Thursday, November 20, 2014

NIGERIANA É A MULHER NEGRA MAIS RICA DO MUNDO


BARACK OBAMA ELOGIA ANGOLA




O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou terça-feira em Washington o papel de Angola e do Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, na Conferência Internacional dos Grandes Lagos (CIRGL) que promove a paz e a estabilidade nesta região do continente africano.

Barack Obama, que falava na Casa Branca, durante a audiência que concedeu ao novo embaixador de Angola nos Estados Unidos, Agostinho Tavares, disse que os Estados reconhecem e apreciam a posição de liderança que Angola assumiu no continente africano, particularmente na Conferência Internacional na Região dos Grandes Lagos (CIGRL) e na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

O Presidente norte-americano felicitou também Angola pela sua eleição para Membro Não Permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela presidência do Processo Kimberly, que certifica a origem dos diamantes, destacando que tudo isso são “sinais de crescimento e engajamento do país na arena internacional, o que promove um futuro brilhante, seguro e próspero para todos os angolanos”.

“Nesta última década, Angola não apenas se recuperou da guerra civil devastadora, como igualmente desenvolveu uma economia que se posiciona entre as maiores do continente africano”, disse Barack Obama. O Presidente Barack Obama reconheceu os progressos registados em Angola desde o alcance da paz e felicitou o Chefe de Estado angolano pelo seu empenho pessoal na assumpção de compromissos que ajudaram a diminuir os conflitos no continente africano. 

Barack Obama lembrou que desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, em Maio de 1993, acooperação bilateral não se resume apenas ao comércio, mas abrange um compromisso para o alcance da paz e segurança.

Na cerimónia, que serviu para o novo Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Angola nos Estados Unidos apresentar as suas cartas credenciais ao Chefe de Estado dos EUA, Barack Obama referiu que a indicação do diplomata angolano acontece num momento crucial das relações bilaterais entre os dois Estados que tendem a crescer cada vez mais. 

O embaixador angolano realçou os dividendos da paz e o processo de consolidação da reconciliação nacional que ocorre no nosso país. “Após mais de 20 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países é notório o volume de negócios, cujas transacções cresceram significantemente, o que é visível pelo número de companhias americanas que operam em Angola, nomeadamente nos sectores de óleo e gás”, disse o diplomata.

No seu discurso, durante a cerimónia de acreditação na Casa Branca, o embaixador Agostinho Tavares fez referência às prioridades para o desenvolvimento de Angola no quadro do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2013-2017.

Este plano, sublinhou, prevê investimentos consideráveis em infra-estruturas e nos sectores de energia, indústria, agricultura e saúde, diversificação da economia, a melhoria das condições de vida das populações e a redução das assimetrias entre as regiões.

Os progressos alcançados pelo país na cooperação bilateral, assim como o empenho do Executivo angolano no reforço das instituições democráticas, a defesa dos direitos humanos, a redução da pobreza e a boa governação, foram destacados pelo embaixador Agostinho Tavares.

Agostinho Tavares é licenciado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Brasília e tinha apresentado as suas cartas figuradas ao Departamento de Estado dos EUA no dia 14 de Novembro. Agostinho Tavares foi nomeado pelo Presidente José Eduardo dos Santos no dia 26 de Agosto de 2014 para chefiar a Embaixada de Angola nos Estados Unidos.

Jornal de Angola – foto AFP

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Angola: AS PALAVRAS DE OBAMA



Jornal de Angola, editorial

O Presidente Barack Obama, líder daquela que é considerada a maior democracia do mundo, elogiou o Presidente José Eduardo dos Santos pelas suas políticas no plano interno e internacional. As conquistas democráticas do Povo Angolano estão à vista de todos. Só não vê quem não quer.

Mas é sintomático que um Chefe de Estado estrangeiro, de outro continente, que está tão longe, veja claramente aquilo que alguns sectores da Oposição recusam ver. 

Obama sabe o que custou aos angolanos a paz e estabilidade. Conhece o nosso passado recente, marcado dolorosamente pelas agressões externas. Com todos os dados à sua disposição, só podia constatar o que está à vista: “Nesta última década, Angola não apenas recuperou da guerra civil devastadora, como igualmente desenvolveu uma economia que se posiciona entre as maiores do continente africano”. Nesta frase está toda a verdade sobre Angola. 

O Presidente dos EUA, melhor do que ninguém sabe quanto nos custou a guerra devastadora e quanto custa, hoje, manter a estabilidade política e social, pôr a economia em marcha, levar a prosperidade onde até 2002 só existia fome, desolação e morte.

Depois dos elogios públicos do Presidente Barack Obama ao Presidente José Eduardo dos Santos, esperamos que os líderes dos partidos da Oposição não venham acusá-lo daquilo que acusam o nosso jornal: falta de isenção, subserviência, manipulação.

Obama elogia e reconhece quem lidera com inteligência, quem constrói a nova Angola sobre os escombros da guerra de agressão que durante décadas enfrentámos. 

Alguns políticos da Oposição pensam que reconstruir um país, dotá-lo das infra-estruturas que durante décadas foram sabotadas, matar a fome aos que tudo perderam na guerra, curar as feridas, levar o progresso onde só existem escombros, é tão fácil como fazer promessas insensatas, bolsar mentiras e calúnias sobre os que ganharam as eleições com maioria qualificada. Estão enganados. Reconstruir uma pequena parcela de Angola demora muitos anos e exige avultados recursos financeiros. Destruir, reconhecemos, foi muito mais fácil. Bastou carregar no gatilho ou provocar as explosões.

Aqueles que em 2002 estavam prestes a perecer, sem forças para respirar, foram alimentados e tratados nos hospitais nacionais. Em poucos dias estavam como novos. Pensam que recuperar dos anos perdidos, levar o progresso a todo o país, refazer os circuitos de produção e distribuição, construir escolas, centros de saúde e hospitais, pôr os comboios nos carris, recuperar os aeroportos que eles destruíram, refazer as barragens ou as linhas de alta tensão que sabotaram, se faz com a mesma velocidade com que foram resgatados da morte por inacção. Há coisas que se eliminam num ápice. As feridas nos angolanos e no solo sagrado da Pátria levam muito mais tempo a sarar.

Por isso, o Presidente Obama, que não está cego com a tomada do poder a todo o custo, que não presta vassalagem aos colonialistas que ainda mexem em Lisboa, fez esta afirmação simples mas muito reveladora: “Há sinais claros de crescimento e engajamento de Angola na arena internacional, o que promove um futuro brilhante, seguro e próspero para todos os angolanos”.

O Presidente dos EUA tem razão. O futuro de todos os angolanos é risonho. Mesmo para aqueles que vão a Lisboa pedir aos antigos amos que ponham a máquina do tempo a andar para trás. Mas o futuro dá ainda muito trabalho no presente. Quem se exclui de construir a Angola de hoje está a cometer um erro capital, porque aqueles que votam, os cidadãos que de cinco em cinco anos vão escolher os deputados e o Presidente, podem apontar muitos erros aos que ganharam as últimas eleições. Até podem estar desiludidos com alguns aspectos da governação. Podem até reclamar por promessas não cumpridas. 

Mas têm uma certeza: nunca viram ao seu lado os políticos da Oposição. Não conhecem as suas obras. Desconhecem o que fazem diariamente para que os “sinais claros de crescimento” sejam mais numerosos e visíveis. Dizer mal, criticar, desqualificar, é muito fácil. Construir, nem que seja uma casa de adobes ou uma lavra, dá imenso trabalho.

A verdadeira reconciliação nacional faz-se na construção quotidiana da nossa casa comum: Angola livre e democrática. O “futuro brilhante, seguro e próspero para todos os angolanos” de que fala o Presidente Barack Obama, está a ser desbravado sob a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos,pelo partido que ganhou as eleições e pelos angolanos que amam o seu país. Se a Oposição se obstina em não apanhar o comboio que avança inexoravelmente rumo a esse futuro brilhante, só pode continuar entre os derrotados e falhados.

Portugal: BES PODE ACABAR MINIMAMENTE BEM?



Daniel Deusdado – Jornal de Notícias, opinião

1. Quando a 31 de julho o Banco Central Europeu, perante o buraco criado por Ricardo Salgado, quis salvar de imediato os seus 10 mil milhões no banco, mandou-nos para o inferno. Nessa altura o Governo assobiou para o lado fazendo de conta que quem mandava em tudo era o Banco de Portugal. Ainda assim, reafirme-se este dado essencial: salvaram-se quase todos os depósitos no BES e a confiança mínima nos outros bancos. Porque uma gigantesca fuga de capitais do país esteve quase a acontecer.

2. O Fundo de Resolução, para salvar o lado bom do BES e criar o Novo Banco, foi assumido pelos bancos. O custo acaba por minimizar o risco dos contribuintes (só acontece por via da Caixa Geral de Depósitos em menos de 30%). Mas, na minha opinião, a recapitalização do banco, através do fundo disponibilizado pela troika, teria evitado a destruição do BES. A marca BES garantiria obviamente um valor superior ao do Novo Banco no momento de venda. Mais: todos os bancos que até hoje pediram o apoio de recapitalização acabaram mais valorizados e a devolver com ganhos o dinheiro ao Estado. Mas agora não vale a pena olhar para trás.

3. O presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) voltou a garantir a proteção das poupanças de quem ficou embrulhado nos produtos financeiros tóxicos do GES (Rioforte e ESI) induzidos aos balcões do BES. É já sabido que os clientes perderão os juros mas mantêm a expectativa de resgatar o capital. Na prática, ao fazê-lo, o banco devolveria as poupanças aos clientes, transformando-as em depósitos a prazo - que ficariam como ativos do banco (valorizando a venda). Falta confirmar até agora o mais surpreendente: se o Banco de Portugal falha à palavra dada ao longo de 2014 e os produtos tóxicos do GES acabam por levar à falência milhares de clientes do retalho.

4. Uma luz nova: os pequenos acionistas que perderam dinheiro no aumento de capital podem acabar por ser minimamente compensados. Como? Através da reserva de uma parte do capital do Novo Banco. Foi isto que o presidente da CMVM sugeriu anteontem e seria uma forma de mitigar a desgraça que é ter-se sido acionista ao lado da família Espírito Santo. Seria justo e uma boa saída.

5. Deixar a CMVM fora da reunião magna do fim do BES de 31 de julho foi quase crime. Viu-se o que aconteceu nas últimas horas em que o BES esteve na Bolsa sem que o supervisor da Bolsa tivesse informado do que se passava. Como foi possível?

6. Outra caso notável é a do caso Tranquilidade. Na verdade, no início de 2014, CMVM e o Banco de Portugal chegam à conclusão que Ricardo Salgado é um "criminoso em potência" e que os anda a enganar sistematicamente. O que fazem? Cercam-no e, por exemplo, exigem que a Tranquilidade seja dada como garantia dos depositantes envenenados por produtos GES (Grupo Espírito Santo). Pede-se então uma auditoria a uma das mais reputadas auditoras mundiais, a PricewaterhouseCoopers, para saber quanto vale a seguradora. Conclusão? A Tranquilidade é avaliada em 839 milhões de euros. Ora, diz o presidente do Instituto de Seguros de Portugal (a quem ninguém pediu opinião na altura...) que qualquer pessoa do setor sabia que a Tranquilidade valia talvez um décimo da Fidelidade (tinha pouco mais de um décimo dos ativos e de prémios de seguros). A Fidelidade tinha acabado de ser vendida aos chineses da Fosun por, grosso modo, mil milhões de euros. Ou seja, havia um dado fidedigno que tornava claro o valor de mercado da Tranquilidade: nunca superior, na melhor das hipóteses, a 200 milhões. Mas o Banco de Portugal aceitou 839 milhões sem pestanejar! Questão essencial: porque fez isto a reputadíssima PwC?

7. A principal conclusão a tirar de todo este dossier BES é de que nenhum banco (ou seguradora, etc.) é realmente seguro se for dirigido por vigaristas da elite e tiver auditoras alinhadas com os mafiosos. (No BES estava a KPMG e da fama já ninguém a livra.) E também não se pode confiar cegamente em supervisores sem meios. Na prática, isto prova que é cada vez mais difícil confiar em quem quer que seja. E há solução? Tem de haver mas isso obriga a pensar num sistema financeiro diferente, menos orientado para o lucro a qualquer preço. Não é impossível.

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Portugal: Como o obstinado Passos Coelho ainda acredita que vai ganhar as eleições



Ana Sá Lopes – jornal i

A tese de que Costa é sinónimo de Sócrates, a "bancarrota" e a desorientação dos socialistas europeus são os argumentos a utilizar pelo PSD

As sondagens são francamente desfavoráveis, o ambiente dentro da coligação nunca foi um primor, os portugueses estão massacrados pela austeridade. Mas existe um transmontano obstinado que acredita - contra quase todas as previsões, incluindo dentro do PSD - de que é possível ter um resultado decente nas próximas eleições legislativas e inclusive ganhá-las. O chefe dessa aldeia "gaulesa" dos sociais-democratas confiantes na vitória chama-se Pedro Passos Coelho e vai tentar retirar do caldeirão colheradas de uma poção mágica cozinhada a partir de uma série de ingredientes com possível valor destrutivo do adversário.

Ingrediente número 1: colar António Costa a José Sócrates, o rosto da "bancarrota". A "narrativa" do governo em ignorar a crise internacional e a falta de estratégia europeia em lidar com a crise das dívidas soberanas e colocar toda a culpa da "bancarrota" nas costas de Sócrates foi uma estratégia bem sucedida junto da opinião pública. E, ao contrário de Seguro, que ziguezagueava sobre o assunto - ignorando-o, na maior parte das vezes - António Costa decidiu assumir por inteiro a chamada "herança Sócrates", embora se tenha demarcado em casos como a tentativa de utilizar a PT para interferir na linha editorial da TVI e na opção por grandes obras públicas sem consenso alargado.

O tempo de antena do PSD que foi para o ar na semana passada é um óbvio exemplo deste ingrediente número 1. Diz o narrador extasiado: "Em 2011 depois de seis anos de governação socialista, Portugal foi atirado por um governo do PS para uma crise que ameaçava a nossa presença na zona euro, o nosso Estado social, o nosso modo de vida". As imagens de Sócrates ao lado de António Costa juntos, lado a lado na bancada do governo passam uma e outra vez. É um facto que se as sondagens têm sido agradáveis para António Costa, os índices de popularidade permanecem desastrosos relativamente a Sócrates. A tentativa de fundir as duas personalidades e as duas estratégias políticas e económicas é para o PSD uma mais-valia a ser explorada até à exaustão. O regresso de vários altos dirigentes do governo Sócrates à primeira linha será politicamente explorado com este objectivo.

Ontem, a estratégia de combate a António Costa também foi abordada na reunião do grupo parlamentar do PSD. A frente da Câmara de Lisboa é essencial e o PSD vai escrutinar a gestão de Costa em Lisboa. O momento parlamentar das "taxas e taxinhas" de António Pires de Lima teve já o efeito de dirigir a atenção pública para o montante das taxas cobradas pela Câmara de Lisboa.

Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e vice-presidente do PSD, afirma ao i que "há consciência de que uma vitória é muito difícil" e lembra que na maioria do tempo este governo esteve "a cumprir o programa do governo anterior", o Memorando da troika. Acredita que a vitória é possível se o eleitorado perceber "que o que se fez era absolutamente necessário ser realizado para que o país pudesse ter futuro". Se não perceber "é mais difícil". Carreiras admite que o eleitorado que votou no PSD nas últimas eleições e agora está desiludido não se transfere automaticamente para o PS. Até porque "António Costa não diz nada e o pouco que diz está em linha com as políticas do tempo de António Guterres que conduziram ao pântano e as políticas de Sócrates que deram no que deram". Segundo Carreiras, "Costa namora a esquerda para a matar, como fez em Lisboa com Ricardo Sá Fernandes e os Cidadãos por Lisboa, de Helena Roseta", mas "os governos socialistas europeus da Itália e da França estão já mais à direita do que Giscard d'Estaing [Presidente da República francesa de centro-direita, da UMP, o equivalente francês do PSD]". Esta confusão ideológica pode ser um bom argumento para o PSD.

O PSD confia em que os indicadores económicos de 2015 sejam mais simpáticos à população. A devolução dos cortes a pensionistas e a recuperação salarial de funcionários públicos podem dar um empurrão no crescimento e contenção do desemprego. E vêm aí os muito úteis fundos estruturais. O facto de não ter sido preciso um segundo resgate - como a maioria dos opositores das políticas do governo esperava - é também um trunfo a usar.

Todo este argumentário conta com a certeza da existência de coligação com o CDS nas próximas eleições. Mas a ordem é não falar disso até ao momento em que se iniciarem as negociações entre PSD e CDS, que serão o mais tarde possível - no próximo Verão.

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O CERCO A JULIAN ASSANGE É UMA FARSA



John Pilger

O cerco do [distrito de] Knightsbridge é uma farsa. Durante dois anos, uma presença policial exagerada e custosa em torno da embaixada equatoriana em Londres não serviu a qualquer finalidade senão ostentar o poder do Estado. Sua presa é um australiano não acusado de qualquer crime, um refugiado de injustiça brutal cuja única segurança é o espaço que lhe é dado por um corajoso país sul-americano. O seu verdadeiro crime é ter iniciado uma onda de revelações de verdades numa era de mentiras, cinismo e guerra.

A perseguição a Julian Assange deve terminar. Mesmo o governo britânico acredita claramente que deve terminar. Em 28 de Outubro, o vice-ministro dos Estrangeiros, Hugo Swire, disse ao Parlamento que "receberia com satisfação" a promotora pública sueca em Londres e que "faríamos absolutamente tudo para facilitar isso". O tom era impaciente. 

A promotora pública sueca, Marianne Ny, recusou-se a vir a Londres para interrogar Assange acerca de alegações de má conduta sexual em Estocolmo em 2010 – apesar de a lei sueca o permitir e de o procedimento ser rotineiro para a Suécia e o Reino Unido. A evidência documental de uma ameaça à vida e liberdade de Assange por parte dos Estados Unidos – caso deixasse a embaixada – é esmagadora. Em 14 de Maio deste ano, ficheiros de tribunais dos EUA revelaram que uma "investigação de muitos assuntos" contra Assange estava "activa e em andamento".

Ny nunca explicou devidamente porque ela não vem a Londres, assim como as autoridades suecas nunca explicaram porque se recusam a dar a Assange uma garantia de que não o extraditarão para os EUA sob uma disposição secreta acordada entre Estocolmo e Washington. Em Dezembro de 2010 oIndependent revelou que os dois governos haviam discutido sua extradição para os EUA antes de ser emitido o seu Mandado de Prisão Europeu (European Arrest Warrant).

Talvez a explicação seja que, ao contrário da sua reputação como bastião liberal, a Suécia ligou-se tão estreitamente a Washington que permitiu "entregas"("renditions") secretas da CIA – incluindo a deportação ilegal de refugiados. A entrega e subsequente tortura de dois refugiados políticos egípcios em 2001 foi condenada pelo Comité da ONU contra a Tortura, pela Amnistia Internacional e pelo Human Right Watch; a cumplicidade e duplicidade do Estado sueco estão documentadas em litigação civil vencida e em telegramas da WikiLeaks. No Verão de 2010, Assange esteve na Suécia para falar acerca de revelações da WikiLeaks acerca da guerra no Afeganistão – país no qual a Suécia tinha forças sob o comando estado-unidense.

Os americanos estão à caça de Assange porque a WikiLeaks revelou seus crimes gigantescos no Afeganistão e no Iraque: a matança maciça de dezenas de milhares de civis, que eles encobriram; e seu desprezo pela soberania e pelo direito internacional, como demonstrado vivamente nas fugas dos seus telegramas diplomáticos.

Pela sua parte nas revelações de que soldados dos EUA assassinaram civis afegãos e iraquianos, o heróico soldado Bradley (agora Chelsea) Manning recebeu uma sentença de 35 anos de prisão, tendo sido mantido durante mais de um milhar de dias em condições que, segundo o Relator Especial da ONU, equivaliam a tortura.

Poucos duvidam de que se os EUA pusessem as mãos sobre Assange, um destino semelhante o aguardaria. Ameaças de captura e assassínio tornaram-se moeda corrente de políticos extremistas dos EUA após a ridícula difamação feita pelo vice-presidente Joe Biden de que Assange era um "ciber-terrorista". Alguém que duvidasse da espécie de brutalidade estado-unidense que o esperaria deveria lembrar-se da aterragem forçada do avião do presidente boliviano no ano passado – que erradamente eles acreditavam estar a transportar Edward Snowden.

Segundo documentos divulgados por Snowden, Assange está numa "Lista de alvos de uma caçada humana". A ânsia de Washington para obtê-lo, dizem telegramas diplomáticos australianos, é "de escala e natureza sem precedentes". Em Alexandria, Virginia, um grande júri secreto passou quatro anos a tentar elucubrar um crime pelo qual Assange pudesse ser processado. Isto não é fácil. A Primeira Emenda da Constituição dos EUA protege editores, jornalistas e denunciantes. Como candidato presidencial em 2008, Barack Obama louvou os denunciantes como "parte de uma democracia saudável" e afirmou que eles "devem ser protegidos de represálias". Sob o presidente Obama, têm sido processados mais denunciantes do que sob todos os outros presidentes dos EUA somados. Mesmo antes que fosse anunciada a sentença no processo de Chelsea Manning, Obama havia pronunciado a sua culpabilidade como denunciante.

"Documentos revelados pela WikiLeaks desde que Assange foi para a Inglaterra", escreveu Al Burke, editor do Nordic New Network online, uma autoridade sobre as múltiplas reviravoltas e perigos que confrontam Assange, "indicam claramente que a Suécia submeteu-se sistematicamente à pressão dos Estados Unidos em assuntos de direitos civis. Há toda a razão para a preocupação de que se Assange fosse tomado sob a custódia das autoridades suecas ele poderia ser entregue aos Estados Unidos sem a devida consideração quanto aos seus direitos legais".

Há sinais de que o público sueco e a sua comunidade legal não apoiam a intransigência da promotora pública Marianne Ny. Antes implacavelmente hostil a Assange, a imprensa sueca tem publicado manchetes tais como: "Vá para Londres, pelo amor de Deus".

Por que ela não irá? Indo mais directamente ao principal: por que ela não permitirá que o tribunal sueco tenha acesso a centenas de mensagens SMS que a polícia extraiu do telefone de uma das duas mulheres envolvidas nas alegações de má conduta? Diz ela que não lhe é legalmente exigido assim fazer até que uma acusação formal seja estabelecida e que o tenha interrogado. Então, por que ela não o interroga?

Esta semana, o Tribunal Sueco de Recurso decidirá se ordena Ny a entregar as mensagens SMS; ou o assunto irá para o Supremo Tribunal e o Tribunal Europeu de Justiça. Tal como numa farsa, aos advogados suecos de Assange só foi permitido "reverem" as mensagens SMS, as quais tiveram de memorizar.

Uma das mensagens das mulheres torna claro que ela não queria quaisquer acusações contra Assange, "mas a policia estava ansiosa por conseguir a sua retenção". Ela ficou "chocada" quando eles o prenderam porque apenas "queria que fizesse um teste [de HIV]". Ela "não queria acusar JA de qualquer coisa" e "foi a polícia que inventou as acusações". (Numa declaração como testemunha, ela é citada como tendo dito que fora "pressionada pela polícia e outros em torno dela").

Nenhuma das mulheres afirmou que fora violada. Na verdade, ambas negaram que tivessem sido violadas e uma delas posteriormente disse num tweet "Não fui violada". Que elas foram manipuladas pela polícia e suas vontades ignoradas é evidente – seja o que for o que os seus advogados possam agora dizer. Certamente elas são vítimas de uma saga digna de Kafka.

Para Assange, o seu único julgamento foi o dos media. Em 20 de Agosto de 2010, a polícia sueca abriu uma "investigação de violação" e imediatamente – e ilegalmente – contou aos tablóides de Estocolmo que havia um mandado para a prisão de Assange pela "violação de duas mulheres". Esta foi a notícia que correu o mundo.

Em Washington, um sorridente secretário da Defesa Robert Gates disse a repórteres que a prisão "soa como boa notícia para mim". Contas twitter associadas ao Pentágono descreveram Assange como um "violador" e um "fugitivo".

Menos de 24 horas depois, a Promotora Chefe de Estocolmo, Eva Finne, assumiu o comando da investigação. Ela não perdeu tempo em cancelar o mandado de prisão, dizendo "não acredito que haja qualquer razão para suspeitar que ele cometeu violação". Quatro dias depois ela abandonou a investigação de violação, dizendo: "Não há suspeita de qualquer crime que seja". O processo foi encerrado.

Entra em cena Claes Borgstrom, um político conhecido do Partido Social Democrático que então se posicionava como candidato numa iminente eleição geral sueca. Dias após o abandono do caso por parte da procuradora, Borgstrom, um advogado, anunciou aos media que estava a representar as duas mulheres e pedira uma promotora diferente na cidade de Gotemburgo. Esta era Marianne Ny, a qual era bem conhecida de Borgstrom. Ela, também, estava envolvida com os sociais-democratas.

Em 30 de Agosto, Assange compareceu voluntariamente a uma esquadra de polícia em Estocolmo e respondeu a todas as perguntas que lhe fizeram. Ele entendeu que era o fim do assunto. Dois dias depois, Ny anunciou que estava a reabrir o caso. Um repórter sueco perguntou a Borgstrom porque o caso estava a prosseguir quando já fora abandonado, mencionando uma das mulheres como tendo dito que não fora violada. Ele respondeu: "Ah, mas ela não é uma advogada". O advogado australiano de Assange, James Catlin, respondeu: "Isto é ridículo ... é como se não dessem ouvidos e prosseguissem".

No dia em que Marianne Ny reactivou o caso, o chefe do serviço de inteligência militar sueco ("MUST") denunciou publicamente a WikiLeaks num artigo intitulado "A WikiLeaks [é] uma ameaça para os nossos soldados". Assange foi advertido de que o serviço de inteligência sueco, SAP, fora prevenido pelos seus colegas dos EUA que os acordos de partilha de inteligência EUA-Suécia seriam "cortados" se os suecos lhe dessem abrigo.

Durante cinco semanas Assange aguardou na Suécia que a nova investigação seguisse o seu curso. The Guardian estava então em vias de publicar os "War Logs" iraquianos baseados em revelações da WikiLeaks, as quais foram supervisionadas por Assange. O seu advogado em Estocolmo perguntou a Ny se ela tinha alguma objecção a que deixasse o país. Ela disse que ele era livre para deixá-lo.

Inexplicavelmente, assim que ele deixou a Suécia – no pico do interesse dos media e do público quanto às revelações da WikiLeaks – Ny emitiu um Mandado de Prisão Europeu (European Arrest Warrant) e um "alerta vermelho" da Interpol que normalmente é utilizado para terroristas e criminosos perigosos. Publicado em cinco línguas em todo o mundo, ele assegurou uma media frenética.

Assange compareceu a uma esquadra de polícia em Londres, foi preso e passou dez dias na Prisão Wandsworth, em confinamento solitário. Libertado com uma fiança de £340 mil, ele foi electronicamente marcado (tagged), foi-lhe exigido comparecer à polícia diariamente e colocado sob prisão domiciliar virtual enquanto o seu caso começava uma longa tramitação no Tribunal Supremo. Ele ainda não fora acusado de qualquer delito. Seus advogados repetiram a sua oferta de ser interrogado pela Ny em Londres, destacando que ela lhe dera permissão para deixar a Suécia. Eles sugeriram um recinto especial na Scotland Yard utilizado para aquela finalidade. Ela recusou.

Katrin Axelsson e Lisa Longstaff da Women Against Rape escreveram: "As alegações [contra Assange] são uma cortina de fumo atrás da qual um certo número de governos tenta limitar a acção da WikiLeaks por audaciosamente ter revelado ao público seu planeamento secreto de guerras e ocupações com o seu cortejo de violações, assassínios e destruição... As autoridades importam-se tão pouco acerca de violência contra mulheres que manipulam à vontade alegações de violação. [Assange] deixou claro que está disponível para interrogatório por parte das autoridades suecas, na Grã-Bretanha ou via Skype. Por que estão eles a recusar este passo essencial na sua investigação? Do que é que têm medo?"

Esta pergunta permaneceu sem resposta quando Ny aplicou o European Arrest Warrant (EAW), um produto draconiano da "guerra ao terror" destinado supostamente a apanhar terroristas e criminosos organizados. O EAW aboliu a obrigação de o estado que o pede apresentar qualquer prova de um crime. Mais de um milhar de EAWs são emitidos a cada mês; apenas uns poucos têm algo a ver com acusações de "terror" potenciais. A maior parte é emitida por delitos triviais – tais como cobranças de banco em atraso e multas. Muitos daqueles extraditados enfrentam meses de prisão sem qualquer acusação. Tem havido um número chocante de abusos da lei, em relação aos quais juízes britânicos têm sido altamente críticos.

O caso Assange finalmente alcançou o Tribunal Supremo do Reino Unidos em Maio de 2012. Num julgamento que matinha o EAW – cujas exigências rígidas haviam deixado os tribunais quase sem espaço de manobra – os juízes descobriram que promotores europeus podiam emitir autorizações de extradição no Reino Unido sem qualquer supervisão judicial, muito embora o Parlamento pretendesse o contrário. Eles tornaram claro que o Parlamento fora "enganado" pelo governo Blair. O tribunal estava dividido, 5-2, e consequentemente dispôs contra Assange.

Contudo, o Presidente do Tribunal Supremo, Lord Phillips, cometeu um erro. Ele aplicou a Convenção de Viena sobre a interpretação do tratado, permitindo à prática estatal suprimir a letra da lei. Como apontou a advogada de Assange, Dinah Rose QC, isto não se aplicava à EAW.

O Tribunal Supremo apenas reconheceu este erro crucial quando tratou de um outro recurso contra o EAW em Novembro do ano passado. A decisão Assange foi errada, mas era demasiado tarde para voltar atrás.

A opção de Assange era drástica: extradição para um país que se havia recusado a dizer se sim ou não o enviaria para os EUA, ou procurar o que parecia sua última oportunidade de refúgio e segurança. Apoiado pela maior parte da América Latina, o corajoso governo do Equador concedeu-lhe o estatuto de refugiado com base na evidência documentada e no conselho legal de que ele enfrentava a perspectiva de punição cruel e anormal nos EUA; que esta ameaça violava seus direitos humanos básicos; e que o seu próprio governo na Austrália o havia abandonado e tornara-se conivente com Washington. O governo trabalhista da primeira-ministra Julia Gillard ameaçara-o mesmo de tomar o seu passaporte.

Gareith Peirce, a famosa advogada de direitos humanos que representa Assange em Londres, escreveu ao então ministro dos Estrangeiros australiano, Kevin Rudd:

"Dada a extensão da discussão pública, frequentemente na base de suposições inteiramente falsas... é muito difícil tentar preservar-lhe alguma presunção de inocência. O sr. Assange tem agora pendente sobre ele não uma mas duas espadas de Damocles, a potencial extradição para duas jurisdições diferentes uma após outra por dois diferentes alegados crimes, nenhum dos quais é crime no seu próprio país, e a sua segurança pessoal ficou em risco em circunstâncias que são altamente carregadas em termos políticos".

Só quando contactou a Alta Comissão Australiana em Londres é que Peirce recebeu uma resposta, a qual nada dizia acerca dos pontos prementes que ela levantara. Numa reunião a que compareci com ela, o Cônsul Geral australiano, Ken Pascoe, fez a afirmação espantosa de que conhecia "apenas o que li nos jornais" acerca dos pormenores do caso.

Enquanto isso, a perspectiva de uma grotesca perversão da justiça foi submergida numa campanha injuriosa contra o fundador da WikiLeaks. Ataques profundamente pessoais, de baixo nível, viciosos e desumanos foram lançados contra um homem não acusado de qualquer crime mas sujeito a um tratamento que não é dado nem mesmo a alguém que enfrenta extradição sob uma acusação de assassinar a esposa. Que a ameaça estado-unidense a Assange constituía uma ameaça a todos os jornalistas, à liberdade de discurso, ficou perdido de vista na sordidez da campanha.

Foram publicados livros, feitos negócios com filmes e lançadas carreiras nos media nas costas da WikiLeaks e no pressuposto de que Assange era uma vítima fácil para ataque pois era demasiado pobre para abrir processos. Pessoas ganharam dinheiro, muitas vezes muito dinheiro, enquanto a WikiLeaks lutava para sobreviver. O editor do Guardian, Alan Rusbridger, chamou às revelações do WikiLeaks, as quais foram publicadas pelo seu jornal, "um dos maiores furos jornalísticos dos últimos 30 anos". Tornaram-se parte do seu plano de marketing para aumentar o preço de capa do jornal.

Sem que fosse um centavo para Assange ou o WikiLeaks, um publicitado livro do Guardian levou a um filme lucrativo de Hollywood. Os autores do livro, Luke Harding e David Leigh, infundadamente descreveram Assange como uma "personalidade estragada" e "insensível". Eles também revelaram a password secreta que ele dera ao jornal em confiança, destinada a proteger um ficheiro digital contendo telegramas de embaixadas dos EUA. Com Assange agora aprisionado na embaixada equatoriana, Harding, nas boas graças da polícia, regozijou-se no seu blog porque "a Scotland Yard pode ter a última gargalhada".

A injustiça a que foi submetido Assange é uma das razões porque o Parlamento finalmente votará um EAW reformado. O draconiano apanha-tudo utilizado contra ele não podia acontecer agora; acusações teriam de ser apresentadas e "interrogatório" seria base insuficiente para extradição. "O seu caso venceu na perfeição", contou-me Gareth Peirce, "estas mudanças na lei significam que o Reino Unido agora reconhece como correcto tudo o que foi argumentado no seu caso. Mas ele não se beneficia. E a legitimidade da oferta de abrigo do Equador não é questionada pelo Reino Unido ou pela Suécia".

Em 18 de Março de 2008, um documento secreto do Pentágono preparado pelo "Cyber Counterintelligence Assessments Branch" previa uma guerra contra a WikiLeaks e Julian Assange. O documento descrevia um plano pormenorizado para destruir o sentimento de "confiança" que é o "centro de gravidade" da WikiLeaks. Isto seria alcançado através de ameaças de "revelações [e] processo criminal". O objectivo era silenciar e criminalizar esta fonte rara de jornalismo independente, o método era enlamear. Não há maior fúria infernal do que a de uma grande potência desprezada. 

Para informação adicional, ver: 

quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

O MAL-ESTAR COM O BRASIL




O mal estar progressista acumula as dores do parto de uma nação várias vezes abortada na história. E mais uma vez agora na UTI, esmagada pelo cerco conservador.

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

Não se confunda esse sentimento com a histeria de uma elite incomodada com a ascensão dos pobres no mercado e na cidadania. Esta se resolve  em um resort em Miami.

O mal estar progressista acumula as dores do parto de uma nação inúmeras vezes abortada na história. E mais uma vez agora na UTI, esmagada pelo cerco conservador, respirando por aparelhos.

A construção  inconclusa de que falava Celso Furtado  enfrenta um de seus  capítulos mais angustiante nas horas que correm.

A prostração é a pior sequela.

Mãos que deveriam se unir em caminhada resoluta ruminam a solidão da espera e da dúvida, apartadas entre si e da esperança.

O conservadorismo atordoa o discernimento da sociedade com uma articulação vertiginosa de iniciativas.

Habilidosamente elas misturam o bem-vindo combate à ingerência do dinheiro organizado na vida democrática, ao lado da explícita  tentativa de se demonizar o polo progressista com o selo da política corrompida.

O desfecho cobiçado é impeachment de Dilma ou o sangramento irreversível de seu governo, e das forças que o apoiam, até o sepultamento histórico em 2018.

O que se pergunta ansiosamente é se  Lula já conversou sobre isso com Boulos, do MTST; se Boulos já conversou com Luciana Genro; se Luciana Genro já conversou com a CUT ; se a CUT já conversou com Stédile; se todos  já se deram conta de que passa da hora de uma conversa limada de sectarismos e protelações, mas encharcada das providencias que a urgência revela quando se pensa grande.

Se ainda não se aperceberam da contagem regressiva que ameaça o nascimento de um Brasil emancipado e progressista poderão ser avisados de forma desastrosa quando o tique taque se esgotar.

O mal estar progressista reflete outras perguntas que parecem desconectadas desta maior, mas que estão umbilicalmente associadas à falha na construção de uma hegemonia de esquerda que catalisasse as energias e as esperanças da sociedade em direção a um futuro compartilhado.

 ‘Quero saber quais as matérias de humanísticas existem no curso de medicina’, argui, por exemplo,  a promotora de Direitos Humanos e Inclusão Social do Ministério Público de SP,  Paula de Figueiredo Silva.

 A promotora está estarrecida com relatos feitos por alunas da USP, vítimas de abusos sexuais.

 Ela conduz um inquérito civil para   apurar denúncias de três  estupros em festas dentro de uma das  escolas  de medicina mais conceituadas do  país,  ademais de registro de preconceito racial e agressão a um casal homoafetivo que tentou participar de um dos eventos promovidos pelos estudantes nos últimos anos.

O que parece um mal-estar específico da promotora Paula de Figueiredo remete a um sentimento mais amplo quando emoldurado por episódios recentes envolvendo médicos, estudantes de medicina e entidades representativas do setor.

A 10 dias do segundo turno das eleições deste ano, e após um debate no SBT, a presidenta  Dilma teve uma queda de pressão e  interrompeu uma entrevista ao vivo.

O gaúcho Milton Pires disparou em sua página no Facebook o seguinte comentário: 

"Tá se sentindo mal? A pressão baixou? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!”.

Pires é médico. Especialista em terapia intensiva.

No dia seguinte, a Associação Médica Brasileira (AMB) manifestou-se; não para se solidarizar com  Dilma, e sim para conclamar a classe médica a eleger Aécio Neves.

Dez dias antes, após a vitória petista no primeiro turno (5/10), o site ‘Dignidade Médica ‘, frequentado por um grupo de quase 100 mil  internautas que se identificam como médicos ou estudantes de medicina, postou dezenas de críticas à escolha das urnas.

Em uma dela, uma médica defendia 'castrações químicas'.

Outra, um ‘holocausto’.

Contra nordestinos que votaram em Dilma.

Pouco mais de um ano antes, em agosto de 2013, o médico cubano Juan Delgado, um negro a de 40 anos, foi submetido a  um coral de natureza ética equivalente  ao desembarcar  no Brasil.

Ao lado de outros profissionais de Cuba, Delgado   chegara para trabalhar no programa Mais Médicos.

Um corredor polonês   formado  por médicos e estudantes brasileiros de medicina, assediou o recém-chegado de forma agressiva no saguão do aeroporto de Fortaleza.

 ‘Escravo, escravo, escravo!’, reverberava em uníssono o funil de peles alvas e jalecos brancos.

A hospitalidade correu o mundo.

O mal-estar progressista pressentiu algo letal nas vísceras da nação, mas talvez tenha subestimado a extensão da ameaça ao nascimento de um Brasil mais próspero e justo.

Era mais que isso, mas o episódio foi interpretado como a rejeição corporativa  a um programa emergencial criado para mitigar a carência de atendimento em  municípios e periferias, onde profissionais brasileiros não querem trabalhar.

Por exemplo, nas aldeias indígenas das etnias Ka’apoo e Awá, no Maranhão.
Endereço: município de Zé Doca,  300 quilômetros de São Luís,  acessível por estrada de terra.

É lá que o doutor Juan Delgado vive e atende hoje.

Outros 14. 400 profissionais do programa fazem o mesmo  em 3.785 municípios, adicionando mais 50 milhões de brasileiros pobres à cobertura do SUS.

A receptividade a esse mutirão foi  avaliada recentemente.

Pesquisa divulgada no final de outubro, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais   ouviu 4 mil usuários do  Mais Médicos em 200 cidades do país.

Cerca de 95% dos entrevistados declararam-se muito satisfeitos ou satisfeitos com uma iniciativa condenada por amplos segmentos da classe médica brasileira.

Notas  de 8 a 10 foram dadas ao programa por 87% dos entrevistados.

Mas, sobretudo, os usuários elogiaram o comportamento mais atencioso dos médicos.

Mais interessados em ouvir e habituados a dialogar revelaram-se mais competentes em diagnosticar e tratar.

Médicos cubanos representam 80% do alvo desse elogio.

 Por quê?  Porque apenas 1.846 brasileiros se inscreveram no programa.

Se dependesse da adesão local, 45 milhões de cidadãos continuariam apartados da assistência no país.

O mal estar progressista subestimou a clivagem embutida nessa matemática.

Não se trata de demonizar a classe médica brasileira.

Uma sociedade não é feita de anjos e demônios, mas de seres de carne, osso e circunstâncias.

São as circunstâncias que levam a estabelecer conexões entre a subestimação progressista com o que se passa na sociedade e as frequentes demonstrações de que algo dissociado da sorte do país e do destino de sua gente predomina em segmentos referenciais.

O médico e os estudantes de medicina são apenas a ilustração desse fenômeno.

O exemplo do cardiologista Adib Jatene, falecido na semana passada, é a resposta para quem enxerga nesse sentimento a expressão de um ponto de vista marcado pelo reducionismo partidário.

Jatene era um conservador.

Serviu aos governos Maluf, Collor e Fernando Henrique Cardoso.

Mas tinha um compromisso tão elevado com a medicina  que se tornou referência suprapartidária no debate das políticas públicas na área.

Ele foi o responsável pela criação da CPMF  durante o governo do PSDB.

Tornou-se um dos mais ardorosos defensores da sua   recriação quando o ‘imposto do cheque’ foi extinto pela coalizão demotucana, em dezembro de 2006.

Cerca de R$ 40 bilhões por ano foram subtraídos assim do atendimento à fila do SUS.

Um ano depois, de dedo em riste, a voz alterada, ele ainda  interpelava  Paulo Skaf, então presidente da Fiesp,  um dos animadores da campanha que uniu PSDB, Demos e outros contra a CPMF:

 ‘No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF. Enquanto vocês não toparem, não concordamos. Os ricos não pagam imposto e por isso o Brasil é tão desigual. Têm que pagar! Os ricos têm que pagar para distribuir renda. A CPMF não dá para sonegar! (por isso vocês são contra)". (Folha; Monica Bergamo; 13/11/2007).

A ira santa de Jatene em defesa da saúde pública contrasta com a rigidez  dos que combateram e combatem arduamente políticas como o Mais Médicos, o Bolsa Família, o ganho no poder de compra do salário mínimo, entre outras.

As diferenças não são técnicas, mas tampouco apenas partidárias, como fica claro.

São mais profundas e espraiadas.

A menos de um mês de uma vitória histórica nas urnas, tudo se passa como se o 26 de outubro fosse um ponto de referência longínquo em um calendário desbotado .

O mal estar progressista, distinto daquele que espairece no portão de embarque para Miami,   só tem cura se associado a uma mudança profunda nas instituições que esclerosaram enquanto se avançava em conquistas sociais e econômicas. E agora ameaçam reverte-las ferozmente.

Para colher frutos duradouros da faxina na corrupção, o passo seguinte não poderá se restringir a mudanças   nas regras de financiamento de campanha.

Elas são necessárias, mas insuficientes para combater o mal-estar que aqui se discute.

Dilma poderá colocar quem ela quiser na Fazenda e no Banco Central.

Mas se não cuidar de certas tarefas santas, dificilmente reverterá um estado de espírito que ameaça reduzir o seu segundo governo a um melancólico intermezzo da restauração neoliberal, com requintes de regressão política e social intuídos nos dias que correm.

O que se passou na Itália após o ‘Mãos Limpas’, nos anos 90, não é uma miragem; é uma possibilidade real em uma sociedade desprovida de representação política forte e organização social mobilzada (leia ‘Mãos Limpas; e depois, Berlusconi?’; nesta pág).

Lá como aqui o lubrificante do retrocesso histórico foi a prostração progressista;  a incapacidade de se reaglutinar a esquerda e os democratas em torno de um repto histórico de esperança para a sociedade.

Regular a mídia; eliminar a hegemonia do dinheiro organizado na política; abrir canais de diálogo consequentes e permanentes com os movimentos sociais; salvar o pré- sal e a Petrobras; atrair a juventude pobre e a da classe média para a tarefa de reformar a escola e a universidade, com o olho na formação do discernimento crítico do país e não apenas no mercado.

Se fizer isso, Dilma não levará a sociedade brasileira ao paraíso.

Mas terá dado os passos necessárias para afastar a película de mal-estar e rendição que hoje ameaça matar de inanição a esperança em um Brasil melhor.

Por onde começar?

Respondendo à pergunta ansiosamente repetida no ambiente progressista.

O que se quer saber é se Lula já conversou com Boulos, do MTST; se Boulos já conversou com Luciana Genro; se Luciana Genro já conversou com a CUT ; se a CUT já conversou com Stédile; se todos  já se deram conta de que passa da hora de uma conversa limada de sectarismos e protelações, mas encharcada das providencias que a urgência revela quando se pensa grande.

Se ainda não se aperceberam da contagem regressiva que , mais uma vez, ameaça abortar o nascimento de um Brasil emancipado e progressista, bem...

Serão avisados de forma desastrosa quando o alarme soar.

Leia mais em Carta Maior

NIGERIANA É A MULHER NEGRA MAIS RICA DO MUNDO



Alberto Castro*, Londres

A empresária Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola José Eduardo dos Santos, perdeu para Folorunsho Alakija, da Nigéria, o estatuto de a mulher mais rica de África, de acordo com a revista nigeriana ''Venture África'', citada pelo jornal inglês ''The Guardian''. 
Com uma fortuna avaliada em 7.3 bilhões de dólares norte-americanos, em resultado de negócios que vão de petróleo e gás à indústria da moda, Alakija é também, de acordo com a revista, a mulher negra mais rica do mundo, superando a apresentadora de televisão e empresária norte-americana Oprah Winfrey.

Para além de ter a mulher negra mais rica do mundo, a Nigéria tem igualmente em Aliko Dangote, fundador do Dangote Group, o maior conglomerado industrial de África que atua em múltiplos setores como a indústria alimentar e de cimento, o homem mais rico do continente com uma fortuna avaliada em $25 bilhões. O país conta ainda com mais bilionários do que qualquer outro no continente, de acordo com um ranking publicado na semana passada. Dos 55 bilionários africanos, 23 são nigerianos enquanto a África do Sul e o Egito contam com 8 cada. 

Para a revista ''um dos aspectos mais desafiadores da compilação de uma lista de mais ricos da África é que ainda é tabu discutir ou celebrar a riqueza na maioria das sociedades africanas. O conceito do capitalismo, onde a riqueza é abertamente celebrada e rastreada, é bastante estranho para a maioria das sociedades africanas. Como resultado, a maioria dos indivíduos mais ricos relutam em discutir sua riqueza."

Recorde-se que a Nigéria ultrapassou este ano a África do Sul como a maior economia do continente devido principalmente à pujança de novos setores de indústrias transformadoras, das telecomunicações e a fértil indústria cinematográfica Nollywood.

Isabel dos Santos continua sendo a segunda mulher mais rica do continente com uma fortuna estimada em U$ 3.5 bilhões.


Afropress

*Alberto Castro, jornalista freelance, é correspondente da Afropress em Londres e colabora com Página Global

Brasil: PARA JORNALISTA, IMPRENSA NEGRA É VOZ ATUANTE CONTRA MAZELAS



Afropress

S. Paulo – “A mídia e a comunicação, em geral, é um instrumento de força, inclusive para pressionar a Justiça a promover a Igualdade”. A opinião é do jornalista Rosenildo Ferreira, Editor-assistente e colunista da Isto é Dinheiro, escolhido em eleição recente promovida pela MaxPress e Jornalistas & Cia, um dos 100 mais admirados jornalistas do Brasil.

Carioca, nascido em Campos dos Goytacazes, ele trabalhou nos mais importantes veículos do país como O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil, Rádio Jornal do Brasil e Correio Braziliense, em Brasília, e como correspondente do jornal em Londres, Rosenildo lançou o Projeto Colaborativo 1 Papo Reto, que pretende discutir “a sustentabilidade nos mais variados aspectos do dia a dia e das atividades das pessoas, como consumo, economia, política, cidadania e ecologia”.

O Papo Reto leva adiante esse objetivo por meio de reportagens, artigos originais escritos por um time de blogueiros, chamados de Griots, e colunistas convidados. No momento, o jornalista trabalha no Prêmio Empreendedor Sustentável, edição 2014, que terá os vencedores conhecidos em janeiro, em solenidade pública, em S. Paulo. Foram escolhidos 50 empreendedores das mais diferentes áreas e 20 serão escolhidos como os maiores empreendedores sustentáveis.

“O Prêmio completa a série de projetos especiais jornalísticos nos quais nossa equipe se debruça ao longo do ano, incluindo os seguintes temas: Agroenergia, Mobilidade Urbana, Dia Mundial do Meio Ambiente, Resíduos Sólidos e Energias Renováveis. Nos quais procuramos debater as ideias, a partir de um ângulo mais original e sem “correr atrás” de culpados”, afirmou.

O jornalista, que nas horas de folga atua como professor voluntário de Ética, Direitos Humanos e Atualidades no Cursinho do Coletivo Griot XX de Novembro, na comunidade São Remo, e também escreve na Revista Afirmativa Plural, da Afrobras, falou para a Afropress, dos planos e projetos e reiterou a importância da mídia focada na temática étnicorracial brasileira.

“A imprensa, ao longo da fundação do Brasil, sempre foi uma voz atuante na denúncia das mazelas. A chamada imprensa negra foi uma voz atuante na denúncia contra as mazelas do sistema e a favor das garantias individuais. A imprensa tem um papel relevante e até essencial. Mas cabe à Justiça agir de forma definitiva contra as mazelas de nossa sociedade. A maior delas, sem dúvida, é o racismo. Pois ele, especialmente no Brasil, condena quase metade da população formada por afrobrasileiros a disputar as migalhas de um país que ajuda a erguer no dia a dia”, acrescentou.

Veja, na íntegra a entrevista do Editor Assistente da Isto é Dinheiro.

Afropress - O que é o Projeto Papo Reto e há quanto tempo acontece o Prêmio Empreendedor Sustentável?

Rosenildo Ferreira - O portal de internet www.1paporeto.com.br é a parte mais visível da start up Projeto Colaborativo 1 Papo Reto, cuja ambição é discutir a sustentabilidade nos mais variados aspectos de nosso dia a dia e de nossas atividades: consumo, economia, política, cidadania e ecologia. Fazemos isso por meio de reportagens, artigos originais escritos por um time de blogueiros, carinhosamente chamados de Griots, e colunistas convidados. Também atuamos com curadoria, selecionando o que de melhor rola pela rede, no Brasil e no exterior, para apresentar ao nosso público alvo: pessoas ente 18 e 40 anos integrantes das classes C e B. Além do portal de internet também contamos com um programa na rádio Mega Brasil on line. Os próximos desdobramentos deste negócio serão a abertura de um canal de TV no Youtube, uma editora e uma produtora. Tudo isso tendo como foco o mundo digital.

O Prêmio Empreendedor Sustentável surgiu da necessidade de tentar mudar um pouco a pauta da imprensa. É que mesmo no campo da sustentabilidade vem prevalecendo notícias mostrando o que está errado. Consideramos não apenas válida como também necessária e urgente a denúncia séria e fundamentada. Contudo, achamos que a missão de tentar construir um mundo melhor passa pela disseminação dos exemplos positivos. E nada melhor que fazer uma singela homenagem àqueles que partem para as soluções, transformando os limões da vida e suculentas e refrescantes limonadas.

O Prêmio completa a série de projetos especiais jornalísticos nos quais nossa equipe se debruça ao longo do ano, incluindo os seguintes temas: Agroenergia, Mobilidade Urbana, Dia Mundial do Meio Ambiente, Resíduos Sólidos e Energias Renováveis. Nos quais procuramos debater as ideias, a partir de um ângulo mais original e sem “correr atrás” de culpados.

Afropress - Qual é o objetivo do Prêmio e como é organizado a indicação e a escolha dos ganhadores?

RF - O Prêmio nasceu então como uma forma de ampliar a dimensão do Projeto Colaborativo 1 Papo Reto. Para isso, fizemos uma rigorosa seleção de pessoas e iniciativas inovadoras. A base é a leitura atenta de jornais e revistas, dos sites de organismos de pesquisa e também dos portais de internet dedicados ao tema empreendedorismo. Aqui e no exterior. Muitas das ideais selecionadas nesta primeira edição do Prêmio são velhas conhecidas daquelas que militam no chamado Terceiro Setor. Contudo, acreditamos que elas não haviam sido contadas com o devido carinho ou relacionando sua existência como sendo uma prática sustentável, capaz de ser replicada.

Feita a seleção inicial, me fixei em 50 nomes, sobre os quais escrevi textos curtos, informativos e destinados a apresentar o projeto/iniciativa/atividade. As histórias foram reunidas em uma editoria específica do portalwww.1paporeto.com.br e enviadas a um seleto grupo de jurados (veja relação completa no link abaixo). Coube a eles pontuar cada uma das iniciativas de acordo com três critérios: relevância, alcance e relação custo-benefício.

Desta forma creio que conseguimos equalizar iniciativas multimilionárias, como a criação da primeira usina de etanol de segunda geração, do Brasil, com ações como o lançamento de um jornal comunitário, feito no esquema fanzine e que representou o início da libertação cidadã de uma comunidade na periferia de Salvador. Ou mesmo a iniciativa de um surfista-ativista que, de forma isolada e meio quixotesca, foi para o calçadão de Ipanema (RJ) fazer um protesto contra a poluição das praias e hoje lidera uma das mais vigorosas iniciativas nesta área.


Afropress -  Quantos são os participantes da edição 2014?

RF - Então, o júri analisou cada um dos 50 casos/iniciativas/empreendimentos e atribuiu notas de acordo com os parâmetros citados acima. Como um Prêmio só fica marcante com festa e a entrega de placas/troféus resolvemos fazer um evento corporativo e de relacionamento reunindo pessoal o Terceiro Setor, empresários da Nova Economia e outros empreendedores, em uma celebração do bem. A ideia é iniciar 2015 com boas notícias.

Coube a 1 Papo Reto apenas a tarefa de tabular as notas e ranquear os 20 mais bem votados. Somente.  Todas as 50 histórias serão reunidas em um livro, que será publicado no primeiro semestre de 2015. Dessa vez, nos rendemos ao papel (!!!), mas também teremos a versão digital com extras, como depoimentos em vídeo etc.

A segunda edição do Prêmio, em 2015, reunirá outras 50 personalidades/ideais e ações, do Brasil e do exterior, que serão analisadas por um novo júri. Esperamos fazer deste Prêmio um marco da sustentabilidade no Brasil.

Afropress - Quando serão divulgados os nomes dos ganhadores?

RF - Os 20 ganhadores serão conhecidos, por meio de posts na internet e anúncios ao longo do mês de Novembro/Dezembro. A festa acontece em 12/01/2015 e na ocasião iremos reuní-los na celebração.

Afropress -  Fale um pouco da sua história de vida e trajetória profissional.

RF - Sou quase um cidadão do mundo. Nasci em Campos dos Goytacazes, fui muito cedo morar em Duque de Caixas, Bento Ribeiro, Del Castilho, Madureira, Grajaú, Brasília e Londres. Estudei na Universidade Gama Filho, onde me graduei em comunicação social, e trabalhei em algumas das mais importantes publicações do país: O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil, rádio Jornal do Brasil e Correio Braziliense, no Rio de Janeiro, em Brasília e em Londres. Sou filho de um professor de português e literatura e de uma modelista. Na carreira de jornalista me especializei em economia, negócios e sustentabilidade. Em São Paulo desde 1994, além de empreendedor de internet atuo como editor-assistente e colunista na revista IstoÉ Dinheiro. Em minhas horas de folga atua como professor-voluntário de ética, direitos humanos e atualidades no cursinho do Coletivo Griot XX de Novembro, na comunidade São Remo. Também escrevo, de forma voluntária, na revista Afirmativa Plural, da Afrobras, sou membro do conselho consultivo da Faculdade Zumbi dos Palmares.

Afropress - Como jornalista, como vê o papel da comunicação na denúncia, no combate e na superação do racismo no Brasil?

RF - A imprensa, ao longo da fundação do Brasil, sempre foi uma voz atuante ma denúncia das mazelas. No Brasil colônia, a imprensa era proibida. Por conta disso, o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, era editado em Londres por Hipólito da Costa. Outro grande destaque da imprensa nacional foram as experiências de mídia étnica ao longo dos séculos XIX e XX. A chamada imprensa negra foi uma voz atuante na denúncia contra as mazelas do sistema e a favor das garantias individuais. A imprensa tem um papel relevante e até essencial. Mas cabe à Justiça agir de forma definitiva contra as mazelas de nossa sociedade.

A maior delas, sem dúvida, é o racismo. Pois ele, especialmente no Brasil, condena quase metade da população formada por afrobrasileiros a disputar as migalhas de um país que ajuda a erguer no dia a dia. A mídia e a comunicação em geral é um instrumento de força, inclusive para pressionar a Justiça a promover a igualdade.

Afropress - Como está analisando o atual momento político do país, e o papel da população negra que é majoritária na sociedade, mas que segue invisível nas campanhas e nas agendas das políticas públicas dos governos?

RF - Em artigo recente na revista da Afrobras pontuei que a comunidade afrobrasileira foi aprisionada em um enredo, o da classe C, que acabou diluindo suas demandas históricas. A questão da pobreza no Brasil em elação direta com a cor da pele. Sabemos disso quando entramos em um supermercado, quando entramos em um shopping Center ou quando fazemos sinal para um táxi. Atitudes cotidianas, mas que, no caso dos afrobrasileiros, se traveste muitas vezes de um verdadeiro desafio. A noção e as teses de que a questão é de renda e não de cor da pele, não resiste a uma simples comprovação. Basta enviarmos dois jovens a um restaurante: um branco e outro negro, vestidos igualzinho. Adivinhe que será atendido melhor e quem será seguido pelo segurança... Essa é fácil, né!?

Afropress - Faça as considerações que julgar pertinentes.

RF - Acredito que a promoção da diversidade é um trabalho que deve ser exercido no dia a dia. Quando contratamos serviços ou compramos produtos, por que, quase nunca, ou nunca, questionamos a inexistência de afrobrasileiros no recinto?  Não existem por que não cobramos sua presença. Sim, a comunidade negra se deixou levar pela Síndrome de Estocolmo. Os 400 anos de exploração sistemática fizeram grudar na cabeça de muitos irmãos que temos de nos conformar com o que vemos por aí. Uma TV que mostra apenas 30% da população brasileira, onde os afrobrasileiros não arranjam emprego porque não têm “boa aparência”, e porque o mundo é assim mesmo. Não, não é! Nunca foi! Nosso dinheiro vale tanto quanto o dos demais brasileiros. Os impostos que pagamos são os mesmos. Logo, deveríamos ter o mesmo direito em todos os níveis. Se não os temos, é porque muitas vezes nos deixamos levar por um enredo que nos colocou na subserviência, nos convencendo que este era o nosso lugar.

Quando fiz a relação do Prêmio Empreendedor Sustentável, procurei lançar luzes sobre um número bastante diverso de empreendedores. Das iniciativas teoricamente mais simples até as mais complexas, na prática. Não fiz uma espécie de cota... Muito pelo contrário. O que fiz de fundamental foi não excluir as pessoas pela cor ou o seu lugar de origem. Ganhamos todos. Especialmente a cidadania.

PR TIMORENSE DEFENDE ENVOLVIMENTO DOS TIMORENSES NO DESENVOLVIMENTO




Díli, 19 nov (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, defendeu o envolvimento dos timorenses no desenvolvimento, após a população pedir para participar na construção do aeroporto do Suai, refere em comunicado hoje divulgado a presidência.

"Se o desenvolvimento não envolve timorenses, então não é desenvolvimento", afirmou Taur Matan Ruak, após a comunidade de Maucatar, Covalima, no sul do país, ter apelado ao envolvimento de cidadãos timorenses na construção do aeroporto, "para além dos trabalhadores indonésios".

O chefe de Estado timorense disse também esperar que o "Governo se pronuncie" sobre aquele assunto.

No diálogo com o Presidente, a comunidade queixou-se de falta de água, das condições das estradas e falta de medicamentos.

O chefe de Estado sublinhou, citado no comunicado, que apesar dos desafios que o país ainda enfrenta o "Estado e o povo estão já a colher os frutos em muitos setores".

"Em pouco tempo registámos avanços em áreas que outros países não dominam. O Estado revela empenho e determinação na procura de uma solução para os nossos problemas. Vamos fazer tudo gradualmente, devagar, mas firmemente", afirmou Taur Matan Ruak.

Na sexta-feira, o chefe de Estado timorense iniciou mais uma visita aos distritos do país.

MSE // JCS

 

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