Friday, November 23, 2012

Quatro grandes grupos lutam pelo “controlo” de Guebuza

10/07/2005

 

<>Interesses de grupo sobrepõem-se aos interesses da Nação



Convivendo e conversando longamente com quadros, militantes e dirigentes da Frelimo, percebe-se, com alguma facilidade, que estão já desenhados e digladiam-se pelos corredores do poder quatro grupos de interesse que lutam pelo controlo do PR.
Convivendo e conversando longamente com quadros, militantes e dirigentes da Frelimo, percebe-se, com alguma facilidade, que estão já desenhados e digladiam-se pelos corredores do poder quatro grupos de interesse que lutam pelo controlo e influência de Armando Guebuza, o camarada que foi eleito sem margem para duvidas nas eleições de Dezembro do ano passado para dirigir o Estado moçambicano.

Cada um à sua maneira, os grupos reclamam para sí o protagonismo, nem que para tal tenham que ofuscar outro grupo, numa estratégia que acaba prejudicando o grande e sensível sistema que Governa Moçambique desde 1975. Vejamos a resenha que se desenha, resultante de conversas com quadros preocupados por aquilo que está a acontecer, nomeadamente no circulo de influencias do antigo “homem de cachimbo”, antes acessível aparentemente a todos, mas agora, rodeado apenas por uns poucos.

Na intricada roda de poder de Armando Guebuza, há um grupo que é conhecido por grupo 1. Este grupo é constituído por veteranos da Luta Armada de Libertação Nacional de raça branca ou mestiça ou indiana que brilharam como estrategas políticos no tempo do presidente Samora Machel, mas que nos últimos 18 anos, estiveram na sombra por varias razões que só a liderança de Joaquim Chissano pode explicar.

Tal grupo pequeno mas influente, soube manter-se calado durante os últimos 18 anos, mas não era do seu agrado o estilo de governação que era levado avante pelo mais prestigiado diplomata moçambicano.

Sucede que este grupo, sente que está de volta com a subida ao poder do camarada Guebuza e desenha, executa e lança aos olhos da opinião pública, a ideia de que “a Frelimo está de volta” e “essa coisa da democracia não dá”.

Por conta e risco próprios, este grupo manipula jornais e algumas bases sobretudo junto dos antigos combatentes, valendo-se do facto de ser detentor de factos históricos relevantes dos últimos 40 anos da vida política do País.

Para os olhos de outros grupos, este é visto já e tão cedo como sendo um grupo perigoso, porque representa a ala ortodoxa e caduca da Frelimo que incapaz de perceber as regras de jogo numa democracia do estilo moçambicano, prefere jogar no duro, com tendência para ressuscitar o monopartidarismo, as guias de marcha e até ensaiar soluções tipo “Operação Produção”.
Cuide-se pois o País com este grupo que emerge, como se não tivesse estado cá nos últimos 18 anos.

Grupo II Generais à deriva

O Grupo II é constituído por generais da Luta Armada de Libertação Nacional que de uma ou de outra forma estiveram à deriva nos últimos anos da governação de Chissano, sobretudo por terem perdido o protagonismo e as mordomias próprias para eles, num País em guerra.

Com a assinatura do AGP, estes generais passaram de figuras de primeiro plano para terciários, alguns dos quais acomodados, sem dizerem nada na Assembleia da república onde acham que “a Renamo abusa muito”.

Com a subida de Guebuza ao poder, este grupo que é numeroso, mas é basicamente falido, espera recuperar o seu natural e histórico protagonismo, mas não consegue, para já, queixando-se de não ter acesso ao chefe porque este é quase posto inacessível ou pelos seus jovens acessores ou pelo Grupo I já descrito.

O Grupo II, apesar de falido economicamente e de ser composto por iletrados, joga influencias por dominar a área militar e por estar acima das tribos.

O grupo dos generais também considera que o “camarada Guebuza é nosso”, apesar de tão cedo começar a reclamar por o dirigente máximo não dar espaço.

Há um pormenor aqui: um influente general pertencente a este grupo com “linha aberta” para falar com o Chefe é já acusado de não levar bem a tarefa, pois em ambientes de copos é o primeiro a lançar intrigas sobre grupos de camaradas; é o primeiro a usar uma estratégia de divisão nos novos esquemas do poder no País.

Alerta-se, pois ao Chefe máximo para a postura deste seu conselheiro, que se alega, joga muito em defesa de uma sua conhecida tribo muito forte do Norte do País.

Grupo III: O poderoso “deixa - andar”

O Grupo III que também se exercita com perícia e inteligência é o que tem como componentes, maioritariamente, os antigos membros do governo de Joaquim Chissano, sobretudo dos últimos dois mandatos.

Este grupo é influente, em razão dos conhecimentos técnicos e científicos que domina e sobretudo em razão do seu poderio económico-financeiro, resultante nem sempre de esquemas limpos.

Este grupo manipula os restantes grupos, nomeadamente os antigos combatentes concentrados maioritariamente no Grupo I e os Generais à deriva que se localizam no Grupo II.

O Grupo do deixa andar não o proclama, porque fica mal, mas está sempre pronto a celebrar uma gaffe de um ministro ou assessor presidencial da era Guebuza, como quem diz que se pelo menos nao promove bebedeira em casos que tais, pelo menos ajuda a abrir o champanhe para o brinde nem que seja no quarto com a mama.

O Grupo do “deixa-andar” farta-se das baboseiras que volta e meia são emitidas em público pelos porta-vozes do Grupo I. Paga whisky a generais frustrados do Grupo II e manipula alguns assessores e actuais ministros de Guebuza.

Alguns elementos deste grupo, são acusados de se terem infiltrado já na nova equipa ministerial de Armando Guebuza, ao ponto de influenciarem, bastante, as decisões no Conselho de Ministros actual.

Dois exemplos: circulam propostas já formais para a nomeação de embaixadores no exterior. Alguns nomes já sugeridos são protegidos directamente por alguns quadros do anterior Governo o que levanta vozes contra nas bandas do grande edifício virado à Catembe.

Outro exemplo que aponta infiltração do chamado espírito no “cachimbo” do chefe refere-se à participação de Armando Guebuza numa Feira na Zâmbia esta semana.

Nos grupos em luta, é descrito como escandaloso o facto pequeno mas significativo de que Américo Magaia, o boss que melhor entende das Feiras no País não ter sido achado nem consultado sobre o assunto o que levantou sensibilidades várias.

Grupo IV: Os lutadores da sombra

No meio dos que pretendem o “controlo” da caneta de Armando Guebuza nestes primeiros meses da sua governação, perfila o chamado Grupo de retaguarda, também conhecido por grupo sombra.

São jovens que tendo bebido da Frelimo nos últimos 20- 25 anos- sempre acharam que o poder real já não era o político mas o económico.

É este grupo, sobretudo de negros, que também acha que os restantes grupos estão a executar uma estratégia de separatismo, estão a defender interesses de grupo e não do País.

Este grupo diverge com o populismo demonstrado e defendido pelo Grupo I; não concorda com o Grupo dos generais que se alega são de fácil manipulação; não concorda com certa postura de magistrados que aparentando falta de estratégia, é capaz de ser o responsável pela derrocada do projecto Guebuza.

Na verdade, este grupo de políticos espalhados quase em todos os escalões de direcção da Frelimo, (o Grupo IV) acha que há um perigo latente no sistema democrático moçambicano que é a Justiça ou parte dela que pelas indicações e insinuações que vem ensaiando nos jornais, pode surpreender a tudo e a todos mandando prender figuras incontornáveis deste País muitas vezes a partir de boatos.

A acontecer isto, estaremos numa espécie de caça às bruxas e ai sim, o Grupo I estará aliado a certas alas da Justiça, actuando sem responsabilidades.

O Grupo IV não pactua com estas estratégias, pois acha que Armando Guebuza e um nacionalista que deve dar chance aos moçambicanos de usufruírem da sua independência.

Para tanto, este grupo sugere um pacto entre os vários círculos de interesse que quase que capturam Armando Guebuza e o mantém fechado em copas.

A principal mensagem deste grupo é esta: apesar de que nunca será como dantes, deixe-se Armando Guebuza consultar-se como e quando quiser com quem quiser e a hora que quiser, como sempre foi o seu estilo de trabalho.

É que, dizem, se continuarem uns a querem protagonismo com base em passados e presentes, o projecto que é a Força da Mudança morrerá no papel.
E era uma vez o combate à Pobreza Absoluta.

Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 08.07.2005
 

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