Erdogan afinal não é invencível. Oposição ganha Ancara e leva Istambul às cordas
31.03.2019 às 23h12
Em dia de eleições municipais na Turquia, a noite revelou-se amarga para o presidente Ercep Tayyp Erdogan, que vê o eleitorado mostrar-lhe um cartão amarelo. O seu partido perdeu Ancara para a oposição e esta reviravolta teve réplicas em muitas das cidades da costa mediterrânica.
“Ganhámos as eleições, mas perdemos algumas cidades”, reconheceu neste domingo Recep Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia, num tom incaracteristicamente pouco triunfalista. “Agora não teremos eleições nos próximos quatro anos e meio. Vamos continuar a combater o terrorismo e a tratar da economia”.
O seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamita conservador) ganhou uma vez mais as eleições autárquicas deste domingo na Turquia, mas perdeu a capital Ancara (com cinco milhões de habitantes), que governava há 25 anos, Antalya (2,5 milhões) e outras cidades do litoral mediterrânico para a oposição.
Os resultados de Istambul, a maior metrópole turca, com 15 milhões de habitantes, são ainda uma grande incógnita. Num universo de nove milhões de eleitores, a diferença entre o candidato do partido governamental, o ex-primeiro ministro Binali Yildirim, e o de Ekrem Imamoglu, da esquerda republicana laica, era de menos de 2.500 votos, quando ainda faltavam apurar algumas mesas de voto. O país está em suspense e ambos os candidatos já declararam vitória.
De uma forma ou outra, esta foi uma noite eleitoral amarga para Erdogan, que vê o eleitorado mostrar-lhe um nítido cartão amarelo, e uma meia vitória para a oposição, que regista avanços na Turquia urbana. Os resultados são tanto ou mais significativos quanto desigual foi a campanha eleitoral, dominada pelos media pró-governamentais, e pela utilização abusiva e descarada do imenso aparelho do Estado a favor dos candidatos do Governo. Afinal, a crise económica em que o país está mergulhado sempre teve as suas repercussões nas urnas e nem a retórica populista de Erdogan conseguiu desviar as atenções.
Também o partido curdo (HDP) resistiu razoavelmente bem e ganhou sete capitais de província no sudeste de maioria curda, incluindo a cidade de Diyarbakir (um milhão de habitantes), apesar de ter perdido várias dezenas de autarquias em relação aos resultados de há quatro anos. Recorde-se que isto acontece depois de o Governo central ter, nos últimos anos, demitido ou detido quase todos os seus autarcas por alegadas ligações ao grupo terrorista separatista curdo PKK, substituindo-os por comissões de gestão sob controle direto de Ancara.
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