Carta a Bancada Parlamentar da RENAMO
Caros concidadãos,
Acabo de ler uma reportage muito breve num dos jornais publicados em Maputo, com um teor breve e directo ao assunto, Segundo o jornal cita “as suas reivindicações pretende negociar a gestão de Processos Eleitorais, a reorganização do exército, a reestruturação e reformas profundas a nível da Polícia da República, para além da constituição da Força de Intervenção Rápida (FIR)”. Este é um assunto que deve ser discutido no parlamento, e cabe a RENAMO propor com argumentos convincentes e inequívocos para que a FRELIMO e o MDM aceitem como uma reivindicação legítima e de interesse nacional. Vir ao público, incluindo neste caso a comunidade internacional apresentar reivindicações sem antes explicar de uma forma concisa e factual o porque das reivindicações, acaba sendo um exercício fútil e continuamente demonstra falta de criatividade e seriedade no exercício político.
Processos Eleitorais
Que eu saiba, ou o que já é de domínio público, a RENAMO já avançou com algumas propostas para a revisão da lei eleitoral, composição da CNE. Tais propostas não tiveram o impacto nem ímpeto desejado porque a FRELIMO usou a ditadura do voto (maioria parlamentar) para rejeitar as propostas, e ao que parece fez (porque sempre faz) de forma arrogante e humilhante só para contrariar. Mesmo os mais ferrenhos ideólogos da FRELIMO sabem que a lei eleitoral foi propositadamente feita para reduzir a oposição (RENAMO + MDM e qualquer tentativa de coligação) em insignificante. Como resolver esse assunto? Simples! Preparem um programa político que atraia a enorme quantidade de eleitores que sempre se abstém nos pleitos eleitorais. Esses eleitores são de um número tão significativo que se votassem todos no vosso projecto dar-vos-iam o número de assentos necessários para neutralizar a hegemonia da FRELIMO, e desse modo mudar a legislação que se apresenta incongruente.
Reorganização do Exército
Batalha perdida. Foi claramente demonstrado na formação das FADM logo depois do início da implementação do AGP que esse assunto estava resolvido. Nao sei se o acordo dizia 50/50 ou 60/40 ou qualquer outra proporcionalidade, o certo é que esse assunto foi considerado resolvido no espírito e letra do AGP. Agora, se o assunto tem a ver com os desmobilizados e suas repectivas pensões, e estes por sua vez não satisfazem o grosso dos antigos guerrilheiros da RENAMO, esse nao eh um assunto digno de apresentar nas reivindicações de hoje (2012), principalmente se cingiram-se em promessas feitas pela “chefia” da RENAMO sem perspectiva de como cumpri-las. O importante é a RENAMO ser bem clara em nao trazer uma reivindicao destas como forma de pressionar a FRELIMO e consequentemente colocar a maioria dos cidadãos numa situacao de chantagiados. Se este assunto faz parte das ditas “fintas” que o antigo PR Joaquim Chissano revelou recentemente, entao que se circunscreva a discussao entre a “chefia” da RENAMO e o antigo chefe de Estado, e se houver materia jurídica, pois entao que usem todos os meios necessários para levar o assunto a bom porto.
Reestruturação e reformas profundas a nível da Polícia da República
Como em qualquer função publica, existe um regulamento claro sobre quem se candidata e os requisitos exigidos para fazer o curso e posteriormente ser graduado ao nível mais básico e por ai em diante. Se o AGP tem ou tinha uma cláusula específica em que determinava quantos efectivos devem ser sugeridos pela RENAMO, então que apresentem esse argumento para provar que a a constituição da PRM não é a que foi acordada. Se a reestruturação é tao importante e está a ser reivindicada como um processo geral da função pública vis-à-vis a partidarização do Estado, porque então nao incluir num pacote mais amplo da reforma da função pública? A PRM ja é deficiente nos moldes em que funciona, sem capacidade técnica, material e moral. Se a ideia é adicionar-lhe mais efectivos analfabetos so para responder a uma camada de “desmobilizados” que supostamente acham-se no pleno direito de usarem a farda e receber um salário, então não estamos a avancar em nada. A Policia deve ser constituída por gente qualificada, com alto sentido de patriotismo e servico. Tem que ser dotada de meios para proteger a integridade do ciadadão, das infraestruturas públicas e privadas. Tem que ter um propósito pedagógico para educar na implementação das leis da CRM em geral e das posturas autárquicas quando se tratar de uma polícia municipal.
Quanto a contituição da FIR, do mesmo modo que organicamente esta é uma força tutelada pelo Ministério do Interior, obedece ao regulamento da função pública, daí que não está muito longe da abordagem feita em relação a PRM. O que a RENAMO tem que exigir ou reivindicar é a transparencia sobre o processo de recrutamento, formacao e actividade da FIR. Como disse antes, se a reinvidicação se limitar reclamações mesquinhas sobre a parcialidade desta força, sem argumentos plausíveis para desqualifica-la, esta também será uma batalha perdida.
Gestao das Riquezas
A RENAMO tambem propoe negociar a transparência na gestão das riquezas do país e o processo de implementação e execução dos respectivos acordos alcançados. Primeiro erro que está a cometer é partir de uma posicao de como partido politico tem a capacidade ou possibilidade de “negociar”. A melhor abordagem nesse aspect é elaborar e conseguir implementar legislação. Não é com um discurso político que vai adquirir mandato ou prerrogativa para forçar a FRELIMO a negociar. Não repararam que bastará para eles (a frel) dizer em forum público que não detêm nenhuma riqueza em termos de recursos naturais que se pode atribuir unicamente ao partido? Sabemos todos que na prática isso até existe, mas cabe a quem se opõe provar factualmente que isso existe. Uma das vantagens da democracia caros concidadãos é a capacidade de implementar mecanismos de transparência para os bens publicos, recursos naturais e assuntos de soberania do Estado.
Democracia efectiva
Nota-se também que a RENAMO tem feito um esforco enorme em chamar a “sociedade civil” para juntar-se a sua causa. O unico defeito que eu vejo é a falta de argumentos e determinação nos tais apelos. Nao acredito que a sociedade civil, as confissões religiosas os intelectuais e académicos estejam simplesmente a favor da FRELIMO e por isso não aderem aos apelos da RENAMO. Cabe a este partido fazer uma análise profunda sobre o discurso e o teor do mesmo sobre a mensagem que pretende transmitir. Tem também que analisar a forma de como apresenta o discurso e como lança os apelos. Se insistem em faze-lo atabalhoadamente sem estilo eloquente e gramático, nunca atrairão os académicos e intelectuais. No fundo, a democracia participativa assenta-se na capacidade de atrair opiniões para uma plataforma ou consenso, depois de confrontadas com outras mesmo que sejam antagónicas ou diametralmente opostas.
É de conhecimento de todos tambem que o STAE e a CNE não são apartidárias, mas tal como na discussao filosófica do ovo ou a galinha, estas 2 instituições podem ser alteradas com o uso do voto ao eleger uma maioria capaz de forçar a lei que as estabelece. Aqui novamente exige-se que o projecto politico da oposição seja coerente e atraente para que o grosso do eleitorado possa votar nele.
Cabe tambem à RENAMO encontrar uma definicao sobre a democracia, se quizer vir cá para fora “pregando o evangelho” da democracia, sem no mínimo demonstrar que é democrática nas suas hostes, isso remonta a hipocrisia. A mesma crítica poderia ser feita à FRELIMO, mas estes ao menos conseguem montar reuniões, “simpósios” e congressos em que se fala de serem democraticos, mas no fundo respondem todos a uma disciplina estatutária tao rígida e coitado de quem se atrever a contrariar.
Quanto aos ataques “militares” da FRELIMO, eu digo directa e friamente que a RENAMO tem pedido para que esses ataques aconteçam. Aliás, pelo que sabemos publicamente, o da Rua dos Sem Medo foi o único reportado, por consequência da pouca instrução e falta de senso comum, os militares (guardas) da RENAMO decidiram encarcerar um cidadão comum, sem observância das leis nem a mínima noção do que é permitido numa sociedade que se pretende civilizada. Por isso, deram todas as possibilidades para a FIR atacar com as consequências que dali resultaram. Francamente, agora ainda está a pedir mais com essa atitude de se reunir la na “Casa Banana”. Só estão a pedir mais chumbo, e a FIR vai precisar apenas de um simples pretexto para executar um ataque. Quem sabe se a FIR não vai deliberadamente criar uma situação, por exemplo, prender alguem dentro do perímetro por porte de arma, e logo usar o pretexto legal de ameaça a integridade de cidadãos indefesos? Não é preciso ser um estratega militar para entender que quem sairia a perder é a RENAMO. Esse paleio de quem tem capacidade combative e pode atacar forças governamentais só pode vir de um desequilibrado mental.
1 comentário:
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