Mas quem é?
um artigo de José Milhazes
Eu estava profundamente convencido de que era o
Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que estava na origem do milagre
económico angolano, mas enganei-me redondamente.
Afinal, o “pai da criança” é Arkadi
Gaydamak, antigo cidadão soviético, actualmente cidadão de quatro países e
fugido à justiça internacional em Israel.
É ele que o afirma preto no branco. E isto foi
revelado devido em mais um contencioso entre dois oligarcas que está a ser
julgado num dos tribunais de Londres.
Recentemente, num confronto entre Boris
Berezovski, magnata russo que ajudou Putin a chegar ao Kremlin, mas que depois
teve de fugir para Londres para não com as costas na cadeia russa, e Roman
Abramovitch, magnata conhecido por ser dono do Chelsea, ficou-se a saber o que
já se sabia: nos anos 90 do séc. XX, foi um fartar vilanagem para uns na Rússia
de Ieltsin e continua a ser na Rússia de Putin para outros. Berezovski acusou
Abramovitch de o ter roubado, mas o tribunal inglês deu razão a
Abramovitch.
Agora, as atenções prendem-se no confronto
judicial entre Arkadi Gaydamak e Lev Levaev, personagens conhecidas de qualquer
pessoa que se interesse minimamente pela história contemporânea de Angola.
Gaidamak exige nos tribunais ingleses que
Levaev que lhe pague 50% dos lucros da empresa Ascorp, que tinha direito
exclusivo de venda dos diamantes angolanos, pois existia um acordo entre eles.
Levaev diz que não há qualquer acordo, venceu a contenda em primeira instância,
mas Gaydamak recorreu.
Reconheçamos que este último tem todos os
motivos para isso, pois em jogo estão quantias significativas. Segundo Gaydamak,
Levaev ganha anualmente mais de 500 milhões de dólares com o negócio desde
2001.
Levaev pagou a Gaydamak até 2003, mas depois
deixou de receber e, quando sentiu falta de dinheiro, foi buscar a sua parte,
mas nada recebeu.
Gaydamak diz existir um acordo escrito que foi
depositado nas mãos do rabino Bem Lazar, que dirige uma das maiores comunidades
judaicas na Rússia, mas este responde que não tem qualquer documento ou que, se
o recebeu, não sabia do que se tratava e perdeu-o.
Levaev responde que não tem qualquer acordo de
parceria assinado com Gaydamak e o dinheiro que lhe entregou seria para ajudar o
segundo entregar à comunidade hebraica russa e assim ajudar Gaydamak a aumentar
o seu prestígio e a ter possibilidade de se candidatar ao cargo de presidente da
Federação das Comunidades Hebraicas da Rússia.
O tribunal inglês que decida, mas a mim
interessam as seguintes declarações que Gaydamak fez à versão russa da
conhecida revista Forbes: “A actual Angola encontra-se numa situação de
progresso em muito graças a mim”.
A guerra entre o MPLA e a UNITA também terminou
com o contributo do magnata: “eu elaborei a legislação, segundo a qual todos os
diamantes deviam ser vendidos por uma só empresa que obtivesse licença e, deste
modo, contribui para o fim da guerra”.
Segundo ele, o cumprimento da lei era observado
por uma “polícia privada”, a companhia SCG, propriedade de Dani Iatom, antigo
dirigente da Mossad, Avi Dagan, ex-agente desses serviços secretos, e do próprio
Gaydamak, transportava o dinheiro para um lado e os diamantes para outro,
garantindo a segurança das minas de diamantes e a prisão de mineiros
ilegais.
Pelo que sei, actualmente, José Eduardo dos
Santos já não tem lá boas relações com Arkady Gaydamak.
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