Por estes dias, ouvi uma parábola interessante, que se calhar, é também um tratado sociológico com a vantagem de ser sabedoria popular muito comum nos lares dos moçambicanos.
Era uma vez um jovem casal de namorados que decidiu casar-se um dia. O homem, fiel à tradição secular, sugeriu que a mulher não tinha necessidade nenhuma de trabalhar, pois o salário era suficiente e além disso, havia que cuidar das lides domésticas. Mas com o tempo, as coisas começaram a mudar. Vieram as primeiras carências. O salário não chegava, porque haviam nascido os filhos, outras despesas chegaram também. E as reclamações cresceram de parte à parte. Do homem, porque entendia que se gastava muito e desnecessariamente, e a contribuicao era somente dele. E da mulher, que entendia que fazia o melhor que podia, mas isto nunca era reconhecido por ele.
Um dia, a mulher disse ao marido que havia arranjado um emprego. Para ajudar, disse ela. E o homem, fiel aos dogmas e tradições locais, desgostou. Disse que tudo não passava de uma afronta à sua autoridade no lar, que seria gozado por outros machos como ele e coisas que tais. Mas a mulher foi firme, e demonstrou-lhe que o pouco que ganhava era mesmo para pequenas coisas essenciais: pão, transporte público e renda de casa. Isto porque, os anos de isolamento doméstico imposto pelo marido nunca lhe haviam permitido estudar por ai além, logo só lhe eram alcançáveis empregos de mais baixa renda. E ainda assim, nunca havia desistido do lar. Mesmo reconhecendo o facto, o marido insistiu que discordava da decisão dela e ainda disse que desde que a esposa arranjara aquele emprego, o lar nunca mais fora o mesmo. Mal se tocavam na cama, mal se viam fora de casa ou almoçavam juntos. Além disso, após a sua jornada diária, para ele o barulho dos filhos era insuportável. E com o dinheiro que ainda punha lá a cada mês, não se justificava tanto desconforto no lar. Consequentemente, responsabilizava a mulher caso ele fosse procurar a felicidade em outras paragens mais serenas.
E foi assim que um dia conheceu uma mulher experiente, bem falante, que um dia se tornaria sua amante. Esta era rica, diplomada, independente e dona de uma beleza invulgar apesar da idade, enfim, a perfeita antítese da sua legitima esposa. Mas, escravo da palavra perante sua mulher, o nosso patriarca bantu rendeu-se às evidências e teve que aceitar a ideia de conviver com uma nova realidade extra-conjugal. E de facto, nos primeiros tempos, era tudo uma maravilha, um verdadeiro caleidoscópio de sensações carnais que ambos pareciam apreciar. Eram a sintonia perfeita. O côncavo e o convexo. Até ao dia em que ele descobriu que o SOL da vida de sua amante não era somente ele, mas sim uma constelação deles. Fiel às tradições nas quais fora educado, reagiu emotivamente e exigiu explicações. E a amante simplesmente lhe respondeu: Regras De Jogo. Pegar Ou Largar. E assim, de repente, o nosso discípulo das tradições e dogmas ancestrais, chegava a uma assombrosa constatação. Afinal, era a amante e não o seu salário o que sustentava o seu opulento estilo de vida e lhe dava a projecção social.
Contrariado, ele decidiu PEGAR, mas jurou a si mesmo que se haveria de vingar de tremenda submissão. E foi assim que arranjou uma outra amante, muito mais jovem, sexualmente disponível e descartável, mas espantosamente generosa para a sua tenra idade. Não tardou, a amante mais velha descobriu tudo e deu-lhe um monumental pontapé no traseiro.
Em pânico, tenta então refazer o seu matrimónio já "em cacos" fazia muito tempo. Surpreendido, ouve dizer por aí que a sua legitima esposa crescera economicamente e pese embora não ser uma figura conhecida do jet-set local, com quem se habituara a sorver umas taças de Moët et Chandom no final da tarde, era todavia uma verdadeira força da natureza do mercado informal em crescendo.
Quando a amante mais jovem pressentiu o breve desenlace, capitalizou o momento como elas muito bem sabem fazer. Sugou-lhe os últimos cobres e ainda fê-lo assinar com artes de gueixa um monte de papelada escrita nos mais diferentes idiomas estrangeiros que ele desconhecia. E depois, torpedeou-o que nem um TGV dizendo-lhe que tinha um namorado muito mais forte e jovem, que lhe poderia desfazer em dois se ele tentasse alguma coisa contra ela.
Desalentado, como um grupo de italianos perdidos no deserto da Libia, o nosso homem, agora já um respeitável ancião, regressou ao lar e disse para a sua fiel mulher:
- A partir de hoje, nós vamos ter de mudar tudo nesta casa. Em nome da harmonia e do bem-estar do lar, temos de assumir certas decisões, que não são fáceis, nem simpáticas, mas são importantes se quisermos deixar algum pé de meia para os nossos filhos...
E a mulher friamente lhe respondeu:
- Meu marido, porque raramente pões os pés cá em casa, não reparaste mesmo em nada. Eu já mudei e muito. Comprei inclusivamente esta casa com o dinheiro do meu próprio suor. E quanto aos nossos filhos, não te preocupes, eles são os sócios da minha empresa de import & export...
Esta parábola, foi-me contada mais ou menos nestes termos, por um vendedor informal, quando lhe perguntei porque cargas de água, tem sido verificado que muitas medidas estruturais do Governo que até são legítimas e comuns num Estado republicano moderno, tal como o registo de Cartões SIM, a Inspecção Obrigatória de Viaturas, a Carta de Condução Biométrica, o Pagamento Voluntário de Impostos e muitas outras, são sistematicamente ignoradas pelos cidadãos. Os mesmos cidadãos que reivindicam em todos os espaços mediáticos, a melhoria das suas condições de vida, que aparentemente, as medidas governamentais de algum modo poderiam ajudar. Os mesmos cidadãos que a cada lustro, votam esmagadoramente num Governo que ousam permanentemente rejeitar.
Com uma sabedoria popular do mais fino quilate. Respondeu-me:
- Muito simples, caro doutor. O homem, é quem governa. A mulher e os seus filhos, são as sucessivas gerações de governados. E as amantes, as diferentes fontes oficiais e oficiosas que gerem o orçamento familiar ao longo dos tempos... Se o sr. doutor fosse o JUIZ e tivesse de arbitrar a causa, aquem é que responsabilizaria em primeiro lugar para resgatar a harmonia e prosperidade do lar? O marido, a esposa ou as amantes?!
Passei a dispensar qualquer tratado ou estudo sociológico a partir de então para entender o meu País.
Era uma vez um jovem casal de namorados que decidiu casar-se um dia. O homem, fiel à tradição secular, sugeriu que a mulher não tinha necessidade nenhuma de trabalhar, pois o salário era suficiente e além disso, havia que cuidar das lides domésticas. Mas com o tempo, as coisas começaram a mudar. Vieram as primeiras carências. O salário não chegava, porque haviam nascido os filhos, outras despesas chegaram também. E as reclamações cresceram de parte à parte. Do homem, porque entendia que se gastava muito e desnecessariamente, e a contribuicao era somente dele. E da mulher, que entendia que fazia o melhor que podia, mas isto nunca era reconhecido por ele.
Um dia, a mulher disse ao marido que havia arranjado um emprego. Para ajudar, disse ela. E o homem, fiel aos dogmas e tradições locais, desgostou. Disse que tudo não passava de uma afronta à sua autoridade no lar, que seria gozado por outros machos como ele e coisas que tais. Mas a mulher foi firme, e demonstrou-lhe que o pouco que ganhava era mesmo para pequenas coisas essenciais: pão, transporte público e renda de casa. Isto porque, os anos de isolamento doméstico imposto pelo marido nunca lhe haviam permitido estudar por ai além, logo só lhe eram alcançáveis empregos de mais baixa renda. E ainda assim, nunca havia desistido do lar. Mesmo reconhecendo o facto, o marido insistiu que discordava da decisão dela e ainda disse que desde que a esposa arranjara aquele emprego, o lar nunca mais fora o mesmo. Mal se tocavam na cama, mal se viam fora de casa ou almoçavam juntos. Além disso, após a sua jornada diária, para ele o barulho dos filhos era insuportável. E com o dinheiro que ainda punha lá a cada mês, não se justificava tanto desconforto no lar. Consequentemente, responsabilizava a mulher caso ele fosse procurar a felicidade em outras paragens mais serenas.
E foi assim que um dia conheceu uma mulher experiente, bem falante, que um dia se tornaria sua amante. Esta era rica, diplomada, independente e dona de uma beleza invulgar apesar da idade, enfim, a perfeita antítese da sua legitima esposa. Mas, escravo da palavra perante sua mulher, o nosso patriarca bantu rendeu-se às evidências e teve que aceitar a ideia de conviver com uma nova realidade extra-conjugal. E de facto, nos primeiros tempos, era tudo uma maravilha, um verdadeiro caleidoscópio de sensações carnais que ambos pareciam apreciar. Eram a sintonia perfeita. O côncavo e o convexo. Até ao dia em que ele descobriu que o SOL da vida de sua amante não era somente ele, mas sim uma constelação deles. Fiel às tradições nas quais fora educado, reagiu emotivamente e exigiu explicações. E a amante simplesmente lhe respondeu: Regras De Jogo. Pegar Ou Largar. E assim, de repente, o nosso discípulo das tradições e dogmas ancestrais, chegava a uma assombrosa constatação. Afinal, era a amante e não o seu salário o que sustentava o seu opulento estilo de vida e lhe dava a projecção social.
Contrariado, ele decidiu PEGAR, mas jurou a si mesmo que se haveria de vingar de tremenda submissão. E foi assim que arranjou uma outra amante, muito mais jovem, sexualmente disponível e descartável, mas espantosamente generosa para a sua tenra idade. Não tardou, a amante mais velha descobriu tudo e deu-lhe um monumental pontapé no traseiro.
Em pânico, tenta então refazer o seu matrimónio já "em cacos" fazia muito tempo. Surpreendido, ouve dizer por aí que a sua legitima esposa crescera economicamente e pese embora não ser uma figura conhecida do jet-set local, com quem se habituara a sorver umas taças de Moët et Chandom no final da tarde, era todavia uma verdadeira força da natureza do mercado informal em crescendo.
Quando a amante mais jovem pressentiu o breve desenlace, capitalizou o momento como elas muito bem sabem fazer. Sugou-lhe os últimos cobres e ainda fê-lo assinar com artes de gueixa um monte de papelada escrita nos mais diferentes idiomas estrangeiros que ele desconhecia. E depois, torpedeou-o que nem um TGV dizendo-lhe que tinha um namorado muito mais forte e jovem, que lhe poderia desfazer em dois se ele tentasse alguma coisa contra ela.
Desalentado, como um grupo de italianos perdidos no deserto da Libia, o nosso homem, agora já um respeitável ancião, regressou ao lar e disse para a sua fiel mulher:
- A partir de hoje, nós vamos ter de mudar tudo nesta casa. Em nome da harmonia e do bem-estar do lar, temos de assumir certas decisões, que não são fáceis, nem simpáticas, mas são importantes se quisermos deixar algum pé de meia para os nossos filhos...
E a mulher friamente lhe respondeu:
- Meu marido, porque raramente pões os pés cá em casa, não reparaste mesmo em nada. Eu já mudei e muito. Comprei inclusivamente esta casa com o dinheiro do meu próprio suor. E quanto aos nossos filhos, não te preocupes, eles são os sócios da minha empresa de import & export...
Esta parábola, foi-me contada mais ou menos nestes termos, por um vendedor informal, quando lhe perguntei porque cargas de água, tem sido verificado que muitas medidas estruturais do Governo que até são legítimas e comuns num Estado republicano moderno, tal como o registo de Cartões SIM, a Inspecção Obrigatória de Viaturas, a Carta de Condução Biométrica, o Pagamento Voluntário de Impostos e muitas outras, são sistematicamente ignoradas pelos cidadãos. Os mesmos cidadãos que reivindicam em todos os espaços mediáticos, a melhoria das suas condições de vida, que aparentemente, as medidas governamentais de algum modo poderiam ajudar. Os mesmos cidadãos que a cada lustro, votam esmagadoramente num Governo que ousam permanentemente rejeitar.
Com uma sabedoria popular do mais fino quilate. Respondeu-me:
- Muito simples, caro doutor. O homem, é quem governa. A mulher e os seus filhos, são as sucessivas gerações de governados. E as amantes, as diferentes fontes oficiais e oficiosas que gerem o orçamento familiar ao longo dos tempos... Se o sr. doutor fosse o JUIZ e tivesse de arbitrar a causa, aquem é que responsabilizaria em primeiro lugar para resgatar a harmonia e prosperidade do lar? O marido, a esposa ou as amantes?!
Passei a dispensar qualquer tratado ou estudo sociológico a partir de então para entender o meu País.
Domingo, 6 de Fevereiro de 2011
Paradoxo Económico
Economia: aquisição do barril de uísque de que
não precisamos pelo preço da carne de vaca que
não nos podemos dar ao luxo de comprar
John Galbraith
Os maiores inimigos do desenvolvimento de Moçambique estão nos lobbies do poder. Portanto, face ao que temos visto, a oposição pode muito bem ir de férias prolongadas...e esperar que os "outros" se auto-fagocitem!
Nestes meses, pude apreciar as sábias intervenções de Ratilal & Jaintilal, dois dos nossos gurus da Economia - Da ECONOMIA, frise-se - assentes em duas tónicas essenciais: o investimento estatal para promoção do desenvolvimento em Moçambique e o FMI como afunilador do mesmo. Diria mesmo, duas reflexões profundas. Mas que pecam, como habitualmente, por detalhar cabalisticamente os efeitos ao pormenor, e nunca seguirem o mesmo procedimento para as causas reais do problema.
Mergulhei então na valiosas lições da "Biblia", de Ian Bremmer, já partilhada com muitos amigos, que tal como eu, têm por hobbie, fazer análises de risco geopolítico enquanto outros se ocupam com discursos. E fiquei a pensar que, porventura, esta é uma matéria que deveria passar a ser obrigatória nas nossas faculdades de Economia. Pois que, no actual rating do sistema financeiro internacional, qualquer pais do mundo deveria saber que está sujeito aos mercados emergentes, que geram a maior parte das oferta e procura globais e, que as empresas precisam agora de melhores métodos para ponderar o risco político face à compensação financeira.
Pois, para ponderar os riscos e as oportunidades, as empresas ou empreendimentos estrangeiros regularmente consultam os analistas de risco económico. Mas, conceber que baseiam as suas decisões de investimento global meramente em dados económicos, sem compreender o contexto político, é como assumir que as decisões de um plano de nutrição incidem apenas na contagem de calorias, sem examinar a lista de ingredientes.
Dados tranquilizadores sobre países, como a renda per capita, crescimento e inflação- o pão e manteiga da análise de risco económico - muitas vezes obscurece as potenciais ameaças de outras fontes. O parlamento do Irão, por exemplo, com legislação aprovada em 2004, dificultou as possibilidades de empresas estrangeiras entrarem no sector de telecomunicações daquele país. A revolução de 2003 na Geórgia, alterou o cálculo estratégico para o investimento em projectos de energia no Mar Cáspio. A perseguição politicamente motivada do Kremlin ao magnata Mikhail Khodorkovsky gelou o clima financeiro, através do mercado de petróleo da Rússia. E o governo do Brasil ao pressionar as suas agências governamentais e os seus cidadãos, para a adopção de software open-source, pôde causar feridas na Microsoft e outras empresas de tecnologia de informação.
Tudo isto são exemplos de risco político, amplamente definido como impacto da política sobre os mercados globais. O risco político é influenciado pela aprovação de leis, as asneiras dos líderes no poder ou na oposição, e pela explosão de revoltas populares, enfim, todos os factores que podem estabilizar ou desestabilizar politicamente um país. O significado de qualquer risco é claro. Depende do contexto da decisão de investimento.
Porque na verdade, a política é um assunto de todos e para todos. E por quatro razões principais. Em primeiro lugar, os mercados internacionais estão mais interligados do que nunca. Em segundo lugar, para o bem ou para o mal, os Estados Unidos tornaram o mundo num lugar mais volátil, mudando os cálculos de risco em todos os lugares desde o 11 de Setembro de 2001. Em terceiro lugar, a tendência actual é de offshoring crescente. Negócios deslocalizando algumas operações para países onde o trabalho é barato, mas o trabalho é sempre barato por alguma razão. Não é? Em quarto e último lugar, o mundo está cada vez mais dependente de energia fóssil oriunda de países com problemas de consideráveis de risco político como a Arábia Saudita, Irão, Nigéria, Rússia e Venezuela etc.
Por essa razão, todo economista é incapaz de dizer que a análise económica de risco e a análise de risco político, são duas questões fundamentalmente diferentes. Pois, a análise de risco económica diz aos líderes empresariais se um determinado país PODE pagar sua dívida. Enquanto que a análise de risco político lhes diz se o país PAGARÁ alguma vez a sua dívida.
Mesmo a sua interpretação em relação à resistência aos choques financeiros é diferente. Tanto na Rússia como no Brasil, os analistas políticos concentram-se no estudo de como uma mudança na liderança política específica afectará a estabilidade do país, que é afinal a unidade de medida de risco político. A estabilidade de uma nação é determinada por duas coisas: a capacidade dos líderes políticos em implementar as políticas que eles apregoam, mesmo no meio de choques e, à sua capacidade de evitar choques gerados por eles próprios. Um país com recursos diversificados será sempre muito mais estável do que um país rico, mas com apenas um (Petróleo, Gás, etc.). Países que não os têm, serão logicamente mais vulneráveis ao risco político. Este é o caso de Moçambique.
Os choques mediáticos, também são um outro conceito importante de risco político. Eles podem ser internos (manifestações no Egipto contra a tirania de Mubarak, ou uma transferência de poder político em Cuba de Castro para Castro) ou externos (milhares de refugiados que fogem da Coreia do Norte para a China, ou o tsunami no Sudeste Asiático). A existência destes choques, não é per si, um sinal de instabilidade. A Arábia Saudita, por exemplo, tem produzido inúmeros choques ao longo dos anos, mas até agora tem sustentado o tremor. E provavelmente continuará a fazê-lo, pelo menos a curto prazo: a nação tem sido construída sobre problemas políticos e religiosos centenários, mas o seu forte poder autoritário central e a bolsa generosa permitem a elite saudita se adapte à mudanças dramáticas, como se viu, no caso das Torres Gémeas. Este é o caso de Angola, o nosso parceiro estratégico, cuja liderança já provou ser esclarecida.
Não obstante sua aparente subjectividade – que já me causou muitos puxões de orelhas nestes dias – o risco político também se traduz em números. A especulação sobre os resultados destes e de outros cenários aparece em inúmeras publicações, mas as empresas que debatem investimentos operacionais e infra-estrutura no exterior precisam de mais objectividade, avaliações rigorosas, do que aquelas encontradas nas páginas de op-ed (colunistas). As grandes empresas podem comprar serviços de consultoria de risco político ou, tal como a Shell e a AIG, desenvolver a capacidade in-house. De qualquer forma, uma visão completa e precisa do risco de qualquer país requer analistas com fortes competências para relatar, em tempo oportuno, dados precisos sobre uma variedade de tendências sociais e políticas, e uma estrutura competente para avaliar o impacto dos riscos na estabilidade individual e empresarial.
O que os nossos analistas económicos deveriam saber é que a Política nunca foi estática (pessoas como o sr. Itaí Meque da Zambézia desafiam permanentemente este axioma), pois os analistas de risco são capazes de monitorizar toda a história de uma nação. Porque sabem sistematizar. Ao contrário de muitos que lutam por fazer esquecer. Normalmente, significa estar no terreno, no país real. E, no caso de um regime político particularmente fechado como o nosso, isso pode significar estar lá muito mais tempo do que o esperado. Algumas informações até são publicadas nos relatórios oficiais ou na media, mas os analistas sempre reunem mais de sua inteligência a partir de fontes primárias: os jornalistas bem conectados na imprensa local e estrangeira, actuais e ex-decisores de nível médio, e claro, os especialistas think tank. Logo, quanto mais opaco o regime for, mais complexa a análise será uma espada de dois gumes, pois causa mais tempo de decisão. E quanto maior o tempo de decisão, menor a libertação do investimento. Causa e efeito. Todos os investidores sérios têm em mente que a análise política é muito mais subjectiva e, consequentemente, mais vulnerável ao preconceito, do que suas contrapartes económicas. O perigo é que muitos analistas, com as suas próprias opiniões políticas, podem visualizar suas pesquisas pelo seu ecran filosófico particular, e com isso, pôr em cheque a liderança de um país. Eis porque a abertura desta aos seus intelectuais é sempre o melhor caminho. Permite que as eminências pardas se dêem a conhecer.
Os dados que pesam no cálculo de risco político, estão muito longe dos compêndios de economia ou contabilidade fiscal. Devido à sua natureza, as variáveis de risco político são muito mais difíceis de medir do que as variáveis económicas (embora alguns países, como a China e a Arábia Saudita, façam com que até mesmo a fiabilidade dados económicos seja uma questão sempre em aberto). O terreno de batalha é total e global. Pois, Política, afinal, é sempre influenciada pelo comportamento humano e pela confluência súbita de eventos para os quais não existem fórmulas resolventes. Para quantificar com precisão o risco político, os analistas servem-se de "proxies" para suas variáveis. Em vez de tentar medir a independência do poder judiciário de uma nação, por exemplo, os analistas determinam se os juízes de um determinado país são pagos com um salário condigno, e se existem programas financiados independentemente para mantê-los actualizados sobre nova legislação, e quantas vezes eles são alvo de ameaça ou assassinato. Os analistas de risco político também estudam a percentagem de crianças que frequentam regularmente a escola, ponderam sobre os salários da polícia e dos militares, comparando-os com as oportunidades financeiras do mundo do crime, e o quantum de acesso aos cuidados médicos que está disponível em cidades com populações na faixa das 10.000 à 50.000 pessoas. Eles olham para outras estatísticas, como a taxa de desemprego de pessoas com idades entre os 18 e 29 anos e determinam quantos deles estão na prisão. E, claro, eles polvilham isto com variáveis económicas para colocar finalmente a cereja no bolo: a renda per capita, balança de pagamentos e a dívida nacional. E os nossos gurus da Economia ficam-se normalmente pela cereja...
Mas o quadro que conta mesmo para diferentes empresas e consultorias que até têm diferentes métodos para medir e apresentar dados sobre estabilidade, radica quase sempre, em quatro sub-categorias igualmente ponderadas: governo, sociedade, segurança e economia. As avaliações para todas estas quatro sub-categorias são agregadas em um único indicador composto que determina a avaliação final da estabilidade, que se expressa como um número na escala de zero a 100, a partir da qual, um estado é considerado falhado, ou uma plena democracia institucionalizada e estável. Para se ter uma ideia do nosso ranking, em Março de 2005 (ainda com Chissano), Moçambique ocupava a franja dos 20-39 - País Politicamente Instável - baixamos alguns pontos desde então. E uma vez obtido o diagnóstico, instituições prestigiadas como o Deutsche Bank, emitem o seu veredicto (ex-índice DESIX) implacável.
E depois de saber os Quês e Porquês de um país, as empresas aplicam essa análise, obviamente, dependendo da sua indústria, a estratégia e seu perfil de tolerância ao risco. Por norma, as empresas do sector de energia, por exemplo, têm demonstrado uma alta tolerância ao risco, com base em técnicas de mitigação para gerenciar sua exposição ao mesmo. Angola e Nigéria são bons exemplos. Em contrapartida, a indústria ligeira (e eu destacaria propositadamente a agro-alimentar) e médias empresas a jusante das cadeias de suprimentos industriais – como as que cercam a MOZAL por exemplo - tendem a esperar a sua carta de alforria vendo como a situação evolui para o seu Hospedeiro. E as corporações farmacêuticas, essas então, ficam ainda muito mais longe de investir, quando confrontados adicionalmente com problemas de infra-estrutura e riscos de propriedade intelectual. Recordo-vos propositadamente, o destino de muitas indústrias farmacêuticas em Moçambique (Petropharm), incluindo a famosa fabrica de Anti-Retrovirais que não sai do papel...
Todas empresas desejosas em assumir compromissos em nações instáveis dão prioridade, à longo prazo, à questões relacionadas com a demografia e recursos naturais, por exemplo, para a tomada de decisões. Em maio de 2004, a Sumitomo Chemical do Japão concordou em formar uma joint-venture de 4.300.000.000 dólares americanos com a Saudi Aramco para construir uma grande fábrica petroquímica em Rabigh na Arábia Saudita. Mas a fábrica foi programada para nunca abrir antes 2008, porque a Sumitomo sempre é particularmente sensível às questões demográficas que causam do êxodo de talentos técnicos locais para outras paragens onde podem ser valorizados e a taxa de desemprego da população jovem. E a tolerância de risco da Sumitomo já foi testada por extremistas islâmicos, com rapto e decapitação de estrangeiros que faziam negócios no país. Por isso, quando a violência e a corrupção começaram a dominar as paragonas dos jornais, ela foi logo transformada em risco de curto prazo, e o negócio continuou de pedra e cal.
Por isso é que a ECONOMIA não é mais uma ciência exacta!
não precisamos pelo preço da carne de vaca que
não nos podemos dar ao luxo de comprar
John Galbraith
Os maiores inimigos do desenvolvimento de Moçambique estão nos lobbies do poder. Portanto, face ao que temos visto, a oposição pode muito bem ir de férias prolongadas...e esperar que os "outros" se auto-fagocitem!
Nestes meses, pude apreciar as sábias intervenções de Ratilal & Jaintilal, dois dos nossos gurus da Economia - Da ECONOMIA, frise-se - assentes em duas tónicas essenciais: o investimento estatal para promoção do desenvolvimento em Moçambique e o FMI como afunilador do mesmo. Diria mesmo, duas reflexões profundas. Mas que pecam, como habitualmente, por detalhar cabalisticamente os efeitos ao pormenor, e nunca seguirem o mesmo procedimento para as causas reais do problema.
Mergulhei então na valiosas lições da "Biblia", de Ian Bremmer, já partilhada com muitos amigos, que tal como eu, têm por hobbie, fazer análises de risco geopolítico enquanto outros se ocupam com discursos. E fiquei a pensar que, porventura, esta é uma matéria que deveria passar a ser obrigatória nas nossas faculdades de Economia. Pois que, no actual rating do sistema financeiro internacional, qualquer pais do mundo deveria saber que está sujeito aos mercados emergentes, que geram a maior parte das oferta e procura globais e, que as empresas precisam agora de melhores métodos para ponderar o risco político face à compensação financeira.
Pois, para ponderar os riscos e as oportunidades, as empresas ou empreendimentos estrangeiros regularmente consultam os analistas de risco económico. Mas, conceber que baseiam as suas decisões de investimento global meramente em dados económicos, sem compreender o contexto político, é como assumir que as decisões de um plano de nutrição incidem apenas na contagem de calorias, sem examinar a lista de ingredientes.
Dados tranquilizadores sobre países, como a renda per capita, crescimento e inflação- o pão e manteiga da análise de risco económico - muitas vezes obscurece as potenciais ameaças de outras fontes. O parlamento do Irão, por exemplo, com legislação aprovada em 2004, dificultou as possibilidades de empresas estrangeiras entrarem no sector de telecomunicações daquele país. A revolução de 2003 na Geórgia, alterou o cálculo estratégico para o investimento em projectos de energia no Mar Cáspio. A perseguição politicamente motivada do Kremlin ao magnata Mikhail Khodorkovsky gelou o clima financeiro, através do mercado de petróleo da Rússia. E o governo do Brasil ao pressionar as suas agências governamentais e os seus cidadãos, para a adopção de software open-source, pôde causar feridas na Microsoft e outras empresas de tecnologia de informação.
Tudo isto são exemplos de risco político, amplamente definido como impacto da política sobre os mercados globais. O risco político é influenciado pela aprovação de leis, as asneiras dos líderes no poder ou na oposição, e pela explosão de revoltas populares, enfim, todos os factores que podem estabilizar ou desestabilizar politicamente um país. O significado de qualquer risco é claro. Depende do contexto da decisão de investimento.
Porque na verdade, a política é um assunto de todos e para todos. E por quatro razões principais. Em primeiro lugar, os mercados internacionais estão mais interligados do que nunca. Em segundo lugar, para o bem ou para o mal, os Estados Unidos tornaram o mundo num lugar mais volátil, mudando os cálculos de risco em todos os lugares desde o 11 de Setembro de 2001. Em terceiro lugar, a tendência actual é de offshoring crescente. Negócios deslocalizando algumas operações para países onde o trabalho é barato, mas o trabalho é sempre barato por alguma razão. Não é? Em quarto e último lugar, o mundo está cada vez mais dependente de energia fóssil oriunda de países com problemas de consideráveis de risco político como a Arábia Saudita, Irão, Nigéria, Rússia e Venezuela etc.
Por essa razão, todo economista é incapaz de dizer que a análise económica de risco e a análise de risco político, são duas questões fundamentalmente diferentes. Pois, a análise de risco económica diz aos líderes empresariais se um determinado país PODE pagar sua dívida. Enquanto que a análise de risco político lhes diz se o país PAGARÁ alguma vez a sua dívida.
Mesmo a sua interpretação em relação à resistência aos choques financeiros é diferente. Tanto na Rússia como no Brasil, os analistas políticos concentram-se no estudo de como uma mudança na liderança política específica afectará a estabilidade do país, que é afinal a unidade de medida de risco político. A estabilidade de uma nação é determinada por duas coisas: a capacidade dos líderes políticos em implementar as políticas que eles apregoam, mesmo no meio de choques e, à sua capacidade de evitar choques gerados por eles próprios. Um país com recursos diversificados será sempre muito mais estável do que um país rico, mas com apenas um (Petróleo, Gás, etc.). Países que não os têm, serão logicamente mais vulneráveis ao risco político. Este é o caso de Moçambique.
Os choques mediáticos, também são um outro conceito importante de risco político. Eles podem ser internos (manifestações no Egipto contra a tirania de Mubarak, ou uma transferência de poder político em Cuba de Castro para Castro) ou externos (milhares de refugiados que fogem da Coreia do Norte para a China, ou o tsunami no Sudeste Asiático). A existência destes choques, não é per si, um sinal de instabilidade. A Arábia Saudita, por exemplo, tem produzido inúmeros choques ao longo dos anos, mas até agora tem sustentado o tremor. E provavelmente continuará a fazê-lo, pelo menos a curto prazo: a nação tem sido construída sobre problemas políticos e religiosos centenários, mas o seu forte poder autoritário central e a bolsa generosa permitem a elite saudita se adapte à mudanças dramáticas, como se viu, no caso das Torres Gémeas. Este é o caso de Angola, o nosso parceiro estratégico, cuja liderança já provou ser esclarecida.
Não obstante sua aparente subjectividade – que já me causou muitos puxões de orelhas nestes dias – o risco político também se traduz em números. A especulação sobre os resultados destes e de outros cenários aparece em inúmeras publicações, mas as empresas que debatem investimentos operacionais e infra-estrutura no exterior precisam de mais objectividade, avaliações rigorosas, do que aquelas encontradas nas páginas de op-ed (colunistas). As grandes empresas podem comprar serviços de consultoria de risco político ou, tal como a Shell e a AIG, desenvolver a capacidade in-house. De qualquer forma, uma visão completa e precisa do risco de qualquer país requer analistas com fortes competências para relatar, em tempo oportuno, dados precisos sobre uma variedade de tendências sociais e políticas, e uma estrutura competente para avaliar o impacto dos riscos na estabilidade individual e empresarial.
O que os nossos analistas económicos deveriam saber é que a Política nunca foi estática (pessoas como o sr. Itaí Meque da Zambézia desafiam permanentemente este axioma), pois os analistas de risco são capazes de monitorizar toda a história de uma nação. Porque sabem sistematizar. Ao contrário de muitos que lutam por fazer esquecer. Normalmente, significa estar no terreno, no país real. E, no caso de um regime político particularmente fechado como o nosso, isso pode significar estar lá muito mais tempo do que o esperado. Algumas informações até são publicadas nos relatórios oficiais ou na media, mas os analistas sempre reunem mais de sua inteligência a partir de fontes primárias: os jornalistas bem conectados na imprensa local e estrangeira, actuais e ex-decisores de nível médio, e claro, os especialistas think tank. Logo, quanto mais opaco o regime for, mais complexa a análise será uma espada de dois gumes, pois causa mais tempo de decisão. E quanto maior o tempo de decisão, menor a libertação do investimento. Causa e efeito. Todos os investidores sérios têm em mente que a análise política é muito mais subjectiva e, consequentemente, mais vulnerável ao preconceito, do que suas contrapartes económicas. O perigo é que muitos analistas, com as suas próprias opiniões políticas, podem visualizar suas pesquisas pelo seu ecran filosófico particular, e com isso, pôr em cheque a liderança de um país. Eis porque a abertura desta aos seus intelectuais é sempre o melhor caminho. Permite que as eminências pardas se dêem a conhecer.
Os dados que pesam no cálculo de risco político, estão muito longe dos compêndios de economia ou contabilidade fiscal. Devido à sua natureza, as variáveis de risco político são muito mais difíceis de medir do que as variáveis económicas (embora alguns países, como a China e a Arábia Saudita, façam com que até mesmo a fiabilidade dados económicos seja uma questão sempre em aberto). O terreno de batalha é total e global. Pois, Política, afinal, é sempre influenciada pelo comportamento humano e pela confluência súbita de eventos para os quais não existem fórmulas resolventes. Para quantificar com precisão o risco político, os analistas servem-se de "proxies" para suas variáveis. Em vez de tentar medir a independência do poder judiciário de uma nação, por exemplo, os analistas determinam se os juízes de um determinado país são pagos com um salário condigno, e se existem programas financiados independentemente para mantê-los actualizados sobre nova legislação, e quantas vezes eles são alvo de ameaça ou assassinato. Os analistas de risco político também estudam a percentagem de crianças que frequentam regularmente a escola, ponderam sobre os salários da polícia e dos militares, comparando-os com as oportunidades financeiras do mundo do crime, e o quantum de acesso aos cuidados médicos que está disponível em cidades com populações na faixa das 10.000 à 50.000 pessoas. Eles olham para outras estatísticas, como a taxa de desemprego de pessoas com idades entre os 18 e 29 anos e determinam quantos deles estão na prisão. E, claro, eles polvilham isto com variáveis económicas para colocar finalmente a cereja no bolo: a renda per capita, balança de pagamentos e a dívida nacional. E os nossos gurus da Economia ficam-se normalmente pela cereja...
Mas o quadro que conta mesmo para diferentes empresas e consultorias que até têm diferentes métodos para medir e apresentar dados sobre estabilidade, radica quase sempre, em quatro sub-categorias igualmente ponderadas: governo, sociedade, segurança e economia. As avaliações para todas estas quatro sub-categorias são agregadas em um único indicador composto que determina a avaliação final da estabilidade, que se expressa como um número na escala de zero a 100, a partir da qual, um estado é considerado falhado, ou uma plena democracia institucionalizada e estável. Para se ter uma ideia do nosso ranking, em Março de 2005 (ainda com Chissano), Moçambique ocupava a franja dos 20-39 - País Politicamente Instável - baixamos alguns pontos desde então. E uma vez obtido o diagnóstico, instituições prestigiadas como o Deutsche Bank, emitem o seu veredicto (ex-índice DESIX) implacável.
E depois de saber os Quês e Porquês de um país, as empresas aplicam essa análise, obviamente, dependendo da sua indústria, a estratégia e seu perfil de tolerância ao risco. Por norma, as empresas do sector de energia, por exemplo, têm demonstrado uma alta tolerância ao risco, com base em técnicas de mitigação para gerenciar sua exposição ao mesmo. Angola e Nigéria são bons exemplos. Em contrapartida, a indústria ligeira (e eu destacaria propositadamente a agro-alimentar) e médias empresas a jusante das cadeias de suprimentos industriais – como as que cercam a MOZAL por exemplo - tendem a esperar a sua carta de alforria vendo como a situação evolui para o seu Hospedeiro. E as corporações farmacêuticas, essas então, ficam ainda muito mais longe de investir, quando confrontados adicionalmente com problemas de infra-estrutura e riscos de propriedade intelectual. Recordo-vos propositadamente, o destino de muitas indústrias farmacêuticas em Moçambique (Petropharm), incluindo a famosa fabrica de Anti-Retrovirais que não sai do papel...
Todas empresas desejosas em assumir compromissos em nações instáveis dão prioridade, à longo prazo, à questões relacionadas com a demografia e recursos naturais, por exemplo, para a tomada de decisões. Em maio de 2004, a Sumitomo Chemical do Japão concordou em formar uma joint-venture de 4.300.000.000 dólares americanos com a Saudi Aramco para construir uma grande fábrica petroquímica em Rabigh na Arábia Saudita. Mas a fábrica foi programada para nunca abrir antes 2008, porque a Sumitomo sempre é particularmente sensível às questões demográficas que causam do êxodo de talentos técnicos locais para outras paragens onde podem ser valorizados e a taxa de desemprego da população jovem. E a tolerância de risco da Sumitomo já foi testada por extremistas islâmicos, com rapto e decapitação de estrangeiros que faziam negócios no país. Por isso, quando a violência e a corrupção começaram a dominar as paragonas dos jornais, ela foi logo transformada em risco de curto prazo, e o negócio continuou de pedra e cal.
Por isso é que a ECONOMIA não é mais uma ciência exacta!
Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2011
Sebastianismo Politico
Detesto, de saída, quem é capaz
de marchar em formação com prazer
ao som de uma banda.
Nasceu com cérebro por engano;
bastava-lhe a medula espinal
A. Einstein
Tem andado por aí na blogosfera um corropio de possíveis candidatos à PR. Ainda a procissão não vai no adro e já se jogam no tabuleiro político as mais diferentes previsões. Espantosa esta maneira de se medir a predileção dos eleitores. Oportunista, a percepção dos intelectuais do governo para quem, um Povo, tal como as moscas, pesca-se com mel e não com vinagre. É preciso semear para colher. E para tal, nem que se tenham de inventar pseudo-sondagens na síndrome de um congresso, vale tudo para se vestir agora de trajes garridos e femininos a tese peregrina do Novo Messias moçambicano, triunfalmente cavalgando em bubus e lantejoulas, as esperanças de um ansiado bem-estar.
Obviamente, todas as figuras até aqui servidas aos comensais pertencem ao mesmo conjunto universal. Seria mesmo utópico, à luz desta sociedade, pensar-se que uma mudança política poderá acontecer aqui, tal como sucede na Tunísia ou até no Egipto. Aqui, onde até já tivemos duas grandes erupções sociais por motivos parecidos, para cedo nos apercebermos quão fraccionada é a sociedade moçambicana. Daí achar natural que muita gente, mesmo reconhecendo que escolhe mal, prefere manter a sua escolha, a ter que navegar na incerteza entre o mau e o péssimo.
Em qualquer sociedade política moderna, a acumulação simultânea de cargos políticos e empresariais seria o suficiente para ditar a rejeição de uma candidatura por parte dos seus eleitores. Porque na definição original, governar um país é funcionalismo público. É Missão e não Acumulação Primitiva de Capital. Nos EUA, o país de todos defeitos para alguns de nós, o Presidente recebe ao longo do seu mandato muitas ofertas materiais e pecuniárias, todavia, os seus rendimentos são limitados por lei. O que significa dizer que se o valor da oferta ultrapassar o limiar permitido, ela deverá ser entregue ao Tesouro para ser transferida para Fort Knox ou oferecida a instituições de caridade. Note-se que o salário anual do Presidente dos EUA é de conhecimento público. Ronda os 400 mil US$ e inclui 50 mil US$ para despesas pessoais justificadas durante a comissão de serviço, 100 mil US$ não taxáveis para viagens, além de 19 mil US$ para entretenimento pessoal e habitação. Por seu turno, a Primeira-Dama dos EUA recebe cerca de 20 mil US$. Após o mandato presidencial, o título e algumas regalias oficiais são mantidas de acordo com a lei, cabendo ao ex-presidente 150 mil US$ de pensão vitalícia, mais 150 mil US$ para manutenção de algum staff que a dignidade do título lhe confere. E nem vale a pena comparar isto com o custo de vida médio local, ou até o PIB. Percebe-se que é um salário digno, mas não se compara com os rendimentos de um empresário médio norte-americano. Aliás, importa salientar que, de um modo geral, antes e depois dos mandatos, salvo motivos de força maior, os presidentes do EUA continuam a exercer a sua carreira profissional. Como é evidente, uma passagem pela Casa Branca é portfolio mais do que suficiente para não se morrer pobre, à custa de conferências e autógrafos.
Mas o Presidente dos EUA pode perder imediatamente o seu cargo se sonegar alguma coisa fora deste grupo de regalias. Ora, que grande contraste para quem, como eu, puder lêr no BR que até é legal receber 10% como estímulo salarial de um investimento qualquer, traduzidos num punhado de dólares, para se autorizar a concessão de uma coutada luxuosa de caça, uma fábrica de pasta de papel, uma barragem, um simples projecto para crianças desfavorecidas ou educação da rapariga, uma fabriqueta de abre-latas ou até, a manutenção ad aeternum de um projecto anti-malária num distrito qualquer para fidelizar o mercado local de consumidores de redes mosquiteiras e insecticidas avulsos, incluindo o perigoso DDT.
E o pior, ainda se vem a terreiro e com cobertura mediática reclamar Grandes Feitos para a nação!
Tudo isto é absolutamente surrealista, mas é o modo de se pensar e viver hoje em Moçambique... Habituou-se neste país, a contentar-se sebastianicamente com rótulos. Um consultor de imagem é agora o dono da profissão mais lucrativa do nosso mercado. Há uma profusão de firmas de marketing e de comunicação e imagem. Paga-se para se ter uma imagem limpa e antiséptica, pouco se trabalha para não se emporcalhar a própria imagem. Dane-se o desempenho das instituições e quiçá do próprio país. Não há problema, um pornocrático sistema publicitário, umas t-shirts e uns bonés na dose certa resolvem.
Um enxame de consultoras legais e financeiras nos cerca, com os mais espantosos gurus da gestão e das leis cintilando no seu quadro, especialistas em soluções do tempo da pedra lascada, com o propósito uno de preservar o monopólio e a cartelização de franjas do mercado. Nada de positivo trazem para a economia real de Moçambique, porque não produzem nada, senão relatórios e muito parlatório. Questionam a venda da Riversdale à Rio Tinto por 3.800 milhões de dólares norte-americanos, pelo facto Estado moçambicano não ter encaixado nem sequer um centavo, tendo em conta que as reservas de carvão, o negócio em causa, encontrarem-se em território nacional. Ora, desde os primórdios da Revolução Industrial que é sabido que uma multinacional nunca foi uma instituição de caridade. Inclusive as da Banca. E tão surpreendidos ficam com as suas descobertas, que mal se aperceberam que a siderúrgica sul-coreana Posco e a brasileira Vale estão prestes a fazer o mesmo. E que depois delas, muitas outras o farão...
Estuda-se nas nossas universidades contabilidade clássica, para criativamente se maquilhar no dia-a-dia prejuizos financeiros e penalizar-se o fomento da boa gestão com rodriguinhos de burocracia inaudita. Encoraja-se sobretudo a desonestidade intelectual, que vai ao ponto de nos dizer que nos últimos oito anos, o saldo do endividamento externo, excluindo os grandes projectos, foi além do dobro, passando de 377,2 milhões de dólares em 2002 para 907 milhões em 2009. E que a dívida global das empresas privadas, excluindo os mega-projectos, aumentou de cerca de 28% do PIB em 2002 para 41,3% em 2009. Concluindo-se que isto indicia a estabilidade macroeconómica que caracteriza o país. Não sou economista, mas dificilmente perceberei se algum deles me disser que um crescente endividamento externo é economicamente próspero e simpático para os demais moçambicanos.
Todas empresas têm passivos cíclicos ou mesmos permanentes. Perfeitamente natural numa economia de mercado, já Marx o diria. Quantas vezes não ouvimos falar de grandes multinacionais com um enorme passivo? E porventura vão à falencia? Não. Vão ao mercado procurar dinheiro. Fazem OPAs, vendem acções, refazem a sua estrutura accionista, diminuem a força de trabalho, etc. Agora, o que não vivem é de aparências. Porque é preciso apresentar sempre as contas certas para se ter credibilidade. Porque a qualidade do seu trabalho deve justificar socialmente a sua existência. Quando assim não é, sucumbe-se na crise que tudo e todos arrasa como um rolo compressor, incluindo os messias novos ou recauchutados, cavalgando em manhãs de nevoeiro...
de marchar em formação com prazer
ao som de uma banda.
Nasceu com cérebro por engano;
bastava-lhe a medula espinal
A. Einstein
Tem andado por aí na blogosfera um corropio de possíveis candidatos à PR. Ainda a procissão não vai no adro e já se jogam no tabuleiro político as mais diferentes previsões. Espantosa esta maneira de se medir a predileção dos eleitores. Oportunista, a percepção dos intelectuais do governo para quem, um Povo, tal como as moscas, pesca-se com mel e não com vinagre. É preciso semear para colher. E para tal, nem que se tenham de inventar pseudo-sondagens na síndrome de um congresso, vale tudo para se vestir agora de trajes garridos e femininos a tese peregrina do Novo Messias moçambicano, triunfalmente cavalgando em bubus e lantejoulas, as esperanças de um ansiado bem-estar.
Obviamente, todas as figuras até aqui servidas aos comensais pertencem ao mesmo conjunto universal. Seria mesmo utópico, à luz desta sociedade, pensar-se que uma mudança política poderá acontecer aqui, tal como sucede na Tunísia ou até no Egipto. Aqui, onde até já tivemos duas grandes erupções sociais por motivos parecidos, para cedo nos apercebermos quão fraccionada é a sociedade moçambicana. Daí achar natural que muita gente, mesmo reconhecendo que escolhe mal, prefere manter a sua escolha, a ter que navegar na incerteza entre o mau e o péssimo.
Em qualquer sociedade política moderna, a acumulação simultânea de cargos políticos e empresariais seria o suficiente para ditar a rejeição de uma candidatura por parte dos seus eleitores. Porque na definição original, governar um país é funcionalismo público. É Missão e não Acumulação Primitiva de Capital. Nos EUA, o país de todos defeitos para alguns de nós, o Presidente recebe ao longo do seu mandato muitas ofertas materiais e pecuniárias, todavia, os seus rendimentos são limitados por lei. O que significa dizer que se o valor da oferta ultrapassar o limiar permitido, ela deverá ser entregue ao Tesouro para ser transferida para Fort Knox ou oferecida a instituições de caridade. Note-se que o salário anual do Presidente dos EUA é de conhecimento público. Ronda os 400 mil US$ e inclui 50 mil US$ para despesas pessoais justificadas durante a comissão de serviço, 100 mil US$ não taxáveis para viagens, além de 19 mil US$ para entretenimento pessoal e habitação. Por seu turno, a Primeira-Dama dos EUA recebe cerca de 20 mil US$. Após o mandato presidencial, o título e algumas regalias oficiais são mantidas de acordo com a lei, cabendo ao ex-presidente 150 mil US$ de pensão vitalícia, mais 150 mil US$ para manutenção de algum staff que a dignidade do título lhe confere. E nem vale a pena comparar isto com o custo de vida médio local, ou até o PIB. Percebe-se que é um salário digno, mas não se compara com os rendimentos de um empresário médio norte-americano. Aliás, importa salientar que, de um modo geral, antes e depois dos mandatos, salvo motivos de força maior, os presidentes do EUA continuam a exercer a sua carreira profissional. Como é evidente, uma passagem pela Casa Branca é portfolio mais do que suficiente para não se morrer pobre, à custa de conferências e autógrafos.
Mas o Presidente dos EUA pode perder imediatamente o seu cargo se sonegar alguma coisa fora deste grupo de regalias. Ora, que grande contraste para quem, como eu, puder lêr no BR que até é legal receber 10% como estímulo salarial de um investimento qualquer, traduzidos num punhado de dólares, para se autorizar a concessão de uma coutada luxuosa de caça, uma fábrica de pasta de papel, uma barragem, um simples projecto para crianças desfavorecidas ou educação da rapariga, uma fabriqueta de abre-latas ou até, a manutenção ad aeternum de um projecto anti-malária num distrito qualquer para fidelizar o mercado local de consumidores de redes mosquiteiras e insecticidas avulsos, incluindo o perigoso DDT.
E o pior, ainda se vem a terreiro e com cobertura mediática reclamar Grandes Feitos para a nação!
Tudo isto é absolutamente surrealista, mas é o modo de se pensar e viver hoje em Moçambique... Habituou-se neste país, a contentar-se sebastianicamente com rótulos. Um consultor de imagem é agora o dono da profissão mais lucrativa do nosso mercado. Há uma profusão de firmas de marketing e de comunicação e imagem. Paga-se para se ter uma imagem limpa e antiséptica, pouco se trabalha para não se emporcalhar a própria imagem. Dane-se o desempenho das instituições e quiçá do próprio país. Não há problema, um pornocrático sistema publicitário, umas t-shirts e uns bonés na dose certa resolvem.
Um enxame de consultoras legais e financeiras nos cerca, com os mais espantosos gurus da gestão e das leis cintilando no seu quadro, especialistas em soluções do tempo da pedra lascada, com o propósito uno de preservar o monopólio e a cartelização de franjas do mercado. Nada de positivo trazem para a economia real de Moçambique, porque não produzem nada, senão relatórios e muito parlatório. Questionam a venda da Riversdale à Rio Tinto por 3.800 milhões de dólares norte-americanos, pelo facto Estado moçambicano não ter encaixado nem sequer um centavo, tendo em conta que as reservas de carvão, o negócio em causa, encontrarem-se em território nacional. Ora, desde os primórdios da Revolução Industrial que é sabido que uma multinacional nunca foi uma instituição de caridade. Inclusive as da Banca. E tão surpreendidos ficam com as suas descobertas, que mal se aperceberam que a siderúrgica sul-coreana Posco e a brasileira Vale estão prestes a fazer o mesmo. E que depois delas, muitas outras o farão...
Estuda-se nas nossas universidades contabilidade clássica, para criativamente se maquilhar no dia-a-dia prejuizos financeiros e penalizar-se o fomento da boa gestão com rodriguinhos de burocracia inaudita. Encoraja-se sobretudo a desonestidade intelectual, que vai ao ponto de nos dizer que nos últimos oito anos, o saldo do endividamento externo, excluindo os grandes projectos, foi além do dobro, passando de 377,2 milhões de dólares em 2002 para 907 milhões em 2009. E que a dívida global das empresas privadas, excluindo os mega-projectos, aumentou de cerca de 28% do PIB em 2002 para 41,3% em 2009. Concluindo-se que isto indicia a estabilidade macroeconómica que caracteriza o país. Não sou economista, mas dificilmente perceberei se algum deles me disser que um crescente endividamento externo é economicamente próspero e simpático para os demais moçambicanos.
Todas empresas têm passivos cíclicos ou mesmos permanentes. Perfeitamente natural numa economia de mercado, já Marx o diria. Quantas vezes não ouvimos falar de grandes multinacionais com um enorme passivo? E porventura vão à falencia? Não. Vão ao mercado procurar dinheiro. Fazem OPAs, vendem acções, refazem a sua estrutura accionista, diminuem a força de trabalho, etc. Agora, o que não vivem é de aparências. Porque é preciso apresentar sempre as contas certas para se ter credibilidade. Porque a qualidade do seu trabalho deve justificar socialmente a sua existência. Quando assim não é, sucumbe-se na crise que tudo e todos arrasa como um rolo compressor, incluindo os messias novos ou recauchutados, cavalgando em manhãs de nevoeiro...
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