José Carlos Cruz said...
A diplomacia internacional está relativamente bem informada sobre o que se passa em Moçambique. Sabem o que é a Frelimo e o que é a Renamo. Mas já fizeram a sua escolha há muito tempo. Os interesses estaduais jogam a favor da Frelimo.
Dhlakama é carta para jogar fora do baralho. Não serve para negócio, é demasiado nacionalista. Se toma o poder não vai despejar as populações das suas terras para as dar aos megaprojectos de petróleo, gás natural, produção de biogas, etc.
Dhlakama andou 250 Km a pé da Beira a Gorongosa no fim do ano passado. Foi a pé não porque não tem carro, até porque os tem aos montes, mas porque tem milhares de famílias conhecidas pelo caminho e queria falar com todos antes de chegar à sua base.
Um nacionalista destes, como muito bem observou Joseph Hanlon, não agrada a alta roda dos clubes capitalistas. Uma vez no poder vai passar a exigir os direitos das populações afectadas. E mesmo sem tomar o poder já proibiu os brasileiros e japoneses de se fixarem nas terras destinadas ao projecto Prosavana, que pretende desalojar milhares de famílias das suas terras.
Por outro lado, Dhlakama, com a sua mania de integridade moral e incorrupto, serviria bem como opositor forte no parlamento para fiscalizar a aplicação do dinheiro emprestado a Moçambique.
Infelizmente, Dhlakama não desiste de tomar o poder, contra a vontade de todas as potências do mundo. Neste momento Dhlakama enfrenta uma pequenina coligação formada apenas pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Portugal, Itália, Brasil, Japão, Índia, China, Turquia, Coreia do Norte (em coligação com os seus piores inimigos!), Coreia do Sul, Zimbabwe, África do Sul, Tanzania, Angola, Russia e Israel.
Do lado de Dhlakama está uma boa parte das populações pobres ou camponesas de Moçambique, Zimbabwe, África do Sul, Malawi, Zambia, Botswana e Swazilândia.
O trunfo geopolítico de Dhlakama é uma autentica bomba termonuclear. Se o "chatearem", corta a energia à Africa do Sul. Isto significa nada mais nada menos guerra civil entre zulus e machanganas (por causa da distribuição dos parcos recursos energéticos que têm para sobreviver) e, por extensão, toda a África Austral.
Neste quadro, a coligação internacional está a preparar um golpe contra este incendiário louco que é Dhlakama. Querem matá-lo e declarar o Partido Político Renamo como uma organização terrorista, cujos membros devem também ser abatidos.
É neste contexto que as agências noticiosas internacionais apresentam, intencionalmente, a imagem da Renamo como antigos rebeldes e não como partido político com assentos nas assembleias provinciais e na Assembleia da República, que até tem o desconfortável hábito de ganhar as eleições.
Em contactos privados com diplomatas dentro e fora de Moçambique a Renamo já obteve esta confirmação.
A pergunta mantém-se: como fazer?
“Se o Governo nos enganar, e usar a maioria, e quiser brincar, as consequências serão para o presidente, porque ele não vai governar”, alerta o presidente da Renamo, e explica que é o povo que se vai voltar contra o Governo, e não a Renamo: “Aquela gente que vocês vêem nos comícios vai fazer manifestação”. “Mesmo se mandarem matar, o Governo vai cair. Eu não quero ver o meu irmão a cair”, afirma Dhlakama. (Maputo, 09.02.2015).
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