É o que muitos „analistas“ da Pérola do Índico diriam se um dia Guebuza atravessasse a Baía da Catembe a pé. Roubei esta imagem dum ex-Presidente americano, Lyndon B. Johnson, que disse o mesmo acerca de si próprio a propósito da campanha difamatória que lhe foi movida pela imprensa americana. Infelizmente, nas últimas duas semanas andei muito longe do “Facebook” por ter também andado fora do escritório. Hoje foi o meu primeiro dia no escritório depois desse jejum e por sugestão dum amigo que queria que eu visse um “post” dum outro amigo dei uma espreitadela rápida. Deixou-me tão perplexo como quando lá estive pela última vez.
O que me deixa mudo (aliás, que me devia deixar mudo…) é o facto de muita gente que andou a dizer que o País caminhava para uma “Putinização”, que o candidato à Presidência pela Frelimo era mero fantoche do homem forte, etc. ao invés de rever o quadro analítico (se é que teve algum) a partir do qual tirou essas conclusões precipitadas está hoje a celebrar a demonstração que um partido parece estar a fazer da sua própria vitalidade e aparente democracia interna, algo que esses mesmos analistas sempre puseram em causa. Já deixei de tentar perceber a incoerência de alguns. E acho sintomático, por exemplo, que processos desta natureza sejam sempre analisados sob o prisma de quem venceu a quem (ou quem perdeu) como se o jogo político só fosse isso.
O que torna a cultura política moçambicana muitas vezes intragável é este tipo de postura analítica, não são necessariamente os seus políticos. A estrela de Nyusi vai brilhar até os “analistas” não terem mais nenhum mau da fita e aí voltamos à estaca zero com políticos na reserva a serem solicitados para clamar por uma postura política que eles, no activo, dificilmente observarem (tipo “Samora cometeu erros”, mas nunca dizem o que eles próprios fizeram perante tais erros), mas sempre gozando do benefício da dúvida dos “analistas” para quem tudo serve desde que tenham mais uma desculpa para nunca se questionarem. E, claro, com os habituais ataques aos “G-40”, uma das maiores manifestações de preguiça de pensar que jamais houve na Pérola do Índico…
Estou a dever respostas a algumas interpelações. Alguns amigos falaram-me delas, ainda não tive tempo de as ler. Assim que tiver mais fôlego voltarei, embora o faça mais por respeito a essas pessoas do que pela própria qualidade da interpelação (se os resumos que me foram dados forem correctos). É difícil criar uma esfera pública responsável num contexto em que muitos participam no debate com o fim de somar pontos políticos ou simplesmente dar vazão a ressentimentos políticos com os quais os interlocutores não têm nada a ver. Já escrevi uma vez sobre isso: muitos confundem o direito de ter razão com o direito à razão.
O debate de ideias não serve para alguém vir dizer “eu, eu, eu é que tenho razão”. Serve para juntos procurarmos pela melhor abordagem racional dum problema. Só para fechar com a imagem inicial, se Jesus ressuscitasse (de verdade), tentasse atravessar o lago a pé e se afogasse muitos dos analistas que andaram a dizer que o Evangelho de Mateus (14:22-31) era fraude orquestrada pelo partido no poder lá no Vaticano haveriam de ver nisso a confirmação do seu palpite. Poucos teriam o cuidado de verificar se aqueles furos que lhe fizeram nos pés não seriam responsáveis por isso… Jesus, tal como Guebuza, nunca soube nadar segundo a lógica infalível da Pérola do Índico…
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