Monday, March 16, 2015

Heróis Nacionais: ode ao professor Cistac

Por Ilídio Nhantumbo

Como um dos meus docentes dizia quando eu solicitava a revisão das minhas opini- ões escritas, “não se constrói Nação na poltrona.” Nunca acompanhei a vida privada de Gilles Cistac para saber se ele se sentava na poltrona para pensar, interpretar, desenhar suas ideias, mas o que me interessa é que os pensamentos de Cistac nunca mais serão ouvidos ou lidos ainda frescos. Morreu o constitucionalista que não precisaria de poltrona para expressar suas opiniões num País que politicamente se pretende estar em consolidação. No final é que democracia requer liberdade de opinião, académica e de expressão; não interessa sua beleza, nem exactidão, mas seu respeito. Cistac era constitucionalista e, a meu ver, reflexo da liberdade académica, de pensamento e opinião. Suas opiniões não se equiparam a um simples jornalismo sensacionalista que em momentos de crise propalam disparates. Suas ideias eram academicamente expressas e publicamente ouvidas. Porque é que se requer cobardia para se aparentar ser defensor da democracia? Porque é que para se ser herói é preciso ser engrachador de sapato? Porque é que para se ser herói é preciso olhar-se para a luta de libertação nacional? Será que essas perguntas todas têm respostas? Que me amparem os defensores da democracia liberal nas respostas à estas perguntas. Foi com melancolia não apenas humana, mas também académica que recebi nesta manhã de 03 Março de 2015, no meu fuso horário, a notícia do assassinato do Professor Cistac. Tanta coincidência para se questionar o assassinato de Cistac poucos dias depois da interpretação aprovada lá na casa do Povo. Tal como o académico Eduardo Mondlane, fi- gura que estabelece o dia dos Heróis Nacionais pela luta anti-colonial, Cistac não era apenas defensor da democracia em Moçambique, mas também inspirador dos seus estudantes. Mondlane não foi engrachador de sapato do regime colonial. Cistac seguiu a mesma rota para o bem do Povo Moçambicano; para a construção da democracia. Se Mondlane foi o primeiro a merecer a Praça dos Heróis pela Luta de Libertação Nacional, não será Cistac merecedor da mesma Praça dos Heróis? Que me respondam os “consolidadores“ políticos da democracia. Esse poder é vosso, mesmo estando contra a Constituição que foi por vós aprovada. Acabo sendo engrachador académico, não serei? Herói da liberdade académica, do Estado de Direito, e construção da democracia, Cistac merece respeito. O heroísmo não é monopólio nem da geração de Nachingweia, base de Mbeia, dos que assinaram os Acordos de Lusaka e muito menos da academia G40; os académicos, defensores do Estado de Direito também têm esse direito e honra de receber título de Herói Nacional. Poltrona não é objectivo dos que estão longe do meu alcance. Deixem os defensores sinceros da democracia livres da AKM que mantêm na bandeira nacional; deixem os acadé- micos fora desses tiros. Mas quem foi que usou os seis tiros? Defensor e construtor da democracia? Ou consolidador da democracia? Eu não tenho resposta! Da informação disponível Cistac já vinha sendo ameaçado pela sua interpretação da Constituição depois das fraudulentas eleições que levaram ao Acordo Dhlakama-Nyusi. Será que a responsabilização dos criminosos virá ao público nos próximos dias? Como tem sido o discurso, o Presidente Nyusi coloca pessoas certas no momento certo. Será que esse discurso tornar-se-á realidade? Quem sabe?! Presidente Nyusi, pressione seu Ministro do Interior e a responder urgentemente a esta pergunta. Jaime Monteiro, eu quero resposta! Obrigue Jorge Khalau a colaborar consigo. Certamente, que não sou o único a solicitar essa resposta, mas também outros muitos defensores da liberdade académica, de opinião e expressão. Queremos resposta urgente à esta preocupação. Monteiro, nos prove da sua competência com brevidade. Queremos resposta hoje! O assassinato de Cistac não é início da ameaça à liberdade de opinião, expressão e democracia. A teoria é que, como os Cranberries dizem “o creme sempre virá ao topo; gente de boa vontade morre em primeiro lugar.” Os aparentes defensores das causas do Povo, são brevemente afastados da rota. Os consolidadores políticos da democracia sabem afastar da rota os reais defensores da liberdade. Os autênticos defensores da justiça são os primeiros a serem retirados da rota. Onde está Urias Simango? Onde está Carlos Cardoso? Hoje é o Professor Gilles Cistac. A verdade é que todos são heróis, declarados ou não, são todos heróis! Não interessa seu cemitério, nem a atribuição de seus nomes à avenidas. Os defensores da justiça são mártires! Mas não deixemos o medo dominar a coragem. A poltrona é mérito dos utentes dos impostos dos cidadãos no Centro de Conferências Joaquim Chissano, mas a liberdade não afluirá da poltrona. A Na- ção não virá do silêncio forçado. A coragem irá prevalecer, não da AKM, mas da liberdade académica, de pensamento, de expressão. A voz da justiça não se vai ofuscar! Professor Cistac, estamos de luto e mergulhados na melancolia. Te afastaram da rota da liberdade académica e de expressão de que gozavas, como a Constituição que decifravas e ensinavas estabelece. A democracia está de luto, mas a liberdade não será retirada da rota. Professor Cistac, repouse em Paz!

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