sábado, 24 de outubro de 2015

Marcelo e Cavaco: a última palavra


 
24/10/2015 21:57
    
Marcelo e Cavaco: a última palavra
Apesar de serem ambos militantes do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva nunca foram politicamente próximos. Nos dez anos em que foi primeiro-ministro Cavaco não convidou Marcelo para qualquer cargo no governo, e este dava os primeiros passos no comentário político na comunicação social (salvo erro, era na TSF), classificando as acções dos membros do governo como professor que é, usando uma escala de 0 a 20 valores.
Depois da primeira candidatura, falhada, de Cavaco à presidência da República, e da derrota nas eleições legislativas do PSD de Fernando Nogueira para o PS de António Guterres, os sociais-democrátas entenderam que para novo líder precisavam de um “anti-Cavaco” e escolheram, justamente, Marcelo Rebelo de Sousa. Enquanto Cavaco regressava às lides académicas, porventura esperando que a situação económica e financeira portuguesa se degredasse rapidamente, o que daria um excelente pretexto para o seu regresso como primeiro-ministro, Marcelo comportou-se sempre como um líder de oposição responsável, deixando passar os orçamentos do governo de Guterres, o que permitiu, para surpresa de imensa gente, sobretudo no sector dos mercados financeiros, que Portugal fosse um dos 11 países fundadores do euro, a 1 de Janeiro de 1999. Isso não salvou Marcelo de ter de abdicar da liderança do PSD, quando a sua aliança com Paulo Portas se desfez.
Os anos passaram. Marcelo tornou-se menos frenético e, com as suas análises políticas, tornou-se também uma presença televisiva regular em imensas casas portuguesas. Esperou o seu tempo. E este tempo agora chegou, com o fim do segundo mandato presidencial de Cavaco.
Marcelo falou hoje (24 de Outubro de 2015) num comício, em Lisboa, e foi ácido para com Cavaco. Disse que, se for eleito, não quer deixar problemas para o seu sucessor resolver, lançando assim a indirecta que quer tomar posse com um governo em pleno exercício de funções (que só poderá ser um de António Costa, com os apoios parlamentares de PCP e BE). Com esta declaração, reduziu imenso a margem de manobra política de Cavaco. E, pondo o dedo na ferida, relembrou que não podem ocorrer novas eleições legislativas antes de Abril, o que implicaria que um novo governo, na melhor das hipóteses, não tomasse posse antes desse mês, o que por sua vez empurraria a aprovação do orçamento de Estado para 2016 lá para Junho. Ora, a administração pública portuguesa viver metade do ano em regime de duodécimos será um grave constrangimento económico e financeiro para qualquer governo português, pois não poderá implementar as medidas que ache necessárias para a melhoria da situação do país.
Sintetizando, Marcelo está a empurrar Cavaco para dar posse a um governo de António Costa, e quanto mais depressa melhor. Na rivalidade de décadas que existe entre estes dois homens, é natural que seja Marcelo a ter a última palavra, e que Cavaco tenha um penoso final de mandato.

Sem comentários: