terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

MARCO DO CORREIO por Machado da Graça

minuce@gmail.com

Minha cara Judite

Espero que estejas bem de saúde assim como toda a tua família. Eu estou bem, felizmente.

E muito mais descontraído do que andei nos últimos tempos.

Tenho pena é desses pobres G40 que, mais uma vez, vão ter de fazer uns flic-flacs para justificar o facto de Filipe Nyusi se ter encon­trado com o chefe dos “bandidos armados” e, aparentemente, se terem dado bem um com o outro. E, aparentemente, terem tido resultados positivos do encontro.

Como podes imaginar eu não sei o que fala­ram e decidiram, mas sei que se encontraram e tiveram matéria de conversa para duas horas e meia, o que não é nada pouco. E, não contentes com isso, marcaram novo encontro para este momento mesmo em que te estou a escrever.

E também os aspectos (in)formais do encon­tro me agradaram bastante. Para já o facto de ter ocorrido no HOTEL onde Dhlakama se hos­peda quando está em Maputo. Isto é, Nyusi aceitou ir jogar ao campo do adversário. Uma bandeira nacional a um canto parece ter sido o único aspecto protocolar e o seu significado é, pelo menos, dúbio.

Depois o facto de os dois homens terem conversado em mangas de camisa, com ar des­contraído. Nada dos fatos e gravatas habituais mas sim um trajo de quem está a trabalhar e a tarefa pode ser longa.

O facto de Dhlakama, à saída, ter afirma­do que os deputados eleitos pela Renamo vão tomar posse brevemente pode ser um grande alívio para as duas partes. Para o Governo por­que isso vai permitir o início do funcionamento mais normal das instituições. Para Dhlakama porque se encontrava em grave risco de ser desautorizado por uma tomada de posse, em massa, à sua revelia.

De qualquer forma, essa tomada de posse e o facto de Dhlakama ter tratado Nyusi por Presidente parecem indicar uma aceitação dos resultados eleitorais. Em troca de quê? Não sa­bemos, mas as contrapartidas não poderão ser pequenas sob pena de Dhlakama perder a face perante os seus apoiantes depois do que andou a afirmar publicamente nos últimos tempos.

Vejamos o que nos trazem os próximos dias mas, agora, com a esperança de que nos tra­gam a paz e não desesperados a ver a guerra a aproximar-se.

Que, neste momento em que te escrevo, se estejam a reforçar os alicerces do bem de todos os moçambicanos é o desejo deste teu amigo.

Um beijo para ti do

Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 10.02.2015

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