Friday, April 19, 2013

SOBRE AS "PRESIDÊNCIAS ABERTAS" DE GUEBUZA

Edgar Kamikaze Barroso
SOBRE AS "PRESIDÊNCIAS ABERTAS" DE GUEBUZA - TORRAGEM DE DINHEIRO, PRÉ-CAMPANHA ELEITORAL E O POVO NA MESMA MERDA DE SEMPRE

Li ontem um post, aqui no Facebook, de um membro sénior do nosso Governo (o Vice-Ministro das Pescas, Gabriel Muthisse), onde de forma extensa defendia a continuidade das “presidências abertas” realizadas pelo Chefe de Estado, Armando Guebuza, um pouco por todo o país. Nele ...ele reconhece que, de facto, as reclamações de quase toda a opinião pública, segundo as quais estes eventos “têm sido basicamente gastos irresponsáveis de dinheiro que o país não tem” têm a sua razão de ser (esbanjamento do erário público em aluguer de helicópteros para o Chefe de Estado e toda a sua numerosa comitiva de acompanhamento, em alojamento e ajudas de custo, etc). Entretanto, ele mesmo assim coloca-se na defensiva e sustenta que as “presidências abertas” devem continuar por duas razões principais:

1. O Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) tem mesmo de ir aos distritos, por ser um imperativo de governação. Segundo ele, todos os dirigentes superiores de Estado devem “obrigatoriamente” interagir com os líderes e as povoações locais, visto que em Moçambique temos ainda fragilidades institucionais na circulação de informação e na canalização dos anseios do povo. Não há, segundo ele, energia eléctrica, jornais, rádios, televisão, telefones e internet nesses locais e a omnipresença do Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) justifica-se especialmente por isso. Só assim é que o Governo toma conhecimento das reais necessidades do povo.

2. As viagens tem de ser feitas exclusivamente de helicópteros, não de viaturas, bicicletas ou carroças de burros. Para o governante supracitado, tal facto justifica-se por Moçambique ser muito grande e o Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) tem de fazer “economia de tempo”, visitando os distritos de helicóptero... Diz também que visitar os distritos, localidades e postos administrativos de helicóptero é mais barato do que usar todos os outros meios alternativos que o Estado tem ao seu dispor.

AS MINHAS QUESTÕES:

1. Será mesmo que é mais barato o Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) visitar os distritos de helicóptero e não de viaturas? Podemos então saber primeiro quanto é que se gasta em aluguer de helicópteros (que não temos) e quanto é que se poderia gastar na realização dessas “presidências abertas” com viaturas (que o Estado possui, central e localmente)?

2. Se o motivo principal de realização dessas “presidências abertas” é o de conhecer a realidade local, monitorar a execução do plano económico-social e incluir os cidadãos na governação local, será mesmo pertinente que o Chefe de Estado se faça deslocar aos distritos com quase toda a sua “indústria governativa” (ministros, vice-ministros, directores nacionais, etc) e convidados especiais (assessores, diplomatas, batalhão de jornalistas)? Só para auscultar o povo e ver “in loco” as coisas a acontecerem? E porquê é que tais visitas, se são também para conhecer a realidade local, são feitas por via aérea e não por terra, onde o Chefe de Estado conheceria de facto como estão as vias de acesso às localidades, postos administrativos e demais aldeias recônditas do país? É mesmo sustentável, tendo em conta os nossos desafios e défices em termos orçamentais, movimentar este autêntico batalhão de elite (sem contar com as “brigadas de avanço” que também vão preparar o terreno político, logístico e de segurança antes do Chefe de Estado lá chegar)? Se o argumento central das “presidências abertas” sistemáticas é o de interagir directamente com o povo, eu acho que se poderia poupar mais nesses gastos públicos, potenciando-se mais os órgãos locais de governação. Afinal, para quê é que servem os governadores (e governos) provinciais e os administradores (e administrações) distritais?! Eles escutam menos o povo do que o Chefe de Estado (e toda a sua comitiva)? O Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) tem muito maior sensibilidade aos problemas do povo do que os governantes locais?

3. Quais são os ganhos tangíveis de tais “presidências abertas”? O que é que o Chefe de Estado (e toda a sua comitiva) gastam com essas “presidências” e o que é que efectivamente o povo ganha? Se uma das justificações para a continuidade dessas “presidências abertas” é o facto de a comunicação entre os governantes locais e centrais ainda ser incipiente, o dinheiro que se gasta todos os anos alugando helicópteros, pagando hotéis, pensões e pousadas ou ajudas de custo à “brigada de elite” do Chefe de Estado não seria suficiente para colocar nesses locais energia eléctrica, rádios comunitárias ou antenas receptoras de televisão e de telefonia móvel?

COLOCANDO ALGUNS PONTOS DE ORDEM:

1. Eu acho muito estranho o facto de só agora um alto governante vir publicamente defender as “presidências abertas” de Guebuza, à quase um ano do fim do seu mandato e às portas de novas eleições no país. Numa altura que os níveis de impopularidade e de contestação do Governo de Guebuza têm estado a atingir dimensões recordes, vejo este exercício como uma tentativa antecipada de justificar o esbanjamento de dinheiro que, mais do que “monitorar os resultados da governação local e interagir com o maravilhoso povo”, será alocado mais para a pré-campanha do partido no poder tendo em vista os próximos eventos eleitorais deste e do próximo ano.

2. Essas “presidências abertas” não trazem benefícios tangíveis para o povo moçambicano, a não ser o reforço do poder político do regime no poder. Aliás, o Chefe de Estado não é nenhum Jesus Cristo. O que ele (e a sua comitiva) têm estado a fazer é turismo presidencial e o reforço institucional da sua máquina político-administrativa à nível local, custeados com os nossos impostos. Devemos todos nos insurgir contra o modo como aqueles que outrora se candidataram para serem os nossos mandatários estão a gerir o erário público. Da mesma forma que o Governo diz que “não há riqueza para distribuir no país”, é um facto indesmentível que também “não há dinheiro para esbanjar em Moçambique”. Onde andam os outrora propalados slogans como “contenção de custos”, “austeridade”, “cultura de trabalho”, “produção e produtividade” e balelas do género?

3. Se o próprio Chefe de Estado uma vez disse que “carvão e gás natural não se come”, é muito legítimo que hoje nós também digamos à ele e aos seus acólitos no Governo que “o povo não come os seus discursos”. Com efeito, estas visitas são mais “top-down”, onde a prestação de contas é vertical (feita pela administração local) e o Chefe de Estado nunca o faz, tanto para o povo como para a própria administração local.

4. O povo não quer apenas ser visitado pelo “filho mais iluminado do país” e se ficar por aí. Essas “presidências abertas”, ao invés de enriquecerem o povo só o empobrecem. Primeiro, as pessoas deixam de produzir para o seu sustento e vão ouvir o Chefe de Estado. Segundo, o Chefe de Estado aparece apenas a papaguear para o povo e este resume-se a escutá-lo, a bater palmas e, como se não bastasse, depois oferece-lhe galinhas e hortaliças...

5. Muitas das vezes, o Chefe de Estado é até enganado nessas “presidências abertas”. Os sítios onde ele visita são previamente limpos e ornamentados, as pessoas são previamente “convidadas” pelas estruturas locais a dar um testemunho maravilhoso das condições locais e a “área de alcance” do Chefe de Estado limita-se apenas ao que o seu Protocolo de Estado antecipadamente programa.

PS: Estava a ler há dias um estudo (publicado em Setembro de 2012) sobre o modelo de “presidência aberta e inclusiva” de Guebuza, realizado pela investigadora alemã Julia Leininger para o IESE, na qual ela afirmava categoricamente que tal modelo “contribui mais para a recentralização do Estado do que para o processo de descentralização. O presidente aparece como único interlocutor capaz de resolver os problemas da população, minando a autoridade da administração local”. Portanto, e pelo que se pode depreender aqui, o meu amigo Vice-Ministro das Pescas anda muito equivocado e está a prestar um mau serviço ao povo, mentindo descaradamente e tentando justificar o injustificável. Infelizmente.

Brazao Catopola, José Belmiro, Rui Lamarques, Egidio Guilherme Vaz Raposo, Gabriel Muthisse, Jornal AVerdade, Elisio Macamo, Quiteria Anicia Fernandes Guirengane, Mano Azagaia, Matias De Jesus Júnior.

 

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  • Michelle Da Rocha O ex presidente Chissano viajava de carro, sera qe ele corria contra o tempo? Aluguer de helicoptero, aki na africa do sul, sao quase R10000 por hora, qnto sera qe custa em mocambiqe? Todo esse dinheiro esbanjado poderia ter melhorado a vida da populacao mocambicana. Construir casas e dar a facilidade do cidado pagar por ela, mais hospitais, orfanatos, escolas e fabricas para dar emprego aos cidadaos mocambicanos. Porra merda de presidente.

  • Neldo Langa fala-se de 2000 USD por hora com o aluguel de helecopteros... a essas alturas deve estar a rondar os 4000 USD.

  • Michelle Da Rocha A propria filha do Guebuza disse em plena televisao qe "nos temos dinheiro suficiente para sustentar ate os nossos bisnetos". Quantos netos e bisnetos ja nascidos dormem de estomago vazio? Cambada de ladroes tanto ele e a familia.

  • Chelú Ibrahimo Realmente nao faz sentido esbanjar tanto dinheiro numa altura em que falta tanta coisa neste País.

  • Sérgio Chaúque crise? qual crise? nem as forças armadas possuem esse meios circualntes aéreos pra patrulhar o país, mas o PR, quando quer fazer de ''Samora'', aluga os ditos meios aéreos. eheheh. P.S. falando em despesas, se até o próprio banco central e seu governador, diziam e reconhecem que o país pode sofrer tarde ou cedo com o advento da crise económica mundial, não entendo como puderam se atrever a comprar novas viaturas de luxo pra seus administradores! e os anteriores com quem ficam? eheheh. este país anima, pah.

  • Jose Alexandre Faia Este país como anima pá .

  • Rúben Matsinhe Vão ficando em desuso, oh Chaúque.

  • Sérgio Chaúque na garagem de quem? ehehehehe.

  • Egidio Guilherme Vaz Raposo As presidências abertas são um embuste politico. Contradiz-se na sua filosofia de busca de soluções locais e sustentaveis; pontapeia a auto-estima por ele preconizada ao querer sugerir, na linha dos investigadores aqui cotados, que so ELE eh que pode ouvir e acelerar a resolucao dos problemas politicos, sociais e economicos dos povoso visitados, incutindo dai a febre do povo, que clama pela visita do chefe nas suas localidades. Mas Edgar Kamikaze Barroso, isto nao eh o que interessa. O que motiva e move os arautos das PAI eh o dinheiro. Um exemplo: Quando um presidente escala um distrito, poense na logistica. E a estrutura da logística repete-se a todos niveis, desde a propria presidência ate ao local visitado. u seja, aqui em Maputo, conta-se o dinheiro para comida, dormida, ajudas de custo do próprio PR, aspectos de seguranca, etc...contando a partir de Maputo ate a localidade. Por sua vez, ao nivel da provincia, faz-se a mesma logistica, como se os custos da PAI fossem da responsabilidade da provincia. E na localidade, a situacao se repete, com "reabilitacoes e apetrechamentos" da residencia onde o PR ira alojar-se...e ai por diante...Edgar, desta forma, quem nao gosta das PAI?

  • Rúben Matsinhe Pergunta que náo exige resposta, essa!

  • Zeiss Lacerda Autêntica falta de respeito o que escreveu essa figura que deveria ser um exemplo a todos nós. Vou falar com experiência:

    Tive a sorte de viver no distrito de Angonia durante três meses em 2011 e por volta de Maio o Junho o PR veio fazer a tal de presidência aberta e eu estava lá, e eu fui assistir aos 20 min de comunicação com gente preparada pra dizer o que se deve dizer, nada mais mas deixa.me contar o antes, o durante e o depois da visita:

    1. Antes da visita gasta.se muito dinheiro porque os governantes locais máximos têm que fazer visitas de preparação, refiro.me ao governador (na altura o entao Primeiro Ministro) e quase todos os directores provinciais. Acreditem mas desde o aviso da vinda das chefias locais nada se faz a nível da administração local a nao ser preperar a visita (logística, embelezamento de relatórios, instrumentalização da população e acumulação de audiência)

    2. O presidente chega em fases, ou seja, vai a brigada de avanço pelo menos duas semanas antes, vão chegando os chefes locais por terra, afectanto o funcionamento dos serviços a nível provincial, chega mais segurança e lah chega o PR como um pássaro.

    As estradas sao preparadas antes, o local do comício tambem. Olha, eu assisti uma associação a formar.se em 5 dias e uma machqmba de alface e cebola a chegar a fase de colheita em dois dias. Ri.me é fiquei com pena do presidente. As estruturas locais limparam um espaço de terra de cerca de 5 ectares, colheram cebola e alface de outras machambas e plantaram em um dia, ja adulto, e foi isso k o presidente viu e mais elogiou. Pergunto: será que so acontece em Angonia?

    3. Se realmente trata.se de uma visita para auscultação e observação in loco do que está a ser feito o PR deveria recusar qualquer tipo de preparação de infraestruturas, ele tem que aceitar ver o país tal como está e nao deixar.se aldrabar. Será mesmo que ele nao consegue ver uma estrada recém reabilitada?

    4. Os helicópteros sao um custo elevadíssimo e eh mentira que poupa.se tempo porque todas as chefias locais vão por terra. Ou seja, o PR podia muito bem pagar uma passagem nas LAM, desembarcar na cidade de Tete e de lá partir por Terra para Angónia porque com ou sem helicóptero, centenas de carros vão até ao local da visita. Onde eh k se poupa dinheiro, onde eh que se poupa tempo? Tempo de quem. O Vice-Ministro nem deve saber de facto o que sao essas visitas.

    E que se diga a verdade, essas visitas so param as províncias, param os distritos, esbanjam dinheiro e reforçam a presença do partido no poder a nível local. Se o governo está representado até a nível da aldeia e eu sei que sim, e os representantes sao legítimos e de confiança, nao se justificam essas visitas pra ver coisas montadas para o efeito.

    Sr Ministro, informa.te é depois poe.te a escrever sem querer ridicularizar nossa inteligência.

  • Sérgio Chaúque heheheh meu deus, haja invento! fazerem uma machamba surgir do nada? eish.

  • Zeiss Lacerda Hum esqueci.me do depois da visita: ja nao havia dinheiro para pagar o alface e a cebola dos agricultores para a horta aquitectada. Imaginem vocês a confusão.

  • Sérgio Chaúque kkkkkkkkk Zeiss, isso é mesmo cómico. espero que nossos amigos camaradas estejam a lêr isto e reportem ao chefe, sem necessidade de mandarem uma equipa de avanço até aos sítos. ehehheeheh.

  • Zeiss Lacerda We eles quizerem confirmar podem ir pra lah hoje é hão de ver k nao existe nem Horta nem Associação nenhuma dona daquela Horta. Coitado do chefe k se calhar nem sabe k faz esse figurão nessas presidências abertas.

  • Ricardino Mulossoua Combanentesdafortunapreparem-separatequmaquedalivre.

  • Gabriel Muthisse O Edgar tem uma forma bastante desonesta de resumir o pensamento dos outros. Ja tinha constatado isso, sobretudo na forma como resumiu o texto do Elisio Macamo. No resumo daquilo que ele considera o meu pensamento ele afirma que eu reconheço "de facto, as reclamações de quase toda a opinião pública, segundo as quais estes eventos “têm sido basicamente gastos irresponsáveis de dinheiro que o país não tem” têm a sua razão de ser (esbanjamento do erário público em aluguer de helicópteros para o Chefe de Estado e toda a sua numerosa comitiva de acompanhamento, em alojamento e ajudas de custo, etc). Entretanto, ele mesmo assim coloca-se na defensiva e sustenta que as “presidências abertas” devem continuar...". Onde é que este "crítico" leu isto? Meu caro amigo, se quer ser crítico, deve buscar a credibilidade e a honestidade. Não tergiverse NUNCA o pensamento dos outros. Discuta-o como ele foi exposto. Eu discuti uma ideia do Elísio Macamo, com que não concordo. Não a tergiversei nem procurei minimizar as credenciais académica deste meu grande amigo. Este texto é desonesto, Edgar Kamikaze Barroso!!!!!!!!! Se não é desonestidade então o senhor tem graves problemas de interpretação de textos. E assim é impossível ser crítico. Haja paciência!

  • Brazao Catopola Não tive acesso ao dito post, no então a fazer vê no que se diz, isto de alguma forma mostra que o PR em alguns momentos não confia no seu elenco. Baseu me ajuda nas posições da primeira e segunda justificativa do ministro por si citadas, o que e grave.

  • Hajy Barbosa Brazao, com que entao ficas on line!

  • Zeiss Lacerda Eis a oportunidade para ficarmos claros na Posição de Sua Excia. com relação a Presidência Aberta e ficamos todos livres de qualquer equívoco.

  • Dércio Ernesto Vi ontem que a primeira província seria Cabo Delgado.
    As questões que hoje levantas já mereceram vários fónrus de debate. O que gostava de aqui realçar é:
    Eu penso que as PAIs tem duas facetas_
    1. Conforme referiste, é a faceta clara do esbajamento
    exarcebado que é feito.
    2. Eu não acredito que esta não seja uma forma de aproximacão com as comunidades, segundo Nobre Canhanga (Mestre em descentralizacao) o processe de participacao comunitaria, descentralizacao acareta muitos custos e requer um tempo de consolidacao. Mas é verdade também que no nosso caso as PAIs necessitam de uma restruturacão ou um término pelos pontos que levantaste, como é caso de capa de eleicões que postula este ano e fortalecimento do regime que inibe ou descrimina aqueles que não coagulam com o mesmo.

  • Edgar Kamikaze Barroso Boa tarde. Estava completamente absorvido pelo trabalho que nem deu para reagir prontamente aos comentários.

    Gabriel Muthisse, não percebi em quê é que eu resumi desonestamente o teu texto. Foi por eu ter dito que, apesar de concordares que as "presidências abertas" sejam esbanjativas, eram a teu ver necessárias pelas razões que foste arrolando?

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