sexta-feira, 10 de abril de 2015

Os desmaios da ciência


A ciência está mal na Pérola do Índico. Ou melhor, está a ficar cada vez mais órfã. Órfã de quem tem a obrigação de a defender. Chego a esta constatação através da observação da forma como estamos a abordar a questão dos desmaios de alunas em algumas escolas. A coisa começou há alguns anos com o caso de Quisse Mavota em Maputo (na altura escrevi textos sobre o assunto com o título “os desmaios da razão” numa tentativa inútil de defender a ciência) e continua agora com os desmaios que ocorrem na Manhiça. O mesmo grupo de especialistas (que incluem pessoal da AMETRAMO) está aí a passear a sua perplexidade e profundo desconhecimento da ciência. Alguns cientistas sociais que compõem esse grupo de especialistas renderam-se a sua própria ignorância com recurso a uma suposta impotência científica perante o que torna a África diferente de todos e de tudo. Um espectáculo confrangedor.
Há vários equívocos na abordagem deste assunto. O primeiro revela má formação epistemológica. A ciência não tem solução para tudo, nem se arroga esse privilégio. A ciência é um método de obtenção de conhecimento que reconhece os seus limites. Isto é fundamental. A ciência não se deslegitima quando reconhece não entender uma determinada coisa e, por isso, não ter solução para ela. Deslegitima-se quando se rende sem nenhuma ideia do tipo de dificuldades que está a ter com o entendimento dum determinado problema. A questão em relação ao caso dos desmaios é a seguinte: o que é que os “especialistas” não estão a entender? E para a gente discutir esta questão com utilidade a gente precisa de saber como eles estão a abordar o problema, isto é se a sua metodologia é adequada ou não. Pela forma como alguns deles são citados por aí duvido que estejam a abordar o problema devidamente. Quando alguns deles dizem que há certas coisas que necessitam de outro tipo de racionalidades para serem entendidas estão a rasgar os seus diplomas universitários em público. 
Ao contrário da ciência, essas outras racionalidades que eles elevam a outros patamares têm explicação para tudo. Essa é que é a grande diferença. As meninas desmaiam porque os espíritos dos donos da terra onde foi construída a escola não foram consultados. Vamos supor que isto faça sentido. Ok, e agora, como funciona exactamente esse processo de selecionar meninas (e só meninas), fazê-las desmaiar (sem, contudo, perderem a consciência como uma psicóloga do Ministério da Saúde constatou aquando do caso de Quisse Mavota, o que é uma maneira de dizer que na verdade não desmaiaram…), e isto repetidamente? Algumas pessoas que consideram esta “explicação” razoável (e autêntica) dão-se por satisfeitas apesar de não terem respostas para estas questões essenciais. Como funciona tudo isto? Se disserem que não sabem, funciona apenas, então estamos perante um horrível atestado de ignorância.

O segundo equívoco é de natureza lógica. Por ser importante até tem nome. Chama-se apelo à ignorância e consiste na ideia de que não ter provas para a não existência de alguma coisa é prova de que ela existe. Estão meninas a desmaiar, a ciência não sabe porque elas desmaiam, a racionalidade africana superior diz que é por causa de espíritos, a ciência diz que não, mas não sabe como provar isso, logo, os desmaios acontecem por causa dos espíritos. Deus existe pelo simples facto de o agnóstico não poder provar a sua não existência. É grave. Eleva-se a ignorância ao estatuto de saber. O único que dá plausibilidade à versão africana é o facto de a ciência não ter explicação. Não são os méritos dessa explicação. Também seria difícil entender essa explicação porque muitos que falam sobre estas matérias têm um conhecimento deficiente (pelo menos a julgar pelo que dizem por aí) do pensamento africano e, pior, sabem pouco sobre a ciência. Isso não os impede de tirar conclusões definitivas lá do alto da sua perplexidade. Sem um conhecimento da visão do mundo por detrás desse pensamento “africano” e sem algumas leituras na área da filosofia da ciência, metodologia das ciências sociais, etc. é muito complicado concluir sobre os limites da ciência e a superioridade de outras abordagens. No fundo, é até desonesto do ponto de vista intelectual. É nestes momentos que me lembro com saudades dum curandeiro de Chicumbane com quem mantive longas conversas lá para os finais dos anos noventa no âmbito dum trabalho de pesquisa sobre a religião e que me disse quão bom seria que as igrejas e os curandeiros se unissem para combater a superstição. Mal sabia ele que essa superstição andava aí camuflada em diplomas universitários.
O terceiro equívoco mereceu a atenção especial dum grande filósofo africano, na verdade, o meu filósofo preferido, nomeadamente Kwasi Wiredu, do Gana. Uma vez insurgiu-se contra uma comparação feita por um filósofo e antropólogo inglês, Robin Horton, entre a ciência e o pensamento tradicional africano. E com razão. Porque comparar ciência com pensamento tradicional e não pensamento tradicional africano com pensamento tradicional europeu? E o problema está aí mesmo. Muitas vezes, o que os nossos desformados nacionais querem ver como uma especificidade africana é apenas uma manifestação local dum fenómeno universal. A ciência é tão europeia quanto também nossa, tem as suas formas e contextos de aplicação e quando falha não é porque está a lidar com algo “africano”. Há bem pouco tempo os aldeões bem pertinho da cidade suíça onde trabalho bloquearam a estrada nas suas aldeias no meio de acusações de feitiçaria. Os jornais populares estão aqui também cheios de anúncios de gente que cura tudo, mas isso não é nenhuma manifestação de africanidade. É de perplexidade, uma perplexidade que precisa de ser entendida sob o risco, como pode acontecer em Moçambique, de privarmos crianças que sofrem de alguma psicose dos cuidados que deviam receber para regressarem ao seu desenvolvimento normal. E tudo isso em nome duma africanidade mal entendida.
Finalmente, faz-se confusão entre espiritualidade e ciência e colocam-se essas duas coisas num patamar competitivo que não faz justiça as suas especificidades. Eu ofereço tabaco aos meus defuntos, participo em cerimónias familiares de evocação de espíritos, etc., mas sei separar isso do meu lado científico e não vejo necessariamente uma contradição. Há muita gente que precisa também do lado espiritual para levar uma vida equilibrada. Propor a espiritualidade como alternativa à ciência, a alternativa que vai suprir as lacunas da ciência, é não entender cada uma dessas duas coisas. É, de novo, perplexidade. Pode ser, por exemplo, que a “explicação” “tradicional” para os desmaios ajude as pessoas a lidarem com uma situação incompreensível, mas isso é diferente de dizer que essa explicação é a explicação. De resto, se me faz bem pensar que não sou promovido onde trabalho por causa das drogas que o meu colega andou a esconder no meu gabinete e com isso evito pensar no meu próprio desempenho tudo bem. Não vai ser por isso que as drogas vão ser a explicação.
Enfim, eu considero esta situação triste e lamentável. E aqui nem falei dum pormenor importante que nenhum de nós está a considerar. A “ciência” que falhou na Manhiça é a ciência representada pelos especialistas que foram enviados para lá. Sobre a idoneidade científica dum deles (pelos seus depoimentos) tenho as minhas reticências. Mas antes de falarmos do falhanço da ciência devíamos também perguntar se ela foi bem representada nessa equipa? Foi a ciência que falhou ou foram esses cientistas? Devíamos também perguntar se vivemos numa sociedade preparada para aceitar os resultados do trabalho científico, resultados esses que podem consistir na ideia de que não temos resposta.


O nosso ensino superior está em muito maus lençóis. Juro pelos espíritos dos meus antepassados.

  • Jorge Matine Elisio Macamo se for possiveltambem quero jurar pelos espiritos dos meus antepassados:-). Ontem acompanhei algumas intervencoes na STV sobre o assunto, fiquei de cabelos levantados e o relatorio de Quisse Mavota da psiquiatra oferece um conjunto de ferramentas para que o caso de manhiça tivesse um desfecho positivo em termos de descricao do fenomeno. Agora fala-se da solucao de um problema que so acreditamos que existe mas nao estudamos a sua manifestacao e forma.
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  • SG Imperfeito O caso dos desmaios tambem afectou meninas na escola secundaria de Amizade em Lichinga a algumas semanas. Ainda tenho fe na ciencia para explicar o fenomeno.
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  • Juma Aiuba Fiquei triste quando ouvi que a direcção da escola foi demitida/transferida por se suspeitar que tenha alguma relação com os desmaios. Pode até ter. Mas, que relação. São eles que controlam os espiritos? Ou são eles que fornecem aos espriritos a lista das meninas mais lindas/mais feias/mais inteligentes/mais burras/mais pobres, etc? Alguem disse que so desmaiavam as meninas desfavorecidas. Faxavor!!! Fez-se um estudo comparativo sobre as condicoes das que desmaiam e as que nao desmaiam. Afinal, ha meninas que nao desmaiam ou ha meninas que ainda nao desmaiaram?
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  • Elisio Macamo mais uma razão para duvidar da ciência praticada na manhiça, Jorge Matine... não li esse relatório, mas referia-me a ela.
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  • Elisio Macamo elementar, Juma Auiba, elementar...
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  • Cremildo Bahule Tenho saudades dos tempos em que fazia - junto comValerito, Angélica, Teles, [...] - parte da equipe do professor Carlos Serra e da nossa Unidade de Diagnostico Social/CEA/UEM. Ele - com sua vitalidade - já teria (como já se fez) reunido uma equipe multidisciplinar para perceber este fenómeno. Poderíamos não ter soluções, mas já teríamos um caminho feito. O que percebo 'e que estamos aos ping-pongs enquanto temos ferramentas nas nossas mãos para solucionar estes desmaios. Este não 'e um facto novo e algumas linhas já foram avançadas por psicólogos, antropólogos e mais especialistas. Das três uma: oscilamos entre equívocos, não estamos a conseguir ser cirúrgicos e solucionar este problema com novos paradigmas e - sendo um bocado maldoso - alguém ganha com isto.
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  • Euclides Cumbe pouco se aprende da filosofia da ciencia ca em casa, por isso razao de tanta dificuldade na explícacao de certos fenomenos sociais
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  • Adriano Simão Uaciquete O meu amigo Raul Junior, nao jurou pelos espiritos dos antepassados dele, mas me afiancou que ele "travou" os desmaios, pelo menos, na sala onde dava aulas. Como? Disse aos seus alunos que quem quizesse desmaiar devia fazer isso em sua casa. Se um dos seus alunos (os da sua sala claro) desmaiar na escola, ele como docente vai dar uma grande bofetada. Garantiu-me ele que isso resultou. Ou pelo menos, nenhum dos seus alunos desmaiou. Moral disto: formas diferentes na abordagem do problema.
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  • Elisio Macamo hahahaha!
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  • Amelia Bata Bata kikiki, Caro Adriano Uaciquete devo reconhecer que a ideia do Raul Júnior em algum momento è valida, se ora vejamos, quando estamos na igreja protestante ( sobre tudo universal), no meio da oração dizem: Quem tem espíritos maus que saiam agora pois este lugar não pertence. esta atitude funciona para quem crê e tudo è possível. Quando o Pro. Doutor Elísio Macamo diz " um espectáculo confrangedor" não há duvida que o pior espectáculo angustiante se revela nos que se chamam especialistas.... ( se bem que se chamam)......
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  • Hortencio Lopes De facto Juma Aiuba esta de demitir a direccao da escola eu tambem nao entendi. E por sinal segundo fontes fidedignas, ontem o centro de saude da Manhica recebeu mais uma menina que desmaiou naquela escola, tendo quebrado uma das portas do centro de saude. E a minha pergunta eh, sera que irao demitir tambem a nova direccao?
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  • Célio Ndhimandhi "O nosso ensino superior está em muito maus lençóis. Juro pelos espíritos dos meus antepassados". Esta foi a máxima, hehehehehe!!! Mais uma vez, parabéns pela reflexão.
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  • Marcos Artur De antemão não tenho poder absoluto de refutar ou de aceitar o que se diz por aí em torno desta situação decorrente dos desmaios de alunas na Manhica, mas algo é claro a filosofia africana tem este privilégio de envolver nas suas abordagens os mitos folclóricos para explicar aspectos que por vezes transcendem o poder da ciência. É claro que estas entidades não tem suportes sistematizados mas, não implica que em nenhum momento podem intervir numa situação desta. Há várias tentativas de explicação da realidade e esta parece me ser típica da nossa própria filosofia como africanos, no entanto apoiamo-nos por esta ignorando a essência da ciência propriamente dita.
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  • Chigamoney Grande Não sou professor na ES da Manhiça, mas o sou aqui numa outra ES do distrito. O cenário está, pelo que tenho acompanhado, muito turvo, pois, mesmo depois da destituição da então direcção e instituição da actual, a histeria voltou a alastrar no fim da tarde de ontem, tendo havido vandalização de infra-estruturas (vidros de janelas, portas/grades...)


    Senhor professor, Elisio Macamo! A minha pergunta é: "Que resposta científica (ou dessas outras abordagens) se deve dar a esta realidade espiritual que já vai atrasando os programas a cerca de 15 dias?"
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  • Julião João Cumbane Dúvida: Elisio Macamo! Deixa-me ver se te entendi bem. Estás a criticar uma abordagem errada de um problema mal compreendido, porque mal investigado ainda? Ou estás criticar a falta de humildade dos "cientistas" que foram chamadas para tentar explicar a natureza do problema e não conseguiram, mas preferiram não dizer que não sabiam o que fazer, optando por «elevarem a sua ignorância ao estatuto de saber»? Ou estás a criticar as duas coisas?


    Minha opinião: o que eu vejo como problema central na origem das «perplexidades» de que falas neste teu muito tão bonito texto, quanto todos os teus textos, é que na nossa tentativa de explicar o mundo de que somos parte fazemos confusão entre duas formas distintas, mas complementares, da nossa concepção deste mundo, nomeadamente a concepção material e a concepção espiritual. Curiosamente, muitas pessoas acham, erradamente, que existem antagonismo entre as duas formas de concepção do mundo. Na verdade, estas concepções do nosso mundo não são antagónicas, mas sim mutuamente complementares. O mundo espiritual é do domínio da religião, das crenças, da tentativa subjectiva de explicação dos eventos. O mundo material é do domínio da ciência, da tentativa objectiva de explicação dos eventos. Estes dois mundos unem-se e fazem um todo único mundo, o nosso mundo. A religião é útil, porque cria estabilidade emocional, a paz interior, que é tão importante para termos disposição para trabalhar e termos vontade plena para viver. Em geral, todo o ser humano tem uma crença, e na ausência do conhecimento científico usa essa crença para explicar os eventos que afectam ou envolvem a sua vida. Foi o primeiro recurso a que o homem lançou mão para combater a sua ignorância. O domínio privilegiado da religião não é de busca de conhecimento, mas sim da razão de ser das coisas. A ciência trabalha no domínio da busca de conhecimento objectivo, com recurso a método objectivo que envolve a combinação da experiência e da intuição. A utilidade do conhecimento científico reside no facto de que é universalmente aplicável na melhoria da condição de vida do ser humano... O homem criou a religião e a ciência para o servirem, complementarmente, não para uma substituir a outra. Julgo que é a falta deste entendimento que leva aos equívocos que confrangem aos que têm um entendimento acima da média sobre os domínios das duas concepções do mundo. 

    Por fim, uma questão: como trazer à razão os perplexos, de modo a evitar que a ignorância seja elevada ao nível do saber? É que a mim me parece que se não tivermos resposta para esta questão, o recurso à falácia do tipo «apelo à ignorância» vai continuar a confranger! Alguma ideia, Elisio? Pergunto porque não percebi no texto como pensas que este problema pode ser resolvido.
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  • Rashel Sidumo Não tenho explicacão lógica para isso. Só digo que a minha irmã enquanto estudante da Secundária da Matola desmaiou umas tantas vezes e não tivemos explicacão alguma nos médicos a que recorremos. Enfim, restou nos rezar....

    Hoje esta no 2 ano de Direito e nem uma dor de cabeça.
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  • Reginaldo Mutemba ou cientistas ou a ciência! quem não teve sucesso na Manhica? O NÍVEL DE PREPARAÇÃO DE CIENTISTA SOBRE A MATÉRIA DOS DESMAIOS COLECTIVOS, PODE TER CONTRIBUÍDO PARA O FRACASSO DOS CIENTISTAS. O Curioso por que da predisposicao para explicar algo que nao estudaram. Antropólogo Mahumane, que defendeu a necessidade de estudar o fenômeno, evitar que seja necessariamente explicado pelo passado francês do sec.XVI (1518), Que a precipitacao na explicacao, sem que haja elementos de base que possam sustentar as proposicoes defendidas. Cintista agem e agiram para o caso concretos dos desmaios como bombeiros, que aparecem para "apagar o fogo". EE CARICATO QUE POSSAMOS "RASGAR DIPLOMAS EM PUBLICO".
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  • Raul Junior Adriano Uaciquete, meu amigo, entrou no debate de forma pontal, ou seja, logo a marcar bons golos. Na verdade Eu tenho muita historia a contar sobre ''desmaios''. Posso narrar na primeira pessoa as experiencias que tive. Meus amigos a abordagem sobre o que se entende ou se catalogou chamar-se de histerias em massa ou desmaios vai alem de meras discussoes no facebook. Os meus espiritos de Chibuto pelo menos tem me ajudado a lidar com o problema. Perguntem ao director provincial de educacao de Maputo que experiencia partilhei com os interessados e desinteressados sobre o fenomeno. Africa 'e um diamente ainda por lapidar. Nao 'e qualquer um meu caro amigo Adriano que pode chegar e parar com os desmaios!
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  • Lindo A. Mondlane hummm professor.. feiticos e feiticeiros na suica??? pensei que isso fosse dos pirineus para baixo....kkkk essa gostei, por certo se sabe como ficou o caso do phombe??? se sabe que veneno era??? estou de acordo contigo.. falham os nossos cientistas, nao a ciencia
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  • Dercio Mandlaze Professor Elisio Macamo, aqui vai um like de quem realmente leu o texto na íntegra, depois deixou os meus comentários.
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  • Raul Junior O espetaculo nao so 'e das meninas que desmaiam, mas sobretudo dos que ''investigam o caso', imprensa...
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  • Raul Junior Separem Desmaios da espiritualidade. quase todos os cientistas quando se dirigem as escolas querem dar explicações preconcebidas sobre os desmaios. Eu ja presenciei, juntamente com outros professores, situacoes em que em meninas supostamente que nao falam Ndau ou Zulu, de repente ... e vozes de homens... nao desses que falam ou comentam no facebook. vozes de homens... espero que percebam!
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  • Elisio Macamo o problema, Chigamoney Grande, é que muito provavelmente essa tal realidade espiritual não existe. é preciso mandar gente cientificamente competente para investigar isso, depois podemos conversar. a minha questão é essa Julião Jaime Cumbane, entendem os nossos especialistas o que estão a fazer? não é incomum, Rashel Sidumo, os médicos não saberem, nem que certas doenças se curem por si próprias (!).
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  • Manuel Bila quisse Mavota foi solucionado qual e a dificuldade de se solucionar o caso de manhica, vimos as duas cabecas de gado que foram degolados na Quisse Mavota ,esse caso nao tem uma solucao cientifica mas sim espiritual. eu tambem " juro pelos meus antepassados"
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  • Guilherme Mussane Uma das coisas basicas e obrigatorias, Elisio, e toda aquela teoria de conhecimento que se "martela" na Introducao as Ciencias Sociais: Conhecimento cientifico, filosofico, religioso e o senso comum ( tradicional). Com exemplos tais como: A maior parte da populacao em Mocambique vive e sobrevive com outras praticas medicas e nao a moderna medicina baseada na ciencia. Isto e suficeinte para concluir que a ciencia nao e panaceia de todos os problemas. E, mais, tendo em conta as teorias de Karl Popper, Thomas Khun e Gaston Bachelard, ou seja a falsificabilidade, o erro e a crise de paradigma e facil ver que nem tudo pode e deve ter respostas cientificas imediatas como muitas vezes se pretende fazer passar e dar a entender. Ha um metodo, uma tecnica e uma forma de validacao do conecimento cientifico que devem ser claros na analise dos fenomenos. Foi um pouco disto que nao transpirou no debate sobre os desmaios na Manhica.[ O meu teclado tem problemas, peco imensas desculpasa pelo erros de pontuacao].
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  • Orlando Daniel Chemane Parabéns, pelo grande discernimento lógico e epistemológico. Sempre pensei que, concretamente nesses dois episódios, perdemos uma grande oportunidade de compreender determinadas coisas... Estamos a prestar um desserviço as nossas comunidades!
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  • Tiago Ribeiro Hahaha! Muito bom!
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  • Joaquim Sérgio Inácio Manhique Poiombo Poiombo Poiombo. ... Matlari hansi. Juro pelos meus antepassados. ..Vaka Manyike juro.
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  • Raul Junior Eu presenciei bons casos dos desmaios na minha escola em 2011 nas salas dos meus colegas excepto nas minhas, como bem partilhou Adriano Uaciquete. A experiência era suis generis porque trabalhava numa escola dos padres na essencia de orientação cristã e tinha, aliás tem um professor licenciado numa das áreas do saber que também f
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  • Alcídes André de Amaral Ahhahahhah... eu também fui obrigado a procurar jurar por qualquer coisa quando se desfilam na televisão "especialistas em tudo". No debate televisivo que vi só um pouco subordinado aos "desmaios" estavam lá os homens da ciência e os curandeiros da praça, todos eles envolvidos no caso "desmaios". E olhe que entre o curandeiro e o cientista no terreno não vi alguma diferença para além das citações do "homem da ciência com expelicação para tudo" e, veja que, pela meu próprio julgamento, esta designação seria próprio para os curandeiros. Mas no fim ao cabo parece que em Moçambique não há esta disinção entre "curandeiros" e "cientistas ou "investigadores", parece que é tudo um só: superstição! Cada um a sua maneira. Bom, eu também não sei em Moçambique estamos mesmos preparados para as conclusões da ciência. De dois "homens de diploma" ouvi: o primeiro: "é preciso fazer orações para se ultrapassar..." (este diagnosticou) e o segundo: "é preciso mudarmos de paradigmas para compreendermos nossos problemas" (Este também fez o mesmo: "não usarmos conceitos europeus").
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  • Raul Junior Eu presenciei bons casos dos desmaios na minha escola em 2011 nas salas dos meus colegas excepto nas minhas, como bem partilhou Adriano Uaciquete. A experiência era suis generis porque trabalhava numa escola dos padres na essencia de orientação cristã e tinha, aliás tem um professor licenciado numa das áreas do saber que também frequentou e passou com sucesso o curso de curandeiro, portanto pratica as duas profissões em simultâneo. A luta era entre este professor e os paradigmas religiosos quando houvesse situações de espiritualidade. Os padres fugiam quando acontecesse caso similar e ficava o peofessor-curandeiro a falar com os tais. Eu também ficava a assistir. Nao posso dizer muito, mas digo vale a pena ver! Desmaios são assuntos que sao controláveis. Na manhiça afinal o que há? manifestações espirituais em massa ou desmaios em massa? A designação pode nao ser boa quando falo de espíritos, mas a ideia deve ficar: alguém ser possuido e começar a falar uma lingua diferente da habitual da pessoa consciente, mudar de voz, mudar de face, olhos vermelhos...
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  • Elton Das Neves Sinalo Disse o professor...
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  • Elisio Macamo Manuel Bila, bom truque para comerem carne...
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  • Raul Junior Sabem meus amigos, nesse ano eu fiquei mal na fotografia pelo facto de ter dado a saber junto de muitos pais como sair daquele problema. Vi que decepcionei muitas alas incluindo a dos dirigentes que ja viam a possibilidade de uma Festa. Mais tarde algumas pessoas influentes procuraram em off e disseram me " Wuhihoniselile ntirhu wezu wene mufana"/ você rapaz estragou o nosso trabalho. Sorry, eu nao sabia!!! Ja não estou mais la
  • Raul Junior Akuhlucooo... Mbhalati! Xifaki xingamili ndleleni ximilela vatshovi.
  • Elton Das Neves Sinalo O que assusta meus pensamentos com relação a este caso que por sinal não é o único nem o primeiro é a seguinte questão: porque apenas as meninas sao vitimas? Sera que os ditos espiritos são mulherengos ou pedofilos? 

    Contudo encontro nesta situação um belo desafio aos "fazedores da ciencia" acho que em situações como esta, podem provar-se ou refutar-se ideias ja a muito traçadas mas também fazer surgir novas formas de olhar para o real e em ultima instancia acho ser este um tereno fertil para desafiar os limites da ciencia.
  • Raul Junior Professor Elísio procura saber se vivemos numa sociedade preparada para os resultados científicos. A primeira resposta titubeante minha é : quando a sociedade moçambicana será científica? Não se lembra Professor Elísio que num ano quando o INE publicou resultados do IOF houve cientistas que defenderam que o INE estava a mentir quando dizia que a pobreza estava a aumentar? Nao houve coros que alegavam que o INE usava métodos de distração para apurar a verdade? Quem ja aceitou resultados do INSIDA?
  • Leo D. P. Viegas Um dos grandes dilemas que confronta o intelectual, académico e cientista africano é tornar a África inteligível para si, para os seus e para os outros que olham a África de fora, muitas vezes de forma exótica e com a tendência de sempre pensar que tudo o que acontece em África é estranho, bizarro, incompreensível, fora da razão, etc. Daí que os africanos produtores de ciência estão constantemente a auto-justificarem-se ou a explicarem-se para o resto do mundo que supostamente detém o monópoiio do saber e que acredita entender a África melhor que os africanos! Por outro lado, a ciência é universal e a produção do conhecimento cientifico em qualquer disciplina rege-se por princípios teóricos, metodológicos, éticos, etc universalmente aceites, por isso, a necessidade da comparação, replicar, etc. A ciência é necessária para conhecermos o mundo que nos rodeia. Assim, para compreendermos os fenómenos sociais que estão a ocorrer na Manhiça (tenho dificuldade de chamar desmaios ou possessão espiritual) devemos nos servir dos vários saberes científicos aplicando rigorosamente os métodos. Entretanto, se os métodos que dispomos são insuficientes para explicar a realidade, o cientista africano/moçambicano deve ter a imaginação suficiente de repensar os seus métodos e até de criar outros e só assim é que África poderá contribuir para o desenvolvimento cientifico universal. O mal, infelizmente, é procurar reduzir a complexa realidade africana local da Manhiça, Quisse Mavota, etc dando explicações simplistas que conformam a uma visão hegemónica do mundo, por exemplo, ocidental. Há uma obra que gosto muito de ler a este propósito: Leroy Vail & Landeg White (Power and the Praise Poem: Southern African Voices in History em particular o capítulo: The Possession of the Dispossessed: Songs as History among Timbuka Women). Acredito que os meus colegas Yussuf Adam e João Paulo B. Coelho têm muito mais a comentar sobre os m'bondoro, etc.
  • Raul Junior Elton, os desmaios na escola onde eu estive também afectava meninos!
  • Américo Matavele Li, professor, mas parece que não vou ser útil pois esta alguém com experiência, o prof Raul Júnior, que trás novos dados: não são so desmaios, mas ha manifestação de espíritos, que ate falam em línguas. Bom, a ciência ate pode não ter falhado, mas ate agora não resolveu. E acho que o saber não é útil se não conseguir resolver os problemas. Por outro lado, já houve pessoas que foram aconselhados em pleno hospital para procurarem vias alternativas a medicina convencional. Podemos ignorar, marginalizar ou não acreditar nesse tipo de saber (africano, espiritual ou senso comum), mas ele existe e tem funcionado, oferecendo soluções, como no caso de Quisse Mavota. Foi coincidência? Ate pode ter sido, mas foi uma coincidência que resolveu o problema. Portanto, a questão aqui não é somente explicar, mas é ter soluções. Algo que não resolve o problema acho que não serve.
  • Raul Junior Boa, meu caro Leo! Os construtos à volta de fenômenos sao por vezes subjetivos. Nao aceitar chamar de desmaios ou espiritualidade e deixar um vazio nao considero ser forma mais polite de entrar neste vukuvuku. Sera que no livro de que tanto gosta e nos sugere a ler vamos encontrar terminologia que se adequa ao fenômeno em causa? Recorda-se do Rugir do leão no Belo Horizonte? Nao quero partilhar aqui isto só se a pessoa que teve isso autorizasse! Sei que voce veio 5 minutos depois e so viu sangue!
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  • Samuel Chacate Elisio Macamo, o senhor devia escrever um livro sobre estes assuntos. na verdde o seu terceiro iquivoco é tb meu. ciência nāo está obrigada a dar resposta de tudo. isto me lembra-me um epísodeo que se deu comigo qd terminei a graduação em história Política e Gestāo Pública, regressei a minha terra natal, onde fui recebido com aufuria pelos meus pais e vizinhos até já me chamavam DR. problema: a noite a nossa vizinha vovo crestina ficou frebril e veio se apresentar em mim para o tratamento. confesso que lhe tratei pois lhe mostrei o caminho de ir ao Hospital de Maússe que ele conhecia mas via me como solucao de tudo.
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  • Raul Junior Belo Horizonte de Minas Gerais do Brasil
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    • Leo D. P. Viegas É melhor não trazeres esse caso para aqui, Raul Junior. Há bons trabalhos sobre possessão espiritual e seu significado nas sociedades africanas. A obra que mencionei é uma das mais recentes e é leitura obrigatória dos meus estudantes de como usar possessão espiritual como fontes históricas. Nesse trabalho os autores chamam realmente de possessão espiritual. Vale a pena perder alguns minutos a ler.
    • Gabriel Muthisse Esse tipo de desmaios (sic) - em escolas, colégios, internatos - envolvendo principalmente meninas só aconteceram em África? A Europa (por exemplo) ou outras regiões do mundo nunca tiveram fenómenos semelhantes? Caso tenham acontecido, foram explicados racionalmente, foram resolvidos ou pararam sozinhos? Que explicação foi dada?

      A minha intuição me diz que, no mundo, não é a primeira vez que meninas (ou senhoras) desmaiam(?) em massa. E não me espantaria se a explicação que tiver sido avançada não tiver convencido a todos.

      Julgo, portanto, que este não é um fenómeno única e tipicamente africano. É um fenómeno universal. Que se enquadra naquele em que comunidades inteiras juram terem tido uma VISÃO qualquer.

      Pode ser que os cientistas não expliquem satisfatoriamente estes casos. Mas quando isso acontece, pode ser que nesse território não existam os cientistas mais capazes. Ou, existindo, não tenham sido convocados a debrucar-se sobre o fenómeno. E não a prova definitiva de que a ciência não tem explicação.
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    • João Carlos Caro, porquê não aproxima as entidades que estão a lidar com o assunto e lhes oferece assistência de forma mais directa. Acredito que já está a fazê-lo com este post, mas depois, nãos sei se serão capazes de interpreta-lo e reorientar a sua abordagem do assunto. Embora não tivesse elementos ou bases epistemológicas para fundamentar a minha percepção, sempre tive a sensação que a abordagem do assuntos dos desmaios não estava a ser feita devidamente, as explicações que foram sendo apresentadas eram confusas e difusas, sem nexo portanto. Peço caro Elisio Macamo queblhes ajude, talvez eles não tenham a humildade de tomarem essa iniciativa

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