Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
Das greves de mineiros o passo
seguinte será a perseguição dos estrangeiros na África do Sul…
Beira (Canalmoz) - Como
habitualmente, os governantes africanos e neste caso os sul-africanos, estão
ignorando os sinais dos tempos e deixar que as “surpresas” sejam a forma eleita
de governar.
Com as greves do sector mineiro
alastrando-se, com despedimentos de milhares de trabalhadores um dos resultados
que se pode esperar é a radicalização da força de trabalho sul-africana. Se a
opção dos trabalhadores provenientes de outros países se traduzir em não adesão
às greves, haverá decerto repercussões rápidas e violentas como antes já se
verificou.
A xenofobia é um fenómeno mais ou
menos em hibernação permanente na África do Sul. Sempre que surjam condições de
“temperatura” apropriadas e neste caso são os salários, rebentam as greves e
com elas, ondas de xenofobia.
Politicamente o governo
sul-africano não tem manifestado aquele interesse que deveria ser visto
atendendo que o ANC partido no governo na África do Sul contou com solidariedade
e apoios multiformes de cidadãos e governos de países vizinhos na sua luta
contra o apartheid. Os sul-africanos numa posição manifestamente de arrogância
e prepotência atacam desalmadamente trabalhadores estrangeiros acusando-os de
fura-greves e de roubarem seus postos de trabalho. Há uma ignorância
generalizada numa sociedade habituada a altos níveis de violência,
assassinatos, estupros, violação sexual.
Numa atitude abertamente
populista os governantes não atacam o problema da xenofobia com vigor e rigor.
Há uma percepção de que ir a favor dos trabalhadores estrangeiros seria alienar
uma parte importante do eleitorado. A África do Sul nesse sentido é um barril
de pólvora a espera de explodir. A qualquer momento, parte dos políticos, pode
entender que accionar a estratégia xenófoba lhes vai garantir votos.
Com tanta precariedade e falta de
políticas de criação de emprego atractivo, salários que retenham a mão-de-obra
nos diferentes países vizinhos, vamos assistir a um aumento do número de trabalhadores
procurando trabalho na África do Sul. Com um deficit de postos de trabalho que
a economia sul-africana pode realmente oferecer e tomando em consideração que o
país também sofre pressão de traficantes de drogas, tráfico humano ou
escravatura sexual, deficiências e desequilíbrios estruturais e
infraestruturais, vamos ter uma situação nos próximos tempos muito complicada e
com grande potencial de volatilidade.
Pode ser que este ponto de vista
não corresponda a realidade e seria bom que assim fosse. Mas para repetir,
parece-nos que os diplomatas e governantes africanos da África do Sul e seus
vizinhos estão efectivamente dormindo, hibernado e esquecendo-se de suas
responsabilidades.
Com uma governação ausente,
incapaz de antecipar cenários e trabalhar no sentido de os precaver, existe o
risco bem real de a região se ver envolvida em violência de repercussões
inimagináveis. Se as vagas de xenofobia anteriores foram recebidas com surpresa
e sem retaliação ninguém pode antever que a reacção a uma nova onda de
xenofobia seja recebida da mesma forma.
Outra perspectiva que não pode
ser ignorada é o facto de a SADC, organização regional que abarca a maioria dos
países da África Austral não se mostrar interventiva nem propondo soluções para
os problemas existentes na região.
Há um conjunto de governos
representando formalmente países mas os integrantes desses governos não se
estão revelando portadores ou iniciadores de pensamento tendente a abordar e a
propor soluções proactivas e correspondentes ao que se vive e sobretudo ao que
é necessário fazer nos dias de hoje.
Os perigos que espreitam são
reais e já antes se revelaram sérios, preocupantes, violentos e sangrentos.
Urge alertar os diplomatas e
políticos da região sobre a necessidade de olharem com olhos de ver para este
tipo de assuntos com implicações e consequências regionais.
Não se pode adiar intervenções e
abordagens que tragam os elementos necessários para que governos, entidades
empresariais e sociedade em geral encarem e resolvam os problemas pendentes.
Uma coisa é aceitar que temos
problemas e que as economias são interdependentes e outra coisa bem diferente é
entrar em considerações excessivamente chauvinistas com benefícios de curto
prazo.
A fórmula que o governo do ANC
escolheu para lidar com a anterior onda de xenofobia denota fragilidades
analíticas ou pelo menos apreciações que revelam algum desprezo para com os
vizinhos e seus governos. Será como que dizer que “são fracos e dependentes”,
jamais farão coisa alguma contra a África do Sul e seus interesses?
A isso não se pode chamar de
política externa consistente com os objectivos de integração regional e aos
governantes que assim procedem são claramente representantes do tipo que os
países e cidadãos não podem continuar protegendo ou elegendo… (Noé Nhantumbo)
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