Por : Gustavo Mavie
A maioria dos moçambicanos que não estudaram a estratégia da guerra ou que não leram sequer os livros que se debruçam sobre ela, como o Arte da Guerra, escrito por Sun Tzu há já 3.000 anos, e As 33 Estratégias da Guerra, do conceituado académico norte-americano, Robert Green, não percebem porque e` que a Delegação da Renamo que dialoga em Maputo com a do Governo, tem estado a fazer exigências impossíveis de se aceitar, que acabam imperando o seu desfecho, como quando exige que lhe seja dado o direito de nomear comandantes de todas nas Forças Armadas de Defesa e Segurança do Estado moçambicano.
Na verdade, o que a Renamo esta` a fazer, esta` explicado no tal livro de Robert Green, mais concretamente na sua 21.a estratégia com o título em inglês The Diplomatic-War Strategy, o que em português se pode traduzir por A Estratégia da Guerra-Diplomática, que desvenda que negociação visa a obtenção do que não se consegue pela guerra, e revela a táctica muito usada de se negociar enquanto se mantem a confrontação ou o espectro bélico, para forçar o adversário ou inimigo a fazer cedências, e assim ganhar-se o que não se consegue pela força das armas. Esta tese de Eduard Green, reza o seguinte: ``As pessoas irão sempre tentar levar de si nas negociações, o que não conseguem obter de si numa batalha ou numa confrontação bélica directa. Elas irão mesmo usar os apelos `a transparência e moralidade, como uma cobertura apenas para avançarem mais as suas posições. Não se deixa tomar: as negociações envolvem manobras em prol do poder ou do apoderamento, e devera` sempre projectar uma atitude de quem e` mais forte, de modo que faça com que não seja a outra parte quem se impõe e sair a ganhar durante as conversações. Antes e durante as negociações, deves manter-se no avanço, mantendo uma pressão determinante e forçar a outra parte a se submeter aos seus termos. O mais que pegar, o mais poderá dar em concessões que sejam insignificantes para si. Cria a reputação de ser obstinado e não fácil de vergar, de modo que os seus adversários se sintam inibidas de tentar sequer lograr algo de si’’.
Creio que com esta asserção, se percebe melhor porque e` que a Renamo mantem-se no diálogo, ao mesmo tempo que se recusa intransigentemente desmobilizar as suas chamadas forças residuais. E` para se servir delas como meio de pressão para forçar o Governo a dar-lhe mais o que não tem conseguido pela guerra desde 1977. A leitura desta asserção, longe de ser uma acessória `a Renamo que já a tem em sobra das forças externas que a usam como seu instrumento de guerra para poderem se apoderarem dos nossos imensuráveis recursos, acredito que nos ajuda como povo, a percebermos melhor que a Renamo não quer um outro desfecho deste diálogo, que não seja aquilo que não conquistou pelas armas. E` por isso que faz exigências tao abusivas como preconizar que lhe seja dado o comando das Forcas da Defesa e Segurança, e a que e` agora feita pelo seu próprio líder, Afonso Dhlakama, de se lhe dar 6 das 10 províncias do Pais. Para tanto, Afonso Dhlakama vai tao longe, como quando diz que o Parlamento moçambicano devera` carimbar apenas o seu anteprojecto com que pretende proclamar essas províncias autónomas. O que prova que usa essa estratégia de negociar enquanto mantem a pressão militar, e` quando diz que caso seja chumbado, reactivara` a guerra. Ele esta` a imitar o imperador Filipe, da antiga Grécia, que já no ano 336 Antes de Cristo, encarava as negociações como não sendo algo separado da guerra, mas antes uma extensão da mesma. Trouxe de volta este facto histórico, para permitir que não haja mais compatriotas que culpem o governo ou o Ministro Pacheho, pela estagnação do diálogo. O dialogo não avança na medida que seria possível, porque o único desfecho que agradara` `a Renamo, sera` quando o Governo lhe entregar tudo o que não conseguiu no campo das batalhas e da guerra em si – que neste caso e` o poder do Estado, que agora quer que se materialize parcialmente através das províncias autónomas. E` importante destacar que a alegacão da fraude com que justifica essas províncias autónomas, não passa uma justificação descabida, como bem o diz o antigo Presidente Chissano. Ele diz que Dhlakama sabe e acredita que não houve algum acto fraudulento que tenha permitido a vitória da Frelimo e de Nyusi. O que Dhlakama quer, e` conseguir obter negociavelmente o que não conseguiu pela guerra e eleições. Isto e` o que ele e todos os que se valem dele como instrumento querem que seja feito. O que mais catalisa a mente de Dhlakama para manter as suas forças armadas privadas como um meio para forçar o Governo a dar-lhe tudo o que quer, foram as fabulosas regalias e fortunas que lhe foram outorgadas a seguir ao Acordo de Paz de Roma, e as excessivas concessões que lhe foram outorgados o ano passado, como uma das formas de leva-lo a parar com as mortíferas escaramuças que protagonizava em Muxungue. Estas concessões levaram-no a acreditar fortemente que vale apena o recurso `as armas, como meio de pressão para obter na mesa das negociações o que não se pode arrancar pela força.
SO QUE AS CEDENCIAS SÃO UM CONVINTE NATURAL A MAIS EXIGENCIAS
Ao contrário da crendice dominante, esta` mais que provado que a docilidade, a generosidade, como as próprias cedências, não têm tido, regra geral, uma reciprocidade por parte dos beneficiários. Muito pelo contrário, como bem o vinca outra vez Green quando vinca o seguinte: Conflito e confrontação são geralmente questões desagradáveis, e causam emoções insatisfatórias. Na tentativa de evitarmos tais insatisfações, as pessoas tendem muitas vezes a tentar ser doces e conciliatórias, convencidos de que os que estão `a sua volta, terão delas a mesma resposta em retribuição. Mas, muitas vezes, a experiencia provou que esta logica e` errada. Ao longo dos tempos, as pessoas que você trata benevolentemente, não te tomam a serio, e o mais provável e` que te prejudicarão. Ver-te-ão como um fraco e explorável. Ser generoso não atrai gratidão, mas sim, animosidade e confrontação contra si. Os que são contra esta verdade, e que acreditam que a bondade tem como retribuição uma bondade reciproca, estão condenados a fracassar em qualquer negociação a que se possam envolver, muito mais ainda no jogo da vida particular. As pessoas respondem benevolentemente apenas quando esta` no seu interesse, e quando assim o fazem por outras razoes. O seu objectivo e` catalisar a pressão disfarçada, que atice ainda mais a realização da sua vontade, para que possam ganhar o que querem de si. Doutra forma, elas vão-te decepcionar e tomarem vantagem dessa sua bondade. Infelizmente, esta e‘ a natureza humana. Ao longo de seculos, os que moveram guerras aprenderam esta lição de forma tao dura quanto amarga e `as vezes trágica. Um dos exemplos e` a própria Renamo, que já teve muitas cedências dos governos de Chissano, Guebuza e agora espera ter de Nyusi, mas que nunca se mostrou agradecida, e nunca deixou de ameaçar reactivar a guerra, como o faz agora, não obstante as ultimas eleições gerais tenham sido feitas nos termos e pratica por si exigidas, que foi a longamente negociada Paridade. Apesar desta PARIDADE, a Renamo diz que a Frelimo fez fraude, que não consegue provar porque esta` a mentir. Alega isto, porque não conseguiu o resultado que esperava – que era ganhar e poder governar também. E` isto que agora esta` a tentar obter pela via negocial, porque tal como a guerra, as negociação envolvem manobras, decepções e estratégias, como esta realização constante de comícios com que Dhlakama tenta provar que tem apoio da maioria dos moçambicanos, mas que não se provou nas urnas que, como sabemos, são a prova mais evidente e irrefutável nas sociedades democráticas como a nossa.
DESINFORMAÇAO E DIABOLIZACAO DO CHAMADO G40 SÃO PARTE DESTA GUERRA
Algumas das facetas desta guerra da Renamo e dos seus multiplicados apoiantes que buscam através dela os seus próprios interesses, e` a desinformação e a diabolização de todos os que se identificam com a Frelimo e seu governo ou assim são encarados. A desinformação e` uma técnica milenar que visa a subversão das mentes, e que consiste em disseminar mentiras, meias verdades e acusações infundadas, que possam levar as pessoas a perderem a crença, simpatia ou apoio em algo ou a alguém, como a Frelimo e seu governo neste caso. A recente culpabilização automática e não comprovada da Frelimo, e do chamado G40, em torno do bárbaro e hediondo assassinato de Cistac, e` uma de entre tantas provas da desinformação e diabolização. Essa acusação visa levar as pessoas a verem na Frelimo e seus membros como ruins, que devem ser atirados ao lixo. Também a alegacão de que a Frelimo ordenou os cortes de energia ou apagões durante as eleições de 15 de Outubro passado, para que os seus membros nas urnas pudessem fazer a tal fraude, e` outra das mentiras que deu corpo e vida `a táctica de desinformação, para desacreditar a Frelimo. E` uma acusação tao infundada, porque não há quem possa ver `as escuras, ate ao ponto de introduzir cartões de voto nas urnas, sem que os vigilantes doutros partidos da oposição vissem ou se apercebessem de que alguém esta` mexendo em papeis. No que tange ainda `a diabolização como tal, o chamado G40 e` um dos exemplos que expõe claramente esta estratégia de guerra. Na verdade, o chamado G40 de que eu próprio sou tido como seu cabeça de lista, não existe como tal, e foi uma forja das mesmas pessoas que sendo anti Frelimo, decidiram identificar e diabolizar os outros analistas e colunistas que interpretam diferentemente a mesma realidade ou factos. Os analistas que eles arrolaram nessa lista que depois rotularam por G40, são tao analistas e colunistas quanto o são Machado da Graça, Fernando Lima e tantos outros que são pro-oposição ou contra a Frelimo e seu governo por tendência quase doentia. A diabolização destes analistas pelos Machados e Limas e` apenas porque não tem essa tendência doentia de falar mal por falar contra a Maçaroca e o seu Executivo. Esta diabolização recorda-me, vivamente, a antiga diabolização que se fazia contra os chineses, quando a Frelimo lutava contra os colonialistas pela conquista da nossa independência. Recordo-me, que já nessa altura, e na sua inglória tentativa de travar essa luta patriótica dos moçambicanos, os mesmos colonialistas apregoavam, através dos seus jornais e rádios, que os chineses comiam pessoas, e que caso a Frelimo ganhasse, os traria para Moçambique para nos comerem. Mesmo agora que os chineses nos ajudam a desenvolver o nosso Pais e toda a Africa, os acusam de ca vir para abocanhar os nossos imensuráveis recursos, quando eles e` que os pilharam durante seculos e nos colonizaram e nos escravizaram. Como se vê, a diabolização dos que lutam pelo bem comum e` uma velha estratégia de guerra. Esta diabolização dos outros analistas pelos Machado e Limas… visa acabar com a contra desinformação que tem sido feita pelos analistas rotulados de G40, e que com as suas teses, tem limpado o joio que esses Machados tem semeado nas mentes de muitos moçambicanos, e assim leva-los a apoiar, ingenuamente, por exemplo, a campanha divisionista e regionalista que Afonso Dhlakama quer implantar através deste seu projecto sobre províncias autónomas que diz que já tem pronto para submeter na Assembleia da Republica.
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