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Faleceu General José Moiane(2)
DESCANCE EM PAZ, SR.TENENTE GENERAL DE CAMPO JOSÉ PHAHLANE MOIANE
Eu, Zeca Caliate, conheci pessoalmente José Phahlane Moiane, que descanse em paz do mal que fez a muitos compatriotas e camaradas pela mesma causa de libertação de Moçambique!
Pessoalmente escapei “por um triz” das suas mãos em 1973, quando ele queria retirar-me a vida antes do tempo, pois eu era ainda muito jovem tinha apenas os meus 25 anos de idade e mesmo assim quis crucificar-me como se fosse um ladrão…
Felizmente escapei com vida!
Essa sorte que tive de escapar, muitos outros não tiveram e caíram infelizmente nas suas mãos pagando um preço muito elevado por uma coisa que não deviam!
Estes atos praticados deviam-se à sua loucura e ignorância, pois tirava a vida de outros seres humanos, por simples desporto. Chamam-lhe herói por assassinar muitos dos seus Compatriotas? Por mim, ele está perdoado de todo mal que me infligiu. Mas não sei se os outros, a quem seivou a vida antes de tempo o irão perdoar. Duvido muito, pois ainda tenho na memória o dia em que ele fuzilou pessoalmente a sua própria esposa Salomé Moiane, desconfiado de que esta seria amante de um seu melhor amigo, em 1980.
Fico triste por saber que o Governo da Frelimo, através do chamado Concelho de Ministros, decretou dois dias de luto pela morte de um assassino ainda propondo que seja atribuído o título honorífico de “Herói da República”, sinceramente para mim é um absurdo, pois esse indivíduo não merece tanto porque ele, José Moiane, era cruel e tinha muito medo de morrer!
Quando em 1969 foi enviado para Tete por Samora Machel, eu Zeca Caliate era adjunto chefe das Operações da guerrilha naquela frente e fui, com ele, participar num ataque ao que nós, veteranos guerrilheiros daquela Província, apelidávamos aos recém-chegados de Ataque de Batismo e fui com ele atacar um acampamento de OPVDC (Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil), na zona de Chipera no Concelho de Fingoé, qual foi o meu espanto: antes do ataque terminar os camaradas vieram dizer-me que o camarada José Moiane tinha abandonado o local da escaramuça antes de terminar o combate. Tive que suspender o assalto e andar pelas matas a procura do Moiane encontrando-o, mais tarde, escondido próximo da nossa base.
Outra cena, sobre o José Moiane, foi em 1970, quando escoltei o batalhão que ia atravessar o rio Zambeze para o sul de Tete e pelo caminho fomos atacados pelo inimigo e os camaradas que não tinham experiência de combate, recuaram para a base Central onde se encontrava o Órgão Provincial chefiado por José Moiane. Após recebê-los e em vez de os reeducar, deu ordem para seu fuzilamento, o que me deixou perplexo por estas atitudes de José Moiane que conhecia desde o 1º campo de treinos militar em Kongwa no Tanganhica e nunca fez nada de jeito, sempre subindo na vida inventando mentiras, assassinando e desgraçando colegas da mesma causa!
No Niassa onde diz ter combatido ao lado do seu amigo Sebastião Marcos Mabote, segundo o que eu sei, os dois foram enviados para aquela frente do Niassa, propriamente na região de Catur, cujo objetivo seria de neutralizar fisicamente o comandante António Silva que acabava de ser nomeado para 1º secretário da Defesa por Filipe Samuel Magaia, chefe de Departamento de Defesa e Segurança (DSD). A nomeação de António Silva para chefe Provincial da Defesa, não agradou a Samora que era adjunto de Magaia.
Quando António Silva desvendou o plano que visava o seu assassinato por José Moiane e Mabote, o comandante António Silva não resistiu, fugindo para o Malawi onde estava o Bonifácio Gruveta, amigo pessoal de Samora, que também o tentou eliminar naquele país de Kamuzu Banda. Desta forma, o Silva não tinha hipóteses de ali continuar e acabou por se entregar ao Governo colonial na Zambézia.
Por fim, o José Moiane, que se intitulou chefe das operações no Catur com seu amigo Sebastião Mabote que desempenhava o papel de comissário político local, onde ambos acabaram por assassinar o comandante Luís Arrancatudo e não só, ali chacinaram muitos combatentes bem como povo, e daqueles que escaparam uns refugiaram-se no vizinho Malawi e outros procuraram refúgio nos aldeamentos que tinham sidos antecipadamente construídos e protegidos por exército Português.
Fracassada a guerra no Catur e com medo de serem capturados pela Tropa Colonial, os dois pediram ao amigo Samora Machel para serem retirados dali, pedido que foi prontamente aceite, pois nessa altura o Filipe Magaia estava já morto e António Silva encontrava-se sob a “custódia” do Governo Português.
Quando os dois, Moiane e Mabote, chegaram em Nachingwea foram recebidos por Samora como heróis! Sebastião Mabote foi nomeado chefe das operações Nacional e o José Moiane nomeado 1º secretário da Província de Tete, em substituição do seu conterrâneo Pascoal Nhampule, rival de Samora Machel, isto em 1969.
De salientar que ainda andam por aí “Camuflados Assassinos” como José Moiane, e são muitos e eu conheço alguns deles perfeitamente e que tarde ou cedo serão desmascarados!
Também conheço os camaradas que se bateram heroicamente pela Independência de Moçambique, mas que nunca viram os seus sonhos realizados e nem tão pouco foram reconhecidos pelo seu heroísmo, nem reconhecidos publicamente, antes pelo contrário uns pagaram com as suas próprias vidas sendo fuzilados sem julgamento e outros ficaram marginalizados e desgraçados para toda vida.
Para mim, esses indivíduos que andaram a assassinar os seus próprios irmãos, deveriam responder no Tribunal Penal Internacional para serem julgados e condenados por atos praticados contra a Humanidade e achava que o Tenente General José P.Moiane, antes de se ir embora “para o outro lado da fronteira” fosse primeiro a julgamento e punido exemplarmente! Assim não haveria mais abusos contra um ser semelhante, mas sim haveria respeito para com todos os Moçambicanos.
Ele, Moiane, não foi mais importante do que os outros camaradas que ele próprio, usando do poder das armas que lhe foram atribuídas por seu amigo Samora, assassinou acusando de traidores da Pátria, sei lá de quem!
A todos nós Moçambicanos fica o meu apelo: A quem quiser saber mais esclarecimentos sobre a vida de José Moiane e não só, procure obter a obra “Odisseia de um Guerrilheiro” de que eu próprio, Zeca Caliate, sou autor.
NOTA:
Não tenho certeza, se o José Moiane e Dinis Moiane eram irmãos de sangue?
Os dois estiveram comigo no Kongwa. O Dinis Moiane, nunca foi chefe de campo de Nachingwea, mas sim Comissário Político Nacional da Frelimo. Acabando despromovido por Samora Machel que desconfiava deste assediar sexualmente a sua mulher Josina Machel.
No início de 1973 o Dinis Moiane foi enviado para o 4º sector que eu comandava como um combatente simples e técnico sapador das minas, curso que acabava de tirar na União Soviética. Mas deste Dinis Moiane, nunca ouvi que tivesse assassinado algum parente. Dai em diante, nunca mais soube do seu paradeiro até dias de hoje.
22.02.2015
Comandante Zeca Caliate
(Recebido por email)
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