OS SANDURAS DA FRELIMO
Se a passagem do ciclone Idai pela zona centro e, em particular, pela cidade da Beira, traz más recordações, não deixa de ser coincidente que após tão funesto acontecimento se tenha esfumado o “fenômeno Sandura”, em alusão às manifestações promovidas pelo deputado Sandura Ambrósio e acólitos, com o fito de se repor a democracia no seio da Renamo. Se estamos recordados, Sandura & Companhia reclamam o direito de dirigir a Renamo na província de Sofala, porque eleitos, em contraposição aos dirigentes nomeados pelo General Ossufo Momade, hoje nas vestes de Presidente do partido em alusão. É, na óptica dele, uma luta pela restauração da democracia interna. Não deixa de ser curioso que durante o longo consulado de Afonso Dhlakama - em cuja liderança estava cristalizada a visão de Luis XIV - os sanduras desta vida aplaudiam, sem reservas, actos similares do Mudara. Vai-se lá saber por que razão agem diferente hoje!
Mas o que é que isto tem que ver com a Frelimo?
Em tempos escrevi que a Frelimo caminhava caprichosamente para uma verdadeira renamização, pois se estava na gênese de uma exaltação leviana ao “método Dhlakama” na direcção do partido. Aliás, o incumbente dissera em alto e bom som, em plena reunião da Comissão Política, que Dhlakama era um líder que ele admirava, tanto é que lhe dava muitos conselhos. É, portanto, justificável a presunção (ainda que ilidível) de que tal explicava a depressão confessada, em directo e à escala planetária, na data do passamento do então líder da Renamo.
Ora, os Primeiro-Secretários dos Comités provinciais de Nampula, Niassa e Cidade de Maputo, democraticamente eleitos, foram afastados dos respectivos cargos, por decisão dos comités provinciais. Algo a declarar? Prescindo! Entretanto, para os seus lugares foram administrativamente indicados interinos, mas pelo andar da carruagem e pelo tempo que se estende a putativa interinidade, arrisco em afirmar que estamos em presença de uma sedimentação do “método Dhlakama” no seio da Frelimo.
Em conversa com um membro da Comissão Política (que ascendeu ao posto no último congresso) a não realização de eleições nos comités retromencionados se deve ao facto de a cidade de Maputo ter um enorme potencial de ver nascer os “Sanduras da Frelimo.” Curiosamente, um deles, também deputado, resiste às inúmeras e hercúleas tentativas de democraticamente ser convidado a desistir da candidatura à Primeiro-Secretário. O outro Sandura deu voz (pelo que se diz) à milhões de membros do glorioso, numa demolidora contestação à nota de culpa do Comité de Verificação. Entre estes Sanduras há em comum o facto de ambos terem ancestrais que enterraram o cordão umbilical em Chókwé e para as respectivas candidaturas terem o apoio dos comités distritais, mas se distinguem pelo facto de um ter sido “sabotado” nas últimas autárquicas e outro estar ainda na respectiva corrida eleitoral.
Em outras palavras, a Frelimo tem na direcção dos comités províncias de Nampula, Niassa e Cidade de Maputo pessoas nomeadas, com a missão de dirigir o processo democrático de base de escolha de candidatos às próximas eleições. Não gostaria, portanto, de ouvir dizer que os cabeça-de-lista e candidatos a Governador Provincial sejam nomeados à moda Dhlakama. Às vezes me questiono se ainda temos orgulho de dizer que somos diferentes da “Renamo à Dhlakama” no quesito democracia interna. Até porque no último congresso deles havia mais de um candidato a Presidente. Custa-me admitir, por isso e pelo que se diz acima, que nesse aspecto em nada nos podemos orgulhar.
Bom, que os “Sanduras da Frelimo” continuem com a marcha pelo respeito pela democracia e observância rigorosa dos estatutos, sem necessidade daquela sandurice que o Idai levou.
Olá Paz!
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