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África Comité Central testa temperatura na Frelimo Um ano sem Dhlakama Sojogo
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SEMANA 2 Savana 03-05-2019 Areunião do Comité Central (CC) da Frelimo, que
arranca esta sexta-feira e se prolonga até ao próximo domingo, na escola do
partido, na Matola, pode vir a ficar na história. Se os sectores que atacam a
actual liderança resolverem passar as hostilidades das redes sociais para a
reunião magna do partido entre congressos. Oficialmente, a sessão de três dias,
de 3 a 5 de Maio, irá analisar o relatório da Comissão Política (CP), do
Gabinete de Eleições, o Programa Quinquenal do Governo e o Relatório do Comité
de Verificação do partido. É durante a discussão do Relatório do Comité de
Verificação que poderá sobressair aquele que pode ser o tema mais fracturante
da sessão: o “caso Samora Machel Jr. (SMJ)”. O filho de Samora e Josina Machel,
dois históricos da Frelimo, está numa guerra aberta contra o actual presidente
do partido e do país, Filipe Nyusi. Tudo pode ter começado na luta pelas
internas, em 2014, sendo da percepção do círculo de apoios a Nyusi que Graça
Machel defendeu a inclusão de mais candidatos às “primárias” da Frelimo, onde
apostava claramente em Luísa Diogo, a antiga Primeira-Ministra, vista como a
mais preparada para chegar à Presidência da República. A confrontação ganhou
novos contornos, quando SMJ foi afastado das internas para as autárquicas de
Outubro do ano passado, alegadamente, por ordens da direcção do partido. A
Comissão Política interveio no processo eleitoral e indicou Eneas Comiche como
candidato à cidade de Maputo. Na sequência, SMJ viria a concorrer pela
Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Moçambique (AJUDEM). Mas a lista
encabeçada pelo filho do proclamador da independência viria a ser eliminada na
Comissão Nacional de Eleições (CNE), num duvidoso processo com “crimes e
ilícitos eleitorais e compra de consciência”, tudo “com beneplácito da direcção
do partido”, como mais tarde acusou SMJ na sua bombástica resposta ao Comité de
Verificação do partido. No documento, explicou ainda que só concorreu pela
AJUDEM depois de ver fracassadas tentativas de obter esclarecimentos da
direcção do partido, que o ignorou. Acusado pelo Comité de Verificação da
Frelimo de ter violado os estatutos do partido ao concorrer fora do partido,
“Samito”, como é conhecido SMJ, foi contundente na reacção. Mais do que
responder, atacou fortemente a direcção do partido. “Pela violação dos
estatutos do partido devem ser acusados individual e solidariamente o camarada
presidente, Filipe Jacinto Nyusi, e secretário-geral, Roque Silva Samuel, por
grosseira violação do artigo 21”, lê-se na resposta. De acordo com SMJ, o
presidente e o SG não permitem que os membros do partido tenham a mais ampla
liberdade de crítica e de opinião e não estimulam o diálogo. Acusa o presidente
de não garantir o respeito pelos princípios e valores da Frelimo e que viola,
gravemente, os estatutos. Movimento anti-Nyusi? Nas teorias de conspiração, ventila-
-se que, a despeito de todas as suas reivindicações, Samito pode vir a ser
apenas o rosto de um movimento interno interessado em desacreditar a liderança
de Filipe Nyusi, abrindo espaço a outros candidatos para Outubro. O lobby das
dívidas ocultas, ligado ao ex-estadista Armando Guebuza, é considerado o que
mais está interessado na remoção de quem, nos últimos tempos, tem vindo,
claramente, a se demarcar de um negócio no qual ele mesmo é citado. Este lobby,
que esperava um pacto em que o assunto seria esquecido, vem subindo de tom nos
seus ataques, sobretudo depois que a PGR procurou ouvir no início de Dezembro,
o antigo presidente Guebuza, considerado “a cabeça do polvo” no esquema dos
financiamentos ilícitos. Os seus apoiantes, entre os quais se contam muitos
elementos do Comité Central, têm reafirmado o envolvimento de Nyusi nas
ilicitudes, tendo vazado sucessivos documentos da época para as redes sociais e
para os jornais da praça. Outro dos “ódios de estimação” da oposição a Filipe
Nyusi é o super- -ministro Celso Correia, a quem tentam a todo o custo
desacreditar, nomeadamente, através de uma gravação manipulada a partir de uma
conversa alegadamente gravada por Inês Moiane, a antiga secretária particular
de Guebuza, ora detida, acusada de envolvimento na partilha de dinheiros
derivados dos financiamentos ilícitos. Outra parte da oposição a Nyusi tem
conotações regionais, nomeadamente o “grupo de Nampula” desconfortável com a
perda de poder e influência na actual conjuntura e o “grupo do Sul”, historicamente
dominante na Frelimo, mas descontente com a possibilidade de o seu regresso à
liderança passar por mais dois potenciais mandatos a partir de 2024, a serem
atribuídos a um candidato presidencial da zona centro. Mas, segundo pôde
constatar o SAVANA, há sectores menos entusiasmados que não esperam grandes
surpresas contra um presidente que já foi aclamado, em 2017, no XI Congresso
como candidato natural às presidenciais deste ano. Esperam, isso sim, uma
reunião de “paz podre”, que passe à margem das questões mais fracturantes do
partido. Segundo apurou o SAVANA, na última reunião do CC, Guebuza tentou
“colar” Nyusi à “engenharia” das dívidas ocultas, mas a reunião optou por “não
engolir a isca”, a expressão usada pela nossa fonte. A surgirem vozes contestatárias
a Nyusi, na reunião deste fim-de- -semana, o partido voltará às convulsões que
abalaram o movimento de libertação nos finais dos anos 60, com a contestação a
Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos. O grupo de apoio a Nyusi tentou montar
a melhor coreografia à sua volta, nomeadamente uma publicitada reunião da
bancada parlamentar Frelimo para reafirmar o apoio ao presidente. Na
terça-feira, Filipe Nyusi reuniu, na Escola do partido, na Matola, com a
bancada maioritária (144 deputados) da Assembleia da República que, através da
sua chefe, Margarida Talapa, também vista em muitos sectores como apoiante de
Guebuza, declarou apoio à recandidatura de Filipe Nyusi às presidenciais deste
ano. Quem também reitera apoio a candidatura de Filipe Nyusi é a Associação dos
Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), o mais importante órgão
social da Frelimo. “Reiteramos que o candidato para Outubro é o engenheiro
Nyusi”, afirmou Fernando Faustino, o controverso secretário-geral da ACLLN. O
porta-voz da Frelimo, Caifadine Manasse, à beira do CC, põe água na fervura e
nega que o “caso Samito” venha a constituir a principal agenda da sessão do CC.
Diz mesmo que só poderá ser discutido se o Comité de Verificação o levar a
debate. “Esse assunto só é importante para a media, não é importante para o
partido”, afirmou Manasse, considerando Samito como um membro igual a qualquer
outro membro da Frelimo. De acordo com o porta-voz, o foco da reunião será
sobre a vida do partido e as eleições que se avizinham. Nem sempre as reuniões
do Comité Central obedecem a uma agenda previamente definida. Quando Joaquim
Chissano ainda alimentava esperanças de uma nova escolha para a presidência, o
CC decidiu indicar Armando Guebuza como candidato. Mais recentemente, e já no tempo
da “caça às bruxas”, os históricos da Frelimo foram permitidos a assistirem e
tomarem a palavra nas reuniões do CC, mesmo não sendo membros do órgão e, à
boca das eleições de 2014, foi permitido que mais candidatos se apresentassem à
presidência, à revelia do que tinha sido decidido previamente pela omnipresente
Comissão Política da Frelimo. CC testa temperatura na Frelimo Ajuste de contas
pode acontecer Samora Machel Jr. Margarida Talapa Fernando Faustino Adriano
Nuvunga: “O Estado está a colapsar nas mãos de Nyusi” Para fazer o prognóstico
do CC, um docente de ciência política. Adriano Nuvunga entende que a reunião
será histórica. E diz por quê: “é a primeira vez que um presidente termina um
primeiro mandato, tremendamente, fragilizado e a tentar navegar para um segundo
mandato e com um candidato que lhe desafia abertamente”. Esse candidato é SMJ,
sobre quem Nuvunga não tem dúvidas de estar a disputar, claramente, o lugar de
Nyusi na Frelimo. Perguntámos a Nuvunga por quê acha que Nyusi vai ao CC, tremendamente,
fragilizado. Por um conjunto de factores, respondeu ele. À altura da
entrevista, na terça-feira, disse que o factor mais próximo era que os
funcionários públicos não tinham os seus salários. E quando a alternativa é ir
buscar crédito à banca para pagar salário, significa que o Estado está a
colapsar. “E o Estado está a colapsar nas mãos de Filipe Jacinto Nyusi”, disse.
O também director do ADS, um think tank sobre Caifadine Manasse TEMA DA SEMANA
Savana 03-05-2019 3 Context The Embassy of the Kingdom of The Netherlands in
Maputo aims to contribute to inclusive and sustainable development in
Mozambique, with an increased focus on the transition from ‘aid to trade’. The
aid programme focuses on the thematic areas (i) water and sanitation, (ii) food
and nutrition security, (iii) energy and (iv) sexual and reproductive health
and rights. The involvement of the private sector (Dutch and Mozambican) in the
Embassy’s programme is growing and trade related activities play an
increasingly important role in the portfolio. In addition, climate, gender and
governance are important cross cutting issues; synergies between the four
thematic priorities and the cross cutting themes are actively promoted. The
Netherlands contributes to inclusive development through a regional focus in
the poorest areas of the country: in the Zambezi Valley, in the city of Beira
and in Cabo Delgado. -RESURÀOH
7KH(PEDVV\LVORRNLQJIRUDGHGLFDWHGDQGÁH[LEOHSURIHVVLRQDOWRFRQWULEXWHWR strategic
results in the areas of governance and human and women’s rights, as formulated
in the Multi-Annual Country Strategy 2019-2022. Promoting democracy and gender
equality, stimulating female entrepreneurship and supporting civil society are
key elements of this position. The right candidate thinks out-of- WKHER[LVHQHUJHWLFDQGKDVDSUDJPDWLFFDQGRDSSURDFK 7KH3ROLF\2IÀFHU
for Governance, Human Rights and Gender works under the guidance of the Head of
Development Cooperation and in close collaboration with the Ambassador, the
other thematic experts and the controlling unit. Salary indication: maximum USD
5.887 per month. .H\UHVSRQVLELOLWLHV 0RQLWRULQJRI
DQGDGYLVLQJRQ
UHOHYDQWQDWLRQDODQGLQWHUQDWLRQDOGHYHORpments in the areas of governance, human rights and gender and translating WKHVHLQWRFRQVHTXHQFHVIRUWKH(PEDVV\·VÀHOGRIZRUN $FWLYHO\SDUWLFLSDWLQJLQUHOHYDQWSROLF\DQGSURJUDPPLQJGLVFXVVLRQVLQVLGH and outside the Embassy and representing the Embassy. Vacancy Announcement 3ROLF\2IÀFHU*RYHUQDQFH+XPDQ5LJKWVDQG*HQGHU
WREHEDVHGLQ0DSXWR
(QVXULQJJHQGHUUHOHYDQFHLQWKH(PEDVV\·VSRUWIROLRRIDFWLYLWLHVE\VXSSRUting the different thematic experts in mainstreaming gender equality. 3XWWLQJIRUZDUGWKH(PEDVV\·VDJHQGDLQVXSSRUWLQJIHPDOHHQWUHSUHQHXUVE\ supporting initiatives aiming to stimulate business operations and to provide tools for business development. 6XSSRUWLQJWKHUROHRIFLYLOVRFLHW\LQSURPRWLQJJHQGHUHTXDOLW\JRRGJRYHUnance, accountability and democracy (including support to elections) and contributing to the policy dialogue with (and on) civil society organizations. $GYRFDF\ZRUNWRZDUGVWKHUHGXFWLRQRIFKLOGPDUULDJHDQGWKHLPSOHPHQWDtion of the national strategy to reduce child marriage. 0DQDJLQJDVHWRIDFWLYLWLHVLQWKHDUHDVRIJRYHUQDQFHKXPDQULJKWVDQGJHQGHU
LGHQWLÀFDWLRQGHVLJQPRQLWRULQJDQGHYDOXDWLRQ
3HUIRUPLQJ RWKHU WDVNV WR VXSSRUW WKH LPSOHPHQWDWLRQ RI WKH 0XOWL$QQXDO Country Strategy, if necessary. .QRZOHGJHVNLOOVDQGH[SHULHQFH 0LQLPXPRI0DVWHUVOHYHOGHJUHHLQUHODWHGDUHDV ([SHULHQFHRIZRUNLQJLQDG\QDPLFHQYLURQPHQWWRGHOLYHUKLJKTXDOLW\SURgramme and policy results that contribute to inclusive and sustainable development. ([SHULHQFHZLWKWKHPDQDJHPHQWRIDVHWRISURMHFWDFWLYLWLHV ([SHULHQFHLQZRUNLQJZLWKDQGLQÁXHQFLQJNH\SDUWQHUVDWVHQLRUOHYHOV²LQcluding government ministries, NGO’s and development partners. 8QGHUVWDQGLQJRIWKHUHOHYDQWJRYHUQPHQWIUDPHZRUNVDQGOHJLVODWLRQUHODWHG to the policy areas or ability to acquire this knowledge rapidly. 3URYHQDELOLW\WREXLOGDQGPDLQWDLQLQWHUQDODQGH[WHUQDOQHWZRUNV 6NLOOVLQWUDQVODWLQJLQVLJKWVDQGLQIRUPDWLRQLQWRDGYLFHVSODQVDQGUHSRUWVDQG LQDVVHVVLQJWKHLUSROLF\DQGÀQDQFLDOLPSOLFDWLRQV ([FHOOHQWRUDODQGZULWWHQVNLOOVLQ(QJOLVKDQG3RUWXJXHVH $ELOLW\WRDGDSWWRHPHUJLQJLVVXHVDQGFKDQJLQJSULRULWLHV $SSOLFDWLRQVRITXDOLÀHGFDQGLGDWHVDUHLQYLWHG 3OHDVHVHQG\RXU&9DQGPRWLvation letter in English in WORD format to the email MAP@minbuza.nl by 9 May 3OHDVHFOHDUO\LQGLFDWHLQWKH´6XEMHFWµWKHYDFDQF\\RXDUHDSSO\LQJIRU desenvolvimento, liderança e juventude, e originário da mesma província dos Machel, aponta como outra fragilidade de Filipe Nyusi o que chama de paralisia da economia e da sociedade, caracterizada por falta de actividade, porque as pequenas e médias empresas fecharam, em parte, porque são devidas pelo próprio Estado. Feita a introdução, Nuvunga argumenta que, dependendo da maneira como vai gerir o “caso Samito”, a Frelimo pode estar à beira do fim. “A expulsão de Samora Machel Jr. pode ser o fim, porque Samora Machel Jr. vai levar consigo um segmento importantíssimo da população, vai fracturar a Frelimo e vai fracturá-la no pior momento da sua existência, onde, fundamentalmente, faltam ideias iluminadas”, atira. “Não há ideias ali”, reitera, em alusão à liderança máxima do partido. Um partido, prossegue, que está, completamente, divorciado do seu processo histórico, emancipador e vanguardista do desenvolvimento. O entrevistado é da opinião que, diante da actual Frelimo, corrupta, que rouba a esperança do povo e das crianças, pode ser que, pelas suas origens históricas, valha a pena ter um candidato como SMJ, que não está envolvido nas dívidas ocultas. E lembra a sua origem histórica: “é filho de Josina e Samora Machel. O filho primogénito destas duas pessoas não pode ser afastado da corrida municipal por um qualquer secretário que não conheceu Samora e Josina”. Vê numa possível expulsão de SMJ a continuação do que chama de processo fracturante e fragilizador do próprio partido, como quando foi excluído nas autárquicas do ano passado. Mas sob ponto de vista de legitimidade pública do movimento de libertação nacional, será como que um comboio continuar sem alma, compara. “Em toda a África, a expulsão de vozes contestatárias é uma característica comum e isso representa o autoritarismo das lideranças africanas, que usam os estatutos para excluir outros, ao invés de permitir o aprofundamento democrático”, diz. E prossegue: “ao invés de aprofundar o debate democrático, se usa esse tipo de instrumento para silenciar e expulsar e dada a economia política da governação, onde se você não está com aqueles que governam, está sujeito a viver mal e até correr risco de vida, faz com que as pessoas se arregimentem, tenham de ficar ali a ser seguidistas, e isso mata o desenvolvimento democrático dos partidos políticos, mata o desenvolvimento político e democrático das sociedades e esteriliza as possibilidades de desenvolvimento”, observa o director do ADS. Sobre as correntes que defendem novos candidatos na Frelimo, Nuvunga afirma que, a existirem, é mais pelo estilo de liderança do presidente Nyusi não estar a gerar frutos. “As pessoas querem solução. Passar toda a hora a falar de Guebuza, porque foi Guebuza, porque foi Guebuza, isso não traz comida para as pessoas. Guebuza saiu do poder há cinco anos. Deixou os problemas que deixou. Você disse que era o candidato certo para os resolver. Que os resolva. Passar a vida a falar de Guebuza, não nos resolve o assunto. Peguem a ele, metam na cadeia, mas você resolva o problema do emprego para os jovens, do investimento directo que tem de voltar para permitir que as pequenas e médias empresas possam funcionar, possa financiar a economia e possa pôr o país a andar para frente. É isso que os moçambicanos querem ver”, rebate o cientista político, para quem “passar a vida a nos entreter com os assuntos do passado, isso não é boa liderança”. Diz que é verdade que Guebuza causou e causa dor aos moçambicanos, mas, quatro anos depois, já se devia assistir o presidente Nyusi a afirmar o seu próprio estilo de liderança e governação, e esse estilo gerar frutos, a dar emprego aos moçambicanos mais investimentos e a permitir que a economia funcione. “Isso não está a acontecer”, ataca. Para Nuvunga, nem as detenções no âmbito nas dívidas ocultas safam a imagem, tremendamente, fragilizada de Filipe Nyusi. Pelo contrário, prossegue, elas mostram um desacerto institucional muito grande. “São detenções cosméticas que misturam dívidas ilegais com ajustes intrapartidários de contas, com uma PGR totalmente não profissional, não séria”, afirma. Para ele, são detenções de sobrevivência política e estão orientadas para aqueles que não têm poder. “Se fosse uma coisa séria que Nyusi estivesse a fazer, ele ia deter parte de alguns dos seus ministros, que são igualmente corruptos. Aliás, alguma evidência mostra que ele próprio pode ter participado deste processo. Então, ele está a proteger os dele e a deter os outros”, diz. Trata-se da segunda revolução – Albino Forquilha Albino Forquiha é o ponta de lança de SMJ. Era o número dois da lista da AJUDEM chumbada pela CNE. Falou ao SAVANA e deixou o posicionamento da “ala Samito”, nas vésperas do CC. Para ele, os membros do principal órgão entre os congressos devem ter coragem de atacar o “caso Samito” que, na verdade, tem que ver com democracia interna, corrupção, calote, falta de justiça, entre outros males do país. “Se o CC se furtar a tratar esses aspectos, estará a afundar a própria Frelimo”, refere. Diz que o assunto não pode ser visto como de SMJ, porque ele é apenas a pessoa que as bases viram para conduzir a causa. Diz tratar-se de uma segunda revolução em marcha. “De facto, a terra e os homens estão libertos, mas há outros aspectos inerentes à independência do homem que ainda não estão a ser tratados nesta primeira revolução e Samora Machel Jr. é este que está a aparecer como quem conduz o processo da segunda revolução”, argumenta. Defende abertura de espaço para debate no CC, incluindo a discussão sobre novos candidatos. Albino Forquilha avisa que, se o “caso Samito” não for bem gerido, pode resultar em convulsões sociais jamais vistas nos últimos 40 anos. Mas é cauteloso sobre o futuro em caso de expulsão. O que deixa claro é que encontrar-se-á uma plataforma política para acomodar os valores que diz, na verdade, serem dos moçambicanos. Redacção Adriano Nuvunga Albino Forquilha TEMA DA SEMANA 4 Savana 03-05-2019 Um ano sem o eterno resistente Oregulado de Mangunde, no distrito de Chibabava, província de Sofala, volta a curvar-se, esta sexta-feira, para prestar homenagem a uma das figuras incontornáveis na história política do país nos últimos 40 anos. Hoje, passa exactamente um ano, após a morte de Afonso Dhlakama, o emblemático líder da Renamo. Membros do partido, familiares, simpatizantes e convidados vão celebrar uma missa no cemitério familiar onde jazem os seus restos mortais em Mangunde. De princípio, as cerimónias serão dirigidas pelo presidente da Renamo, Ossufo Momade. A homenagem ao histórico líder será replicada ao nível das delegações provinciais do partido. Mais do que celebrar a morte, os membros do partido, segundo explicou o porta-voz José Manteigas, em contacto com o SAVANA a partir de Portugal, vão celebrar a sua vida e obra para a edificação e consolidação da democracia rumo a um Moçambique diferente. Nascido a 01 de Janeiro de 1953, a vida de Afonso Dhlakama dividiu correntes: vilão para uns e “messias” para tantos outros, principalmente os que se sentem marginalizados pelas políticas e práticas da Frelimo, partido no poder desde a independência nacional em 1975. Dhlakama era inveterado na defesa das causas em que acreditava. Comprometeu-se com o manifesto da luta pela democracia e por ele morreu, confinado a um minúsculo ponto da Serra da Gorongosa, onde vivia cercado pelo exército moçambicano. Ironia das ironias, sobreviveu a balas e morreu vítima de diabetes, uma doença que dada a sua idade avançada e estatura social era perfeitamente controlável. Apesar das diferentes visões sobre a figura de Dhlakama, há unanimidade em relação ao facto de que foi um líder carismático e dava voz ao sentimento de muitos moçambicanos, incluindo de dirigentes e membros da Frelimo, desiludidos com o rumo do país. Com apenas 23 anos, juntou-se, em 1979, à Resistência Nacional de Moçambicana (Renamo) de André Matsangaíssa para combater, durante 16 anos, o então sistema comunista implantado pela Frelimo. Com a morte de Matsangaíssa em 1979, assume a liderança do então movimento de guerrilha no auge da guerra civil, o que mais tarde veio a culminar com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), a 4 de Outubro de 1992. É por muitos considerado um dos percursores da democracia nacional, sendo-lhe apontado a autoria do óbito do sistema de partido único. Sofreu perseguições e atentados, com destaque para 2013, quando se foi exilar em Satungira. Saiu das matas em 2014, para assinar o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares em Setembro, o que veio criar condições para que participasse das eleições gerais marcadas para esse ano. Os resultados eleitorais que conferiram a vitória presidencial a Filipe Nyusi, num cenário em que o Afonso Dhlakama ganhou em seis províncias, precipitaram o país para mais uma tensão político-militar, que também culminou com perseguições e atentados até um novo exílio em Novembro de 2015. A 03 de Maio de 2018, a sua voz calou para sempre numa altura em que as negociações para uma paz efectiva e duradoura com o chefe de Estado estavam no seu ponto mais alto de viragem. Ossufo Momade foi o escolhido para dar continuidade ao projecto político de Dhlakama, numa primeira fase, como coordenador interino da Comissão Política e desde Janeiro, como presidente do partido eleito pelo congresso. Momade, juntamente com Nyusi, prossegue com as negociações, tendo alcançado avanços significativos nos acordos, como a aprovação da revisão pontual da Constituição da República, que abre espaço para a eleição dos governadores províncias (2019) e administradores distritais, a partir de 2024, bem como a sua regulamentação. Noutra frente, os dois líderes conseguiram a reintegração de 14 oficias superiores e generais da Renamo para cargos de chefia e direcção nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Recentemente, a Renamo submeteu uma lista de 10 oficias seus para serem promovidos a cargos de chefia, ao nível da Polícia da República de Moçambique (PRM). Foi um líder profético Raul Domingos, antigo número dois da Renamo, recordou o seu antigo líder, como uma pessoa que, em vida, bateu-se pela democracia, estado de direito democrático e dos direitos humanos. “Ficou conhecido pelas suas intervenções precisas e contundentes e que, se fosse vivo, estaria a congratular-se com aquilo que está a vir ao de cima com as detenções dos mentores dos escândalos de corrupção, que desgraçaram milhares de moçambicanos”, assinalou. Isto porque, segundo explica Domingos, o seu antigo líder tinha uma visão profética, por ter advertido os moçambicanos sobre a perigosidade do actual regime em termos de corrupção e enriquecimento ilícito. Sublinhou que nessa missão profética, Dhlakama disse: “estão a marginalizar-me, mas um dia vão se ajoelhar diante de mim”. Esta profecia, de acordo com Domingos, cumpriu-se com a ida de Filipe Nyusi à Serra da Gorongosa para negociar a paz, depois do séquito do seu antecessor Armando Guebuza ter dito que era ultrajante ele ter de ir ao encontro de Dhlakama. Raul Domingos, actual presidente do Partido para Paz Democracia e Desenvolvimento (PDD), diz que, em parte, o legado político de Dhlakama tem sido dado continuidade pelo seu partido, dado que foi aprovado o pacote da descentralização, que na sua óptica passa a valorizar o voto da população que passa a eleger o governador provincial, numa primeira fase e, a posterior, o administrador. Criticou aquilo que chamou de “seguimento religioso”, no que diz respeito à criação da figura do Secretário Criticou a demora na eleição do novo presidente do partido e do secretário- -geral, que no seu entender, deveriam ter ocorrido seis meses depois da morte de Dhlakama, o que teria dado tempo ao partido para a afinar a máquina partidária rumo às próximas eleições. Quanto à disputa pela liderança da delegação política provincial de Sofala e da cidade da Beira, disse tratar-se dum teste à capacidade de liderança do Ossufo Momade. Domingos diz que esta é uma oportunidade para a nova liderança da Renamo mostrar a sua capacidade de resolução de problemas, quer persuadindo ou impondo as suas deliberações à força. Renamo procura identidade O Politólogo João Pereira considera que a Renamo ainda se ressente da ausência de um líder como Dhlakama e é preciso tempo para que o país se habitue à nova direcção do partido. Lembrou que Dhlakama era um líder carismático e a prova disso é que as suas teleconferências tinham mais peso em relação às de Ossufo Momade. Mas também diz notar uma fraca intervenção do actual presidente em assuntos candentes da nação, o que revela a sua inexperiência política em comparação ao falecido líder. Para o académico, a Renamo está à procura da sua identidade para saber se impor na arena política nacional, por isso, vai se ocupando em assuntos como acomodação dos seus efectivos nas Forças de Defesa e Segurança. Alerta para a necessidade de o partido abraçar um projecto de âmbito nacional e não se conformar com a acomodação das suas elites partidárias, que só vai abranger meia dúzia de pessoas, deixando à deriva o resto do seu eleitorado. Congratulou-se com a revisão constitucional, porque traz garantias de efectivação dos acordos e de que ninguém vai mexer nos governadores ou administradores. Lamenta, contudo, a falta de emendas constituições que assegurem a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança. “Os oficiais da Renamo reintegrados nas fileiras da FADM e dos que irão à PRM podem ser, a qualquer momento, removidos e ou terão de ir à reforma”, assinala. O debate que a Renamo deve iniciar, na visão do académico, é a elaboração de uma política de defesa e segurança apartidária, que leve a emendas constitucionais para que o país não seja privatizado pelas duas principais forças deste país, Frelimo e Renamo. Ossufo Momade entra na história pelo facto de ser o primeiro líder da Renamo a ver as suas decisões desafiadas de forma permanente, como está a acontecer na delegação de Sofala, que só amainou graças ao ciclone Idai. Este tipo de desafios pode atingir proporções alarmantes nos próximos dias com a indicação dos cabeças-de- -lista para governadores provinciais, Assembleia da República e assembleias provinciais. Esse processo, continuou, se não for bem gerido, pode criar tensões e fragilizar a Renamo. O académico entende que já é hora de a Renamo se focar no debate político e mostrar a sua visão do que pretende deste país, ou seja, o que vai fazer de diferente em relação à actual governação do país. João Pereira aponta como perigo para a estabilidade do principal partido da oposição o facto de não estar consolidado financeiramente. Essa dificuldade poderá limitar a capacidade de promoção da imagem de Ossufo Momade às presidenciais, a tempo e horas. Pereira diz não duvidar de que a Renamo, como partido, tem a sua marca consolidada no seio das bases, mas não tem a mesma garantia quanto a Ossufo Momade. Um retrocesso A activista dos direitos humanos Alice Mabota diz não restar dúvidas de que, embora passe um ano, a morte de Dhlakama foi um retrocesso na democracia nacional e para a Renamo. Avança que a Renamo precisa de uma direcção forte, que apresente uma visão estruturante sobre o país, pois, se a Afonso Dhlakama Por Argunaldo Nhampossa de Estado na Província (SEP), enquanto existe o governador provincial, que no seu entender constitui uma sobreposição devido à falta de clareza nos poderes de cada um. Louvou o avanço do processo de Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR), mas deplorou o facto de não se fazer menção à reintegração dos efectivos da Renamo no Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Disse que a exclusão do SISE cria um perigo iminente de retorno à guerra, porque a que foi movida 20 anos depois do AGP resultou em parte da não restruturação da secreta nacional e da PRM. “Se a reintegração no SISE não for acautelada, estaremos a adiar um problema que pode ter repercussões desastrosas daqui a 10 ou 30 anos”, advertiu. Para o dirigente do PDD, é difícil suceder um líder como Dhlakama, que já havia se apropriado do partido em termos de gestão, dado o tempo em que estava na direcção. Apesar disso, prosseguiu, o partido está articulado, cumpre com os seus programas, participou das eleições autárquicas, organizou um congresso de sucessão e agora o conselho nacional que elegeu o Secretário Geral e está tudo encaminhado para participar nas eleições gerais. Frelimo sobreviveu até aqui, depois da morte de Samora Machel, foi graças ao aparelho do Estado, porque tudo foi escangalhado. Mabota vê em Afonso Dhlakama um líder que dialogava com todas as esferas da sociedade para perceber e esboçar um projecto que abarcasse os diferentes sentimentos dos moçambicanos. A antiga presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH) diz-se preocupada com o facto de Dhlakama não ter preparado alguém a tempo e horas para dar continuidade ao seu projecto político. As lutas titânicas no interior da Renamo, afirma, eram impensáveis no tempo do falecido líder. A activista dos direitos humanos critica igualmente a falta de um projecto nacional por parte da nova direcção do principal partido da oposição. Renamo ainda ressente-se da morte do seu líder Raúl Domingos Alice Mabota João Pereira TEMA DA SEMANA Savana 03-05-2019 5 PUBLICIDADE PUBLICIDADE SOCIEDADE 6 Savana 03-05-2019 Passa hoje um ano após a morte do histórico líder da Renamo, principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, que dirigiu o movimento durante quase 38 anos. Em entrevista ao SAVANA, o politólogo José Jaime Macuane faz notar que um ano depois, o legado de Dhlakama na política nacional ainda se faz sentir, “provavelmente porque o seu capital político ainda está a ser explorado pela Renamo, mas ao mesmo tempo há um vazio na sua função de canal de expressão de parte dos actores políticos excluídos, principalmente no processo de paz, mais especificamente no processo de descentralização”, afirma Macuane, numa entrevista em que também comenta sobre a actual liderança da Renamo e tenta prever cenários nas eleições gerais de Outubro próximo, argumentando que existe uma grande possibilidade de a Renamo ter maioria em algumas províncias e, consequentemente, indicar seus governadores. Como é que olha para o rumo da política nacional, um ano após a morte de Afonso Dhlakama? Vejo a morte de Dhlakama como tendo implicações diferentes na política nacional, em duas vertentes: a eleitoral e a política. Sob o ponto de vista eleitoral, sem a presença de Dhlakama, a Renamo passou por um teste nas eleições autárquicas de 2018 no qual se pode dizer que teve um desempenho positivo, tendo em conta o número de autarquias ganhas e aquelas em que teve uma boa votação, além das que os resultados oficiais são duvidosos, pelas razões que assistimos. Para alguns isso pode significar que a Renamo consegue sobreviver eleitoralmente sem o seu líder histórico, mas eu acho que ainda é muito cedo: falta a eleição presidencial, em que a figura da liderança partidária é mais importante. Sob o ponto de vista político, ainda não vejo mudanças substantivas, porque o processo de paz continuou sem grande mudanças, o que pode ser considerado como um legado da negociação de Dhlakama com Nyusi. Desse processo veio o actual pacote de descentralização, com as suas imperfeições e assim mesmo continuou a tendência de exclusão de outras opiniões, principalmente aquelas que estão fora do parlamento. Nisso, não me parece que a política tenha mudado muito. O que talvez se note como um vazio é que pelo seu lado populista, mesmo tendendo a defender o seu partido, Dhlakama era mais receptivo à opinião pública e isso contribuía para entrada de outras perspectivas na discussão dos assuntos relacionados ao pacote da paz, pelo menos aqueles que não envolvessem questões militares. Em síntese, o legado de Dhlakama na política nacional ainda se faz sentir, provavelmente porque o seu capital político ainda está a ser explorado pela Renamo, mas ao mesmo tempo há um vazio na sua função de canal de expressão de parte dos actores políticos excluídos, principalmente no processo de paz, mais especificamente no processo de descentralização. Que Renamo temos hoje? Uma Renamo que ainda precisa se encontrar. Uma das consequências da liderança carismática (e consequentemente personalista) de Dhlakama foi o enfraquecimento da Renamo como partido. Um ano após a sua morte ainda não são visíveis os necessários esforços de fortalecimento da máquina partidária, ao mesmo tempo que a nova liderança do partido se expõe pouco, quase não dialoga com a sociedade e as suas ideias são pouco conhecidas. Até aqui as aparições têm sido mais reactivas. Também a crise da eleição dos delegados provinciais do partido, após o Congresso da Renamo deixa dúvidas de que haja uma aposta na democratização do partido, o que em si seria uma forma de fortalecê-lo. O legado político de Dhlakama está a ser ou não continuado, quer a nível partidário, quer a nível das negociações com o governo moçambicano rumo ao alcance da paz efectiva? Em certa medida sim, conforme anteriormente referi. No entanto, a continuação desse legado não é necessariamente uma coisa positiva, uma vez que o modelo de diálogo que se adoptou é excludente, deixa de fora as outras forças políticas e a sociedade civil. Isso levanta dúvidas sobre que resultados esse legado há- -de ter. No meu entender, a curto prazo, poderá garantir a acomodação momentânea da Renamo no poder e acesso aos benefícios deste. Mas também há assuntos que saíram da agenda, como a inclusão das forças da Renamo nos Serviços de Informação e Segurança do Estado. Isto é um assunto que sempre preocupou a Renamo. Mas repare que esses arranjos todos não levam a um resultado necessariamente inclusivo e democratizante. A partidarização do Estado e do aparelho de segurança não deve ser substituída por uma “bipartidarização”, porque no fim o resultado líquido será o mesmo: não teremos forças de defesa e segurança republicanas. Da mesma forma, criar um sistema de partilha de poder que substitui o clientelismo monopartidário por um clientelismo de dois partidos não levará a um país mais justo sob o ponto de vista socioeconómico e a uma paz social efectiva. Um dos legados de Dhlakama foi um quadro institucional que dividiu o poder entre a Renamo e a Frelimo. Isso pode ser visto no Conselho Constitucional, na CNE e em outras instituições. Este legado de partilha de poder não foi capaz de garantir a paz efectiva e não creio que tenha sido porque em muitos casos foi mal implementado, mas sim porque alienou outros actores sociais e políticos deste pacto, que acabou repousando sob bases frágeis. Esse legado pode ter sido importante para garantir a paz, após o Acordo Geral de Paz em 1992, mas não deve ser celebrado como modelo para um quadro institucional e político de busca de paz efectiva, porque é excludente e potencialmente gerador de conflitos, que eventualmente podem envolver outros protagonistas que não seja a Frelimo e a Renamo. Podemos pensar, por exemplo, nas potenciais causas da insurgência de Cabo Delgado e em que medida ela pode ser produto de um sistema que priorizou o pacto bipartidário em detrimento de um pacto social mais amplo. Liderança de Momade Substituir Dhlakama é uma tarefa que não se afigura fácil. Ossufo Momade foi o eleito para tal, acha que está a conseguir alinhar o partido nos ideais outrora defendidos por Dhlakama? Fica difícil fazer essa comparação, porque apesar de se conhecer a histórica oposição e contestação ao Governo da Frelimo e também a sua autodenominação como pai da democracia, Dhlakama não tinha um corpo claro de ideais políticos. Era essencialmente um líder carismático e populista, que sabia inserir no seu discurso as preocupações do momento com as quais os eleitores, principalmente os excluídos das redes clientelistas do regime, se identificavam. Por isso mesmo, é pouco objectivo se dizer se a actual liderança está ou não alinhada. Quando começar a fazer a campanha política (repare que não estou a dizer eleitoral, estou a falar para além dos períodos eleitorais) isso ficará claro. Daí eventualmente ficará claro que visão o partido tem e que ideias tem para materializar a tal visão. Além de se auto definir como democracia cristã, anti-comunista, representante dos excluídos e ferrenha anti-frelimista, a Renamo não fornece elementos para entender que ideais políticos tem. E isso faz falta para que ela possa ir para além de um partido cujas lideranças são “homens fortes” para se tornar numa organização política mais consolidada. Um dos desafios que a nova liderança tem é talvez de clarificar os ideais do partido e evitar o erro de ligar os destinos deste a sua liderança. Neste sentido, até seria positivo ter um outro tipo de liderança diferente da de Dhlakama, como forma de clarificar o alinhamento entre o partido e os seus ideais que, repito, são ainda vagos e precisam ser mais claros e com substância, o que dará uma base mais sólida para a acção. Depois da prestação positiva que a Renamo teve nas autárquicas de 2018, o que podemos esperar nas eleições gerais de Outubro próximo? Se as eleições no país fossem livres e justas, seria mais fácil prever o que se pode esperar. Assim mesmo, podemos tentar prever alguns cenários nas eleições provinciais, presidenciais e legislativas. Nas eleições provinciais, existe uma grande possibilidade de a Renamo ter maioria em algumas províncias e, consequentemente, indicar seus governadores. As possibilidades me parecem altas na Zambézia, Nampula e Sofala. Temos também províncias em que a Renamo é forte, como Manica e Tete. Tete é particularmente uma província com um histórico considerável de irregularidades eleitorais. Mas estes resultados dependem de dois factores: um é o que já indiquei, a justeza das eleições. Na falta desta, mesmo em tradicionais bastiões da Renamo, como os que acima indiquei, podem ocorrer surpresas. Se a máquina partidária da Renamo continuar frágil como tem sido, este cenário poderá ser mais provável. O segundo factor é a mudança da liderança da Renamo e as potenciais disputas internas, que em alguns casos podem minar a coesão do partido e isso afectar as suas possibilidades de vitória em províncias onde tem sido forte. Nas eleições presidenciais não espero grandes surpresas, a Renamo tem um candidato ainda pouco conhecido e que surpreendentemente ainda se expõe pouco, faltando seis meses para as eleições. Isso pode ser uma fraqueza que jogará contra, porque mesmo num cenário de sucesso eleitoral, será mais justificável manipular eleições de um candidato pouco conhecido do que um mais conhecido. Nas eleições legislativas, a Renamo está bem posicionada para aumentar o número de deputados, mas duvido que a Frelimo vá ceder a maioria legislativa e tudo fará para impedir que isso ocorra. José Macuane: “Legado de Dhlakama na política ainda se faz sentir” Por Argunaldo Nhampossa José Jaime Macuane diz que Dhlakama sabia inserir no seu discurso as preocupações do eleitorado excluído Instantes que marcaram o velório de Afonso Dhlakama na cidade da Beira TEMA DA SEMANA Savana 03-05-2019 7 PUBLICIDADE SOCIEDADE 8 Savana 03-05-2019 Em desfiles que praticamente se tornaram num “muro de lamentações” e uma plataforma de promoção de marcas e empresas, na capital, cerca de 25 mil trabalhadores marcaram presença quarta-feira, nas cerimónias centrais alusivas a celebração do dia Internacional do Trabalhador. As comemorações foram replicadas nas principais cidades do país, à excepção de Pemba, por força do ciclone Kenneth. Ostentando dísticos que variavam entre a publicidade e mensagens de repúdio ao desrespeito dos direitos laborais, com destaque para baixos salários, discriminação, falta de pagamento de horas extras e sindicalização da função pública, os trabalhadores marcharam, cantaram e dançaram, aparentemente satisfeitos com as camisetes que ganharam dos seus patrões para participarem no desfile. Foram cerca de quatro horas que trabalhadores de diferentes empresas nacionais, alguns em regime de conta própria ou empregados domésticos, que sob o lema “Sindicatos Juntos na Luta Pelos Direitos Laborais e Sindicais” desfilaram na tradicional marcha alusiva ao 1º de Maio. Nem a aprovação, esta terça-feira, pelo Conselho de Ministros de novos salários mínimos, que variam de 5 a 12%, foram suficientes para silenciar a massa laboral que uma vez mais voltou a considerá-lo irrisório para aquilo que é o custo de vida, apesar da inflacção oficial se ter situado nos 3,2% em 2017. Segundo a classe trabalhadora, o custo de vida está cada vez mais caro, os preços dos produtos são sufocantes, o salário mínimo do trabalhador não cobre as necessidades básicas, o reajuste somente veio agudizar o sofrimento. Deste modo, entendem que na actual conjuntura nacional, 19 mil meticais (MT) seria o salário mínimo justo. Os aumentos decretados com força de lei atingem pouco mais de 12 mil meticais para os sectores mais privilegiados, a área da banca e seguros. As “dívidas ocultas” que precipitaram o país a uma crise sem precedentes nos últimos tempos não foram esquecidas. A massa laboral pede para que não seja sacrificada de modo que o governo use os recursos que estavam destinados a melhoria da sua condição salariar para o pagamento das dívidas estimadas em cerca USD 2,2 mil milhões contratadas ao arrepio das normas. As “dívidas ocultas” contraídas pela administração Guebuza, fizeram o metical desvalorizar em 100%, passando dos 30 meticais por dólar americano para os 60 meticais dos últimos anos. Este ano, o metical está de novo a deslizar, estando um dólar agora para 65 Mt., antecipando novas dificuldades 1º. De Maio com ideologia na gaveta 'HVÀOHGHPDUFDVRXVLQGLFDWRV" Por Cleusia Chirindza para trabalhadores e empresas. A classe trabalhadora diz que não quer ser aldrabada e pretende que os salários sejam pagos na totalidade, sendo que as “dívidas ocultas” devem ser pagas pelos que as contraíram. O presidente da central sindical, habitualmente “cinzento” nos seus pronunciamentos, saudou as iniciativas da PGR e defendeu que os culpados nas dívidas devem ser punidos. Os trabalhadores do sector privado queixaram-se da violação dos seus direitos laborais por parte do patronato, exigiram um salário justo e a canalização dos descontos ao Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e que este esteja ao serviço do trabalhador e não das elites políticas nacionais. As empresas de segurança privadas que operam no país, no cômputo geral, lamentam os sucessivos atrasos no pagamento de salário que chegam a atingir cinco meses. Em cânticos e dísticos apelaram ao governo para que faça a devida fiscalização das empresas que não cumprem com as suas obrigações. Estas empresas, por seu turno, queixam-se das enormes dívidas que estão a suportar, por força da actual conjuntura. Trabalho doméstico A carga horária excessiva e maior segurança no trabalho foram outras componentes exigidas pelos sindicatos e comités que lutam pela justiça social de todos os trabalhadores, sem a exclusão de ninguém. Aqui destaque vai para a exigência da ractificação da convenção 189 que protege o trabalho doméstico. A ocupação neste sector dá emprego a uma faixa importante da população das grandes cidades, mas os direitos destes trabalhadores têm sido muito negligenciados devido à precaridade de muitas destas relações laborais. Outro “sector problemático”, que esteve no desfile foram os informais, alvo de uma grande ofensiva do Conselho Autárquico contra a venda nos passeios e nas bermas das estradas. Comiche, o novo edil, presente no desfile, prometeu que em breve vai promover uma reunião alargada para discutir as problemáticas dos informais. A falta de um plano de saúde foi uma das notas do caderno de reivindicação apresentado pelos funcionários da empresa de distribuição de dados e conteúdos, a “TVCABO”, que preferiram desfilar em silêncio como forma de manifestar o seu descontentamento e sem uniforme, alegando que o patronato não disponibilizou. O processo de fusão das empresas Telecomunicações de Moçambique (TDM) e a Moçambique Celular (Mcel), em Tmcel, ainda não tranquiliza alguns trabalhadores que temem serem afectados com redução da mão-de-obra na empresa. Mas caso sejam afectados apelam ao bom senso para que sejam devidamente observadas as questões referentes as suas indemnizações, porque caso não, prometem travar uma batalha sem cessar. “Não vamos sair e deixar o dinheiro”, dizia a mensagem do dístico que foi reproduzida em cântico. A pressão dos trabalhadores e o lobby junto do partido Frelimo, têm vindo a adiar decisões estratégicas nos “excessos” de trabalhadores na grande maioria das empresas estatais, alvo de uma gestão desastrosa, centrada nos interesses partidários e dos seus dirigentes. Mateus Magala, o antigo PCA da EDM, é apontado como uma das cabeças que rolou por tentar implementar um plano de redução drástica de força de trabalho. O Presidente da Organização dos Trabalhadores de Moçambique- -Central Sindical (OTM-CS), Alexandre Munguambe disse que, a questão das dívidas ocultas, bem como a corrupção generalizada são assuntos que preocupam os trabalhadores. Mais adiante, Munguambe afirmou que com o lema deste ano se pretende demonstrar o compromisso na salvaguarda dos direitos laborais e sindicais sobre o trabalho digno, como desencorajar as atitudes anti-sindicais de algumas entidades empregadoras que violam a legislação laboral vigente. O Presidente da OTM abordou também a questão do aumento salarial, tendo apontando que este ano foi muito difícil negociá-lo comparativamente aos anos anteriores e citou a conjuntura nacional que não favoreceu. Novos salários mínimos Reunido em mais uma sessão de Conselho de Ministros, o executivo moçambicano aprovou a nova tabela de salários mínimos por sector, que passam a vigorar com efeitos retroactivos a partir de 1 de Abril. Assim, na função pública, o salário mínimo foi revisto na ordem de 5%, fixando a nova base em 4.467,75 meticais, contra os 4.255 meticais que vinham sendo praticados desde a última revisão. Na função pública, o aumento abrange todas as categorias. Para o sector da agricultura, o reajuste foi de 5.78%, passando o novo ordenado mínimo a ser de 4.390 meticais, no sector de Pesca e Indústria, o salário mais baixo a pagar é de 5.370 meticais. O subsector da Pesca do kapenta também registou um aumento de 5.0%, com o novo mínimo nos 4.266,68 meticais. Na Indústria de Extracção Mineira e Grandes Empresas, o novo salário mínimo é de 9.254,60 meticais, resultado de um aumento a uma taxa de 12%. As Pedreiras e Areeiros tiveram de 10%, elevando para 6.379 meticais. Nas Salinas a taxa de aumento foi de 6%, elevando o salário para 5.318,06 meticais. Os trabalhadores do sector da distribuição de electricidade, gás e água passam a auferir um salário mínimo de 8.300 meticais, que resulta dos 6.41% acrescentados. A mesma percentagem foi adoptada nas pequenas empresas deste sector, onde o salário mínimo passa a ser de 6.760 meticais. Na área da construção, o reajuste foi de 6.04%, com salário mínimo a corresponder 6.136,70 meticais, nos serviços não financeiros o novo salário e de 6.850 meticais que corresponde a 9.6%. A indústria hoteleira tem um vencimento de 6.478 meticais, resultantes do reajuste de 10.2%. No sector de bancos e seguradoras, o aumento foi de 7.25%, fixando-se nos 12.760,18 meticais. No ramo de microfinanças, o incremento foi igualmente de 7.25%, passando o salário mínimo para 11.336,93 meticais. Savana 03-05-2019 9 PUBLICIDADE PUBLICIDADE 10 Savana 03-05-2019 PUBLICIDADE SOCIEDADE No próximo dia 07 de Maio, os órgãos autárquicos, eleitos nas eleições de 10 de Outubro de 2018, completam três meses, após a sua investidura. Para medir o pulsar dos primeiros 90 dias, o SAVANA revisitou três autarquias na província de Nampula, todas lideradas pela Renamo. Mas a segunda maior força política em Moçambique, alega que herdou municípios “completamente saqueados” pelos edis da Frelimo na hora de deixar o poder. Trata-se dos municípios de Angoche, liderado por Ossufo Rajá; da cidade da Ilha de Moçambique, chefiado por Gulamo Mamudo e da cidade de Nacala Porto, sob direcção de Raúl Novinte. Nas três autarquias, a realidade é similar. Todos alegaram que encontraram os cofres vazios. Falam de saque às contas bancárias, do património público, dívidas sem suportes documentais e até de sabotagens. No caso concreto do município de Angoche, o edil disse que levou o caso à ministra de tutela autárquica bem como ao Ministério Público (MP), para abertura de acção penal contra os potenciais suspeitos. Contudo, até hoje, ninguém está dar conta do recado. Os antecessores negam as acusações e dizem que são truques para justificar o mau desempenho. “Quando chegámos, encontrámos saldo zero nas contas do município. Fomos verificar os processos e nos deparámos com uma dívida de 8.3 milhões de meticais com diferentes agentes económicos ao nível das cidades de Angoche e Nampula. Não tínhamos papel, tonner, viatura, nem combustíveis para trabalhar. Tivemos de começar tudo de zero. Foi muito do parque automóvel do município para os serviços de apoio. Mas, estranhamente, quando assumiu as funções, todas viaturas estavam avariadas, incluindo a viatura protocolar e do presidente da Assembleia Autárquica. Rajá frisou que, em 2017, o município adquiriu uma viatura de marca Toyota Hilux para o presidente. Quando faltavam 10 dias para a tomada de posse do novo edil, a viatura acidentou e ficou completamente danificada. Foi na mesma altura, acrescenta, que o automóvel afecto ao presidente da Assembleia Autárquica, também teve avaria grossa e de difícil reparação. Sublinhou que a residência protocolar também não escapou dos actos de sabotagem. Todo mobiliário da sala, dos quartos, cortinados, geleiras, congeladores, aparelhos de ar condicionados e televisores foram retirados e fechaduras danificadas. “Quando cheguei à residência oficial encontrei tudo escangalhado. Soube que o imóvel havia sido reabilitado e mobilado, mas tudo desapareceu. Assim, continuo a residir na minha casa e estou sem viatura de Estado. Para me deslocar, dependo da boa vontade de um amigo que cedeu a sua viatura. É doloroso usar viatura de um particular, para trabalhos de município”, lamentou. Ossufo Rajá disse que encontrou dívidas na ordem de um milhão de meticais resultantes da falta de pagamento de água, assim como com o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Realçou que o elenco de Américo Adamugy (presidente cessante) não canalizava os descontos de segurança social ao INSS e, em virtude disso, o valor das dívidas atingiu mais de um milhão de meticais. “Há dias fomos contactados por uma firma que terá fornecido aparelhos de ar condicionado a autarquia. A empresa vinha exigir o pagamento de uma dívida na ordem de 500 mil meticais. Trouxe-nos comprovativos de facturas e termos de entrega do material, contudo, os aparelhos não constam no património do município. Foram desviados. Também encontrámos excesso de mão-de-obra. Para todos serviços municipais precisamos de 250 pessoas, mas a autarquia tinha perto de 500 trabalhadores. Fizemos levantamentos e verificamos que mais de 200 pessoas não prestavam nenhum serviço à edilidade, mas mensalmente auferiam salários. São pessoas ligadas às estruturas do partido Frelimo ao nível do distrito de Angoche, mas que os seus ordenados eram pagos pelo município”, explicou. Segundo Rajá, o processamento de salários do mês de Janeiro de 2019 esteve a cargo do anterior executivo. O tal sucedeu e o dinheiro foi transferido do governo central para o município a fim de se proceder com os pagamentos. Contudo, o dinheiro desapareceu. Referiu que todos casos foram comunicados à ministra da Função Pública e Administração Estatal, através do seu representante na província, ao governo da província de Nampula, assim como a Procuradoria da República no distrito de Angoche. Porém, estranhamente, nenhuma dessas entidades tomou conta do recado. Sublinhou que, no primeiro mês de actividades, a edilidade de Angoche teve de recorrer a favores de amigos e pessoas de boa fé para garantir o funcionamento. Os problemas de Angoche não param por aí. Segundo Rajá, neste momento, o município deve salários dos meses de Janeiro, Março e Abril. Ossufo Rajá disse que a falta de salários não resulta da incompetência da edilidade, mas sim da falta de desembolsos do governo central. “O governo central é que desembolsa fundos para o pagamento de salários aos funcionários efectivos. Diferentemente do que acontece noutras autarquias, o município de Angoche não recebe esse fundo há alguns meses. Primeiro diziam que o problema resultava da falta de documentação, visto que, com a mudança do governo, as pessoas que tramitavam esses expedientes, emprestando suas assinaturas, foram substituídas. Já resolvemos o problema e todos processos foram submetidos à Direcção Provincial de Economia e Finanças de Nampula, mas até agora ainda não foi resolvido. Se os fundos não forem canalizados não temos como pagar salários. O governo está a dever de 15 a 16 milhões de meticais ao município de Angoche”, disse. Ossufo Rajá disse que, por se tratar dum ano político, o objectivo do governo da Frelimo é desgastar a imagem dos governos da Renamo e usar isso como trunfo eleitoral. Mesmo debaixo de dificuldades, o presidente do Conselho Autárquico de Angoche afirmou que está atento as manobras políticas e, internamente, busca soluções para a resolução de alguns problemas como recolha de lixo, reabilitação de vias de acesso e construção de mercados. “Aumentámos a nossa base tributária de cerca de um milhão para 1.6 milhões de meticais mensalmente”, vangloriou-se. Ao SAVANA, Américo Adamugy, presidente cessante, refutou as acusações e disse que é tudo mentira, visto que, a sua equipa cumpriu com todas formalidades e procedimentos. Referiu que a entrega de pastas foi feita publicamente. Foi testemunhada pelos representantes da tutela administrativa, do governo provincial, do distrito, bem como dos membros da Assembleia Autárquica. “No relatório entregue ao novo governo autárquico, constava tudo, desde as dívidas, património autárquico, bem como dos projectos em curso. Quando recebeu o documento o meu colega não fez nenhum questionamento. Como está a dizer isso agora? Acho que está a procura de desculpas para justificar seus fracassos”, acusou. Américo Adamugy disse que quer o gabinete do presidente, bem como a residência protocolar foram entregues em perfeitas condições. Quanto a viatura protocolar, o então edil disse que se envolveu num acidente de viação, quando regressava da cidade de Nampula e ficou danificada, mas que o município tem outras viaturas que o presidente pode, enquanto cria condições para aquisição de um outro meio. Para Adamugy, o novo edil não ocupou a residência protocolar por razões meramente pessoais e não porque está degradada. Nacala Raúl Novinte, presidente do Conselho Autárquico da cidade de Nacala, eleito pela Renamo, também afirmou ter herdado um legado caracterizado por vários problemas. Falou da existência de funcionários fantasmas e avultadas dívidas. Quase todos meios circulantes do município de Nacala estavam completamente inoperacionais devido a vandalização. A residência oficial do presidente do município está em condições deploráveis e parte do património do município foi transferido para o governo do distrito de Nacala, sob égide da Frelimo. No património que passou do município para o governo do distrito, acrescentou, consta um imóvel recém reabilitado pelos fundos da autarquia. A reabilitação do edifício custou, a edilidade, cerca de três milhões de meticais. Segundo Novinte, quando o novo edil chegou a autarquia, a viatura protocolar tinha desparecido. “Foi preciso esperar vários dias para ter de volta”, precisou. Para além de património usurpado e contratos rubricados fora dos procedimentos legais, a nova liderança municipal de Nacala disse que herdou dívidas na ordem de 40.7 milhões de meticais. Confrontado com a situação, o edil cessante, Rui Chong Saw, não reconheceu os factos e disse que são falsidades. Saw referiu que a dívida que é do seu domínio foi aprovada pela Assembleia Municipal, e é de 20 milhões de meticais. “As pessoas que difundem essas informações só querem sujar a minha imagem e de toda equipa que comigo governou a cidade de Nacala”, defendeu-se Ilha de Moçambique O rol de lamentações vem também do município da cidade de Ilha de Moçambique, liderado por Gulamo Mamudo. A autarquia foi ganha pela Renamo nas eleições de 2018. O autarca contou ao SAVANA que, quando tomou posse, encontrou um município completamente saqueado e com grande parte do património vandalizado. Segundo Gulamo Mamudo, no salão de eventos do município foram saqueadas mais de 100 cadeiras, no edifício municipal retirados aparelhos de ar condicionado, ventoinhas, computadores e algum mobiliário. Referiu que parte do material informático foi encontrado nas residências dos funcionários do município, que usavam computadores para assistir filmes. De acordo com o edil, nas viaturas do município foram retirados baterias, pneus e outros acessórios. Coincidência ou não, um dia antes da tomada de posse, a empresa responsável pelo fornecimento de água na Ilha de Moçambique foi cortar água na residência oficial. De acordo com Gulamo Mamudo, o seu elenco encontrou dívidas na ordem de sete milhões de meticais com diferentes entidades públicas e privadas. O estranho, continuou, é que grande parte do valor em dívida não tem documentos que suportam a sua existência. Nos processos, não consta para que fim foi gasto o dinheiro e nem justificativos que comprovam esses gastos. Apenas constam facturas. Por exemplo, disse Gulamo, há dívidas com empreiteiros, mas que nos processos não consta a documentação atinente aos concursos públicos para Municípios na província de Nampula “Herdamos autarquias saqueadas pela Frelimo” — Edis da Renamo Por Raúl Senda difícil”, queixou-se Ossufo Rajá, edil de Angoche. O edil contou que, dos 8.3 milhões de meticais que o município devia, cerca de três milhões de meticais estavam relacionados com despesas referentes a compra de peixe. Sublinhou que o município de Angoche chegou a gastar entre 20 e 40 mil meticais/dia na compra de peixe. Contudo, avança o edil, o estranho é que o peixe não faz parte de meios materiais que a autarquia precisa para trabalhar. “O peixe não entra na lista dos nossos consumíveis, mas foi o item que mais endividou o município. É no mínimo ridículo, é estranho”, desabafou. Ossufo Rajá apontou outros desmandos que, no seu entender, roçam a sabotagem e até crimes. Contou que oito viaturas fazem parte essas obras e os vistos do Tribunal Administrativo. Sobre os salários, o edil disse que o município da Ilha está a dever apenas o mês de Abril, porque o governo central ainda não transferiu os fundos. O edil queixou-se do facto dos funcionários herdados do então elenco obstruírem todos esforços que visam o desenvolvimento da Ilha. Sobre os bens saqueados, Gulamo Mamudo disse que ainda não apresentou a queixa-crime contra os presumíveis infractores, porque o objectivo primário é recuperar o património retirado. Contudo, em caso de resistência o caso chegará as autoridades judiciárias. Gulamo contou que as receitas estão num nível estacionário. O município colectou mensalmente cerca de 250 mil meticais, um valor bastante ínfimo para aquilo que são as reais despesas do município. Cidade de Angoche: um dos municípios, dirigidos pela Renamo, cujo património terá sido saqueado “Vivo na minha casa porque, a residência protocolar foi vandalizada”, Ossufo Rajá Gulamo Mamudo, edil da Ilha de Moçambique Savana 03-05-2019 11 PUBLICIDADE $+LGURHOpFWULFDGH&DKRUD%DVVDGHVHMD DWRGRVRVWUDEDOKDGRUHVPRoDPELFDQRV XP)HOL]GLDLQWHUQDFLRQDO GRVWUDEDOKDGRUHV 12 Savana 03-05-2019 INTERNACIONAL PUBLICIDADE O Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religioso, o Ministério da Indústria e Comércio com o apoio do projeto da USAID, SPEED+ estão a trabalhar com uma equipa de consultores nacionais e internacionais na revisão geral do Código Comercial de modo a alinhar com as melhores práticas internacionais, com os requisitos de um código comercial moderno que apoia a competitividade no sector privado. As sessões de consulta pública vão obedecer o seguinte calendário: GH0DLR0DSXWRGDVK DV K GH0DLR1DPSXODGDVK DV K GH0DLR4XHOLPDQHGDVK DV K Este convite é dirigido a empresários nacionais e internacionais, advogados e instituições com interesse no assunto. 3RUIDYRUFRQÀUPHDVXDSDUWLFLSDomRDWUDYpVGRVHJXLQte contacto: Ana Muianga: e-mail: ana_muianga@speed-program.com Parceiros: CONVITE Consulta Pública no âmbito da revisão do Código Comercial República de Moçambique Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos República de Moçambique Ministério da Indústria e Comércio Engenheiro de 35 anos que iniciou carreira política como dirigente estudantil chegou à chefia da oposição na Venezuela quase por acaso. Ascensão veio graças ao vazio deixado pelas lideranças perseguidas pelo regime. Ao se autoproclamar “chefe de Estado interino” da Venezuela no dia 23 de Janeiro, Juan Guaidó desafiou o homem mais forte da nação caribenha, Nicolás Maduro, como nenhum outro político opositor. Até 4 de Janeiro de 2019, véspera de assumir a presidência rotativa do Parlamento, nada deixava antever que o engenheiro industrial de 35 anos estivesse disposto a chegar tão longe. Sua condição de integrante do Vontade Popular - tido como o mais radical dos partidos antichavistas - permitia prever uma gestão legislativa assertiva, mas sua breve biografia não dava base para se imaginar um cenário como o que atualmente protagoniza: de golpe. Nem os próprios venezuelanos conheciam bem Guaidó. Descrito como “centrista” por aqueles que o conhecem, apesar de seu partido ser membro da organização Internacional Socialista (IS), Juan Guaidó começou sua carreira política como dirigente estudantil social-democrata na Universidade Católica Andrés Bello, na capital venezuelana, Caracas. Pouco depois, seu nome apareceria entre os dos que fundaram o Vontade Popular em 2009. Foi como representante da legenda que obteve seu primeiro cargo. Guaidó foi designado deputado suplente para o período entre 2010 e 2015. Em 2015, participou de uma greve de fome exigindo que as autoridades eleitorais - alinhadas com o governo - marcassem eleições parlamentares. Seu sacrifício parece ter valido a pena: nas eleições legislativas de 6 de Dezembro daquele ano, a oposição arrebatou do chavismo a maioria dos lugares no Parlamento, e Guaidó foi nomeado deputado pelo Estado de Vargas, com mais de 97 mil votos, para o período de 2016 a 2021. No seu caso, o resto é história em pleno desenvolvimento. Salto na hierarquia “Juan Guaidó chegou à presidência do Parlamento por acaso. E com isso não estou insinuando que ele não tenha os méritos requeridos para exercer o cargo”, ressalta o sociólogo venezuelano Héctor Briceño, professor visitante da Universidade de Rostock. “O que quero dizer é que, na hierarquia de seu partido, existem dirigentes de maior peso que foram sendo inabilitados um a um. Isso abriu caminho para Guaidó.” Leopoldo López, o líder do Vontade Popular, está preso em regime domiciliar; Freddy Guevara, ex-vice-presidente do Parlamento, está refugiado na residência do embaixador chileno em Caracas desde que o regime de Maduro o acusou de orquestrar os protestos contra o governo de 2017 e retirou sua imunidade parlamentar; e Carlos Vecchio, ex-coordenador do partido, optou pelo exílio quando foi acusado de responsabilidade pelas mortes ocorridas nas manifestações de 2014. Quando ganharam juntos as últimas eleições legislativas, em Dezembro de 2015, os membros da Mesa da Unidade Democrática (MUD) - a aliança de partidos de maior sucesso do antichavismo - concordaram em ocupar a presidência do Parlamento de forma rotativa: o Acção Democrática assumiu em 2016, o Primeiro Justiça, em 2017, e Um Novo Tempo, em 2018. Juan Guaidó, o líder oposicionista que desafiou Maduro Oministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, criticou nesta quarta-feira duramente o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo pela “interferência” na crise política na Venezuela. Uma nota do gabinete do ministro disse que Lavrov e Pompeo falaram por telefone, por iniciativa dos Estados Unidos. De acordo com a mesma fonte, “o foco foi a situação na Venezuela, onde um dia antes a oposição (...) tentou tomar o poder” com o “evidente apoio” dos Estados Unidos. Os russos consideram que “a interferência de Washington na ordem interna daquele Estado soberano, inclusive apoiando a mudança dos seus líderes, é uma grave violação da lei internacional”. E defendem que a “continuação desta agressiva atitude trará sérias consequências.” O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse que uma “acção militar” é “possível”, se for “necessária” para favorecer a transição política na Venezuela. “A acção militar é possível. Se for necessário, é o que os Estados Unidos farão”, afirmou Pompeo numa entrevista à estação de televisão norte-americana Fox. “Nós preferíamos uma transição pacífica para o poder, com a saída de Maduro e a realização de novas eleições, mas o Presidente [Trump] deixou claro que, num certo momento, é preciso saber tomar decisões”, acrescentou Pompeo. As autoridades norte-americanas reforçaram na terça-feira as pressões sobre as chefias militares e figuras chave do regime para que apoiem o levantamento liderado pelo autoproclamado Presidente interino Juan Guaidó e responsabilizaram a Rússia e Cuba por Maduro se manter no poder. Juan Guaidó desencadeou, na madrugada de terça-feira, um acto de força contra o regime de Nicolás Maduro, em que envolveu militares e para o qual apelou à adesão popular. Rússia denuncia “interferência” dos EUA Savana 03-05-2019 13 PUBLICIDADE 14 Savana 03-05-2019 Savana 03-05-2019 15 NO CENTRO DO FURACÃO AEstrada Nacional Número Seis, que estabelece a ligação entre a cidade portuária da Beira e a vila fronteiriça de Machipanda, é de uma qualidade que a compara favoravelmente com muitas vias modernas em qualquer canto do mundo. Para além da intervenção de melhoramento feita sobre o asfalto, a estrada foi ampliada em certos sectores para incluir faixas de ultrapassagem, e com quatro faixas nos seus segmentos urbanos, o que permite uma maior fluidez do trafego nas zonas de maior concentração. Nestes centros urbanos, a estrada tem um separador central que foi elevado a um nível que não permite automobilistas indisciplinados de o galgar para se posicionarem nas faixas contrárias, como tem sido hábito neste país. a proximidade à cidade da Beira tem seis faixas. Já lá vão os dias dos congestionamentos com camiões provenientes dos países vizinhos ou do interior se dirigem ao porto. O único senão são os sinais de limite de velocidade para 40 quilómetros por hora em alguns pontos. Já na segunda metade dos anos noventa, tinha acompanhado as obras que transformaram esta via de uma lingueta de alcatrão para uma estrada mais convencional. Seguindo-a no sentido oeste-este para a Beira, este cenário de modernidade e conforto é interrompido exactamente no ponto onde começa a planície de Nhamatanda. É aqui onde a estrada sofreu quatro cortes na sequência das chuvas que acompanharam o ciclone Idai, que se abateu sobre a região central do país no dia 14 de Março, provocando muita dor, luto e miséria. O primeiro sinal de destruição está na portagem de Nhamatanda, onde do tecto restam apenas fios suspensos e algumas placas de plástico. Faço este percurso exactamente um mês e um dia depois que esta região foi fustigada pelo Idai. Não está feita ainda uma avaliação completa sobre o que realmente aconteceu, mas a quantidade de água que se abateu sobre aquela região pode não ter sido apenas resultado da chuva. É preciso saber como é que se comportaram as barragens localizadas perto da zona do sinistro, incluindo no vizinho Zimbabwe. Os principais rios da região, nomeadamente o Revue, o Pungoe e o Buzi despejaram para a vasta planície quantidades incalculáveis de água que a tornaram num oceano do interior. Mas os estragos na estrada não terão sido apenas resultado de ter chovido em grandes quantidades. Apesar de todo o melhoramento feito sobre a estrada, nota-se, nos pontos afectados, já de si propensos a cheias em época chuvosa, que a elevação da quota literalmente funcionou como uma barreira para impedir a passagem das águas para o outro lado. Estas, vindas na direcção norte-sul, carcomeram a o subsolo e a camada inferior do asfalto, antes de galgarem a estrada e encontrar o seu caminho para o outro lado. Especialistas chegam mesmo a falar de “erros de engenharia”, sublinhando que uma série de pequenas pontes com sistemas de passagens de água por baixo poderiam ter evitado os estragos que se abateram sobre a estrada. Apesar das águas se terem evaporado ou vazado para outros pontos, são ainda visíveis as marcas dos danos; palhotas destruídas e casas com cobertura em chapas de zinco que foram torcidas pela força dos ventos. Todo o percurso ao longo da planície está povoado de centros de acomodação com tendas erguidas para alojar os novos deslocados. Cada acampamento representa uma organização humanitária das tantas que vieram de todos os cantos do mundo para ajudar a aliviar o sofrimento. Ninguém nesta zona não tem uma estória para contar sobre as consequências do Idai no seio da sua própria família. São pessoas que viveram na pele o que aconteceu a partir do fim da tarde daquela Quita Feira em que o centro de Moçambique tornou-se completamente isolado do resto do mundo. Uma dessas pessoas é Domingos José Nico, de 27 anos de idade, que residia no posto administrativo de Muda, na aldeia Maringue. “Quando o ciclone veio destruiu todas as casas e machambas”, disse ele, mostrando as cicatrizes de ferimentos que sofreu quando tentava segurar chapas de zinco que se desprendiam da cobertura da casa onde vivia com os pais, três irmãos e igual número de sobrinhos. Eram cerca das vinte horas. “As chapas estavam a desprender-se da casa, tentei assegurá-las, mas dada a intensidade do vento larguei-as e organizei toda a família para fugirmos e irmos nos refugiar na Casa da Agricultura”, acrescenta, montado na sua bicicleta, passeando sem propósito no campo de acomodação de John Segredo, no Sétimo Bairro, onde se encontram alojadas outras pessoas afectadas pela intempérie. Manuel Zeca Jemusse, também de 27 anos, encontra-se refugiado num outro acampamento na mesma região. Também montado na sua bicicleta, diz que perdeu o tio e um filho deste, ambos arrastados pelas águas. Os números oficiais sobre mortes directamente causadas pelo ciclone Idai podem se revelar inconclusivos, dada a possibilidade da existência de corpos que nunca serão recuperados. Será talvez necessário que as autoridades instituam um sistema que permite a familiares reportarem casos de entes seus dados como desaparecidos. A cidade da Beira, apesar de ter sofrido mais danos materiais, teve um numero reduzido de mortes, em parte graças à acção de mobilização levada a cabo pelas autoridades municipais, aconselhando as pessoas a não se exporem ao perigo. Mas ainda é visível o cenário de casas com o telhado destruído ou coberturas com chapas de zinco que foram arrancadas ou torcidas pelo vento. Por estas alturas, todos os troncos de árvores caídas nas várias estradas da cidade já foram removidos, em grande parte graças a uma ação de voluntarismo levada a cabo pela população que ofereceu os seus préstimos à edilidade. O fornecimento de energia eléctrica foi parcialmente restabelecido, mas há bairros da periferia onde a escuridão ainda prevalece. Nos bairros circunvizinhos há também histórias do pânico e horror que se visitou sobre a população local. Tal é o caso de Florência Macate, uma jovem de 21 anos de idade, curso superior de comunicação acabo de concluir e à procura de emprego, que diz ter contraído ferimentos ligeiros quando uma chapa de zinco atingiu e partiu o vidro de uma janela da casa onde vive com os pais e irmãos. O emblemático campo de golfe tornou-se numa mata de capim alto. O Hotel Moçambique, no centro da cidade, também sofreu alguns danos, mas nem por isso deixa de ser o principal aquartelamento para militares sul africanos, incluindo da força aérea, que ainda realizam algumas operações de alívio em distritos próximos afectados pelo ciclone. Pela manhã, o restaurante do hotel assemelha-se a uma messe onde os militares tomam o pequeno almoço antes de partirem para mais um dia de trabalho, socorrendo-se de helicópteros que se encontram parqueados na placa principal do Aeroporto Internacional da Beira. “Ainda há muito trabalho”, diz um dos militares. “Nunca vi coisa igual na minha vida, e claro que no fim disto, muitos de nós precisaremos de uma terapia pós-traumática devido à crueldade que tivemos de testemunhar”. No rasto do ciclone Idai Por Fernando Gonçalves José Domingos Nico (à direita) sofreu ferimentos quando tentava assegurar chapas de zinco que se desprendiam da casa onde morava. O seu companheiro, Manuel Zeca Jemusse, perdeu dois familiares arrastados pelas águas. Uma funcionária das Nações Unidas usou a metáfora da passagem de um buldózer para dar ao mundo a imagem do inferno deixado pelo ciclone Kenneth em várias comunidades dos distritos da província de Cabo Delgado. “Vi comunidades inteiras arrasadas, como se tivesse passado por lá um buldózer”, descreveu a funcionária, no regresso de uma viagem de helicóptero pelas zonas apanhadas pelo temporal. “Sim, os escombros em que ficaram edifícios de algumas zonas são de um buldózer”, apoiou um quadro sénior de um dos ministérios do Governo moçambicano. O Kenneth não teve a escala do Idai, que a 14 de Março arrasou o centro de Moçambique, principalmente a cidade da Beira, mas também deixou a sua marca de “lúcifer”. Até terça-feira, estavam contados 41 mortos, número que poderá subir, à medida que mais áreas atingidas voltarem a ficar acessíveis. Ventos com rajadas fortes, que chegaram perto dos 200 quilómetros e chuvas torrenciais, deixaram as populações da Ilha do Ibo, Quisssanga, Macomia e Pemba a lutar pela vida. A caminho, entre os dias 25 e 27 do mês passado, o “Kenneth” afectou 35.228 famílias, destruiu O centro de saúde da vila-sede, a dependência do BCI e infra-estruturas sociais e económicas foram varridas. Na ilha do Ibo, a hotelaria e turismo, bem como casas de particulares não escaparam à fúria do Kenneth. Mais de quatro mil pessoas foram afectadas. O distrito de Quissanga ficou com o centro de saúde da vila sede parcialmente danificado. Na sequência da catástrofe, Quissanga e Metuge estão literalmente isolados da capital provincial, Pemba. O acesso só pode ser feito via aérea. Ciclone Kenneth Um “buldózer” passou por Cabo Delgado Por Buanamade Assane, em Pemba que se encontravam numa residência morreram, quando a lixeira da cidade cedeu à pressão da água. Na manhã de segunda-feira, foi retirado do local o corpo de uma mulher que, conjuntamente com o marido, terão ignorado apelos para abandonarem a zona da lixeira. O marido continua soterrado. “Conseguimos retirar o corpo da minha cunhada, mas o do marido não foi possível. Ainda assim, outras 10 famílias continuam soterradas na mesma área”, declarou um jornalista, que tem laços de familiaridade com algumas das vítimas do deslizamento da lixeira. Apesar das medidas de precaução, muitas casas ficaram destruídas pelas enxurradas na capital da província, as estradas transformaram-se em rios com mais de um metro. Nos bairros de Paquitequete e Josina Machel, as casas ficaram submersas, com as águas a atingir ao nível da cobertura das casas. Mesmo em momentos de grave emergência, as pessoas não se desapegam dos seus bens. Muitas famílias resistiram a apelos de retirada das casas por recearem a perda de património, que podia ser surripiado por oportunistas. Factura das alterações climáticas O ciclone Kenneth, que veio a seguir ao Idai, deixam cada vez mais encurralados os cépticos das mudanças climáticas, consideram especialistas. As Nações Unidas assinalam que as alterações no clima agravaram o impacto dos dois ciclones que se abateram sobre Moçambique, em menos de dois meses, se bem que não tenham sido a causa directa destes eventos extremos. “O que podemos dizer é que o impacto de ambos os ciclones – Idai em Março e Kenneth em Abril – foi intensificado pelas alterações climáticas”, declarou a porta-voz da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Clare Nullis. Nullis explicou que o aumento do nível do mar na costa de Moçambique provocou uma ondulação mais elevada, enquanto “as chuvas tão fortes que se registaram em Moçambique são compatíveis as resultantes das alterações climáticas”. Moçambique nunca tinha registado dois grandes ciclones em uma única temporada. Também nunca tinha ocorrido um fenómeno meteorológico deste tipo tão a norte da costa oriental do continente, como se verificou com o segundo destes ciclones. O acesso da população aos alimentos é uma preocupação das agências humanitárias para o longo prazo, uma vez que os ciclones destruíram mais de 31 mil hectares de culturas, em plena época de colheitas. Desespero O director-executivo da Adel, uma ONG parceira da Oxfam, Carlos Dias, descreveu assim os efeitos do Kenneth. “A situação em Ibo, Macomia e Quissanga é terrível, porque foram os distritos mais atingidos”, declarou. As pessoas tentam retomar as suas vidas, mas as suas casas estão inundadas e muitas perderam tecto. “As estradas estão destruídas e precisamos de agir rapidamente para limitar o impacto da fome e doença”, afirmou Carlos Dias. Em Pemba, continuou, bombeiros brasileiros envolveram-se activamente no resgate de vítimas. Alima, 19 anos, cuja casa em Macomia foi destruída, afirmou: “O vento e a chuva eram tão fortes. Tudo foi destruído, tinha muito medo e ainda estou com medo. Precisamos de comida, água e de uma nova casa. Agora, dormimos fora e as crianças já começaram a tossir”. parcialmente 32 mil casas e outras duas mil completamente e ainda devastou 31 mil hectares. Além destes danos, o ciclone destruiu 117 postes de média tensão e afectou 21 mil alunos de diferentes escolas. Hospitais, casas, maioritariamente construídas com material precário, escolas, estradas e postes de energia foram presas fáceis para o mau tempo. Macomia foi o mais castigado por esta reacção da natureza aos maus tratos que lhe tem sido infligidos pelo homem, dizem especialistas. Os distritos do norte da província, nomeadamente Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Palma e Nangade também estão isolados do resto de Cabo Delgado, desde o dia 25 do mês passado, devido ao desabamento da ponte sobre o rio Muagamula, distrito de Macomia, que cedeu à fúria das chuvas. Ibo, Macomia Quissanga e Meluco ficaram sem luz, porque Kenneth derrubou os postes de transporte. Lixeira de Pemba Na cidade de Pemba, cinco pessoas Parte da EN6 que não resistiu ao ciclone Idai Ciclone Kenneth destruiu habitações, deixando muitas famílias sem abrigo 16 Savana 03-05-2019 PUBLICIDADE Assinatura do jornal A partir de 01 de Agosto de 2017 DESTINO PERÍODO Trimestral Semestral Anual TODO O PAÍS 1.000,00mt 1.850,00mt 3.500,00mt USD 20,00 USD 35,00 USD 60,00 PAÍSES DA SADC USD 40,00 USD 75,00 USD 130,00 RESTO DO MUNDO USD 50,00 USD 100,00 USD 200,00 Assinatura versao electrónica USD 25,00 USD 40,00 USD 70,00 Cada período é renovável em qualquer altura do ano. Entrega ao domicílio nas Cidades de Maputo, Matola e Beira. Aceitamos propostas para novos agentes, distribuidores e angariadores de assinaturas em todo território nacional. 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3HUIRUPLQJ RWKHU WDVNV WR VXSSRUW WKH LPSOHPHQWDWLRQ RI WKH 0XOWL$QQXDO Country Strategy, if necessary. .QRZOHGJHVNLOOVDQGH[SHULHQFH 0LQLPXPRI0DVWHUVOHYHOGHJUHHLQUHODWHGDUHDV ([SHULHQFHRIZRUNLQJLQDG\QDPLFHQYLURQPHQWWRGHOLYHUKLJKTXDOLW\SURgramme and policy results that contribute to inclusive and sustainable development. ([SHULHQFHZLWKWKHPDQDJHPHQWRIDVHWRISURMHFWDFWLYLWLHV ([SHULHQFHLQZRUNLQJZLWKDQGLQÁXHQFLQJNH\SDUWQHUVDWVHQLRUOHYHOV²LQcluding government ministries, NGO’s and development partners. 8QGHUVWDQGLQJRIWKHUHOHYDQWJRYHUQPHQWIUDPHZRUNVDQGOHJLVODWLRQUHODWHG to the policy areas or ability to acquire this knowledge rapidly. 3URYHQDELOLW\WREXLOGDQGPDLQWDLQLQWHUQDODQGH[WHUQDOQHWZRUNV 6NLOOVLQWUDQVODWLQJLQVLJKWVDQGLQIRUPDWLRQLQWRDGYLFHVSODQVDQGUHSRUWVDQG LQDVVHVVLQJWKHLUSROLF\DQGÀQDQFLDOLPSOLFDWLRQV ([FHOOHQWRUDODQGZULWWHQVNLOOVLQ(QJOLVKDQG3RUWXJXHVH $ELOLW\WRDGDSWWRHPHUJLQJLVVXHVDQGFKDQJLQJSULRULWLHV $SSOLFDWLRQVRITXDOLÀHGFDQGLGDWHVDUHLQYLWHG 3OHDVHVHQG\RXU&9DQGPRWLvation letter in English in WORD format to the email MAP@minbuza.nl by 9 May 3OHDVHFOHDUO\LQGLFDWHLQWKH´6XEMHFWµWKHYDFDQF\\RXDUHDSSO\LQJIRU desenvolvimento, liderança e juventude, e originário da mesma província dos Machel, aponta como outra fragilidade de Filipe Nyusi o que chama de paralisia da economia e da sociedade, caracterizada por falta de actividade, porque as pequenas e médias empresas fecharam, em parte, porque são devidas pelo próprio Estado. Feita a introdução, Nuvunga argumenta que, dependendo da maneira como vai gerir o “caso Samito”, a Frelimo pode estar à beira do fim. “A expulsão de Samora Machel Jr. pode ser o fim, porque Samora Machel Jr. vai levar consigo um segmento importantíssimo da população, vai fracturar a Frelimo e vai fracturá-la no pior momento da sua existência, onde, fundamentalmente, faltam ideias iluminadas”, atira. “Não há ideias ali”, reitera, em alusão à liderança máxima do partido. Um partido, prossegue, que está, completamente, divorciado do seu processo histórico, emancipador e vanguardista do desenvolvimento. O entrevistado é da opinião que, diante da actual Frelimo, corrupta, que rouba a esperança do povo e das crianças, pode ser que, pelas suas origens históricas, valha a pena ter um candidato como SMJ, que não está envolvido nas dívidas ocultas. E lembra a sua origem histórica: “é filho de Josina e Samora Machel. O filho primogénito destas duas pessoas não pode ser afastado da corrida municipal por um qualquer secretário que não conheceu Samora e Josina”. Vê numa possível expulsão de SMJ a continuação do que chama de processo fracturante e fragilizador do próprio partido, como quando foi excluído nas autárquicas do ano passado. Mas sob ponto de vista de legitimidade pública do movimento de libertação nacional, será como que um comboio continuar sem alma, compara. “Em toda a África, a expulsão de vozes contestatárias é uma característica comum e isso representa o autoritarismo das lideranças africanas, que usam os estatutos para excluir outros, ao invés de permitir o aprofundamento democrático”, diz. E prossegue: “ao invés de aprofundar o debate democrático, se usa esse tipo de instrumento para silenciar e expulsar e dada a economia política da governação, onde se você não está com aqueles que governam, está sujeito a viver mal e até correr risco de vida, faz com que as pessoas se arregimentem, tenham de ficar ali a ser seguidistas, e isso mata o desenvolvimento democrático dos partidos políticos, mata o desenvolvimento político e democrático das sociedades e esteriliza as possibilidades de desenvolvimento”, observa o director do ADS. Sobre as correntes que defendem novos candidatos na Frelimo, Nuvunga afirma que, a existirem, é mais pelo estilo de liderança do presidente Nyusi não estar a gerar frutos. “As pessoas querem solução. Passar toda a hora a falar de Guebuza, porque foi Guebuza, porque foi Guebuza, isso não traz comida para as pessoas. Guebuza saiu do poder há cinco anos. Deixou os problemas que deixou. Você disse que era o candidato certo para os resolver. Que os resolva. Passar a vida a falar de Guebuza, não nos resolve o assunto. Peguem a ele, metam na cadeia, mas você resolva o problema do emprego para os jovens, do investimento directo que tem de voltar para permitir que as pequenas e médias empresas possam funcionar, possa financiar a economia e possa pôr o país a andar para frente. É isso que os moçambicanos querem ver”, rebate o cientista político, para quem “passar a vida a nos entreter com os assuntos do passado, isso não é boa liderança”. Diz que é verdade que Guebuza causou e causa dor aos moçambicanos, mas, quatro anos depois, já se devia assistir o presidente Nyusi a afirmar o seu próprio estilo de liderança e governação, e esse estilo gerar frutos, a dar emprego aos moçambicanos mais investimentos e a permitir que a economia funcione. “Isso não está a acontecer”, ataca. Para Nuvunga, nem as detenções no âmbito nas dívidas ocultas safam a imagem, tremendamente, fragilizada de Filipe Nyusi. Pelo contrário, prossegue, elas mostram um desacerto institucional muito grande. “São detenções cosméticas que misturam dívidas ilegais com ajustes intrapartidários de contas, com uma PGR totalmente não profissional, não séria”, afirma. Para ele, são detenções de sobrevivência política e estão orientadas para aqueles que não têm poder. “Se fosse uma coisa séria que Nyusi estivesse a fazer, ele ia deter parte de alguns dos seus ministros, que são igualmente corruptos. Aliás, alguma evidência mostra que ele próprio pode ter participado deste processo. Então, ele está a proteger os dele e a deter os outros”, diz. Trata-se da segunda revolução – Albino Forquilha Albino Forquiha é o ponta de lança de SMJ. Era o número dois da lista da AJUDEM chumbada pela CNE. Falou ao SAVANA e deixou o posicionamento da “ala Samito”, nas vésperas do CC. Para ele, os membros do principal órgão entre os congressos devem ter coragem de atacar o “caso Samito” que, na verdade, tem que ver com democracia interna, corrupção, calote, falta de justiça, entre outros males do país. “Se o CC se furtar a tratar esses aspectos, estará a afundar a própria Frelimo”, refere. Diz que o assunto não pode ser visto como de SMJ, porque ele é apenas a pessoa que as bases viram para conduzir a causa. Diz tratar-se de uma segunda revolução em marcha. “De facto, a terra e os homens estão libertos, mas há outros aspectos inerentes à independência do homem que ainda não estão a ser tratados nesta primeira revolução e Samora Machel Jr. é este que está a aparecer como quem conduz o processo da segunda revolução”, argumenta. Defende abertura de espaço para debate no CC, incluindo a discussão sobre novos candidatos. Albino Forquilha avisa que, se o “caso Samito” não for bem gerido, pode resultar em convulsões sociais jamais vistas nos últimos 40 anos. Mas é cauteloso sobre o futuro em caso de expulsão. O que deixa claro é que encontrar-se-á uma plataforma política para acomodar os valores que diz, na verdade, serem dos moçambicanos. Redacção Adriano Nuvunga Albino Forquilha TEMA DA SEMANA 4 Savana 03-05-2019 Um ano sem o eterno resistente Oregulado de Mangunde, no distrito de Chibabava, província de Sofala, volta a curvar-se, esta sexta-feira, para prestar homenagem a uma das figuras incontornáveis na história política do país nos últimos 40 anos. Hoje, passa exactamente um ano, após a morte de Afonso Dhlakama, o emblemático líder da Renamo. Membros do partido, familiares, simpatizantes e convidados vão celebrar uma missa no cemitério familiar onde jazem os seus restos mortais em Mangunde. De princípio, as cerimónias serão dirigidas pelo presidente da Renamo, Ossufo Momade. A homenagem ao histórico líder será replicada ao nível das delegações provinciais do partido. Mais do que celebrar a morte, os membros do partido, segundo explicou o porta-voz José Manteigas, em contacto com o SAVANA a partir de Portugal, vão celebrar a sua vida e obra para a edificação e consolidação da democracia rumo a um Moçambique diferente. Nascido a 01 de Janeiro de 1953, a vida de Afonso Dhlakama dividiu correntes: vilão para uns e “messias” para tantos outros, principalmente os que se sentem marginalizados pelas políticas e práticas da Frelimo, partido no poder desde a independência nacional em 1975. Dhlakama era inveterado na defesa das causas em que acreditava. Comprometeu-se com o manifesto da luta pela democracia e por ele morreu, confinado a um minúsculo ponto da Serra da Gorongosa, onde vivia cercado pelo exército moçambicano. Ironia das ironias, sobreviveu a balas e morreu vítima de diabetes, uma doença que dada a sua idade avançada e estatura social era perfeitamente controlável. Apesar das diferentes visões sobre a figura de Dhlakama, há unanimidade em relação ao facto de que foi um líder carismático e dava voz ao sentimento de muitos moçambicanos, incluindo de dirigentes e membros da Frelimo, desiludidos com o rumo do país. Com apenas 23 anos, juntou-se, em 1979, à Resistência Nacional de Moçambicana (Renamo) de André Matsangaíssa para combater, durante 16 anos, o então sistema comunista implantado pela Frelimo. Com a morte de Matsangaíssa em 1979, assume a liderança do então movimento de guerrilha no auge da guerra civil, o que mais tarde veio a culminar com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), a 4 de Outubro de 1992. É por muitos considerado um dos percursores da democracia nacional, sendo-lhe apontado a autoria do óbito do sistema de partido único. Sofreu perseguições e atentados, com destaque para 2013, quando se foi exilar em Satungira. Saiu das matas em 2014, para assinar o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares em Setembro, o que veio criar condições para que participasse das eleições gerais marcadas para esse ano. Os resultados eleitorais que conferiram a vitória presidencial a Filipe Nyusi, num cenário em que o Afonso Dhlakama ganhou em seis províncias, precipitaram o país para mais uma tensão político-militar, que também culminou com perseguições e atentados até um novo exílio em Novembro de 2015. A 03 de Maio de 2018, a sua voz calou para sempre numa altura em que as negociações para uma paz efectiva e duradoura com o chefe de Estado estavam no seu ponto mais alto de viragem. Ossufo Momade foi o escolhido para dar continuidade ao projecto político de Dhlakama, numa primeira fase, como coordenador interino da Comissão Política e desde Janeiro, como presidente do partido eleito pelo congresso. Momade, juntamente com Nyusi, prossegue com as negociações, tendo alcançado avanços significativos nos acordos, como a aprovação da revisão pontual da Constituição da República, que abre espaço para a eleição dos governadores províncias (2019) e administradores distritais, a partir de 2024, bem como a sua regulamentação. Noutra frente, os dois líderes conseguiram a reintegração de 14 oficias superiores e generais da Renamo para cargos de chefia e direcção nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Recentemente, a Renamo submeteu uma lista de 10 oficias seus para serem promovidos a cargos de chefia, ao nível da Polícia da República de Moçambique (PRM). Foi um líder profético Raul Domingos, antigo número dois da Renamo, recordou o seu antigo líder, como uma pessoa que, em vida, bateu-se pela democracia, estado de direito democrático e dos direitos humanos. “Ficou conhecido pelas suas intervenções precisas e contundentes e que, se fosse vivo, estaria a congratular-se com aquilo que está a vir ao de cima com as detenções dos mentores dos escândalos de corrupção, que desgraçaram milhares de moçambicanos”, assinalou. Isto porque, segundo explica Domingos, o seu antigo líder tinha uma visão profética, por ter advertido os moçambicanos sobre a perigosidade do actual regime em termos de corrupção e enriquecimento ilícito. Sublinhou que nessa missão profética, Dhlakama disse: “estão a marginalizar-me, mas um dia vão se ajoelhar diante de mim”. Esta profecia, de acordo com Domingos, cumpriu-se com a ida de Filipe Nyusi à Serra da Gorongosa para negociar a paz, depois do séquito do seu antecessor Armando Guebuza ter dito que era ultrajante ele ter de ir ao encontro de Dhlakama. Raul Domingos, actual presidente do Partido para Paz Democracia e Desenvolvimento (PDD), diz que, em parte, o legado político de Dhlakama tem sido dado continuidade pelo seu partido, dado que foi aprovado o pacote da descentralização, que na sua óptica passa a valorizar o voto da população que passa a eleger o governador provincial, numa primeira fase e, a posterior, o administrador. Criticou aquilo que chamou de “seguimento religioso”, no que diz respeito à criação da figura do Secretário Criticou a demora na eleição do novo presidente do partido e do secretário- -geral, que no seu entender, deveriam ter ocorrido seis meses depois da morte de Dhlakama, o que teria dado tempo ao partido para a afinar a máquina partidária rumo às próximas eleições. Quanto à disputa pela liderança da delegação política provincial de Sofala e da cidade da Beira, disse tratar-se dum teste à capacidade de liderança do Ossufo Momade. Domingos diz que esta é uma oportunidade para a nova liderança da Renamo mostrar a sua capacidade de resolução de problemas, quer persuadindo ou impondo as suas deliberações à força. Renamo procura identidade O Politólogo João Pereira considera que a Renamo ainda se ressente da ausência de um líder como Dhlakama e é preciso tempo para que o país se habitue à nova direcção do partido. Lembrou que Dhlakama era um líder carismático e a prova disso é que as suas teleconferências tinham mais peso em relação às de Ossufo Momade. Mas também diz notar uma fraca intervenção do actual presidente em assuntos candentes da nação, o que revela a sua inexperiência política em comparação ao falecido líder. Para o académico, a Renamo está à procura da sua identidade para saber se impor na arena política nacional, por isso, vai se ocupando em assuntos como acomodação dos seus efectivos nas Forças de Defesa e Segurança. Alerta para a necessidade de o partido abraçar um projecto de âmbito nacional e não se conformar com a acomodação das suas elites partidárias, que só vai abranger meia dúzia de pessoas, deixando à deriva o resto do seu eleitorado. Congratulou-se com a revisão constitucional, porque traz garantias de efectivação dos acordos e de que ninguém vai mexer nos governadores ou administradores. Lamenta, contudo, a falta de emendas constituições que assegurem a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança. “Os oficiais da Renamo reintegrados nas fileiras da FADM e dos que irão à PRM podem ser, a qualquer momento, removidos e ou terão de ir à reforma”, assinala. O debate que a Renamo deve iniciar, na visão do académico, é a elaboração de uma política de defesa e segurança apartidária, que leve a emendas constitucionais para que o país não seja privatizado pelas duas principais forças deste país, Frelimo e Renamo. Ossufo Momade entra na história pelo facto de ser o primeiro líder da Renamo a ver as suas decisões desafiadas de forma permanente, como está a acontecer na delegação de Sofala, que só amainou graças ao ciclone Idai. Este tipo de desafios pode atingir proporções alarmantes nos próximos dias com a indicação dos cabeças-de- -lista para governadores provinciais, Assembleia da República e assembleias provinciais. Esse processo, continuou, se não for bem gerido, pode criar tensões e fragilizar a Renamo. O académico entende que já é hora de a Renamo se focar no debate político e mostrar a sua visão do que pretende deste país, ou seja, o que vai fazer de diferente em relação à actual governação do país. João Pereira aponta como perigo para a estabilidade do principal partido da oposição o facto de não estar consolidado financeiramente. Essa dificuldade poderá limitar a capacidade de promoção da imagem de Ossufo Momade às presidenciais, a tempo e horas. Pereira diz não duvidar de que a Renamo, como partido, tem a sua marca consolidada no seio das bases, mas não tem a mesma garantia quanto a Ossufo Momade. Um retrocesso A activista dos direitos humanos Alice Mabota diz não restar dúvidas de que, embora passe um ano, a morte de Dhlakama foi um retrocesso na democracia nacional e para a Renamo. Avança que a Renamo precisa de uma direcção forte, que apresente uma visão estruturante sobre o país, pois, se a Afonso Dhlakama Por Argunaldo Nhampossa de Estado na Província (SEP), enquanto existe o governador provincial, que no seu entender constitui uma sobreposição devido à falta de clareza nos poderes de cada um. Louvou o avanço do processo de Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR), mas deplorou o facto de não se fazer menção à reintegração dos efectivos da Renamo no Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Disse que a exclusão do SISE cria um perigo iminente de retorno à guerra, porque a que foi movida 20 anos depois do AGP resultou em parte da não restruturação da secreta nacional e da PRM. “Se a reintegração no SISE não for acautelada, estaremos a adiar um problema que pode ter repercussões desastrosas daqui a 10 ou 30 anos”, advertiu. Para o dirigente do PDD, é difícil suceder um líder como Dhlakama, que já havia se apropriado do partido em termos de gestão, dado o tempo em que estava na direcção. Apesar disso, prosseguiu, o partido está articulado, cumpre com os seus programas, participou das eleições autárquicas, organizou um congresso de sucessão e agora o conselho nacional que elegeu o Secretário Geral e está tudo encaminhado para participar nas eleições gerais. Frelimo sobreviveu até aqui, depois da morte de Samora Machel, foi graças ao aparelho do Estado, porque tudo foi escangalhado. Mabota vê em Afonso Dhlakama um líder que dialogava com todas as esferas da sociedade para perceber e esboçar um projecto que abarcasse os diferentes sentimentos dos moçambicanos. A antiga presidente da Liga dos Direitos Humanos (LDH) diz-se preocupada com o facto de Dhlakama não ter preparado alguém a tempo e horas para dar continuidade ao seu projecto político. As lutas titânicas no interior da Renamo, afirma, eram impensáveis no tempo do falecido líder. A activista dos direitos humanos critica igualmente a falta de um projecto nacional por parte da nova direcção do principal partido da oposição. Renamo ainda ressente-se da morte do seu líder Raúl Domingos Alice Mabota João Pereira TEMA DA SEMANA Savana 03-05-2019 5 PUBLICIDADE PUBLICIDADE SOCIEDADE 6 Savana 03-05-2019 Passa hoje um ano após a morte do histórico líder da Renamo, principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, que dirigiu o movimento durante quase 38 anos. Em entrevista ao SAVANA, o politólogo José Jaime Macuane faz notar que um ano depois, o legado de Dhlakama na política nacional ainda se faz sentir, “provavelmente porque o seu capital político ainda está a ser explorado pela Renamo, mas ao mesmo tempo há um vazio na sua função de canal de expressão de parte dos actores políticos excluídos, principalmente no processo de paz, mais especificamente no processo de descentralização”, afirma Macuane, numa entrevista em que também comenta sobre a actual liderança da Renamo e tenta prever cenários nas eleições gerais de Outubro próximo, argumentando que existe uma grande possibilidade de a Renamo ter maioria em algumas províncias e, consequentemente, indicar seus governadores. Como é que olha para o rumo da política nacional, um ano após a morte de Afonso Dhlakama? Vejo a morte de Dhlakama como tendo implicações diferentes na política nacional, em duas vertentes: a eleitoral e a política. Sob o ponto de vista eleitoral, sem a presença de Dhlakama, a Renamo passou por um teste nas eleições autárquicas de 2018 no qual se pode dizer que teve um desempenho positivo, tendo em conta o número de autarquias ganhas e aquelas em que teve uma boa votação, além das que os resultados oficiais são duvidosos, pelas razões que assistimos. Para alguns isso pode significar que a Renamo consegue sobreviver eleitoralmente sem o seu líder histórico, mas eu acho que ainda é muito cedo: falta a eleição presidencial, em que a figura da liderança partidária é mais importante. Sob o ponto de vista político, ainda não vejo mudanças substantivas, porque o processo de paz continuou sem grande mudanças, o que pode ser considerado como um legado da negociação de Dhlakama com Nyusi. Desse processo veio o actual pacote de descentralização, com as suas imperfeições e assim mesmo continuou a tendência de exclusão de outras opiniões, principalmente aquelas que estão fora do parlamento. Nisso, não me parece que a política tenha mudado muito. O que talvez se note como um vazio é que pelo seu lado populista, mesmo tendendo a defender o seu partido, Dhlakama era mais receptivo à opinião pública e isso contribuía para entrada de outras perspectivas na discussão dos assuntos relacionados ao pacote da paz, pelo menos aqueles que não envolvessem questões militares. Em síntese, o legado de Dhlakama na política nacional ainda se faz sentir, provavelmente porque o seu capital político ainda está a ser explorado pela Renamo, mas ao mesmo tempo há um vazio na sua função de canal de expressão de parte dos actores políticos excluídos, principalmente no processo de paz, mais especificamente no processo de descentralização. Que Renamo temos hoje? Uma Renamo que ainda precisa se encontrar. Uma das consequências da liderança carismática (e consequentemente personalista) de Dhlakama foi o enfraquecimento da Renamo como partido. Um ano após a sua morte ainda não são visíveis os necessários esforços de fortalecimento da máquina partidária, ao mesmo tempo que a nova liderança do partido se expõe pouco, quase não dialoga com a sociedade e as suas ideias são pouco conhecidas. Até aqui as aparições têm sido mais reactivas. Também a crise da eleição dos delegados provinciais do partido, após o Congresso da Renamo deixa dúvidas de que haja uma aposta na democratização do partido, o que em si seria uma forma de fortalecê-lo. O legado político de Dhlakama está a ser ou não continuado, quer a nível partidário, quer a nível das negociações com o governo moçambicano rumo ao alcance da paz efectiva? Em certa medida sim, conforme anteriormente referi. No entanto, a continuação desse legado não é necessariamente uma coisa positiva, uma vez que o modelo de diálogo que se adoptou é excludente, deixa de fora as outras forças políticas e a sociedade civil. Isso levanta dúvidas sobre que resultados esse legado há- -de ter. No meu entender, a curto prazo, poderá garantir a acomodação momentânea da Renamo no poder e acesso aos benefícios deste. Mas também há assuntos que saíram da agenda, como a inclusão das forças da Renamo nos Serviços de Informação e Segurança do Estado. Isto é um assunto que sempre preocupou a Renamo. Mas repare que esses arranjos todos não levam a um resultado necessariamente inclusivo e democratizante. A partidarização do Estado e do aparelho de segurança não deve ser substituída por uma “bipartidarização”, porque no fim o resultado líquido será o mesmo: não teremos forças de defesa e segurança republicanas. Da mesma forma, criar um sistema de partilha de poder que substitui o clientelismo monopartidário por um clientelismo de dois partidos não levará a um país mais justo sob o ponto de vista socioeconómico e a uma paz social efectiva. Um dos legados de Dhlakama foi um quadro institucional que dividiu o poder entre a Renamo e a Frelimo. Isso pode ser visto no Conselho Constitucional, na CNE e em outras instituições. Este legado de partilha de poder não foi capaz de garantir a paz efectiva e não creio que tenha sido porque em muitos casos foi mal implementado, mas sim porque alienou outros actores sociais e políticos deste pacto, que acabou repousando sob bases frágeis. Esse legado pode ter sido importante para garantir a paz, após o Acordo Geral de Paz em 1992, mas não deve ser celebrado como modelo para um quadro institucional e político de busca de paz efectiva, porque é excludente e potencialmente gerador de conflitos, que eventualmente podem envolver outros protagonistas que não seja a Frelimo e a Renamo. Podemos pensar, por exemplo, nas potenciais causas da insurgência de Cabo Delgado e em que medida ela pode ser produto de um sistema que priorizou o pacto bipartidário em detrimento de um pacto social mais amplo. Liderança de Momade Substituir Dhlakama é uma tarefa que não se afigura fácil. Ossufo Momade foi o eleito para tal, acha que está a conseguir alinhar o partido nos ideais outrora defendidos por Dhlakama? Fica difícil fazer essa comparação, porque apesar de se conhecer a histórica oposição e contestação ao Governo da Frelimo e também a sua autodenominação como pai da democracia, Dhlakama não tinha um corpo claro de ideais políticos. Era essencialmente um líder carismático e populista, que sabia inserir no seu discurso as preocupações do momento com as quais os eleitores, principalmente os excluídos das redes clientelistas do regime, se identificavam. Por isso mesmo, é pouco objectivo se dizer se a actual liderança está ou não alinhada. Quando começar a fazer a campanha política (repare que não estou a dizer eleitoral, estou a falar para além dos períodos eleitorais) isso ficará claro. Daí eventualmente ficará claro que visão o partido tem e que ideias tem para materializar a tal visão. Além de se auto definir como democracia cristã, anti-comunista, representante dos excluídos e ferrenha anti-frelimista, a Renamo não fornece elementos para entender que ideais políticos tem. E isso faz falta para que ela possa ir para além de um partido cujas lideranças são “homens fortes” para se tornar numa organização política mais consolidada. Um dos desafios que a nova liderança tem é talvez de clarificar os ideais do partido e evitar o erro de ligar os destinos deste a sua liderança. Neste sentido, até seria positivo ter um outro tipo de liderança diferente da de Dhlakama, como forma de clarificar o alinhamento entre o partido e os seus ideais que, repito, são ainda vagos e precisam ser mais claros e com substância, o que dará uma base mais sólida para a acção. Depois da prestação positiva que a Renamo teve nas autárquicas de 2018, o que podemos esperar nas eleições gerais de Outubro próximo? Se as eleições no país fossem livres e justas, seria mais fácil prever o que se pode esperar. Assim mesmo, podemos tentar prever alguns cenários nas eleições provinciais, presidenciais e legislativas. Nas eleições provinciais, existe uma grande possibilidade de a Renamo ter maioria em algumas províncias e, consequentemente, indicar seus governadores. As possibilidades me parecem altas na Zambézia, Nampula e Sofala. Temos também províncias em que a Renamo é forte, como Manica e Tete. Tete é particularmente uma província com um histórico considerável de irregularidades eleitorais. Mas estes resultados dependem de dois factores: um é o que já indiquei, a justeza das eleições. Na falta desta, mesmo em tradicionais bastiões da Renamo, como os que acima indiquei, podem ocorrer surpresas. Se a máquina partidária da Renamo continuar frágil como tem sido, este cenário poderá ser mais provável. O segundo factor é a mudança da liderança da Renamo e as potenciais disputas internas, que em alguns casos podem minar a coesão do partido e isso afectar as suas possibilidades de vitória em províncias onde tem sido forte. Nas eleições presidenciais não espero grandes surpresas, a Renamo tem um candidato ainda pouco conhecido e que surpreendentemente ainda se expõe pouco, faltando seis meses para as eleições. Isso pode ser uma fraqueza que jogará contra, porque mesmo num cenário de sucesso eleitoral, será mais justificável manipular eleições de um candidato pouco conhecido do que um mais conhecido. Nas eleições legislativas, a Renamo está bem posicionada para aumentar o número de deputados, mas duvido que a Frelimo vá ceder a maioria legislativa e tudo fará para impedir que isso ocorra. José Macuane: “Legado de Dhlakama na política ainda se faz sentir” Por Argunaldo Nhampossa José Jaime Macuane diz que Dhlakama sabia inserir no seu discurso as preocupações do eleitorado excluído Instantes que marcaram o velório de Afonso Dhlakama na cidade da Beira TEMA DA SEMANA Savana 03-05-2019 7 PUBLICIDADE SOCIEDADE 8 Savana 03-05-2019 Em desfiles que praticamente se tornaram num “muro de lamentações” e uma plataforma de promoção de marcas e empresas, na capital, cerca de 25 mil trabalhadores marcaram presença quarta-feira, nas cerimónias centrais alusivas a celebração do dia Internacional do Trabalhador. As comemorações foram replicadas nas principais cidades do país, à excepção de Pemba, por força do ciclone Kenneth. Ostentando dísticos que variavam entre a publicidade e mensagens de repúdio ao desrespeito dos direitos laborais, com destaque para baixos salários, discriminação, falta de pagamento de horas extras e sindicalização da função pública, os trabalhadores marcharam, cantaram e dançaram, aparentemente satisfeitos com as camisetes que ganharam dos seus patrões para participarem no desfile. Foram cerca de quatro horas que trabalhadores de diferentes empresas nacionais, alguns em regime de conta própria ou empregados domésticos, que sob o lema “Sindicatos Juntos na Luta Pelos Direitos Laborais e Sindicais” desfilaram na tradicional marcha alusiva ao 1º de Maio. Nem a aprovação, esta terça-feira, pelo Conselho de Ministros de novos salários mínimos, que variam de 5 a 12%, foram suficientes para silenciar a massa laboral que uma vez mais voltou a considerá-lo irrisório para aquilo que é o custo de vida, apesar da inflacção oficial se ter situado nos 3,2% em 2017. Segundo a classe trabalhadora, o custo de vida está cada vez mais caro, os preços dos produtos são sufocantes, o salário mínimo do trabalhador não cobre as necessidades básicas, o reajuste somente veio agudizar o sofrimento. Deste modo, entendem que na actual conjuntura nacional, 19 mil meticais (MT) seria o salário mínimo justo. Os aumentos decretados com força de lei atingem pouco mais de 12 mil meticais para os sectores mais privilegiados, a área da banca e seguros. As “dívidas ocultas” que precipitaram o país a uma crise sem precedentes nos últimos tempos não foram esquecidas. A massa laboral pede para que não seja sacrificada de modo que o governo use os recursos que estavam destinados a melhoria da sua condição salariar para o pagamento das dívidas estimadas em cerca USD 2,2 mil milhões contratadas ao arrepio das normas. As “dívidas ocultas” contraídas pela administração Guebuza, fizeram o metical desvalorizar em 100%, passando dos 30 meticais por dólar americano para os 60 meticais dos últimos anos. Este ano, o metical está de novo a deslizar, estando um dólar agora para 65 Mt., antecipando novas dificuldades 1º. De Maio com ideologia na gaveta 'HVÀOHGHPDUFDVRXVLQGLFDWRV" Por Cleusia Chirindza para trabalhadores e empresas. A classe trabalhadora diz que não quer ser aldrabada e pretende que os salários sejam pagos na totalidade, sendo que as “dívidas ocultas” devem ser pagas pelos que as contraíram. O presidente da central sindical, habitualmente “cinzento” nos seus pronunciamentos, saudou as iniciativas da PGR e defendeu que os culpados nas dívidas devem ser punidos. Os trabalhadores do sector privado queixaram-se da violação dos seus direitos laborais por parte do patronato, exigiram um salário justo e a canalização dos descontos ao Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e que este esteja ao serviço do trabalhador e não das elites políticas nacionais. As empresas de segurança privadas que operam no país, no cômputo geral, lamentam os sucessivos atrasos no pagamento de salário que chegam a atingir cinco meses. Em cânticos e dísticos apelaram ao governo para que faça a devida fiscalização das empresas que não cumprem com as suas obrigações. Estas empresas, por seu turno, queixam-se das enormes dívidas que estão a suportar, por força da actual conjuntura. Trabalho doméstico A carga horária excessiva e maior segurança no trabalho foram outras componentes exigidas pelos sindicatos e comités que lutam pela justiça social de todos os trabalhadores, sem a exclusão de ninguém. Aqui destaque vai para a exigência da ractificação da convenção 189 que protege o trabalho doméstico. A ocupação neste sector dá emprego a uma faixa importante da população das grandes cidades, mas os direitos destes trabalhadores têm sido muito negligenciados devido à precaridade de muitas destas relações laborais. Outro “sector problemático”, que esteve no desfile foram os informais, alvo de uma grande ofensiva do Conselho Autárquico contra a venda nos passeios e nas bermas das estradas. Comiche, o novo edil, presente no desfile, prometeu que em breve vai promover uma reunião alargada para discutir as problemáticas dos informais. A falta de um plano de saúde foi uma das notas do caderno de reivindicação apresentado pelos funcionários da empresa de distribuição de dados e conteúdos, a “TVCABO”, que preferiram desfilar em silêncio como forma de manifestar o seu descontentamento e sem uniforme, alegando que o patronato não disponibilizou. O processo de fusão das empresas Telecomunicações de Moçambique (TDM) e a Moçambique Celular (Mcel), em Tmcel, ainda não tranquiliza alguns trabalhadores que temem serem afectados com redução da mão-de-obra na empresa. Mas caso sejam afectados apelam ao bom senso para que sejam devidamente observadas as questões referentes as suas indemnizações, porque caso não, prometem travar uma batalha sem cessar. “Não vamos sair e deixar o dinheiro”, dizia a mensagem do dístico que foi reproduzida em cântico. A pressão dos trabalhadores e o lobby junto do partido Frelimo, têm vindo a adiar decisões estratégicas nos “excessos” de trabalhadores na grande maioria das empresas estatais, alvo de uma gestão desastrosa, centrada nos interesses partidários e dos seus dirigentes. Mateus Magala, o antigo PCA da EDM, é apontado como uma das cabeças que rolou por tentar implementar um plano de redução drástica de força de trabalho. O Presidente da Organização dos Trabalhadores de Moçambique- -Central Sindical (OTM-CS), Alexandre Munguambe disse que, a questão das dívidas ocultas, bem como a corrupção generalizada são assuntos que preocupam os trabalhadores. Mais adiante, Munguambe afirmou que com o lema deste ano se pretende demonstrar o compromisso na salvaguarda dos direitos laborais e sindicais sobre o trabalho digno, como desencorajar as atitudes anti-sindicais de algumas entidades empregadoras que violam a legislação laboral vigente. O Presidente da OTM abordou também a questão do aumento salarial, tendo apontando que este ano foi muito difícil negociá-lo comparativamente aos anos anteriores e citou a conjuntura nacional que não favoreceu. Novos salários mínimos Reunido em mais uma sessão de Conselho de Ministros, o executivo moçambicano aprovou a nova tabela de salários mínimos por sector, que passam a vigorar com efeitos retroactivos a partir de 1 de Abril. Assim, na função pública, o salário mínimo foi revisto na ordem de 5%, fixando a nova base em 4.467,75 meticais, contra os 4.255 meticais que vinham sendo praticados desde a última revisão. Na função pública, o aumento abrange todas as categorias. Para o sector da agricultura, o reajuste foi de 5.78%, passando o novo ordenado mínimo a ser de 4.390 meticais, no sector de Pesca e Indústria, o salário mais baixo a pagar é de 5.370 meticais. O subsector da Pesca do kapenta também registou um aumento de 5.0%, com o novo mínimo nos 4.266,68 meticais. Na Indústria de Extracção Mineira e Grandes Empresas, o novo salário mínimo é de 9.254,60 meticais, resultado de um aumento a uma taxa de 12%. As Pedreiras e Areeiros tiveram de 10%, elevando para 6.379 meticais. Nas Salinas a taxa de aumento foi de 6%, elevando o salário para 5.318,06 meticais. Os trabalhadores do sector da distribuição de electricidade, gás e água passam a auferir um salário mínimo de 8.300 meticais, que resulta dos 6.41% acrescentados. A mesma percentagem foi adoptada nas pequenas empresas deste sector, onde o salário mínimo passa a ser de 6.760 meticais. Na área da construção, o reajuste foi de 6.04%, com salário mínimo a corresponder 6.136,70 meticais, nos serviços não financeiros o novo salário e de 6.850 meticais que corresponde a 9.6%. A indústria hoteleira tem um vencimento de 6.478 meticais, resultantes do reajuste de 10.2%. No sector de bancos e seguradoras, o aumento foi de 7.25%, fixando-se nos 12.760,18 meticais. No ramo de microfinanças, o incremento foi igualmente de 7.25%, passando o salário mínimo para 11.336,93 meticais. Savana 03-05-2019 9 PUBLICIDADE PUBLICIDADE 10 Savana 03-05-2019 PUBLICIDADE SOCIEDADE No próximo dia 07 de Maio, os órgãos autárquicos, eleitos nas eleições de 10 de Outubro de 2018, completam três meses, após a sua investidura. Para medir o pulsar dos primeiros 90 dias, o SAVANA revisitou três autarquias na província de Nampula, todas lideradas pela Renamo. Mas a segunda maior força política em Moçambique, alega que herdou municípios “completamente saqueados” pelos edis da Frelimo na hora de deixar o poder. Trata-se dos municípios de Angoche, liderado por Ossufo Rajá; da cidade da Ilha de Moçambique, chefiado por Gulamo Mamudo e da cidade de Nacala Porto, sob direcção de Raúl Novinte. Nas três autarquias, a realidade é similar. Todos alegaram que encontraram os cofres vazios. Falam de saque às contas bancárias, do património público, dívidas sem suportes documentais e até de sabotagens. No caso concreto do município de Angoche, o edil disse que levou o caso à ministra de tutela autárquica bem como ao Ministério Público (MP), para abertura de acção penal contra os potenciais suspeitos. Contudo, até hoje, ninguém está dar conta do recado. Os antecessores negam as acusações e dizem que são truques para justificar o mau desempenho. “Quando chegámos, encontrámos saldo zero nas contas do município. Fomos verificar os processos e nos deparámos com uma dívida de 8.3 milhões de meticais com diferentes agentes económicos ao nível das cidades de Angoche e Nampula. Não tínhamos papel, tonner, viatura, nem combustíveis para trabalhar. Tivemos de começar tudo de zero. Foi muito do parque automóvel do município para os serviços de apoio. Mas, estranhamente, quando assumiu as funções, todas viaturas estavam avariadas, incluindo a viatura protocolar e do presidente da Assembleia Autárquica. Rajá frisou que, em 2017, o município adquiriu uma viatura de marca Toyota Hilux para o presidente. Quando faltavam 10 dias para a tomada de posse do novo edil, a viatura acidentou e ficou completamente danificada. Foi na mesma altura, acrescenta, que o automóvel afecto ao presidente da Assembleia Autárquica, também teve avaria grossa e de difícil reparação. Sublinhou que a residência protocolar também não escapou dos actos de sabotagem. Todo mobiliário da sala, dos quartos, cortinados, geleiras, congeladores, aparelhos de ar condicionados e televisores foram retirados e fechaduras danificadas. “Quando cheguei à residência oficial encontrei tudo escangalhado. Soube que o imóvel havia sido reabilitado e mobilado, mas tudo desapareceu. Assim, continuo a residir na minha casa e estou sem viatura de Estado. Para me deslocar, dependo da boa vontade de um amigo que cedeu a sua viatura. É doloroso usar viatura de um particular, para trabalhos de município”, lamentou. Ossufo Rajá disse que encontrou dívidas na ordem de um milhão de meticais resultantes da falta de pagamento de água, assim como com o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Realçou que o elenco de Américo Adamugy (presidente cessante) não canalizava os descontos de segurança social ao INSS e, em virtude disso, o valor das dívidas atingiu mais de um milhão de meticais. “Há dias fomos contactados por uma firma que terá fornecido aparelhos de ar condicionado a autarquia. A empresa vinha exigir o pagamento de uma dívida na ordem de 500 mil meticais. Trouxe-nos comprovativos de facturas e termos de entrega do material, contudo, os aparelhos não constam no património do município. Foram desviados. Também encontrámos excesso de mão-de-obra. Para todos serviços municipais precisamos de 250 pessoas, mas a autarquia tinha perto de 500 trabalhadores. Fizemos levantamentos e verificamos que mais de 200 pessoas não prestavam nenhum serviço à edilidade, mas mensalmente auferiam salários. São pessoas ligadas às estruturas do partido Frelimo ao nível do distrito de Angoche, mas que os seus ordenados eram pagos pelo município”, explicou. Segundo Rajá, o processamento de salários do mês de Janeiro de 2019 esteve a cargo do anterior executivo. O tal sucedeu e o dinheiro foi transferido do governo central para o município a fim de se proceder com os pagamentos. Contudo, o dinheiro desapareceu. Referiu que todos casos foram comunicados à ministra da Função Pública e Administração Estatal, através do seu representante na província, ao governo da província de Nampula, assim como a Procuradoria da República no distrito de Angoche. Porém, estranhamente, nenhuma dessas entidades tomou conta do recado. Sublinhou que, no primeiro mês de actividades, a edilidade de Angoche teve de recorrer a favores de amigos e pessoas de boa fé para garantir o funcionamento. Os problemas de Angoche não param por aí. Segundo Rajá, neste momento, o município deve salários dos meses de Janeiro, Março e Abril. Ossufo Rajá disse que a falta de salários não resulta da incompetência da edilidade, mas sim da falta de desembolsos do governo central. “O governo central é que desembolsa fundos para o pagamento de salários aos funcionários efectivos. Diferentemente do que acontece noutras autarquias, o município de Angoche não recebe esse fundo há alguns meses. Primeiro diziam que o problema resultava da falta de documentação, visto que, com a mudança do governo, as pessoas que tramitavam esses expedientes, emprestando suas assinaturas, foram substituídas. Já resolvemos o problema e todos processos foram submetidos à Direcção Provincial de Economia e Finanças de Nampula, mas até agora ainda não foi resolvido. Se os fundos não forem canalizados não temos como pagar salários. O governo está a dever de 15 a 16 milhões de meticais ao município de Angoche”, disse. Ossufo Rajá disse que, por se tratar dum ano político, o objectivo do governo da Frelimo é desgastar a imagem dos governos da Renamo e usar isso como trunfo eleitoral. Mesmo debaixo de dificuldades, o presidente do Conselho Autárquico de Angoche afirmou que está atento as manobras políticas e, internamente, busca soluções para a resolução de alguns problemas como recolha de lixo, reabilitação de vias de acesso e construção de mercados. “Aumentámos a nossa base tributária de cerca de um milhão para 1.6 milhões de meticais mensalmente”, vangloriou-se. Ao SAVANA, Américo Adamugy, presidente cessante, refutou as acusações e disse que é tudo mentira, visto que, a sua equipa cumpriu com todas formalidades e procedimentos. Referiu que a entrega de pastas foi feita publicamente. Foi testemunhada pelos representantes da tutela administrativa, do governo provincial, do distrito, bem como dos membros da Assembleia Autárquica. “No relatório entregue ao novo governo autárquico, constava tudo, desde as dívidas, património autárquico, bem como dos projectos em curso. Quando recebeu o documento o meu colega não fez nenhum questionamento. Como está a dizer isso agora? Acho que está a procura de desculpas para justificar seus fracassos”, acusou. Américo Adamugy disse que quer o gabinete do presidente, bem como a residência protocolar foram entregues em perfeitas condições. Quanto a viatura protocolar, o então edil disse que se envolveu num acidente de viação, quando regressava da cidade de Nampula e ficou danificada, mas que o município tem outras viaturas que o presidente pode, enquanto cria condições para aquisição de um outro meio. Para Adamugy, o novo edil não ocupou a residência protocolar por razões meramente pessoais e não porque está degradada. Nacala Raúl Novinte, presidente do Conselho Autárquico da cidade de Nacala, eleito pela Renamo, também afirmou ter herdado um legado caracterizado por vários problemas. Falou da existência de funcionários fantasmas e avultadas dívidas. Quase todos meios circulantes do município de Nacala estavam completamente inoperacionais devido a vandalização. A residência oficial do presidente do município está em condições deploráveis e parte do património do município foi transferido para o governo do distrito de Nacala, sob égide da Frelimo. No património que passou do município para o governo do distrito, acrescentou, consta um imóvel recém reabilitado pelos fundos da autarquia. A reabilitação do edifício custou, a edilidade, cerca de três milhões de meticais. Segundo Novinte, quando o novo edil chegou a autarquia, a viatura protocolar tinha desparecido. “Foi preciso esperar vários dias para ter de volta”, precisou. Para além de património usurpado e contratos rubricados fora dos procedimentos legais, a nova liderança municipal de Nacala disse que herdou dívidas na ordem de 40.7 milhões de meticais. Confrontado com a situação, o edil cessante, Rui Chong Saw, não reconheceu os factos e disse que são falsidades. Saw referiu que a dívida que é do seu domínio foi aprovada pela Assembleia Municipal, e é de 20 milhões de meticais. “As pessoas que difundem essas informações só querem sujar a minha imagem e de toda equipa que comigo governou a cidade de Nacala”, defendeu-se Ilha de Moçambique O rol de lamentações vem também do município da cidade de Ilha de Moçambique, liderado por Gulamo Mamudo. A autarquia foi ganha pela Renamo nas eleições de 2018. O autarca contou ao SAVANA que, quando tomou posse, encontrou um município completamente saqueado e com grande parte do património vandalizado. Segundo Gulamo Mamudo, no salão de eventos do município foram saqueadas mais de 100 cadeiras, no edifício municipal retirados aparelhos de ar condicionado, ventoinhas, computadores e algum mobiliário. Referiu que parte do material informático foi encontrado nas residências dos funcionários do município, que usavam computadores para assistir filmes. De acordo com o edil, nas viaturas do município foram retirados baterias, pneus e outros acessórios. Coincidência ou não, um dia antes da tomada de posse, a empresa responsável pelo fornecimento de água na Ilha de Moçambique foi cortar água na residência oficial. De acordo com Gulamo Mamudo, o seu elenco encontrou dívidas na ordem de sete milhões de meticais com diferentes entidades públicas e privadas. O estranho, continuou, é que grande parte do valor em dívida não tem documentos que suportam a sua existência. Nos processos, não consta para que fim foi gasto o dinheiro e nem justificativos que comprovam esses gastos. Apenas constam facturas. Por exemplo, disse Gulamo, há dívidas com empreiteiros, mas que nos processos não consta a documentação atinente aos concursos públicos para Municípios na província de Nampula “Herdamos autarquias saqueadas pela Frelimo” — Edis da Renamo Por Raúl Senda difícil”, queixou-se Ossufo Rajá, edil de Angoche. O edil contou que, dos 8.3 milhões de meticais que o município devia, cerca de três milhões de meticais estavam relacionados com despesas referentes a compra de peixe. Sublinhou que o município de Angoche chegou a gastar entre 20 e 40 mil meticais/dia na compra de peixe. Contudo, avança o edil, o estranho é que o peixe não faz parte de meios materiais que a autarquia precisa para trabalhar. “O peixe não entra na lista dos nossos consumíveis, mas foi o item que mais endividou o município. É no mínimo ridículo, é estranho”, desabafou. Ossufo Rajá apontou outros desmandos que, no seu entender, roçam a sabotagem e até crimes. Contou que oito viaturas fazem parte essas obras e os vistos do Tribunal Administrativo. Sobre os salários, o edil disse que o município da Ilha está a dever apenas o mês de Abril, porque o governo central ainda não transferiu os fundos. O edil queixou-se do facto dos funcionários herdados do então elenco obstruírem todos esforços que visam o desenvolvimento da Ilha. Sobre os bens saqueados, Gulamo Mamudo disse que ainda não apresentou a queixa-crime contra os presumíveis infractores, porque o objectivo primário é recuperar o património retirado. Contudo, em caso de resistência o caso chegará as autoridades judiciárias. Gulamo contou que as receitas estão num nível estacionário. O município colectou mensalmente cerca de 250 mil meticais, um valor bastante ínfimo para aquilo que são as reais despesas do município. Cidade de Angoche: um dos municípios, dirigidos pela Renamo, cujo património terá sido saqueado “Vivo na minha casa porque, a residência protocolar foi vandalizada”, Ossufo Rajá Gulamo Mamudo, edil da Ilha de Moçambique Savana 03-05-2019 11 PUBLICIDADE $+LGURHOpFWULFDGH&DKRUD%DVVDGHVHMD DWRGRVRVWUDEDOKDGRUHVPRoDPELFDQRV XP)HOL]GLDLQWHUQDFLRQDO GRVWUDEDOKDGRUHV 12 Savana 03-05-2019 INTERNACIONAL PUBLICIDADE O Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religioso, o Ministério da Indústria e Comércio com o apoio do projeto da USAID, SPEED+ estão a trabalhar com uma equipa de consultores nacionais e internacionais na revisão geral do Código Comercial de modo a alinhar com as melhores práticas internacionais, com os requisitos de um código comercial moderno que apoia a competitividade no sector privado. As sessões de consulta pública vão obedecer o seguinte calendário: GH0DLR0DSXWRGDVK DV K GH0DLR1DPSXODGDVK DV K GH0DLR4XHOLPDQHGDVK DV K Este convite é dirigido a empresários nacionais e internacionais, advogados e instituições com interesse no assunto. 3RUIDYRUFRQÀUPHDVXDSDUWLFLSDomRDWUDYpVGRVHJXLQte contacto: Ana Muianga: e-mail: ana_muianga@speed-program.com Parceiros: CONVITE Consulta Pública no âmbito da revisão do Código Comercial República de Moçambique Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos República de Moçambique Ministério da Indústria e Comércio Engenheiro de 35 anos que iniciou carreira política como dirigente estudantil chegou à chefia da oposição na Venezuela quase por acaso. Ascensão veio graças ao vazio deixado pelas lideranças perseguidas pelo regime. Ao se autoproclamar “chefe de Estado interino” da Venezuela no dia 23 de Janeiro, Juan Guaidó desafiou o homem mais forte da nação caribenha, Nicolás Maduro, como nenhum outro político opositor. Até 4 de Janeiro de 2019, véspera de assumir a presidência rotativa do Parlamento, nada deixava antever que o engenheiro industrial de 35 anos estivesse disposto a chegar tão longe. Sua condição de integrante do Vontade Popular - tido como o mais radical dos partidos antichavistas - permitia prever uma gestão legislativa assertiva, mas sua breve biografia não dava base para se imaginar um cenário como o que atualmente protagoniza: de golpe. Nem os próprios venezuelanos conheciam bem Guaidó. Descrito como “centrista” por aqueles que o conhecem, apesar de seu partido ser membro da organização Internacional Socialista (IS), Juan Guaidó começou sua carreira política como dirigente estudantil social-democrata na Universidade Católica Andrés Bello, na capital venezuelana, Caracas. Pouco depois, seu nome apareceria entre os dos que fundaram o Vontade Popular em 2009. Foi como representante da legenda que obteve seu primeiro cargo. Guaidó foi designado deputado suplente para o período entre 2010 e 2015. Em 2015, participou de uma greve de fome exigindo que as autoridades eleitorais - alinhadas com o governo - marcassem eleições parlamentares. Seu sacrifício parece ter valido a pena: nas eleições legislativas de 6 de Dezembro daquele ano, a oposição arrebatou do chavismo a maioria dos lugares no Parlamento, e Guaidó foi nomeado deputado pelo Estado de Vargas, com mais de 97 mil votos, para o período de 2016 a 2021. No seu caso, o resto é história em pleno desenvolvimento. Salto na hierarquia “Juan Guaidó chegou à presidência do Parlamento por acaso. E com isso não estou insinuando que ele não tenha os méritos requeridos para exercer o cargo”, ressalta o sociólogo venezuelano Héctor Briceño, professor visitante da Universidade de Rostock. “O que quero dizer é que, na hierarquia de seu partido, existem dirigentes de maior peso que foram sendo inabilitados um a um. Isso abriu caminho para Guaidó.” Leopoldo López, o líder do Vontade Popular, está preso em regime domiciliar; Freddy Guevara, ex-vice-presidente do Parlamento, está refugiado na residência do embaixador chileno em Caracas desde que o regime de Maduro o acusou de orquestrar os protestos contra o governo de 2017 e retirou sua imunidade parlamentar; e Carlos Vecchio, ex-coordenador do partido, optou pelo exílio quando foi acusado de responsabilidade pelas mortes ocorridas nas manifestações de 2014. Quando ganharam juntos as últimas eleições legislativas, em Dezembro de 2015, os membros da Mesa da Unidade Democrática (MUD) - a aliança de partidos de maior sucesso do antichavismo - concordaram em ocupar a presidência do Parlamento de forma rotativa: o Acção Democrática assumiu em 2016, o Primeiro Justiça, em 2017, e Um Novo Tempo, em 2018. Juan Guaidó, o líder oposicionista que desafiou Maduro Oministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, criticou nesta quarta-feira duramente o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo pela “interferência” na crise política na Venezuela. Uma nota do gabinete do ministro disse que Lavrov e Pompeo falaram por telefone, por iniciativa dos Estados Unidos. De acordo com a mesma fonte, “o foco foi a situação na Venezuela, onde um dia antes a oposição (...) tentou tomar o poder” com o “evidente apoio” dos Estados Unidos. Os russos consideram que “a interferência de Washington na ordem interna daquele Estado soberano, inclusive apoiando a mudança dos seus líderes, é uma grave violação da lei internacional”. E defendem que a “continuação desta agressiva atitude trará sérias consequências.” O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse que uma “acção militar” é “possível”, se for “necessária” para favorecer a transição política na Venezuela. “A acção militar é possível. Se for necessário, é o que os Estados Unidos farão”, afirmou Pompeo numa entrevista à estação de televisão norte-americana Fox. “Nós preferíamos uma transição pacífica para o poder, com a saída de Maduro e a realização de novas eleições, mas o Presidente [Trump] deixou claro que, num certo momento, é preciso saber tomar decisões”, acrescentou Pompeo. As autoridades norte-americanas reforçaram na terça-feira as pressões sobre as chefias militares e figuras chave do regime para que apoiem o levantamento liderado pelo autoproclamado Presidente interino Juan Guaidó e responsabilizaram a Rússia e Cuba por Maduro se manter no poder. Juan Guaidó desencadeou, na madrugada de terça-feira, um acto de força contra o regime de Nicolás Maduro, em que envolveu militares e para o qual apelou à adesão popular. Rússia denuncia “interferência” dos EUA Savana 03-05-2019 13 PUBLICIDADE 14 Savana 03-05-2019 Savana 03-05-2019 15 NO CENTRO DO FURACÃO AEstrada Nacional Número Seis, que estabelece a ligação entre a cidade portuária da Beira e a vila fronteiriça de Machipanda, é de uma qualidade que a compara favoravelmente com muitas vias modernas em qualquer canto do mundo. Para além da intervenção de melhoramento feita sobre o asfalto, a estrada foi ampliada em certos sectores para incluir faixas de ultrapassagem, e com quatro faixas nos seus segmentos urbanos, o que permite uma maior fluidez do trafego nas zonas de maior concentração. Nestes centros urbanos, a estrada tem um separador central que foi elevado a um nível que não permite automobilistas indisciplinados de o galgar para se posicionarem nas faixas contrárias, como tem sido hábito neste país. a proximidade à cidade da Beira tem seis faixas. Já lá vão os dias dos congestionamentos com camiões provenientes dos países vizinhos ou do interior se dirigem ao porto. O único senão são os sinais de limite de velocidade para 40 quilómetros por hora em alguns pontos. Já na segunda metade dos anos noventa, tinha acompanhado as obras que transformaram esta via de uma lingueta de alcatrão para uma estrada mais convencional. Seguindo-a no sentido oeste-este para a Beira, este cenário de modernidade e conforto é interrompido exactamente no ponto onde começa a planície de Nhamatanda. É aqui onde a estrada sofreu quatro cortes na sequência das chuvas que acompanharam o ciclone Idai, que se abateu sobre a região central do país no dia 14 de Março, provocando muita dor, luto e miséria. O primeiro sinal de destruição está na portagem de Nhamatanda, onde do tecto restam apenas fios suspensos e algumas placas de plástico. Faço este percurso exactamente um mês e um dia depois que esta região foi fustigada pelo Idai. Não está feita ainda uma avaliação completa sobre o que realmente aconteceu, mas a quantidade de água que se abateu sobre aquela região pode não ter sido apenas resultado da chuva. É preciso saber como é que se comportaram as barragens localizadas perto da zona do sinistro, incluindo no vizinho Zimbabwe. Os principais rios da região, nomeadamente o Revue, o Pungoe e o Buzi despejaram para a vasta planície quantidades incalculáveis de água que a tornaram num oceano do interior. Mas os estragos na estrada não terão sido apenas resultado de ter chovido em grandes quantidades. Apesar de todo o melhoramento feito sobre a estrada, nota-se, nos pontos afectados, já de si propensos a cheias em época chuvosa, que a elevação da quota literalmente funcionou como uma barreira para impedir a passagem das águas para o outro lado. Estas, vindas na direcção norte-sul, carcomeram a o subsolo e a camada inferior do asfalto, antes de galgarem a estrada e encontrar o seu caminho para o outro lado. Especialistas chegam mesmo a falar de “erros de engenharia”, sublinhando que uma série de pequenas pontes com sistemas de passagens de água por baixo poderiam ter evitado os estragos que se abateram sobre a estrada. Apesar das águas se terem evaporado ou vazado para outros pontos, são ainda visíveis as marcas dos danos; palhotas destruídas e casas com cobertura em chapas de zinco que foram torcidas pela força dos ventos. Todo o percurso ao longo da planície está povoado de centros de acomodação com tendas erguidas para alojar os novos deslocados. Cada acampamento representa uma organização humanitária das tantas que vieram de todos os cantos do mundo para ajudar a aliviar o sofrimento. Ninguém nesta zona não tem uma estória para contar sobre as consequências do Idai no seio da sua própria família. São pessoas que viveram na pele o que aconteceu a partir do fim da tarde daquela Quita Feira em que o centro de Moçambique tornou-se completamente isolado do resto do mundo. Uma dessas pessoas é Domingos José Nico, de 27 anos de idade, que residia no posto administrativo de Muda, na aldeia Maringue. “Quando o ciclone veio destruiu todas as casas e machambas”, disse ele, mostrando as cicatrizes de ferimentos que sofreu quando tentava segurar chapas de zinco que se desprendiam da cobertura da casa onde vivia com os pais, três irmãos e igual número de sobrinhos. Eram cerca das vinte horas. “As chapas estavam a desprender-se da casa, tentei assegurá-las, mas dada a intensidade do vento larguei-as e organizei toda a família para fugirmos e irmos nos refugiar na Casa da Agricultura”, acrescenta, montado na sua bicicleta, passeando sem propósito no campo de acomodação de John Segredo, no Sétimo Bairro, onde se encontram alojadas outras pessoas afectadas pela intempérie. Manuel Zeca Jemusse, também de 27 anos, encontra-se refugiado num outro acampamento na mesma região. Também montado na sua bicicleta, diz que perdeu o tio e um filho deste, ambos arrastados pelas águas. Os números oficiais sobre mortes directamente causadas pelo ciclone Idai podem se revelar inconclusivos, dada a possibilidade da existência de corpos que nunca serão recuperados. Será talvez necessário que as autoridades instituam um sistema que permite a familiares reportarem casos de entes seus dados como desaparecidos. A cidade da Beira, apesar de ter sofrido mais danos materiais, teve um numero reduzido de mortes, em parte graças à acção de mobilização levada a cabo pelas autoridades municipais, aconselhando as pessoas a não se exporem ao perigo. Mas ainda é visível o cenário de casas com o telhado destruído ou coberturas com chapas de zinco que foram arrancadas ou torcidas pelo vento. Por estas alturas, todos os troncos de árvores caídas nas várias estradas da cidade já foram removidos, em grande parte graças a uma ação de voluntarismo levada a cabo pela população que ofereceu os seus préstimos à edilidade. O fornecimento de energia eléctrica foi parcialmente restabelecido, mas há bairros da periferia onde a escuridão ainda prevalece. Nos bairros circunvizinhos há também histórias do pânico e horror que se visitou sobre a população local. Tal é o caso de Florência Macate, uma jovem de 21 anos de idade, curso superior de comunicação acabo de concluir e à procura de emprego, que diz ter contraído ferimentos ligeiros quando uma chapa de zinco atingiu e partiu o vidro de uma janela da casa onde vive com os pais e irmãos. O emblemático campo de golfe tornou-se numa mata de capim alto. O Hotel Moçambique, no centro da cidade, também sofreu alguns danos, mas nem por isso deixa de ser o principal aquartelamento para militares sul africanos, incluindo da força aérea, que ainda realizam algumas operações de alívio em distritos próximos afectados pelo ciclone. Pela manhã, o restaurante do hotel assemelha-se a uma messe onde os militares tomam o pequeno almoço antes de partirem para mais um dia de trabalho, socorrendo-se de helicópteros que se encontram parqueados na placa principal do Aeroporto Internacional da Beira. “Ainda há muito trabalho”, diz um dos militares. “Nunca vi coisa igual na minha vida, e claro que no fim disto, muitos de nós precisaremos de uma terapia pós-traumática devido à crueldade que tivemos de testemunhar”. No rasto do ciclone Idai Por Fernando Gonçalves José Domingos Nico (à direita) sofreu ferimentos quando tentava assegurar chapas de zinco que se desprendiam da casa onde morava. O seu companheiro, Manuel Zeca Jemusse, perdeu dois familiares arrastados pelas águas. Uma funcionária das Nações Unidas usou a metáfora da passagem de um buldózer para dar ao mundo a imagem do inferno deixado pelo ciclone Kenneth em várias comunidades dos distritos da província de Cabo Delgado. “Vi comunidades inteiras arrasadas, como se tivesse passado por lá um buldózer”, descreveu a funcionária, no regresso de uma viagem de helicóptero pelas zonas apanhadas pelo temporal. “Sim, os escombros em que ficaram edifícios de algumas zonas são de um buldózer”, apoiou um quadro sénior de um dos ministérios do Governo moçambicano. O Kenneth não teve a escala do Idai, que a 14 de Março arrasou o centro de Moçambique, principalmente a cidade da Beira, mas também deixou a sua marca de “lúcifer”. Até terça-feira, estavam contados 41 mortos, número que poderá subir, à medida que mais áreas atingidas voltarem a ficar acessíveis. Ventos com rajadas fortes, que chegaram perto dos 200 quilómetros e chuvas torrenciais, deixaram as populações da Ilha do Ibo, Quisssanga, Macomia e Pemba a lutar pela vida. A caminho, entre os dias 25 e 27 do mês passado, o “Kenneth” afectou 35.228 famílias, destruiu O centro de saúde da vila-sede, a dependência do BCI e infra-estruturas sociais e económicas foram varridas. Na ilha do Ibo, a hotelaria e turismo, bem como casas de particulares não escaparam à fúria do Kenneth. Mais de quatro mil pessoas foram afectadas. O distrito de Quissanga ficou com o centro de saúde da vila sede parcialmente danificado. Na sequência da catástrofe, Quissanga e Metuge estão literalmente isolados da capital provincial, Pemba. O acesso só pode ser feito via aérea. Ciclone Kenneth Um “buldózer” passou por Cabo Delgado Por Buanamade Assane, em Pemba que se encontravam numa residência morreram, quando a lixeira da cidade cedeu à pressão da água. Na manhã de segunda-feira, foi retirado do local o corpo de uma mulher que, conjuntamente com o marido, terão ignorado apelos para abandonarem a zona da lixeira. O marido continua soterrado. “Conseguimos retirar o corpo da minha cunhada, mas o do marido não foi possível. Ainda assim, outras 10 famílias continuam soterradas na mesma área”, declarou um jornalista, que tem laços de familiaridade com algumas das vítimas do deslizamento da lixeira. Apesar das medidas de precaução, muitas casas ficaram destruídas pelas enxurradas na capital da província, as estradas transformaram-se em rios com mais de um metro. Nos bairros de Paquitequete e Josina Machel, as casas ficaram submersas, com as águas a atingir ao nível da cobertura das casas. Mesmo em momentos de grave emergência, as pessoas não se desapegam dos seus bens. Muitas famílias resistiram a apelos de retirada das casas por recearem a perda de património, que podia ser surripiado por oportunistas. Factura das alterações climáticas O ciclone Kenneth, que veio a seguir ao Idai, deixam cada vez mais encurralados os cépticos das mudanças climáticas, consideram especialistas. As Nações Unidas assinalam que as alterações no clima agravaram o impacto dos dois ciclones que se abateram sobre Moçambique, em menos de dois meses, se bem que não tenham sido a causa directa destes eventos extremos. “O que podemos dizer é que o impacto de ambos os ciclones – Idai em Março e Kenneth em Abril – foi intensificado pelas alterações climáticas”, declarou a porta-voz da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Clare Nullis. Nullis explicou que o aumento do nível do mar na costa de Moçambique provocou uma ondulação mais elevada, enquanto “as chuvas tão fortes que se registaram em Moçambique são compatíveis as resultantes das alterações climáticas”. Moçambique nunca tinha registado dois grandes ciclones em uma única temporada. Também nunca tinha ocorrido um fenómeno meteorológico deste tipo tão a norte da costa oriental do continente, como se verificou com o segundo destes ciclones. O acesso da população aos alimentos é uma preocupação das agências humanitárias para o longo prazo, uma vez que os ciclones destruíram mais de 31 mil hectares de culturas, em plena época de colheitas. Desespero O director-executivo da Adel, uma ONG parceira da Oxfam, Carlos Dias, descreveu assim os efeitos do Kenneth. “A situação em Ibo, Macomia e Quissanga é terrível, porque foram os distritos mais atingidos”, declarou. As pessoas tentam retomar as suas vidas, mas as suas casas estão inundadas e muitas perderam tecto. “As estradas estão destruídas e precisamos de agir rapidamente para limitar o impacto da fome e doença”, afirmou Carlos Dias. Em Pemba, continuou, bombeiros brasileiros envolveram-se activamente no resgate de vítimas. Alima, 19 anos, cuja casa em Macomia foi destruída, afirmou: “O vento e a chuva eram tão fortes. Tudo foi destruído, tinha muito medo e ainda estou com medo. Precisamos de comida, água e de uma nova casa. Agora, dormimos fora e as crianças já começaram a tossir”. parcialmente 32 mil casas e outras duas mil completamente e ainda devastou 31 mil hectares. Além destes danos, o ciclone destruiu 117 postes de média tensão e afectou 21 mil alunos de diferentes escolas. Hospitais, casas, maioritariamente construídas com material precário, escolas, estradas e postes de energia foram presas fáceis para o mau tempo. Macomia foi o mais castigado por esta reacção da natureza aos maus tratos que lhe tem sido infligidos pelo homem, dizem especialistas. Os distritos do norte da província, nomeadamente Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Palma e Nangade também estão isolados do resto de Cabo Delgado, desde o dia 25 do mês passado, devido ao desabamento da ponte sobre o rio Muagamula, distrito de Macomia, que cedeu à fúria das chuvas. Ibo, Macomia Quissanga e Meluco ficaram sem luz, porque Kenneth derrubou os postes de transporte. Lixeira de Pemba Na cidade de Pemba, cinco pessoas Parte da EN6 que não resistiu ao ciclone Idai Ciclone Kenneth destruiu habitações, deixando muitas famílias sem abrigo 16 Savana 03-05-2019 PUBLICIDADE Assinatura do jornal A partir de 01 de Agosto de 2017 DESTINO PERÍODO Trimestral Semestral Anual TODO O PAÍS 1.000,00mt 1.850,00mt 3.500,00mt USD 20,00 USD 35,00 USD 60,00 PAÍSES DA SADC USD 40,00 USD 75,00 USD 130,00 RESTO DO MUNDO USD 50,00 USD 100,00 USD 200,00 Assinatura versao electrónica USD 25,00 USD 40,00 USD 70,00 Cada período é renovável em qualquer altura do ano. Entrega ao domicílio nas Cidades de Maputo, Matola e Beira. Aceitamos propostas para novos agentes, distribuidores e angariadores de assinaturas em todo território nacional. 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