçambique e Angola”. Nadir Tati é a principal referência quando se fala de moda contemporânea em Angola. Formada em CriminoloMoreira Chonguiça no Moda Lisboa gia, consultora de imagem e desenho de moda, trabalhou vários anos como manequim, uma profissão que lhe despertou a paixão pelas artes e pelo fascinante mundo da moda, em especial, a moda africana. Nadir Tati afirma que encontra inspira- ção na sua própria vida e na história de vida dos Angolanos. As suas colecções são elegantes, modernas e glamorosas sem, contudo, esquecer a identidade angolana . A voz de Angola é o tema da sua mais recente colecção africana. “Dedicada e refinada esta colecção foi inspirada na situação actual da mulher angolana no mundo. Tenho em atenção o desenvolvimento e a história da mulher angolana que cada vez mais sofisticada luta para um lugar de destaque na sociedade. É uma colecção sublime de vestidos de noite dourados e vermelhos trabalhados ao detalhe”, finaliza.A.S
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