domingo, 11 de outubro de 2015

As sondagens e os votos

OPINIÃO


As sondagens acertaram. Só não previam esta encruzilhada de um país que quer ser uma democracia, mas é um “pobretana” nas mãos dos credores.
As sondagens ganharam. Com leves diferenças entre as várias empresas, quase todas acertaram em cheio nos resultados finais. Muito especialmente aquelas realizadas com o recurso a urnas simuladas. A novidade deste ano eleitoral – as sondagens diárias – lançou em certas camadas da opinião pública alguma suspeita e reacção crítica, inclusive, com acusações ao PÚBLICO de que “como jornal sério” não lhes deveria ter dado abrigo.
Ninguém ignora que as sondagens produzem informação, indicam tendências. Mas, obviamente, também inculcam em muitos eleitores a decisão do seu voto. Por ser dia de votos, conforme avisei, no passado domingo, deixei em branco alguns comentários de leitores. Aliás, os pontos concretos que apontavam à discutibilidade das sondagens estão agora ultrapassados pelos resultados dos votos que as confirmaram. Evidentemente que não se fecha aqui a discussão do papel das sondagens na influência do sentido dos votos. Mas, por agora, interessa, sobretudo, tirar ilações sobre os resultados das eleições.
O novo quadro da composição do Parlamento e, sobretudo, a indicação dada pelo BE e PCP/CDU de manifestarem predisposição em deixarem de ser apenas partidos de protesto, contestação, (como sempre eram etiquetados) e poderem concorrer para uma maioria inédita virou do avesso o sossego que os partidos do dito “arco do poder” tinham na sua habitual “zona de conforto” para exercer governo. E não deixa de ser interessante os arrepios que no espaço dos “fabricadores de opinião” se vão sentindo, também eles “molestados” no seu tradicional raciocínio de que na Assembleia, uns estão para exercer o poder, outros para contestar. É impressionante o argumento de falência intelectual que alguns comentadores estão a utilizar: “o que os portugueses, com esta votação, disseram a Passos Coelho foi: queremos que o senhor governe, mas sem maioria absoluta”. E os outros portugueses que não votaram na coligação o que disseram?
O grande derrotado destas eleições, António Costa, de repente vê-se entre a responsabilidade de escolher a Esquerda para “somar” uma maioria ou dar a mão à Coligação minoritária, para lhe garantir um andamento condicionado na AR. Depois dos disparates que fez para perder as eleições, provavelmente, António Costa, dentro e fora do partido, sente-se agora numa dilaceração terrível: ou concorre para fazer do PS um Pasok ou faz história colocando Cavaco Silva, a Direita e os apaniguados do PS que só reconhecem o partido como uma secção ogival do “arco do poder” num susto inquietante de verem Portugal com um governo de Esquerda. É verdade que a Europa e os credores, cujos valores supremos da democracia se confinam nas regras da “Comunidade Económica Monetária” esmagarão depressa esta situação. Seja como for, as sondagens acertaram. Só não previam esta encruzilhada de um país que quer ser uma democracia, mas é um “pobretana” nas mãos dos credores. E isto a poucas horas depois de no Parlamento europeu, Merkel e Hollande terem clamado que “podemos estar a assistir ao fim da Europa” e que “a guerra pode chegar à Europa”. Portugal é um ponto muito pequenino neste universo de tanto alarme a tocar.  

Ainda o “caso Sócrates” e o PÚBLICO
De José Mário Costa, um dos responsáveis pela elaboração do Livro de Estilodo PÚBLICO, recebi o seguinte comentário: “Na última crónica [“O caso ‘Sócrates’ e o PÚBLICO”, de 4/10], suscitada por uma contestação do advogado José Augusto Rocha à notícia ‘Nove arguidos do caso Sócrates conseguem acesso total do processo’ [edição do dia 25/09], e ouvida uma das jornalistas que a redigiu, concluiu o provedor pela improcedência do protesto quanto ao anonimato  de ‘vários magistrados’ invocados na peça: ‘(…) não considero que tenha havido violação do Código Deontológico dos jornalistas ou das normas consagradas no Livro de Estilo do PÚBLICO’. Não podia estar mais em desacordo.”
E seguidamente relembra-me os seguintes pontos: Código Deontológico do Jornalista (aprovado em 4 de maio de 1993, em assembleia-geral do Sindicato dos Jornalistas): “(…) 6. O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. (…) As opiniões devem ser sempre atribuídas.” Livro de Estilo do PÚBLICO  (2.ª edição, março de 205, pág. 34), sobre o  anonimato e o off-the-record: “(…) 77. Quando se trata de opiniões, o PÚBLICO só reproduz as que forem atribuídas a fontes claramente identificadas. Dito de outra maneira: uma fonte anónima não tem opinião. Não existem nas páginas do PÚBLICO expressões como “na opinião de um especialista em direito penal…”, “segundo fiscalistas contactados…”, “um médico que não se quis identificar considerou…”, “uma fonte  do mercado de capitais…”, etc. Existem nas instituições e nas universidade portuguesas especialistas suficientes para darem a cara pelas opiniões que expressam; se não o quiserem fazer, a sua opinião não pode ser valorizada pelo jornal.”
De facto, eu não interpretei tão rigorosamente estes preceitos. Fiquei-me pela doutrina estipulada no n.º 74 do mesmo Livro de Estilo: “Circunstâncias especiais justificam, por vezes, a não identificação das fontes de informação. No entanto, o sigilo deverá ser admitido apenas em último recurso e só quando não há outra forma de obter a informação ou a confirmação por uma fonte que possa ser identificada”. Pareceu-me que a jornalista Mariana Oliveira, autora do texto em conjunto com a jornalista Ana Henriques, não tinha a intenção de “proteger” autores em contraditório, mas apenas quis aludir à consulta de especialistas na matéria para fundamentar a própria interpretação que ela fez. De qualquer modo, não quero escamotear o entendimento manifestado, quer pelo reclamante José Augusto Rocha, quer por José Mário Costa.

Protecção às vítimas de violência 
A leitora Conceição Ribeiro vem chamar à atenção do seguinte: “Venho por este meio manifestar o meu profundo desagrado pela forma como o Público, na edição de 6 de Outubro, expôs a localização de uma família em risco. Ao identificar que mãe e dois filhos, vítimas de violência doméstica, abrangidas pelo programa de protecção à vítima, referindo que se encontram em Lisboa, forneceram ao agressor elementos para a localização da família. É certo que o agressor foi detido, mas não há garantias de que fique em prisão preventiva. É também possível que, mesmo em prisão preventiva, saia em liberdade dentro de algum tempo.” (…)
Ouvido o jornalista Pedro Sales Dias que assinara a notícia juntamente com o seu colega Idálio Revez e que já recebera, por telefone, a reclamação directamente da leitora, eis o seu esclarecimento:
(…) “Quanto ao meu envolvimento na notícia, tive informação através de uma fonte policial (que não identificarei em respeito pelo sigilo profissional) que a ex-companheira do suspeito em causa vive em Lisboa. Morava, mora na capital, mas que não estava ao abrigo de qualquer programa de protecção de vítimas de maus tratos. A informação foi ainda a de que as crianças, sim, estavam institucionalizadas. No caso dos menores não indiquei a sua localização, por questões óbvias de protecção. Recordo que o suspeito sequestrou responsáveis da Comissão de Protecção de Jovens e Crianças de Lagos armado e exigindo ver os filhos. A referência a Lisboa pretendia apenas retractar a desestruturação  desta família, vítima de um complexo processo de violência doméstica. Em nenhum momento se colocou a hipótese de estarmos a expor a localização de uma família abrangida pelo programa de protecção à vítima e, desta forma, a colocá-la em risco.” (…)

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