A Renamo, maior partido de oposição em Moçambicano, acusou hoje o Governo de movimentar homens do Exército e da Força de Intervenção Rápida (FIR) no centro o país e alertou que "esse comportamento pode trazer consequências graves".
"O Governo, violando o acordo de 05 de setembro de 2014, movimentou e continua a movimentar contingentes das Forças Armadas e Defesa e Moçambique e Força e Intervenção Rápida, que estão a ocupar novas posições em zonas onde ocorreram as hostilidades, comportamento que pode trazer consequências graves se a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] toma a mesma atitude, em relação às suas forças", acusou hoje, em conferência de imprensa, o chefe da delegação do partido da oposição no diálogo com o executivo moçambicano.
Saimone Macuiane apontou 11 situações concretas, com locais e datas, de concentração de centenas de militares do Exército e dos homens de elite da FIR, nas províncias de Sofala, Inhambane, Manica, Zambézia e Tete.
Além destes casos, Macuiana disse estar na posse de informações de que mais efetivos estão a ser deslocados para Sofala, a província mais atingida durante os 17 meses de confrontos militares que só terminaram com a assinatura o acordo de cessação de hostilidades, a 05 de setembro.
Um relatório da equipa de observação militar da cessação de hostilidades em Moçambique (EMOCHIM), divulgado na segunda-feira, apontou contradições entre os relatos das autoridades locais e a população acerca das acusações do principal partido de oposição de que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas estavam a reforçar posições no centro do país.
Segundo o documento, as autoridades locais negam o reforço da presença das FDS, mas "a população local foi intransigente e contrária a essa informação".
Os patrulhamentos feitos na região pelos observadores, assinala o texto, "não pôde obter nenhuma evidência tangível e independente da alegada violação pela presença de posições militares".
Os observadores assinalam, porém, a existência de um forte contingente policial naquelas províncias.
O Governo, por seu lado, tem mantido sempre a posição de que as FDS têm liberdade para circular em todo o país, rejeitando qualquer violação ao acordo.
Na conferência de imprensa de hoje, Macuiana referiu-se também a "assassínios e perseguições a membros da Renamo", apontando o caso de um homem morto a tiro, no sábado, em Chibabava, província de Sofala.
A Renamo está ainda preocupada com "a lentidão" no diálogo com o Governo, no âmbito das negociações semanais em Maputo, acusando o Governo de recusar de forma sistemática um modelo de integração nas FDS para os homens armados do partido de oposição e de fornecer o quadro orgânico das Forças Armadas e Defesa de Moçambique e da Polícia da República de Moçambique.
As negociações entre as partes estão bloqueadas na discussão o desarmamento da Renamo, com o Governo a exigir uma lista dos homens a integrar nas FDS e o partido de oposição a insistir na elaboração de um modelo de integração e na partilha de postos de comando militares e policiais.
"Em vinte anos, 99% dos oficiais nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique provenientes da Renamo foram compulsivamente destituídos das suas funções", disse Saimone Macuiana, "e são estes oficiais que a Renamo pretende ver enquadrados em primeiro lugar".
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, mostrou na segunda-feira abertura para se encontrar com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que não reconhece os poderes políticos saídos das eleições gerais de 15 de outubro e ameaça criar uma região autónoma no centro e norte do país.
Macuiana recusou hoje comentar a disponibilidade manifestada pelo Presidente moçambicano, depois de, na terça-feira, o porta-voz do partido, António Muchanga, ter declarado à Lusa que "o importante não é o encontro com o líder da Renamo, importante é acolher o que a Renamo reivindica".
HB // VM
Lusa – 04.02.2015
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