Editorial
Acaba de acontecer um milagre político em Moçambique. Os incrivelmente alucinados membros do Comité Central
da FRELIMO, começaram a ver o Moçambique real. Até à altura em que a guerra não passava de umas palavras ameaçadoras
as reclamações, reivindicações e todos os posicionamentos da RENAMO eram seguidos por campanhas de zombarias
ultrajantes que iam ao extremo de os governantes declararem publicamente que “não se preocupavam com o que
era veiculado pelos jornalistas”. Eles falavam assim reagindo às denúncias de imprensa que muito preciosas são em qualquer
país democrático, para as acções de controlo e repreensão do crime que muito grassa pelo nosso Moçambique.
Agora, depois da pressão militar baseada em Muxúngue, está desfeita a ilusão de que a RENAMO já não é capaz de fazer
a guerra novamente. Por isso qualquer pessoa, mesmo que seja do Comité Central, portanto uma pessoa de certo
modo subtraída (pela positiva) das amargas realidades do quotidiano dos pobres, começou a compreender que é preciso
aceitar a instauração das autarquias provinciais no país como uma medida indispensável para a manutenção da Paz.
Graças a Deus, pelas balas de Muxúngue, os extremismos da FRELIMO, a nível do seu Comité Central começam a reduzir.
O grupo que insistia em manter Guebuza na presidência foi rendido pelas vozes dos seus próprios colegas que em número
cada vez mais crescente lhes iam chamando à razão. Esta razão se foi apossando gradualmente das várias consciências
no seio do órgão dirigente do Partido que muito se esforça por convencer aos nossos mais novos de que ele é o fundador
desta Nação, apesar disto ser mentira pois tão-somente aquele partido adoptou por seu nome a sigla da Frente de
Libertação de Moçambique, e foi constituido maioritáriamente por um elenco de veteranos da Luta de Libertação Nacional.
Eles aproveitaram o nome autrora aglutinador para vestirem a fama, apesar de estarem divorciados com os
ideais de Mondlane. O primeiro sinal desse divórcio foram as perseguições religiosas. Escreveram na Constituição
que eramos livres para crêr e para não crêr, mas partiram imediatamente para as escolas, para os comí-
cios populares, para as empresas, a aterrorizar toda a gente para começar a sentir-se obrigada a não crer.
Já foi preciso ser heroi para não negar a Fé neste Moçambique. Tudo por causa das decisões
e escolhas do Comité Central quando eles julgavam ser a única força política de Moçambique.
Finalmente, apesar de os 16 anos não terem sido suficientes, os dois anos de pressão militar valeram qualquer coisa. É muita pena
que tenha sido necessário recorrer a isto, mas agora só podemos apelar aos chefes da FRELIMO que sejam sensatos o suficiente
para que mais violência armada não venha a ganhar campo, pois infelizmente, o nosso país está mesmo numa situação em que a
escolha tem que ser feita entre Democracia, no presente momento ou pela aprovaçao pelo Parlamento das autarquias provínciais,
e, ou, guerra. Queremos a Paz? Entao, vamos às Autarquias provïnciais. O Comité Central está de parabens por ter reconhecido isto.
Os membros da FRELIMO que querem a verdadeira Democracia devem agradecer à RENAMO por ter obrigado os dirigentes
do seu Partido a encarar esta realidade que nos aproxima a todos da realização dos ideais de Mondlane.
Os ventos de Muxúngue já estão valendo muito para o Comité Central da FRELIMO. A voz da razão está ganhando
força dentro nas hostes daquele grupo. Eles já estão a beneficiar. Falta agora, aprovarem a lei das Autarquias Provinciais,
para que os benefícios que eles já começaram a desfrutar, possam chegar ao Povo que também precisa e bem merece.
A disposição de se modernizar não pode ser apenas estendida aos aspectos que beneficiam os interesses
de uma minoria. O Povo também merece benefícios. E devem ser garantidos e respeitados. Eles não dependem
do nível económico, nem do nível escolar, de classe social… Ca-dê afinal o espírito de não discriminação?
O Povo moçambicano participou activamente na luta de libertação nacional, que obrigou o colonialismo português a aceitar
incondicionalmente o direito dos moçambicanos à sua Independência, mas isto não aconteceu para que algum grupo que hoje se
tenha apoderado do nome da Frente que antes era do Povo, viesse alguma vez a querer oprimir o próprio Povo que ontem libertou.
A Liberdade deve ser respeitada, acarinhada, cultivada. Ela nem sequer necessita de pressão militar
como aquela de Muxúngue, ou outra pressão violenta qualquer. É obrigação do Comité
Central e de todos os que se propõem a fazer política, enveredar pela via da justiça ao Povo.
Paz efectiva? Só com justiça social, Democracia, despartidarização dos direitos de cidadania, seriedade nas conversações.
Sejam elas no Centro de Conferências, no Indy Village, ou entre os Presidentes. O importante para que as conversações
nos levem à paz efectiva, não é saber quem são os personagens que se encontram, nem é o lugar em que
elas se realizam. O importante é a honestidade com que se debatem os assuntos e depois se implementam as decisões.
Os membros do Comité Central demonstraram que afinal são capazes de enxergar com verdade a realidade nacional
e devem por isso orientar os representantes do seu partido para nas conversações serem honestos, realistas,
saberem entender as razões que preocupam os militares da RENAMO, e acudir as aflições destes como cidadãos.
Nem a falta de documentos, nem a dificuldade de falar a língua portuguesa, nem outras desculpas tão
falsas como esta devem servir de desculpa para recusar a integração dos militares da RENAMO no exército governamental.
Deixem os militares de Maríngue entrar para a polícia e para o exército que eles combaterão a criminalidade.
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