JERUSALÉM — Autoridades de Israel, em plena campanha eleitoral, anunciaram projetos de construção de milhares de casas em bairros de colonização de Jerusalém Oriental ocupada e anexada, mesmo após intensas condenações internacionais.
A administração municipal de Jerusalém aprovou nesta quarta-feira um projeto de construção de 2.610 casas em Givat Hamatos, no sul do setor oriental da cidade, que se tornará o primeiro bairro de colonização judaica criado em Jerusalém Oriental em 15 anos, informaram organizações de direitos humanos.
"O vice-prefeito acaba de me dizer que ele aprovou as 2.610 unidades em Givat Hamatos", declarou Daniel Seidemann, diretor da Terrestrial Jerusalem, uma ONG que vigia a colonização israelense em Jerusalém Oriental.
"Oficialmente, essa é a decisão final", afirmou Lior Amihai, um especialista do movimento anticolonização La paix Maintenant ("A Paz Agora"). "Ela será publicada nos próximos dias e haverá um período de 15 dias para que passe a valer, antes que se possa começar a publicar as concorrências".
O ministro israelense da Habitação publicou as concorrências para a construção de 1.048 novas casas em colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
A comissão de planejamento do distrito de Jerusalém deve se reunir quinta-feira para examinar a construção de 1.100 casas no bairro de Gilo.
Na segunda-feira, o ministério do Interior deu o sinal verde para a construção de 1.500 residências em Ramat Shlomo, também em Jerusalém Oriental, relançando um projeto que já foi condenado por Washington em 2010.
Após esta série de decisões, a ONU pediu a Israel que renuncie a seus projetos de novos assentamentos na Cisjordânia, reafirmando que essas iniciativas são ilegais e ameaçam o processo de paz com os palestinos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que o Estado hebreu "não continue por esse caminho perigoso, que obscurece as perspectivas de diálogo".
O representante da Rússia no Conselho de Segurança da ONU afirmou que o plano de colonização está repleto de riscos e representa uma ameaça à décadas de esforços visando a paz e o objetivo de dois Estados.
A China pediu a Israel para evitar a confrontação e os membros da União Europeia afirmaram que o Estado Hebreu está "minando a confiança" em sua disposição de negociar com os palestinos.
Os Estados Unidos qualificaram a decisão de "gesto de provocação", mas evitaram acompanhar as declarações dos demais membros permanentes do Conselho de Segurança criticando a medida.
"A intensificação da colonização e o conjunto das práticas israelenses de assassinatos e prisões nos move a acelerar nosso recurso na Corte Penal Internacional (CPI)", reagiu o negociador palestino Mohammed Chtayyeh. Tal recurso só foi possível graças ao status de Estado Observador na ONU, obtido pela Palestina em 29 de novembro.
De acordo com o jornal israelense Maariv, que cita altos responsáveis do Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, "essa avalanche de planos de construção não é somente uma sanção contra o avanço palestino na ONU e a aproximação com o Hamas, mas também um fato ligado diretamente ao processo eleitoral" visando às legislativas de janeiro.
"Antes das eleições, é preciso esclarecer suas posições", explicou ao jornal um ministro do Likud, lembrando que "o eleitorado do partido é favorável às construções em Jerusalém".
"O problema não é apenas onde se constrói, mas como são anunciadas essas construções. Esse tipo de declaração pode irritar os americanos, que poderão finalmente se virar contra nós, sem que consigamos construir", advertiu a ex-ministra de Relações Exteriores Tzipi Livni, chefe de um novo movimento centrista de oposição.
"Para manter um Estado judaico e democrático, é necessária uma solução de dois Estados", completou em visita a um conjunto de colônias de Goush Etzion, perto de Jerusalém.
Israel considera Jerusalém como sua capital "unificada e indivisível", mas a comunidade internacional não reconhece a anexação em 1967 de Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem estabelecer a capital de seu tão sonhado Estado.
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