RIA
Novosti
|
Em outubro a Crise do Caribe de 1962 completa 50 anos. Sobre este acontecimento dizem que o mundo então esteve na beira da guerra nuclear. O cálculo era de horas.
Em resposta à instalação de mísseis russos em Cuba, os americanos
estavam dispostos a começar as operações de guerra. E justamente graças a
programa da Rádio Moscou Internacional (atualmente Voz da Rússia) na
América ouviram a mensagem da direção soviética com propostas construtivas. Em
entrevista à Voz da Rússia o conhecido observador político e escritor,
Valentin Zorin, veterano do jornalismo de rádio e televisão russas, contou sobre
os acontecimentos daqueles dias.
Os primeiros sinais de tensão entre as duas potências surgiram em
junho de 1961. Então o dirigente da URSS, Nikita Khrushov, pela primeira vez se
encontrou com o novo presidente dos EUA, John Kennedy em Viena. Eles debateram
questões do estabelecimento de fronteiras da Alemanha e do desarmamento nuclear.
Os EUA queriam a proibição de seus testes. Entretanto Khrushov não levou Kennedy
a sério, chamando-o de “moleque” pelas costas e conversando com ele em tom de
sermão. Valentin Zorin, que acompanhou o líder soviético, recorda:
"Depois do primeiro dia de conversações nós quatro nos sentamos à
noite num pequeno bar em nosso andar. De repente abriu-se a porta e entrou
Khrushov excitado. Era evidente que ele queria se abrir, então não se costumava
realizar conferência de imprensa. E ele começou a nos contar. Foi uma grande
sorte – nós anotamos de primeira mão tudo o que ele disse. E Khrushov terminou
assim: “Sabem, rapazes, o presidente é jovem, “verde”. Farei com ele o que
quiser."
Justamente depois deste encontro Khrushov consolidou sua decisão
de instalar mísseis em Cuba. No verão de 1962, foram instalados 42 mísseis com
ogivas nucleares e bombardeiros na ilha. Mas quando o serviço secreto americano
informou sobre a presença de mísseis soviéticos perto dos EUA, começaram longas
e difíceis conversações.
O ponto culminante da crise foi o “sábado negro”, 27 de outubro,
quando um dos aviões-espiões americano foi abatido sobre Cuba e seu piloto
morreu. Os americanos já estavam dispostos a ações decisivas – recorda Valentin
Zorin:
“Naquela época eu estava em Washington e fui testemunha da
situação muito tensa lá. Através de meus contatos e colegas eu soube que o
círculo do presidente, inclusive seu irmão Robert Kennedy insistiam em ataque
imediato contra os mísseis em Cuba e também contra os navios soviéticos, e se os
navios continuassem a navegar em direção a Cuba, . Pode imaginar o que seria tal
ataque contra nossos mísseis? Sendo que não apenas mísseis, mas mísseis com
recheio nuclear. E adiante? Está claro o que poderia acontecer adiante. Estes
foram dias muito tensos. Eu até mesmo diria que na América então havia uma
atmosfera de histeria de guerra, sendo que não apenas na elite governante.”
A parte soviética tinha de tomar uma decisão imediata. Por canais
diplomáticos demoraria muito a transmitir informações. Usaram as emissões
internacionais – a Rádio Moscou internacional, sucessora da qual é a Voz da
Rússia. Valentin Zorin lembra:
“À noite tocou o telefone em meu quarto de hotel em Washington.
Colegas da redação disseram que dentro de meia-hora a rádio transmitiria
comunicado de extraordinária importância. E pediram para que eu, usando meus
contatos, telefonasse imediatamente para os colegas americanos na televisão, na
redação para que eles ligassem a Rádio Moscou, porque na América nem todos
ouviam a Rádio Moscou. Desse modo eu fui um pequeno elo na corrente. A
transmissão da Rádio Moscou foi ao ar meia hora depois. Em 27 de outubro de 1962
a declaração do governo soviético foi transmitida pela rádio antes que fosse
recebida oficialmente em Washington.
A televisão, todos os canais federais dos EUA interromperam os
programas e transmitiram o comunicado urgente, que dizia:
“Nós concordamos em retirar de Cuba os meios que consideram
ofensivos. Concordamos em fazer isto e declarar na ONU este compromisso. Seus
representantes farão uma declaração de que os EUA, considerando a inquietação e
preocupação do Estado soviético, retirarão seus meios análogos da Turquia”.
Todos os meios de informação de massas publicaram imediatamente
esta mensagem. Os jornais americanos publicaram imediatamente números extras e o
comunicado, transmitido pela Rádio Moscou, tornou-se conhecido de todos. A
tensão diminuiu e a crise passou.
Depois da crise do Caribe entre a Casa Branca e o Kremlin foi
estabelecida uma linha telefônica direta. Através do chamado “telefone vermelho”
(red phone) Moscou e Washington podem trocar a tempo e rapidamente
comunicados codificados.
Sem comentários:
Enviar um comentário