O governo nacionalizou a HCB, Águas de Maputo e o BNI. Nas empresas CFM, LAM, TDM, Mcel e EDM já está o Estado como principal dono. A estatização mostra que continuamos um país socialista em termos empresariais, sendo o Estado o principal player e agente económico. É um modelo que asfixia a concorrência e coarta a democracia.
Com as três empresas nas mãos do Estado, o governo tem um caminho muito facilitado para assegurar o alinhamento dos seus programas de desenvolvimento nas áreas de abastecimento de água, fornecimento de luz eléctrica e financiamento a sectores desamparados, principalmente a agricultura.
Nos últimos cinco anos, o governo apercebeu-se que a velocidade dos privados era menor que as metas estabelecidas nos seus planos e decidiu forçar os accionistas maioritários a cederam o seu capital. A decisão criou ressentimentos e abriu feridas, saradas mais tarde pela filosofia soft power da diplomacia entre Maputo e Lisboa.
Nas três empresas, o Estado passou a controlar maior parte das participações, “afastando” empresas portuguesas da estrutura de comando. O antigo presidente do Conselho de Administração da Águas de Portugal, principal accionista da Águas de Moçambique até 2011, mostrou que não gostou do negócio.
Com as três empresas nas mãos do Estado, o governo tem um caminho muito facilitado para assegurar o alinhamento dos seus programas de desenvolvimento nas áreas de abastecimento de água, fornecimento de luz eléctrica e financiamento a sectores desamparados, principalmente a agricultura.
Nos últimos cinco anos, o governo apercebeu-se que a velocidade dos privados era menor que as metas estabelecidas nos seus planos e decidiu forçar os accionistas maioritários a cederam o seu capital. A decisão criou ressentimentos e abriu feridas, saradas mais tarde pela filosofia soft power da diplomacia entre Maputo e Lisboa.
Nas três empresas, o Estado passou a controlar maior parte das participações, “afastando” empresas portuguesas da estrutura de comando. O antigo presidente do Conselho de Administração da Águas de Portugal, principal accionista da Águas de Moçambique até 2011, mostrou que não gostou do negócio.
Pedro Serra disse, durante a assinatura do acordo de transferência das acções, em Maputo, que “o que perdemos não será devolvido” e que “todas as soluções seriam possíveis” para restruturar a empresa.
A estatização visa assegurar a gestão das empresas com um importante papel social e abre campo para o governo dar-lhes uma linha de orientação mais consentânea com as suas políticas de governação.
Nas LAM, TDM, Mcel, CFM e EDM está o Estado como o principal dono. Quer dizer, do ponto de vista de gestão empresarial, o país continua socialista, sendo o Estado o principal agente económico. As recentes nacionalizações mostram quanto o Governo quer controlar tudo.
ÁGUAS DE MOÇAMBIQUE
A empresa Águas de Portugal (ADP) cedeu, a 30 de Março de 2011, ao Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) os 73% das participações que controlava na Águas de Moçambique (ADM).
As autoridades moçambicanas afastaram a empresa lusa quatro anos antes do contrato de exploração terminar, e o presidente da ADP, Pedro Serra, disse que “todas as soluções seriam possíveis” para restruturar a empresa.
As participações de 73% foram adquiridas pelo FIPAG por cerca de seis milhões de euros, dos quais um milhão já tinha sido desbloqueado à ADP. O remanescente deveria ser pago até 2012, concluindo toda a operação.
As partes acordaram, também, repassar uma dívida da empresa para a nova administração. Trata-se de um crédito contraído junto ao Banco Comercial e de Investimentos (BCI), cujo valor não foi especificado.
O negócio de transferência de acções da ADP para o FIPAG foi rápido e obedeceu os prazos previstos. Mas também foi desconfortante para quem saiu. O presidente da ADP disse, mesmo, que a empresa que dirigia acumulou prejuízos e que sai numa altura em que a ADM começa a encaixar lucros.
Em 2010, a ADM teve um resultado operacional de 33 milhões de meticais, sendo a primeira vez que obteve resultados positivos desde que passou para a gestão maioritária da empresa portuguesa em 1999. Pedro Serra disse que se “conformava” com a decisão das autoridades moçambicanas, mesmo considerando que os prejuízos não serão compensados. “O que perdemos não será devolvido, mas isso não é o mais importante. A ADM tem agora capacidade para prosseguir com os projectos de distribuição de água”.
A restruturação da AdM foi recomendada pelo Banco Mundial, com vista a impulsionar o desenvolvimento da indústria nacional de água. A transferência de acções foi negociada ao mais alto nível, pelo ministro das Obras Públicas e Habitação, Cadmiel Muthemba, e pela contraparte portuguesa.
HCB
O negócio de compra das participações portuguesas na Hidroeléctrica de Cahora Bassa foi mais complicado. Portugal atrasou-se uma semana para assinar o acordo, em 2007. O negócio foi travado pela União Europeia. Era necessário contabilizar as perdas de Portugal na transferência das participações. A HCB tinha uma dívida de dois mil milhões USD junto de Portugal, entretanto perdoada, e devia pagar na hora 950 milhões de dólares.
A viabilização da operação dependia de Bruxelas, que deveria assegurar que o montante não fosse contabilizado no défice público, o que, a acontecer, faria com que Portugal ultrapassasse o orçamentado e se sujeitasse à aplicação de sanções comunitárias, no âmbito do pacto de estabilidade e crescimento (PEC).
Na sociedade portuguesa, várias vozes levantaram-se a criticar o governo de José Sócrates, acusando-o de fazer um mau negócio. Os 950 milhões de dólares tinham em conta o investimento que ainda era necessário fazer na empresa, o peso dos juros no aumento do montante em dívida ao longo dos anos, além dos longos prazos de pagamento.
Mas não era tudo. Para os bancos financiarem a reversão, precisavam de um contrato de longo prazo com a Eskon, a empresa de distribuição de energia da África do Sul, responsável pelo consumo de maior parte da produção.
Moçambique pressionou, até ao último minuto, a conclusão da operação, o que veio a acontecer a 27 de Novembro de 2007, quando passou a deter 85% das participações. Este ano, o país aumentou o seu peso para 92,5%, pagando 42 milhões de dólares.
Com o Estado à frente da HCB, a quantidade de energia fornecida à EDM para alimentar a rede nacional cresceu. Em 2007, sob o controlo do estado português, a HCB fornecia à EDM apenas 300 megawatts (MW), quantidade que subiu para 500 MW este ano, o correspondente a um aumento de 40 por cento, em cinco anos.
A ideia de nacionalizar a HCB visava exactamente assegurar os interesses da EDM, que tem em meta electrificar o país até 2014.
BNI
O Banco Nacional de Investimentos (BNI) nasceu sem o ritmo que determinou a sua criação. Portugal e Moçambique calcularam injectar um capital social de 500 milhões de dólares norte-americanos, mas realizaram apenas… 70 milhões de dólares.
Este banco foi montado com várias obras em vista, principalmente a construção da ponte Maputo-Katembe, espinha dorsal e central norte da HCB. Nenhuma destas obras está a ser erguida com dinheiro daquele banco, controlado pela Caixa Geral de Depósitos (49,5%), direcção Nacional do Tesouro (49,5%) e Banco Comercial e de Investimentos (BCI).
Esta semana, o governo anunciou que o Estado, através do Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE), passará a controlar 100% das participações do banco, devendo fechar a transferência das participações até Junho do próximo ano.
O ministro das Finanças, Manuel Chang, explicou que o banco estará virado ao financiamento da agricultura e infra-estruturas, uma resposta à necessidade de criação de um banco de desenvolvimento capaz de financiar sectores de risco.
O BNI é o braço do Estado no financiamento de projectos de forte impacto social, enquanto a HCB e Águas da Região de Maputo são empresas estratégicas, alinhadas com os interesses do Estado.
O PAÍS – 14.12.2012
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