domingo, 16 de dezembro de 2012

Guerra Bacteriológica em Moçambique

Rodesianos foram responsáveis por casos de Cólera e Antraz

Com o desenrolar da guerra civil o Governo moçambicano também passou a envenenar fontes de água e alimentação nas zonas sob controle da RNM (Resistência Nacional de Moçambique- RENAMO)
 
Maputo) Uma grande parte dos casos de “cólera” e “antraz” que ocorreram nas províncias de Gaza, Manica e Tete durante a guerra entre Moçambique e a Rodésia (1975-1979) foram causados pelos serviços de Segurança do regime de Ian Smith. A revelação vem contida num livro de memórias de autoria de Jim Parker, um antigo oficial rodesiano da Central Intelligence Organization (CIO), que serviu de elo de ligação entre aquela polícia política e a temida unidade paramilitar rodesiana, «Selous Scouts». Aliás, essa prática é em tudo idêntica à que em Moçambique foi usada pelo SNASP em parceria com os serviços secretos cubanos contra moçambicanos em luta enquadrada pela Renamo contra as pretensões dos pró soviéticos e seus aliados “anti-imperialistas” personalizados pelo regime de partido único então vigente em Moçambique.
            Parker afirma no seu livro, intitulado Assignment Selous Scouts - Inside story of a Rhodesian Special Branch Officer (Galago Publishing, África do Sul, 2006), que um grupo de reconhecimento dos «Selous Scouts» (forças especiais rodesianas) havia despejado para dentro dos depósitos de água dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), em Chicualacuala (Malvérnia no período colonial) frascos contendo o vibrião causador da cólera. A mesma bactéria foi lançada na lagoa de Madulo, na referida zona da província de Gaza, tendo causado uma epidemia de grandes proporções entre soldados das FPLM e guerrilheiros do ZANLA, braço armado da ZANU de Robert Mugabe.
            A epidemia, salienta Parker, alastrou para o interior do Zimbabwe, dado que guerrilheiros do ZANLA que infiltravam o território sob administração de Ian Smith eram portadores do vírus.
            O vibrião da cólera foi igualmente usado pelos «Selous Scouts» para contaminar lagoas na reserva de caça de Ruya na fronteira leste entre Moçambique e o Zimbabwe.
            Os tanques de água do posto administrativo de Cochemane, na província de Tete, foram também contaminados por elementos do «Selous Scouts», que usaram “um misterioso veneno” que Parker não identifica no seu livro. A área de Cochemane era utilizada pela guerrilha de Mugabe como ponto de infiltração do Zimbabwe.
            Em 1977, acrescenta Parker, os «Selous Scouts» infiltraram a região de Chicualacula, contaminando áreas de pasto com o bacilo de «antraz» para impedir que as tropas moçambicanas e os guerrilheiros do ZANLA, de Robert Mugabe pudessem comer carne bovina.  O mesmo vírus foi usado para contaminar gado bovino no interior do próprio Zimbabwe, nomeadamente na área de Mazoe e Plumtree, esta última junto à fronteira com o Botswana.
 
Inglaterra e Estados Unidos apoiaram guerra bacteriológica
 
Jim Parker cita no seu livro o antigo ministro da Saúde do Zimbabwe, Timothy Stamps, médico por formação, como tendo dito que os casos de «antraz» ocorridos no Zimbabwe durante a guerra haviam sido causados por um bacilo originário de Porton Down, no Reino Unido, o que sugere conivência britânica na guerra bacteriológica movida pelo regime de Ian Smith.  Responsáveis britânicos em Porton Down negaram qualquer envolvimento, mas de acordo com Parker, citando o Tenente General Knobel do Corpo Médico das antigas Forças Armadas Sul-Africanas, “a África do Sul havia contado com o apoio tácito não-oficial da Inglaterra e dos Estados na obtenção do vibrião da cólera e do bacilo causador do antraz.”
            O autor do livro a que temos vindo a fazer referência, menciona um relatório da CIO, com a classificação de “Muito Secreto”, o qual revela que a segurança rodesiana costumava distribuir bens de consumo e roupas contendo substâncias venenosas por lojas em zonas de guerra e que costumavam ser alvo de ataques por parte da guerrilha zimbabweana. Muitos guerrilheiros viriam a perder a vida pouco depois de haverem consumido produtos saqueados.
            Esta prática já havia sido confirmada pelo ex-chefe da CIO,  Ken Flower, no seu livro de memórias, Serving Secretely - Rhodesia's CIO Chief on Record (GalagoPublishing, África do Sul, 1987). Depois do conflito rodesiano, a CIO passou a colaborar com a sua congénere moçambicana, o SNASP (hoje designado por SISE). Com efeito,  a partir da década de 80, nas áreas afectadas pela acção da guerrilha da Renamo, ocorreram casos de envenenamento em lagoas e poços de água. Em 1983, Francisco Girmoio, um sobrinho de Afonso Dhlakama que comandava uma unidade de guerrilha, viria a perder a vida, juntamente com outros guerrilheiros, depois de ter bebido água envenenada de um poço na província de Inhambane. Sacos de farinha, contendo substâncias venenosas, foram, também, propositadamente abandonados em zonas da guerrilha.
            O SNASP, por intermédio dos Destacamentos Operativos Especiais (afectos ao Gabinete de Luta Contra Bandidos, GLCB) criados pelo coronel Sérgio Vieira (hoje DG do Gabinete do Plano do Zambeze), com assessoria da congénere cubana (LCB, Lucha Contra Bandidos) foram igualmente responsáveis pela propagação em zonas específicas da província de Inhambane de «neisseria gonorrhoeae», a bactéria causadora da gonorreia, uma doença venérea altamente contagiosa. Mulheres portadoras dessa doença foram enviadas para zonas da Renamo na expectativa de virem a contaminar as bases da Renamo. (Redacção)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 19.06.2006

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