Por Samilo Moreira
As
organizações partidárias da juventude foram criadas pelos partidos como forma
de implantação partidária junto dos mesmos, isto é, foi uma forma inteligente
de atrair, consciencializar, materializar a ideologia, e renovar os partidos.
Apesar desse princípio, de torna-lo num centro de aprendizagem democrático e de
cidadania activa, o mesmo, exclui os jovens nas posições de tomadas de
decisões. Isso faz com que suas funções sejam subsidiárias dos partidos
políticos, isto é, orientadas somente para eles.
Como
Jovem e Militante, um dos problemas que reparei no seio da política, seja no
partido central seja nas Jotas, é que geralmente os melhores e os “contras” são
“trucidados pela máquina”, ou seja pelos lóbis corporativistas dentro dos
partidos, constituídas por pessoas com falta de ética, de personalidade, sem
ideias, que temem pela mudança e que facilmente se embeiça por demagogos e
cereja no topo do bolo; o que acaba por infiltrar e reflectir em outras áreas
da nossa sociedade. Tristemente, essa é a característica do nosso
amado Pais.
Actualmente, como em qualquer país com Democracia a participação
política dos jovens é semelhante, isto é, há pouco interesse directo dos mesmos
na vida política. Neste momento podemos dizer que a juventude cabo-verdiana é
apática, e os Jovens políticos subservientes e demagogos, salvo alguma
excepção. A culpa em concreto para a diminuição da participação dos jovens no
contexto da politica nacional (mesmo sabendo que nem todos refutam a política)
é dos próprios partidos políticos, que não apresentam programas para estimular
a juventude a assumir cargos internos nas siglas partidárias de maneira que não
criam suspeição da sociedade e nem de quem têm ligação partidária, que limitam
ou escolhem para certos cargos pessoas disponíveis a serem apenas
porta-voz do partido para a Juventude (a culpa é de quem quem também aceita tal
função), que não tem faculdade e autonomia de critica e discordância, e que
dificultam o máximo a entrada da sociedade civil nas siglas partidárias. Mas também,
é das Juventudes Partidárias, que hoje não têm o peso nem a capacidade de
influenciar os partidos que deveriam ter - a não atenção mediática em torno das
suas iniciativas (não trabalham para a ter) – ajudam a subalternizar o seu
papel e aumenta a desconsideração da juventude Cabo-verdiana em relação à
participação cívica dos partidos.
Precisamente por isso, há um défice de
representação política da juventude que se manifesta no seu afastamento no
processo de decisão das políticas que os afetam. Basta ver as Moções de
Estratégias das Listas Candidatos a liderança da JpD e da JPAI. Constatarão que
os mesmos não passam de clichés, e que nenhuns deles sabem (ou fingem
deliberadamente) realmente quais os défices (para além da económica) a mudar em
Cabo-verde, que pode realmente mudar o nosso País. Gostaria daí, de ter visto
bem fundamentado nos programas Eleitorais das Candidaturas desses Jovens,
premissas como :
- Lutar
para acabar com o quietismo cívico dos jovens, que acontece mesmo quando o
cerco se aperta;
- Lutar
contra o modo silencioso e vexado como os crioulos contemplam os governantes;
- O
povo ainda não tem a percepção de que os credores do Estado são eles, por isso
desligam da gestão dos dinheiros públicos. Por isso, educar as pessoas para
exigirem a mesma eficiência de gestão que os accionistas exigem aos
responsáveis de uma empresa privada;
-
Alteração dos Estatutos que impedem que as grandes decisões, como a escolha dos
candidatos para qualquer cargo eleito dos partidos, não sejam efectuados pelos
delegados, mas sim pelos Militantes. Qualquer líder partidário quando
confrontado com o porquê de haver uns que dominam e repelem uma participação
mais popular e democrática das pessoas estranhas aos quadros históricos do
partido, utilizam os regulamentos do partido para provar que o partido é de
livre para qualquer um.
Se há algo que não é democrata nem livre são os
regulamentos internos dos partidos, que simplesmente foram feitas para haver
corporativismo. A partir do momento que a escolha e os desejos dos Militantes –
OS VOTOS - foram substituídos pelos dos Delegados e do Conselho Nacional –
métodos comunista – a democracia interna deixou de existir. É uma forma legal,
mas não Democrática de acabar com a meritocracia, a liberdade, a transparência
e o maior obstáculo para a abertura efectiva dos partidos – é nesse sentido que
esse termo é utilizado .
Existem
outros entraves claros que represam os jovens de participar activamente na
política, como por exemplo:
- A
falta de confiança nos actores políticos (aqueles que acreditam, e que
realmente querem mudar alguma coisa no nosso país inscrevam-se nos partidos
políticos a vossa escolha e protestem no seu interior);
- O uso
de métodos e comportamentos arcaicos e inaceitáveis de tentativa de manipulação
por parte da quase totalidade dos políticos, que a sociedade já não atura
(também a causa para o elevado taxa de abstenção; que não se traduz totalmente
na falta de interesses dos jovens na situação económica, política e social do
país). É neste contexto que o argumento do desinteresse dos jovens pela
política revela um pouco injusto. Essa forma de fazer Política à moda dos
países latinos e napoleónicas nos levará para o mesmo caminho que se encontra
os referidos países (as causas são idênticos e as consequências também o
serão);
- A
cúpula (veterana e seus “jovens descendentes”) querem pessoas para assumirem
cargos por favores e fraudes, de forma que possam assegurar com maior
probabilidade e tranquilidade os seus interesses hoje, e no futuro etc,
A qualidade
presente e futura de cada regime democrático avalia-se, entre outros, pelo
cumprimento das regras, dos deveres, e pela ética de cada um dos titulares de
cargos políticos e públicos. O problema dessa incapacidade das Jotas, reside no
facto desta nova geração de líderes não pretenderem a mudança, mas sim a
manutenção eterna das condições da geração anterior, isto é, as Jotas estão a
ser a continuidade da proliferação da corrupção moral e ético, à espera da sua
vez de ser como os outros; os que já lá estão, no partido central.
Tendo em
conta a postura idêntica aos seus líderes dos jovens políticos, a sensação
é assustadora, e leva-me a pensar que mesmo no futuro, vai-se a perpetuar-se a
ascensão inexorável ao poder governativo de carreiristas-politico-partidário –
ser já institucionalizado - formados por Jovens sem virtudes e muito menos com
sentido de estado e altruísmo, cujo interesses nos bens públicos é
terrivelmente egoísta, e de real desprezo pelo interesse das
populações.
Apesar dos avanços acadêmicos conseguidos, é algo que
ultrapassa o senso comum saber que o desejo maior- se não uma exigência, - da
grande parte dos jovens políticos (licenciados ou não), é serem funcionários
públicos - deputados eternos em particular. Por isso, provavelmente convencido
e avido de pertencer às "ditas elites”, as quais, para quem não quiser ser
falso, são as grandes responsáveis do estado do País, quer porque se revelam
incapazes de potenciar um crescimento educacional do mesmo, quer porque "
apenas" veem e se preocupam com os seus jogos florais para as levarem ao
usufruto dos parcos meios que Cabo-verde dispõe.
Até agora, as Juventudes
Partidárias não conseguiram uma total “democracia intelectual”, porque grande
parte dos jovens não estão afim e não têm coragem e enfrentar o sistema, por
medo de os mesmos possam ser prejudicados nas suas carreiras políticas e
profissionais. Apoiar na tese que só se consegue arranjar trabalho por cunhas -
algo que as nossas organizações político bem cultivam - é o eufemismos para deixar
de tentar criar, inventar, buscar (e também lutar) para ser empreendedor (em
todos os sentidos), e legalizar o acto.
A nossa geração tem muito mais mundo e
é mais bem-educada do ponto de vista acadêmico do que os que nos
governam, somos até o momento a geração mais bem preparada do ponto de
vista acadêmico, mesmo assim o sistemas instalado é de tal forma potente,
que exclua dos centros de decisão as camadas jovens com níveis educacionais
superiores aos dos seus progenitores. Se não lutarmos para melhorar o nosso
país - lutando contra os malfeitores - e em prol do seu desenvolvimento,
castrando os erros que impedem o desenvolvimento sustentando (em particular dos
mais desfavorecidos e mais necessitados) teremos uma sociedade jovem ainda mais
sombreada, sem alegria, sem horizonte, atávicos com as suas vidas frustradas e
adiadas.
E essas situações dão sempre aparecimentos radicais (radicalismo
social) podendo muitos desses enveredar por caminhos de criminalidade (já está
instalado) que irá certamente destruir os seus futuros, tornar a nossa
sociedade ainda mais pobre e a política um labéu a evitar.
Protestar,
discordar, opinar no interior do próprio partido, procurando a renovação dos
seus dirigentes e o protagonismo de pessoas realmente competentes com discursos
claros e objectivo, ético e moral, idôneo e com sentido de estado em
prol do bem comum, tem de fazer parte do dever cívico de quem faz politica ou
pertence a um grupo partidário. “Aqueles
que no exercício da liberdade de expressão optam por ficar calados ou apenas
por elogiar o que consideram certo, reduzem esse direito fundamental a um mero
instrumento de conveniências”.(1). Até agora, esse tem sido o
pragmatismo crônico da maioria dos Jovens Políticos .
Samilo Moreira
(1)
Marinho Pinto - Bastonário da ordem de advogados de Portugal.
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