"...“NO seio do partido Frelimo temos diferenças de opinião, e não conflitos, no que diz respeito à possibilidade da sucessão de Armando Guebuza da presidência da Frelimo”, disseram ontem, unanimemente, alguns membros do Comité Central deste partido, entrevistados pelo “Notícias”.
Nyeleti Mondlane disse que felizmente, a nível do partido, a diferença de opinião é bem-vinda. “Como cidadã e membro do partido entendo que o Presidente Guebuza está a cumprir bem o seu mandato. Elegemos o Presidente Guebuza no nosso congresso e ele está ainda a cumprir o seu mandato. Se há necessidade de ele sair, o Comité Central vai deliberar e vai decidir. Mas eu acho que ele está a desempenhar bem as funções e está a cumprir os estatutos”, declarou Nyeleti Mondlane, para quem “não há conflitos na Frelimo à volta desta questão, mas há sim diferença de opiniões”.
Segundo ela, ainda não houve, na Frelimo, uma situação em que o presidente do partido não fosse o Chefe do Estado, e acrescentou que “não há nada nos estatutos do partido que diga que não deve ser daquela forma”.
“A verdade é que no último congresso demos mais um mandato de cinco anos a Armando Guebuza. Eu não me recordo de se ter dito no congresso que quando terminar o seu mandato como Chefe do Estado terá de cessar também a presidência do partido e todos nós sabíamos que Armando Guebuza não ia concorrer novamente para a Presidência da República”, observou.
CRIAR UMA TRANSIÇÃO PACÍFICA – afirma Fernando Faustino
Fernando Faustino, Secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), considera que Armando Guebuza foi eleito num congresso da Frelimo, daí que está a cumprir um mandato. “Daqui para o 11.º congresso falta aproximadamente um ano e meio, e é preciso criar uma transição pacífica e gradual para permitir que o actual presidente do partido possa transmitir experiências e ensinamentos de como deve ser continuada a liderança do partido”, disse, salientando que esta sucessão não deve ser feita às pressas, mas, sim, obedecendo princípios estabelecidos nos estatutos do partido.
Segundo Fernando Faustino, as pessoas devem respeitar os órgãos existentes dentro do partido e as suas respectivas instituições.
Para este antigo combatente não existe “barulho” no seio do partido Frelimo à volta da sucessão de Armando Guebuza, mas o que existe são ideias diferentes, que até certo ponto vão ajudar a organização a tomar decisões certas, quando chegar a vez de discutir o assunto sobre a sucessão de Armando Guebuza na liderança do partido.
GUEBUZA ESTÁ DENTRO DO MANDATO – segundo Eduardo Nihia
Por sua vez, Eduardo Nihia, antigo combatente da Luta de Libertação Nacional, defende que a questão da separação de poderes não deve constituir preocupação para ninguém.
Recordou que Guebuza foi eleito secretário-geral da Frelimo e, por essa via, foi indicado candidato do partido às eleições presidenciais, antes de ascender ao cargo de Chefe do Estado. “Para o actual Presidente da República (Filipe Nyusi), não foi usada essa via”, lembrou Nihia, defendendo que na Frelimo é tradição passar a experiência aos sucessores de forma gradual. “Uma mãe tem a obrigação de ensinar a cozinhar à sua filha e esta saber cozinhar tal como a mãe. Mas para que isso aconteça, a mãe tem de cozinhar com a filha, dando-lhe uma segurança, para que amanhã tenha um bom lar”, frisou Nihia.
DESDRAMATIZAR O DEBATE – afirma Celso Correia
Celso Correia, membro do Comité Central da Frelimo, explicou que não vê necessidade do debate à volta da sucessão de Armando Guebuza no cargo de Presidente do Partido, porque os Estatutos da Frelimo estão claros em relação a esta matéria. “O importante é encontrar o melhor modelo que salvaguarda os interesses do partido, que também são do país. Temos de desdramatizar este debate porque, em primeiro lugar, o Presidente Guebuza fez 10 anos a servir o partido e o país, com resultados notáveis e palpáveis”, disse.
HÁ LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA FRELIMO – considera Sérgio Pantie
Para Sérgio Pantie, o Comité Central da Frelimo está reunido para discutir e a analisar a situação política, económica e social do país e uma das questões que o preocupa são as declarações do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que tendem a incentivar os moçambicanos a desrespeitarem as instituições e as leis.
Segundo Pantie, a reunião vai ainda reforçar o compromisso da Frelimo com a unidade nacional pois, no seu entender, é preciso que cada cidadão lute pela consolidação da unidade nacional.
Sobre a eventual partida de Armando Guebuza da presidência do Partido, Pantie falou nos seguintes termos: “Na Frelimo há liberdade de expressão e esta não é a agenda desta sessão. Agenda é o desempenho, análise do funcionamento do partido, desempenho do Governo e da bancada. É tradição da Frelimo respeitar os estatutos e os órgãos eleitos”.
TOMAR DECISÕES QUE GARANTAM A PAZ – exorta Atanásio Quirino
Atanásio Quirino, membro do Comité Central e Secretário da ACLIN, em Cabo Delgado, espera desta reunião decisões que ajudem na manutenção da paz e garantam o desenvolvimento do país.
Quanto à possibilidade da renúncia de Armando Guebuza da Presidência da Frelimo, a nossa fonte deixou tudo nas mãos do Comité Central e explicou: “Temos de nos guiar dentro dos Estatutos da Frelimo aprovados pelo congresso, mas não se exclui a possibilidade da convocação de um congresso extraordinário. Mas essa decisão será tomada pelo Comité Central. Devo dizer que esta questão não faz parte da agenda”, disse, afirmando ser aceitável discutir-se sobre a sucessão ou não de Armando Guebuza. “É muito aceitável”, avançou..."
In "Jornal NOTICIAS 28/03/2015"
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