06 Fevereiro 2015, 09:54 por Baptista Bastos | b.bastos@netcabo.pt
O PS empurra António Guterres para uma candidatura à Presidência. O mesmo que abandonou a barca, logo-assim a barca estremeceu, qualificou-nos como "pântano", e ocupou o lugar de não-sei-quê dos Refugiados.
Um vendaval de protesto (ia a escrever: insurreccional) passa pela Europa, e os dirigentes mais em voga parecem tolos ou arrogantemente displicentes. O Syriza está no poder e a horrorosa Angela Merkel, que ignora o que foram Péricles e o seu século, afirma que a Grécia pode ir embora da União, pois não faz falta nenhuma. Alguém a corrigiu e ela emendou a mão, sem dizer nada, rigorosamente, que a salvasse das purgas do inferno. François Hollande soletrou umas banalidades iguais às que lhe são comuns. Entretanto, em Madrid e um pouco por toda a parte de Espanha, o Podemos, organização de organizações, congrega milhares e milhares de espanhóis, que deixaram Mariano Rajoy, chefe do Governo e dirigente máximo do corrupto Partido Popular, com a cabeça fora de onde é hábito estar. O homem, apopléctico, gritou, numa reunião partidária, que não ia permitir a "vitória da Espanha Negra", entendendo-se, nesta curiosa definição, o Podemos que lhe ameaçava a vidinha.
Em Portugal somos mais mansinhos. Há cerca de dois anos, milhão e meio de portugueses desfilaram, silenciosos e sem desacatos, pelas cidades do País. Nada de sobressaltante aconteceu a seguir porque o nosso pacifismo oculta, acaso, uma resignação doentia e letal. Estamos à espera de quê?, de um grande acontecimento que, de per si, resolva os nossos problemas? As tentativas feitas, entre nós, de contestação ao "sistema" e ao ludíbrio de uma "democracia" amarrotada, que serve, somente, os interesses de uma oligarquia sem grandeza, sem dignidade e analfabeta, caem nos despojos de ambições pessoais, como recentemente se tornou a ver.
Dirigimos, agora, as nossas expectativas (recuso-me a escrever: esperanças) para António Costa. Mas, infelizmente, tudo se torna opaco e duvidoso, passados os primeiros instantes de euforia. O PS empurra António Guterres para uma candidatura à Presidência. O mesmo que abandonou a barca, logo-assim a barca estremeceu, qualificou-nos como "pântano", e ocupou o lugar de não-sei-quê dos Refugiados. É um burocrata sempre cheio de medo, que possui do socialismo um conceito difuso de água-benta. Aliás, conta-se, do cavalheiro, esta historieta, certamente não muito longe da verdade. Três amigos, católicos de genuflexão: ele, Adelino Amaro da Costa e Marcelo Rebelo de Sousa tinham o mesmo confessor e encontravam-se frequentemente. No imediato 25 de Abril, o Marcelo disse: vou fundar o PPD. Está-me na calha e no molde. E o Adelino Amaro da Costa: "Também já decidi: vou fundar o CDS." Tristemente, com uma furtiva lágrima nos olhos e voz flébil, António Guterres murmurou: "Não me deixam alternativa: vou para o PS."
Ainda se chegou a falar em Manuel Carvalho da Silva, grande dirigente sindical, hoje licenciado em Sociologia, e um dos mais nobres, decentes e honrados portugueses. É uma esperança que enfrenta anticorpos; mas é, talvez, aquele que possui um consenso mais alargado à Esquerda. E com a vantagem moral de ser um homem com os princípios morais de Abril.
Esta pasmaceira doentia em que vivemos torna-nos, cada vez mais, num povo apático, moldado pelos novos esquemas dos logaritmos económicos. Vem aí, ao que dizem, montes de dinheiro. Mas é para os bancos administrarem, também dizem. O PS, se o quer ser, terá uma palavra a comentar. Esta será, de certeza, uma das grandes decisões próximas que António Costa corporizará. E pode fazer toda a diferença.
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