Três portuguesas residentes na Venezuela, Maria José Castro, Fátima Loreto e Milu Almeida, dão conta do que se tem passado neste dia no país e aguardando um desfecho.
Os portugueses estão bem. Não há notícias de que algum esteja em perigo, garantiu ao início da noite o governo português. Mas os relatos que chegaram do outro lado do mundo dão conta do ambiente em que vivem: entre o desejo de liberdade e medo do falhanço, do golpe ou da operação lançada hoje, às primeiras horas da manhã por Juan Guaidó.
Às primeiras horas do dia na Venezuela, já manhã em Portugal, com uma diferença horária de cinco horas, de Caracas a Valência, três portuguesas relatavam a vários órgãos de comunicação social o que se estava a passar no país. E todas manifestavam o mesmo receio, que as manifestações pudessem degenerar em "violência" ou em "banhos de sangue".
De Miraflores, Maria José Castro, a portuguesa que ficou conhecida como a mulher liberdade, por ter enfrentado um tanque militar nas ruas de Caracas, em 2017, referia: "Eles não deviam ter feito este golpe hoje. Há muita gente a trabalhar, que não se pode juntar ao movimento."
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Em declarações ao Diário de Notícias da Madeira, Maria José Castro mostrou-se preocupada com o golpe, aquele que o presidente interino, Juan Guaidó, designou como Operação Liberdade, para derrubar o regime de Nicolas Maduro. "Eles não vão entregar o poder. Vão batalhar até ao final", referia a madeirense, que reside em Baruta, perto do local onde se encontrava Guaidó.
Maria José Castro relatava que a situação estava caótica, que não se podia sair à rua, que os transportes estavam parados, que havia falhas nas comunicações e que vários canais de televisão já tinham parado de transmitir a emissão, o que "é forma de encobrir o que está o acontecer, porque a maioria das pessoas já não tem dinheiro para comer, quanto mais para pagar a internet."
A portuguesa dava ainda conta de que pela manhã se tinham ouvido disparos. O presidente interino apelou ao povo que saísse à rua e aos militares que se a ele se juntassem, depois de ter libertado mais o preso político e opositor de Maduro, Leopoldo Lopez. Mas pouco depois Maduro pedia também aos venezuelanos que se mantivessem em casa.
Maria José Castro referiu ao DN da Madeira que ela própria quereria sair à rua para participar neste golpe, mas que não o poderia fazer sem colocar em perigo a própria vida. "Os transportes deixaram de circular", conta.
Em Valência, uma outra portuguesa, Fátima Loreto dizia: "Aqui as pessoas estão a sair à rua, porque é agora ou nunca. Há um grito de liberdade." Na capital, estava na rua a revolução pedida por Guaidó, outras cidades responderam, mas não se sabe se foi ou não suficiente para fazer cair Maduro.
Em Valência, a 150 quilómetros de Caracas, e a maior cidade do Estado de Carabobo, a professora universitária, que representa junto do governo português cerca de 40 mil portugueses e lusodescendentes que ali residem, referia que muitas pessoas estavam a deixar de ir trabalhar para se juntarem nas ruas ao movimento de Guaidó. O único receio é que estas manifestações pudessem degenerar em violência.
Milu Almeida, outra representante da comunidade portuguesa em Caracas, referia à Agência Lusa, que a situação no país era de grande incerteza. "Está tudo muito confuso ainda. Ainda não temos uma perspetiva do que é", disse Milu de Almeida.
Ao final da tarde, era desmentido que o Chefe de Estado das Forças Armadas, o luso-descendente, José Ornelas Ferreira, tivesse dado o seu apoio a Guaidó. No Twitter ele próprio referiu manter a sua lealdade a Maduro.
Já ao início da noite em Portugal, o ministro Augusto Santos Silva, que se encontra a acompanhar o Presidente da República, em visita à China, afirmava não haver portugueses em perigo. "Não temos informação nenhuma relativa a qualquer português ou portuguesa que tenha sido vítima de qualquer ato que pusesse em perigo a sua segurança", declarou o ministro aos jornalistas.
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