Monday, May 27, 2019

Brigadeiro Kalulu, o guarda-costa preferido de Savimbi



  • Lisboa – A sua mais recente nomeação para o cargo de Delegado Provincial do Ministério do Interior e Comandante Provincial do Bengo da Polícia Nacional, passou por despercebido do público, porém, o mesmo não aconteceu nas hostes da UNITA, onde a sua fama se fez por 
    conta de uma narrativa que o apresenta como o guarda-costas que certa vez fugiu com Savimbi às costas quando, este estava fragilizado e às FAA, estiveram perto de pegar o “velho” guerrilheiro.

    Fonte: Club-k.net

    João Lourenço promove-o a comandante da PN no Bengo

    Nascido no município do Andulo, Delfim Kalulu Inácio, cresceu na Jamba e depois transferido para o Likuwa, a então principal base de logística da então guerrilha, a caminho do Mavinga, província do Kuando Kubango. Delfim Kalulu, acarretava a reputação de ser um jovem disciplinado e inteligente do liceu do Luengue, localizado nesta mesma base. Os predicados que lhe eram atribuídos fez com que uma equipa dos Serviços Gerais de Informação da UNITA, o escolhessem a dedo para integrar a escolta do então líder, Jonas Malheiro Savimbi.

    Estava-se no ano de 1990, e ao contrário dos guardas presidências (batalhão Mocho) que foram treinados na década de 80 pelos “Recce” da África do Sul, Delfim Kalulu Inácio teve a sua formação militar nas matas de Angola e de seguida enviado para os Estados Unidos da América para uma formação avançada em protecção de individualidades protocolares. Conta-se que pela sua forte constituição física, também recebeu treinamento no sentido de levar às costas dirigentes em momento de resgate.

    Como guarda pessoal de Jonas Savimbi, esteve presente em Lusaka, quando Jonas Savimbi e Eduardo dos Santos trocaram abraços, como se confirmam em vários registros históricos. Também esteve ao lado do “velho” em todos os momentos e cerimonias que se registaram nos antigos bastiões da guerrilha, até os últimos meses de vida do líder, que o promoveu a brigadeiro das extintas FALA. Apesar de já ser comissário da Polícia Nacional, os seus antigos companheiro da UNITA ainda o tratam por “Brigadeiro Kalulu”.

    A saída da coluna presidencial

    Na última fase do conflito armado, Kalulu Denis deixou de fazer parte da coluna de Jonas Savimbi, depois de se terem desperdiçado no decorrer de um ataque sofrido pelas mãos das FAA no dia 17 de Dezembro de 2001, precisamente no dia em que o falecido líder da guerrilha tencionava anunciar ao mundo as chamadas “tréguas de natal”. Depois do ataque, Savimbi previa que seriam novamente perseguidos e deu instruções a Kalulu para que ficasse com a guarda de dois dirigentes da sua coluna, Alcides Sakala Simões e Celestino Capapelo que estavam debilitados. As instruções de Savimbi era no sentido de se realizar manobras de diversão para áreas mais seguras. Capapelo recusou em deixar a coluna presidencial acabando por morrer de fome a 4 de Fevereiro de 2002.

    No livro memórias de um guerrilheiro, Alcides Sakala, responsável pelas relações externas da direção da UNITA descreve que quando tomaram rumo diferente da coluna presidencial, o líder Jonas Savimbi desejou-lhe “muita sorte e comunicou me, que o seu melhor guarda-costas, o brigadeiro Kalulu, que chamou a seguir – o homem da minha confiança- , ficaria comigo e se alguma coisa me acontecesse ele seria o responsável”.

    Nesta caminhada, a coluna do Brigadeiro Kalulu, sofreu ataques o que precipitou o anuncio, por parte da presidência angolana, a declarar que Alcides Sakala estava morto.

    No mesmo livro, Sakala conta que o ataque ocorrido a 6 de Janeiro de 2002, na margem do rio Chama, “ocorreu por volta das 16h e encontrava-me na base em conversa com o brigadeiro Kalulu, quando ouvimos os tiros e algumas balas, em ricochete, chegarem à base. Eram balas de metralhadoras pesadas , mas era efectivamente uma indicação que as FAA perseguiam os nossos soldados que partiram para o local com apenas cinco armas. Não tiveram tempo de responder , porque foram surpreendidos do flanco em que menos contavam com o ataque”.

    Ainda por debaixo de fogo - já no dia 22 de Janeiro quando se encontravam a margem do rio Chiussi - Sakala descreve que ao fugirem das FAA “demo-nos a atravessar uma anhara com o brigadeiro Kalulu que se mantinha firme ao meu lado e ao som de rebentamentos de granadas de Castor que eram disparadas sobre nos ao acaso”.

    As intrigas palacianas

    A saída da coluna presidencial do brigadeiro Kalulu, que na altura era um dos mais bens constituídos da guarnição de Savimbi, ainda é aos dias de hoje objecto de controvérsia dentro da UNITA. Há versões de que – não obstante – Savimbi confiar muito nele e precisar de alguém para cuidar de dois dirigentes debilitados (Sakala e Kapapelo), terá escolhido o brigadeiro Kalulu por obediência a cálculos de uma estratégia de conforto pessoal que visava afastar este oficial da sua escolta. Savimbi, segundo versões internas, estava atravessar a curva mais apertada da sua vida, e optou por ter o brigadeiro Kalulu distante da coluna por conta de uma mágoa envolvendo um irmão daquele, o general “Long Fellow”, a quem o líder rebelde enviara em 1996, para integrar as FAA junto com o general “Ben Ben” e outros oficiais como Domingos “Wiyo”, Felizberto N'Gele, Chipa, N'Bunji, e Wenda.

    O pós-Savimbi

    Com a conclusão dos acordos de paz resultante da morte de Savimbi, o brigadeiro Kalulu, ao contrário dos seus colegas que reintegraram as FAA, foi colocado na Policia Nacional. Inscreveu na Universidade Agostinho Neto, tendo ai concluído em 2016, a licenciatura em sociologia.

    Na Policia nacional, esteve como chefe do Estado Maior da Polícia de Guarda Fronteira (PGF), tendo sido um dos entusiastas do projecto LRD (Protecção Electrónica da Fronteira). Há 17 de Novembro de 2017, quando decorreu a nomeação de Alfredo Panda como comandante Geral da PN, o novo Chefe de Estado, João Lourenço promoveu-o também ao posto policial de comissário. Kalulu Dinis já estava como 2o comandante da Polícia de Guarda Fronteira. Porém, seria nas mais recentes remodelações que o ministro do interior, Ângelo de Barros Veiga Tavares proporia o seu nome ao PR, para que passasse a chefiar o comando provincial da Polícia Nacional no Bengo. 

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