segunda-feira, 30 de março de 2015

Guebuza não sabe nadar


É o que muitos „analistas“ da Pérola do Índico diriam se um dia Guebuza atravessasse a Baía da Catembe a pé. Roubei esta imagem dum ex-Presidente americano, Lyndon B. Johnson, que disse o mesmo acerca de si próprio a propósito da campanha difamatória que lhe foi movida pela imprensa americana. Infelizmente, nas últimas duas semanas andei muito longe do “Facebook” por ter também andado fora do escritório. Hoje foi o meu primeiro dia no escritório depois desse jejum e por sugestão dum amigo que queria que eu visse um “post” dum outro amigo dei uma espreitadela rápida. Deixou-me tão perplexo como quando lá estive pela última vez.
O que me deixa mudo (aliás, que me devia deixar mudo…) é o facto de muita gente que andou a dizer que o País caminhava para uma “Putinização”, que o candidato à Presidência pela Frelimo era mero fantoche do homem forte, etc. ao invés de rever o quadro analítico (se é que teve algum) a partir do qual tirou essas conclusões precipitadas está hoje a celebrar a demonstração que um partido parece estar a fazer da sua própria vitalidade e aparente democracia interna, algo que esses mesmos analistas sempre puseram em causa. Já deixei de tentar perceber a incoerência de alguns. E acho sintomático, por exemplo, que processos desta natureza sejam sempre analisados sob o prisma de quem venceu a quem (ou quem perdeu) como se o jogo político só fosse isso.
O que torna a cultura política moçambicana muitas vezes intragável é este tipo de postura analítica, não são necessariamente os seus políticos. A estrela de Nyusi vai brilhar até os “analistas” não terem mais nenhum mau da fita e aí voltamos à estaca zero com políticos na reserva a serem solicitados para clamar por uma postura política que eles, no activo, dificilmente observarem (tipo “Samora cometeu erros”, mas nunca dizem o que eles próprios fizeram perante tais erros), mas sempre gozando do benefício da dúvida dos “analistas” para quem tudo serve desde que tenham mais uma desculpa para nunca se questionarem. E, claro, com os habituais ataques aos “G-40”, uma das maiores manifestações de preguiça de pensar que jamais houve na Pérola do Índico…
Estou a dever respostas a algumas interpelações. Alguns amigos falaram-me delas, ainda não tive tempo de as ler. Assim que tiver mais fôlego voltarei, embora o faça mais por respeito a essas pessoas do que pela própria qualidade da interpelação (se os resumos que me foram dados forem correctos). É difícil criar uma esfera pública responsável num contexto em que muitos participam no debate com o fim de somar pontos políticos ou simplesmente dar vazão a ressentimentos políticos com os quais os interlocutores não têm nada a ver. Já escrevi uma vez sobre isso: muitos confundem o direito de ter razão com o direito à razão.
O debate de ideias não serve para alguém vir dizer “eu, eu, eu é que tenho razão”. Serve para juntos procurarmos pela melhor abordagem racional dum problema. Só para fechar com a imagem inicial, se Jesus ressuscitasse (de verdade), tentasse atravessar o lago a pé e se afogasse muitos dos analistas que andaram a dizer que o Evangelho de Mateus (14:22-31) era fraude orquestrada pelo partido no poder lá no Vaticano haveriam de ver nisso a confirmação do seu palpite. Poucos teriam o cuidado de verificar se aqueles furos que lhe fizeram nos pés não seriam responsáveis por isso… Jesus, tal como Guebuza, nunca soube nadar segundo a lógica infalível da Pérola do Índico…
  • Mendes Mutenda Elisio Macamo, ser coerente custa. Me parece que aqui na terra do Índico o cataventismo funciona de tal forma hoje pode ser diabolizado e dia seguinte acordar herói. Não há critérios nenhum. Não falta muito falar -se alas...
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  • Gabriel Muthisse Elisio Macamo, excelente artigo. Guebuza virou o mau da fita (como ontem Chissano) que tudo o que faz é ridicularizado. Foi ao CC, fez uma leitura da correlação de forças e decidiu colocar o cargo à disposição? Pois esse é o sinal de que foi escorraçado!!!

    Mas Elísio, aí onde tu vives, ele até poderia ter escolhido ir a votos com o seu adversário. E perder nas eleições internas. E os nossos analistas veriam nisso vitalidade da democracia alemã. Não veriam ninguém escorraçado ou corrido.

    As nossa "analises" são de facto espantosas...
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  • Bayano Valy há muitos sisentinhos (termo que pedi emprestado doDicionário Urbano e não meu) por aqui. até os amigos fazem resumos do que se fala como se não tivesses vontade própria para leres e interpelares onde achares necessário.

    bem, acho que enquanto não tivermos um apego forte com a ciência será difícil termos coerência. e isso aplica-se aos dois lados das trincheiras.
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  • Elisio Macamo há critérios, Mendes Mutenda. não ter critério. pois, Gabriel, não são as análises que são espantosas. são os "analistas", esses sim são espantosos. só falta virem dizer que nyussi é a incarnação de samora como, aliás, alguns fizeram com ... guebuza! não há dois lados da trincheira,Bayano, há um apenas, o dos que não gostam de pensar, por pouco dizia "gente sem tacto"...
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  • Gabriel Muthisse Coerência nem tem muito a ver com ciência, caro Bayano Valy. É sobretudo uma questão de decência. A pessoa deve ser capaz de não se envergonhar do que escreve/diz. Mesmo que sejam coisas do senso comum. E mesmo que se venha constatar que esteve errada. Eu não sei como algumas pessoas lêem os seus posts uns dias depois. Eu, sem escrever "ciencia" revejo com satisfação todos os meus posts. Incluindo aqueles em que errei redondamente. Decência, meu irmão!
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  • Elisio Macamo a pobreza analítica está nestas coisas, na concentração no supérfluo. depois de terem falado tanto do poder dum único homem porque não se interrogam agora o que aconteceu a esse poder? porque não tentar perceber os processos internos que dão força ou fraqueza a um líder? se algumas pessoas fossem coerentes estariam hoje a dizer que se enganaram, que o problema se calhar nunca foi guebuza, mas sim a falta de integridade de quem diz ser político e estar a trabalhar em prol do país. como irrita isto. aparece teodato hunguana a dizer não-sei-quantos e grita-se logo "grande entrevista" apesar de quem o entrevistou não ter procurado saber como ele interpretou o seu próprio trabalho ainda no activo, o que ele fez em prol das coisas que hoje aparece a defender, etc. jorge rebelo idem. não seria para concluir que eles são incoerentes (que até nem são tanto mais que isso seria ataque à pessoa), mas para analisar devidamente, ir à essência dos problemas. é mesmo falta de decência, Gabriel. só pode ser isso.
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  • Maçambique Lhomulo Zimba Professor Elisio Macamo, antes demais considero a sua intervenção muito interessante, porém, permita me dizer que os analistas da pérola do indico não estão numa ilha, o comportamento deles não se difere dos próprios politicos, enquanto o analista, faz...Ver mais
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  • Elisio Macamo mas é por isso que digo, Maçambique Lhomulo Zimba, que o problema não está no político, mas sim na qualidade da crítica. só a crítica é que vai ajudar a melhorar o desempenho político. não é e nunca foi o contrário.
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  • Elisio Macamo eh, mpoyombo, por aqui?
  • Lenon Arnaldo Pior de tudo, quando falta lhes argumentos para "debater" qq que seja o assunto, a mentira, especulação e a devassa a vida privada é usado como argumento último. Hoje, recebi mail e sms com conteúdos graves da vida privada AEG como este não tivesse direito ao respeito ao bom nome e a privacidade.

    Não menos grave é a intervenção daqueles que deveriam ser as referências no interior do partido, alinhar, com o arruaceirismo e golpes baixos para fazerem acerto de contas de assuntos se calhar muitos de nós desconhecemos.
  • Carlos Armindo Caro e ilustrissimo Dr Elisio Macamo ha muito tenho evitado comentar os teus posts, permita me recomhecer que os teus escritos sao exageradamente eruditos (perdoe me a franqueza) e fazem com nx outros de escrita vulgar nos limitemos a contentar-se em alimentar o espirito apenas (com leituras apenas), porem hj kero arriscar, pois kem nao arrisca nao petisca, dita ixo a razao comum. Indo ja ao comentario (a minha morte) diria o seguinte ilustre Dr: os analistas (nem todos claro) da nossa bela perola do indico sao fanaticos pela arte de arranjar culpados, especialistas em dizer o k esta e kem esta errado sem nunca mostrar kual 'e o certo. 

    Hoje guebuza nao sabe nadar, ontem outro tambem nao soube, amanha nyuzi nao sabera.

    Kual afinal devera ser a melhor abordagem a usar para o teatro politico mocambicano?
  • Joaquim Selemane Grande verdade, espantosos são mesmo "os analistas", "os analistas"...

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