Tuesday, December 22, 2015

Angola sobe taxa de juro e reconhece “agravamento das condições monetárias”



Carta da namorada do jovem que morreu por falta de médico ao fim de semana





David Duarte tinha 29 anos

David Duarte, 29 anos, perdeu a vida na madrugada de 13 para 14 de dezembro (de domingo para segunda-feira) no Hospital de São José, em Lisboa, porque a equipa médica que o poderia salvar recusa trabalhar ao fim de semana pelo valor que o Estado paga. A namorada de David Duarte, Elodie Almeida, de 25 anos, estava com ele quando surgiram os primeiros sinais. Colocou em palavras escritas aquilo que não conseguiu contar ao Expresso de viva voz. É um testemunho raro



ELODIE ALMEIDA, NAMORADA DA VÍTIMA
Na sexta-feira, dia 11 de dezembro, em pânico, liguei para o 112 por volta das 14h30. O David ficou paralisado do lado direito, sem conseguir formular frases. Tentava falar mas era incapaz, apenas conseguia gritar e chorar. A ambulância chegou, o David estava consciente e ciente daquilo que lhe pediam e perguntavam, porém, continuava sem conseguir expressar-se. Ajudaram-no a vestir-se e a calçar-se, colocando-o de seguida numa cadeira de rodas, visto que não tinha força na perna direita.
Fui com eles na ambulância. O David chegou ao Hospital de Santarém e foi logo colocado em observação. Fizeram-lhe exames, enquanto aguardei.
Após 30 a 45 minutos de espera, deixaram-me vê-lo. O David dormia mas por vezes abria os olhos. Estava muito agitado. O médico acordou-o e pediu-lhe para levantar os braços e ele conseguiu levantar apenas o braço esquerdo. Pediu-lhe para levantar as pernas e ele conseguiu levantar a esquerda e, muito lentamente, levantou a direita. Estava consciente.
Pouco tempo depois, fui chamada, eu e a avó materna do David, que se encontrava no hospital por outros motivos. Anunciaram-nos, numa sala à parte, que o David tinha tido uma hemorragia cerebral e um grande hematoma e teria de ser transferido de urgência para o Hospital de São José, em Lisboa. Apenas tive tempo de lhe dar um beijo. Ele abriu os olhos e eu disse-lhe: “Eles vão cuidar de ti.” Foi de imediato transferido pelo INEM, penso que seriam cerca de 18h.
Esperei umas horas pelo meu pai, que veio de Coimbra buscar-me para seguirmos para o Hospital de São José. Chegámos por volta das 22h, penso eu. Pedimos informações, procurámos o edifício que nos referiram, porém estava fechado.
Apareceu uma enfermeira, que gentilmente nos fez entrar e aguardar pela médica. Esperámos cerca de uma hora. No final, foram dois médicos que se reuniram connosco numa sala. Estávamos presente eu, o meu pai, Fernando, e a Sra. Zélia, mãe do David, que fomos buscar a Vila Chã de Ourique no caminho para o Hospital de São José.
Ali anunciaram-nos, descontraidamente, que se tratava da rutura de um aneurisma, que o sangue se espalhou pelo cérebro e que, geralmente, estes casos de urgência teriam de ser tratados de imediato, ou seja, o doente teria de ser logo operado. Mas como os médicos referiram, infelizmente calhou ser numa sexta-feira, logo não iria haver equipa de neurocirurgiões durante o fim de semana. O David teria de aguardar até segunda para ser operado. Deram-me a entender que o sangue espalhado pelo cérebro poderia, muito provavelmente, causar sequelas e posteriormente múltiplos AVC.
No sábado, dia 12, visto que a família mais próxima do David decidiu visitá-lo, estando eu em Coimbra, decidi ficar, ligando constantemente para o hospital para pedir informações (raramente era atendida ou pediam para ligar mais tarde). Pedi ao Sr. José, tio do David, para pedir informações junto às enfermeiras ou aos médicos, pois queria saber se existia a hipótese de o David ser transferido para outro hospital, de forma a ser operado o mais rapidamente possível. Pelo que entendi, a melhor opção era sem dúvida o Hospital São José e não seria apropriado transferi-lo.
Nesse mesmo dia, a mãe do David referiu que ele abria os olhos, levantava os ombros e sentia frio nas pernas, tendo tido a iniciativa de se tapar com o lençol, apesar de as enfermeiras terem informado que não estaria consciente, que não iria reconhecer-nos e que estava demasiado confuso e perturbado. Visitei o David no domingo, dia 13, e ele estava em coma induzido.
Disseram-me que o caso se tinha agravado, que ele vomitou durante a noite, que começou a fazer demasiado esforço para respirar e que o coma induzido seria uma forma de ele não permanecer agitado e de o ajudar a respirar, de modo também a prepará-lo para a cirurgia de segunda-feira de manhã.
Anunciaram-me que a sorte dele era ser novo, mas que o grande problema era o sangue espalhado pelo cérebro, que poderia provocar sequelas e outras complicações. Porém, algo bom aconteceu. Segundo o médico, criou-se um coágulo de sangue que permitiu “fechar” a veia, mantendo o sangue a circular dentro da mesma e permitindo que ele ficasse calmo e que a veia não voltasse a rebentar. A operação consistia na remoção do hematoma e desse coágulo, selando a veia através de um “clipe” e eliminado definitivamente o aneurisma.
Por outro lado, o meu pai falou com outra médica, que confirmou que a operação seria no dia seguinte de manhã e que seria melhor aguardarmos 48 horas antes de visitar o paciente, para não ficar perturbado.
No dia seguinte, segunda-feira dia 14, liguei várias vezes, querendo saber como tinha corrido a operação. No momento em que atenderam, por volta das 14h30, disseram-me simplesmente que não tinha sido realizada e que seria melhor deslocar-me ao Hospital São José, sem acrescentarem mais informações. Eu própria tive de informar a mãe do David, visto que ninguém do hospital nos telefonou.
Mais uma vez, fomos de Coimbra até Vila Chã de Ourique buscar a mãe do David. Chegámos ao Hospital de São José e aí anunciaram-mos que o David tinha tido morte cerebral e que seria irreversível. Não me deram mais detalhes. Completaram esta grave notícia, anunciando que no mesmo dia ou no dia seguinte ele seria operado para a doação de alguns dos seus órgãos.
O funeral de David Duarte realizou-se no dia 17 de dezembro de 2015, quinta-feira.

Demissões em bloco na Saúde após morte de jovem no Hospital de São José


 Luanda - O Banco Nacional de Angola (BNA) subiu em meio ponto percentual a taxa básica de juro, após três meses consecutivos fixada em 10,5% anuais, informou hoje a instituição, em comunicado a que a agência Lusa teve acesso.
Fonte: Lusa
A medida consta do comunicado final sobre a reunião mensal do Conselho de Política Monetária do BNA, realizada na segunda-feira, em Luanda, para avaliar a evolução da taxa de inflação e da taxa de câmbio, bem como os indicadores de crescimento da atividade económica e das contas fiscais e monetárias em novembro.
Além de fixar a taxa de juro básico em 11% ao ano, o banco central refere ainda ter “constatado o agravamento das condições monetárias na economia” angolana.
A taxa de juro em Angola, cujas variações podem servir para controlar a evolução da inflação, esteve fixada até julho de 2014 em 8,75%, após um corte, na altura, de meio ponto percentual, e aumentou há mais de um ano para 9%.
Já em março último subiu mais 0,25 pontos percentuais, em junho aumentou para 9,75%, em julho mais meio ponto percentual, para 10,25%, até que em agosto foi fixada em 10,5%.
O Comité de Política Monetária decidiu também aumentar a taxa de Juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez (de 12,5% para 13% ao ano) e reduzir a taxa de Juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez ‘overnight’ (de 1,75% para 0%).
Foi ainda instituída a Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez com maturidade de sete dias, fixando a taxa de juro em 1,75% ao ano.
De acordo com o mais recente relatório de INE sobre o comportamento da inflação, a variação homóloga dos preços em Luanda atingiu em novembro os 13,29%, superior em 0,74 pontos percentuais comparativamente ao mês anterior.
O valor acumulado da inflação (últimos doze meses) renovou assim máximos dos últimos quatro anos.
Devido à crise decorrente da quebra na cotação internacional do petróleo, Angola viu reduzir a receita fiscal para metade, assim como a entrada de divisas no país, agravando o custo das importações e o acesso a produtos, inclusive alimentares.
A reunião do Conselho de Política Monetária concluiu ainda que no mercado cambial primário, a taxa de câmbio média em novembro manteve-se estável face ao mês anterior, em cerca de 135 kwanzas por cada dólar norte-americano, depois de uma desvalorização de mais de 30% no espaço de um ano.

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