segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Caso do assassinato do ex-SG da Renamo, Evo Fernandes


Sérgio Vieira foi quem planeou assassinato de Evo Fernandes - segundo livro de Paulo Oliveira

 

O actual director do «GPZ-Gabinete do Plano do Zambeze», coronel na reserva Sérgio Vieira, foi quem planeou a operação destinada a eliminar o Secretáriogeral da Renamo, Evo Fernandes. A revelação foi feita por Paulo Oliveira, ex-representante da Renamo para a Europa ocidental, num livro de memórias recentemente lançado em Portugal com o título “Renamo, uma descida ao coração das trevas”.

Oliveira, que se assume como agente do «SNASP – Serviço Nacional de Segurança Popular» desde 1979, fundamenta a revelação em conversas tidas em Maputo com oficiais de altapatente

Afectos à «D-13», a divisão da polícia política que tinha a seu cargo as “operações externas”. De acordo com o autor, a operação “há muito fora delineada, mas mantida no «congelador», desde os tempos de Sérgio Vieira como ministro da segurança”.

Na altura do assassinato de Evo, o SNASP era dirigido por Mariano de Araújo Matsinhe. Sérgio Vieira foi designado ministro da segurança em 1984, tendo sido substituído por Matsinhe no cargo pouco após a morte de Samora Machel. No entanto, era responsável pelo Departamento de Segurança da Frelimo desde a independência de Moçambique, nomeadamente na fase em que ocorreram outros assassinatos políticos em território nacional.

O antigo secretário-geral da Renamo foi encontrado morto em Cascais, arredores de Lisboa, em Abril de 1987. O autor material do crime, o cidadão português Alexandre Xavier Chagas, viria a ser detido em Marrocos e posteriormente levado para Portugal.

A polícia portuguesa conseguiu localizar o paradeiro de Chagas dado que este não regressou de imediato a Moçambique conforme o inicialmente planeado. O contratempo, segundo Oliveira, foi devido a atrasos no envio de uma verba pelos seus “controladores” em Maputo. Efectivamente, Oliveira cita Betinho Wate, um dos responsáveis da «D-13», como lhe tendo dito em Maputo que “as verbas não haviam chegado a horas certas”, o que resultou naquilo que

o oficial da secreta da Frelimo descreve como “a merdice de Marrocos”.

SNASP também assassinou ex-embaixador moçambicano

No seu livro de memórias, Oliveira volta a citar Wate, assim como o responsável pelas finanças da «D-13», António Mula, como tendo referido que a morte de João Ataíde, ex-embaixador moçambicano em Paris, fora da responsabilidade de agentes do SNASP propositadamente enviados ao Malawi. Na altura do crime, Ataíde regressava do quartel-general da Renamo

na região de Gorongosa. Tratou-se de uma “vingança” do regime da Frelimo pelo facto de Ataíde ter aderido à Renamo uma vez abandonado o cargo de embaixador, lê-se no livro de Paulo Oliveira. Já em relação a Mateus Lopes, morto na companhia de João Ataíde, Oliveira volta a citar os referidos oficiais da «D-13» como tendo dito que a vítima era um agente ao serviço do SNASP e que a polícia política da Frelimo decidira liquidá-lo por ser “um agente gasto, mais que descoberto e denunciado ...um agente “queimado”.

Recorde-se que João Ataíde e Mateus Lopes, cujo nome verdadeiro era José Alfredo da Costa, apareceram mortos numa estrada no Malawi, junto à fronteira com Moçambique, naquilo que

foi então visto como uma simulação de “acidente rodoviário”. Na altura, como parte de uma campanha de desinformação orquestrada a partir de Maputo, o regime da Frelimo atribuiu a morte de Ataíde e Mateus Lopes aos serviços secretos sulafricanos os quais teriam alegadamente agido em conivência com as autoridades malawianas. Idêntica campanha de

desinformação foi montada a respeito do assassinato de Evo Fernandes.

Paulo Oliveira, que tinha o nome de código “Alcino” enquanto ao serviço do SNASP, foi enviado de Maputo com a missão de infiltrar a delegação da Renamo em Lisboa. O agente secreto “Alcino” conseguiu atingir esse objectivo em Agosto de 1981.

Em Janeiro de 1983 foi destacado para dirigir a emissora da Renamo na África do Sul. Oliveira regressou a Portugal logo a seguir à assinatura do Acordo de Nkomati em Março de 1984. Três anos mais tarde desligou-se da Renamo devido a desentendimentos com Evo Fernandes, para em 1988 surgir de novo em Moçambique. Analistas políticos interpretaram o regresso de Oliveira a Maputo como uma tentativa do regime da Frelimo em dar corpo à sua política de “amnistia” concedida aos “bandos armados” já que na prática ninguém havia passado para as hostes do regime. Para além de Oliveira, o regime da Frelimo “amnistiou” igualmente Chanjunje Chivaca João, um outro agente do SNASP que havia infiltrado a delegação da Renamo em Lisboa.

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.07.2006

1 comentário:

Anónimo disse...

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