A extradição para Maputo do ex-ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang, detido na África do Sul desde dezembro a pedido dos EUA, está no topo da agenda da visita de uma delegação governamental norte-americana a Pretória, disse hoje à Lusa fonte diplomática.
A delegação da Casa Branca, liderada pela presidente do Export-Import Bank dos Estados Unidos, Kimberley Reed, "encontra-se no país, e está focada nesse assunto", explicou à Lusa fonte diplomática norte-americana, referindo-se à decisão anunciada terça-feira pelo ministro da Justiça e Serviços Correcionais sul-africano, Michael Masutha, de extraditar para Moçambique o antigo governante e atual deputado da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no âmbito das investigações às denominadas "dívidas ocultas" do país.
A delegação presidencial norte-americana foi indicada pelo Presidente Donald Trump para estar presente, sábado, em Pretória, na cerimónia de posse de Cyril Ramaphosa como Presidente da África do Sul.
A Lusa noticiou na quarta-feira que os Estados Unidos estão a equacionar pedir a revisão da decisão do ministro da Justiça sul-africano, de extraditar o ex-ministro das Finanças moçambicano para Maputo.
"Estamos em discussões com o governo sul-Africano e a explorar opções para solicitar uma revisão desta decisão", disse na altura, em declarações à Lusa, Robert Mearkle, porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos em Pretória.
"O ministro [Michael Masutha] decidiu extraditar o ex-ministro moçambicano da Finanças Manuel Chang para Moçambique apesar de ter recebido o nosso pedido formal de extradição primeiro do que o da República de Moçambique", salientou.
"Instamos o Governo da África do Sul a enviar o Sr. Chang para os Estados Unidos para ser julgado por estes alegados crimes", afirmou à Lusa Robert Mearkle.
O anúncio do ministro Michael Masutha, através de um comunicado divulgado terça-feira pelo Ministério da Justiça e Serviços Correcionais, aconteceu a poucos dias da cerimónia de posse de Cyril Ramaphosa e do anúncio de novo governo na África do Sul, na sequência da maioria de 57,5% obtida pelo Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês) nas eleições de 08 de maio.
"Eu decidi que o acusado, o senhor Manuel Chang, será extraditado para enfrentar julgamento pelos seus alegados crimes em Moçambique", lê-se no comunicado do ministro Michael Masutha.
Manuel Chang, 63 anos, antigo governante moçambicano e atual deputado da Frelimo, partido no poder em Moçambique desde 1975, encontra-se detido desde dezembro na África do Sul, a pedido dos EUA, por fraude e lavagem de dinheiro.
Em causa estão os empréstimos no valor de 2,2 mil milhões de dólares (1,97 mil milhões de euros) para criar as empresas públicas moçambicanas Ematum, Proindicus e MAM pelas subsidiárias londrinas dos bancos Credit Suisse e do russo VTB.
Os indícios de suborno, lavagem de dinheiro e fraude levaram a justiça norte-americana a processar vários intervenientes, nomeadamente o mediador da Privinvest Jean Boustani, os antigos banqueiros do Credit Suisse Detelina Subeva, Andrew Pearse e Surjan Singh e o antigo ministro das Finanças Manuel Chang.
Só em fevereiro, depois da ação dos EUA, foram detidas várias figuras públicas pela justiça moçambicana - entre as quais pessoas próximas do ex-chefe de Estado Armando Guebuza - que tinha o caso aberto desde 2015, mas sem nenhuma detenção.
No entanto, o ex-governante moçambicano continua a gozar de imunidade parlamentar e não será julgado em Moçambique, segundo o pedido concorrencial de extradição submetido por Moçambique à justiça sul-africana, consultado pela Lusa.
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