Thursday, September 20, 2012

Mail enviado à RENAMO em 01/04/2009


Exmº. Senhores,
 
Fui combatente na Guerra Colonial, por obrigação do n/ antigo regime, mas tenho a consciência tranquila relativamente a isso, dado não cometido qualquer crime de guerra, nem atentados contra as populações. Estive em Olivença (Niassa) e nunca dei ou ouvi qualquer tiro, enquanto lá estive.
Passei o 25 de Abril em Maputo e regressei a Portugal em Maio de 1974.
No tempo que estive em Maputo, tive oportunidade de assistir a um comício do FUMO e conhecer a grande oradora foi a Drª. Joana Simeão, que, no fim do comício, me foi apresentada por um membro do partido. Não me lembro do nome dessa pessoa, mas fiquei com uma impressão extraordinária da Drª. Joana Simeão, como política e como uma grande senhora.
Era completamente diferente daquilo que eu entendia e sabia dos responsáveis guerrilheiros da Frelimo. Em Olivença ouvia, frequentemente, as emissões da rádio da Frelimo, mas que se limitavam a passar propaganda, algumas verdades e muitas mentiras que se podem encontrar na NET.
A Drª. Joana Simeão, ao contrário, tinha um discurso político, embora inflamado, que concorde ou não com ele, caía fundo nas pessoas que a ouviam, fossem elas negras, mestiças, brancas, chinesa ou indianas ou outras.
Quando regressei a Portugal, vivi toda a experiência revolucionária e todo o folclore gerado à sua volta, com organizações políticas a surgirem como cogumelos nas primeira chuvas de Inverno, porque estive no Hospital Militar, em Lisboa, até passar à disponibilidade, em Setembro de 1975.
Passados uns anos interessei-me pelo destino da Drª. Joana Simeão. E qual não foi o meu espanto ao saber que ela tinha sido enviada para um campo de concentração no Niassa, que agora sei que era em Metelela (ex-Nova Viseu) e que aí foi fuzilada com Uria Simango, Lázaro Kavandame e outros, sem qualquer julgamento legal (foi condenada pela Frelimo, que era um partido como qualquer outro, pelo que não tinha direito para tal, já que havia um Governo instituído por esse partido, de acordo com o que foi deliberado em Lusaka), em processo sumário realizado na Tanzânia.
O meu apelo a à RENAMO é que faça uma petição na NET, para que todos os moçambicanos chacinados nos campos de concentração da Frelimo tenham direito à sua honra e os seus despojos mortais sejam sepultados com a dignidade de um ser humano.
Penso que isto seria um acto tranquilizador, a demonstração de uma verdadeira democracia e de um País que quer viver em paz consigo próprio.
Não pensem que isto é um recado do colonizador, mas de um democrata que luta pela solidariedade, pela paz em todo o mundo e pelas injustiças sociais que, cada vez mais, grassam por esse mundo fora.
Faço votos que a vossa luta pelos direitos humanos tenha óptimos resultados, porque este mundo precisa de pessoas de boa vontade, solidárias e desinteressadas.
Com os m/ melhores cumprimentos, subscrevo-me
 
Álvaro Teixeira de Oliveira