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TEMA DA SEMANA 2 Savana 22-03-2019
Como se Zeus, o pai dos
deuses da mitologia
grega, se tivesse incompatibilizado com a cidade da Beira. Os seus habitantes,
na noite de quinta para sexta-
-feira da semana passada, foram
sujeitos ao mais tenebroso dos
terrores, com os ventos e chuvas
trazidos pelo ciclone Idai a deixar a cidade sem eira nem beira.
Como se uma bomba atómica tivesse sido lançada sobre a capital
de Sofala, o local por onde passou
“o olho” do ciclone de nível quatro. A mesma classificação maldita do Katrina, que assolou Nova
Orleães, nos Estados Unidos, em
2005.
Em relatos impressionantes, vários sobreviventes do ciclone Idai,
que atingiu as províncias de Sofala e Manica na semana passada,
contam como foi possível escapar
das rajadas ciclónicas numa casa
sem tecto e com zincos a voarem
por todo lado ou de ter permanecido três dias por cima duma árvore, com frio, fome e desafiando
serpentes que também fugiam das
inundações, num evento que poderá ser o maior desastre humanitário da história do país, depois
do ciclone Elina, no ano 2000,
ter devastado todo o Sul e parte
do Centro de Moçambique, com
especial incidência em Gaza, provocando cerca de 700 mortos e
desaparecidos.
O ciclone Idai, que se formou
junto à costa moçambicana, no
oceano índico, entrou para o continente a 15 de Março, cerca das
19horas, exactamente no bairro
da Ponta-Gêa, na cidade da Beira, pulverizando literalmente tudo
o que lhe foi fazendo frente. Por
volta das 21horas e 30 minutos, a
Beira era uma cidade isolada do
resto do mundo, sem comunicações nem energia eléctrica.
A cidade da Beira já estava deserta
desde o início da tarde de quinta-
-feira, 15, e duas horas depois dos
ventos, com uma velocidade estimada entre 180 e 220 quilómetros
por hora, terem atingido o pico,
faltou electricidade na cidade e
as comunicações foram cortadas
completamente.
Pela manhã, o drama com os rastos do ciclone era difícil de descrever, com árvores centenárias
rendidas aos ventos, na rua da
catedral, vários edifícios coloniais
sem tecto, incluindo o hospital
central da Beira, a escola secundária da Ponta-Gêa e o emblemático Pavilhão dos Desportos. O
aeroporto perdeu quase todos os
seus hangares, danificando aviões
e helicópteros, só reabrindo ao
tráfego na manhã de domingo.
Também caíram no centro da
Ciclone IDAI
E Zeus amaldiçoou a Beira
Por André Catueira
cidade postos de transformação
(PT) de electricidade, postes de
transporte de corrente, semáforos,
placas publicitárias, interrompendo a circulação em quase 80
por cento da cidade de cimento
(Macúti, Baixa, Ponta-Gêa e Maquinino) e toda a rede comercial,
incluindo a superfície comercial
Shoprite e o restaurante Miramar
que sofreram danos estruturais
nos edifícios.
No estádio municipal da Munhava, inaugurado ano passado,
desabou a pala sobre as bancadas,
assim como vários armazéns na
zona industrial perderam as coberturas, molhando e danificando
vários produtos, como arroz, trigo e outros cereais importados e
que deviam ser distribuídos pela
região centro e para os países africanos do interior (interland), que
não são abastecidos desde a passagem do ciclone pela Beira.
“A chuva vinha caindo desde as
15 horas de quinta-feira, e estávamos precavidos para evitar o
pior, mas quando chegou o vento,
levou o tecto e deixou em luto o
bairro”, disse ao SAVANA Ana
Flávia, uma moradora da Munhava, um bairro densamente povoado e largamente flagelado pelo
ciclone. O bairro de casas de material precário é agora um monte
de destroços envolto em água e
lama, com o cheiro pestilento das
latrinas a sobrepor-se a todos os
outros odores.
Em relato semelhante ao de outros moradores, Flávia, disse que,
já numa casa descoberta, assistia
“chapas de zinco voando por todos os lados” e o maior medo “era
ser atingida por zincos que voavam bairro adentro”.
“Isso é luto, estamos mal”, disse
uma outra moradora da Munhava, Sebastiana George, quando
contabilizava duas mortes na sua
vizinhança – uma criança atingida por uma parede desabada e um
adulto atingido por um zinco –
próximo a maternidade local.
“Vamos fazer como, como vamos
aguentar mesmo!”, lamentou Juliana Muago, quando levava a
filha, ferida por um zinco, para
o hospital, descrevendo uma situação “desoladora” no bairro da
Vaz, enquanto apontava com a
mão para acima da cintura, para
ilustrar o nível das águas, que arrastaram roupas e utensílios domésticos.
Apesar da violência dos ventos, o
número de vítimas mortais é relativamente baixo, com centenas de
feridos ligeiros atingidos por chapas, barrotes e os blocos das casas
que desmoronaram.
O Idai, na sua progressão para
o interior, diminuiu a força dos
ventos, mas provocou chuvas diluvianas, sobretudo no Zimbabwe, na zona de Mutare, por onde
passam os rios Púnguè e o Buzi.
Entre sexta e sábado, em 24 horas,
o Zimbabwe registou uma carga
pluviométrica de 600 mm, muitas
vezes o somatório de todas as descargas nos primeiros três meses
do ano.
Foram estas chuvas que transformaram os rios em Moçambique
em verdadeiros mares, como se
Neptuno, outro deus da mitologia
grega, tivesse decidido comandar
as punições sobre as populações
de Manica e Sofala.
Sobreviver na árvore
E enquanto o vento soprava do
mar para o continente, as águas
das chuvas, no sentido contrário,
surpreenderam milhares de pessoas nas zonas baixas das províncias de Sofala e Manica, que
inundaram e alagaram residências
de forma muito rápida. Em Matarara, no posto administrativo de
Dombe, distrito de Sussundenga,
sobreviventes das enchentes dos
caudais do rio Lucite, na sequência das inundações provocadas
pela passagem do ciclone Idai, relatam o drama de ter sobrevivido
à fome, sede, cansaço e sono por
cima das árvores durante três dias.
A água invadiu várias aldeias do
posto administrativo de forma
repentina, nas primeiras horas de
sábado, tendo muitos dos residentes recorrido a árvores para escapar à velocidade das águas, que
chegou a atingir quase três metros
de altura, em zonas nunca antes
inundadas.
“Eu estava a cozinhar e de repente
vi água a chegar em minha casa.
Larguei as panelas, fugi segurando os meus três filhos e subimos
na árvore”, contou ao SAVANA,
Albertina Samuel, acrescentando
que viveu três dias de agonia na
árvore, até as águas baixarem.
“Na árvore à minha frente, na
casa vizinha, havia também pessoas. Quatro pessoas (um idoso
e três crianças) caíram na água (e
foram arrastadas). Eles “sonecaram” durante a noite e caíram na
água”, precisou Albertina Samuel,
num relato semelhante ao de
Frank Mamboza, que sobreviveu
às enchentes.
Silva Manuel, outro sobrevivente,
disse que tentou desafiar a água
para salvar alguns parentes que se
tinham deslocado para casas vizinhas, mas não conseguiu evitar
o pior para aqueles que estavam
distantes.
“A água estava com uma corrente
que não vale a pena”, disse Silva
Manuel, acrescentando que recorreu a uma canoa, feita de cascas de árvores, mas uma casa
que vinha arrastada pela água
População do Búzi no campo de futebol a assistir à sua própria desgraça, referência de um comovido repórter de televisão
O ciclone IDAI provocou um verdadeiro drama humanitário
TEMA DA SEMANA Savana 22-03-2019 3
acabou atingindo-o, tendo-o
lançado para água.
“Tive que nadar até encontrar
uma árvore, e esperei por um tempo, mas a água continuava a subir.
Temendo pela vida das crianças,
que tinha deixado em casa, desci
da árvore e nadei de novo”, contou, adiantando que não conseguiu salvar alguns parentes. Entretanto, vaticinou que a água que
terá inundado a região, pode ter
sido de uma descarga de uma barragem no Zimbabwe.
Mais de 100 mortos
Os moradores de Matarara contam que dezenas de corpos foram
avistados depois que as águas
baixaram desde segunda-feira, a
maioria não reconhecidos, porque
vinham arrastados pelas águas de
outros pontos. Teme-se que parte
dos cadáveres a boiar nas águas
tenha vindo do Zimbabwe onde
as enxurradas foram muito rápidas e avassaladoras.
Oficialmente, o Governo de Manica registou 19 mortos, supostamente de pessoas que caíram de
árvores e foram arrastados por
água naquela região.
Contudo, António Bemba, responsável da operação do resgate
do SENSAP, na região de Matarara, assegurou ao SAVANA que
o número de mortos ascendem
aos 100, a maioria ainda não havia
sido identificada.
“Encontrámos muitas pessoas nas
árvores. O total que nós conseguimos resgatar das árvores soma 634
pessoas. As operações ocorreram
em Chitausse, nas margens do
rio Búzi, Mapande, Tusseni Ngoma e Saguta Choma. As pessoas
foram abrigadas em três centros,
em Matara, Choma e Mapande”,
disse António Bemba.
A fonte disse que o grupo de operação conseguiu “identificar 11
corpos, até hoje (quarta-feira),
fora aqueles que não identificamos e existem muitos, em relação
a estes que nós identificámos, posso estimar em cento e tal corpos”.
As autoridades de Manica calculam que 114 mil pessoas estavam
sitiadas nos distritos de Sussundenga e Mossurize, na província
de Manica.
Apesar de previsões catastróficas,
incluindo de agências humanitárias internacionais, as águas começaram a baixar na quarta-feira,
não tendo sido necessário abrir as
comportas da barragem de Chicamba sobre o rio Revué, um dos
principais afluentes do rio Búzi.
O número global de mortos, embora conservador, é colocado, até
ao fecho da edição, nos 300.
Cortes na N6
Enquanto trabalhos de buscas
ainda prosseguem, a comunicação
rodoviária entre Manica e Sofala,
e os países africanos do interior,
continua interrompida desde domingo, estando já a provocar uma
aguda escassez de combustível,
trigo e outros produtos básicos no
interior, como a cidade de Chimoio.
A N6 sofreu um corte no pico do
ciclone, na zona de Nhamatanda,
mas três outros cortes ao longo da
estrada, que devia ser inaugurada
este ano, já se tinham registado
em Mafambisse, Chiluvo (Sofala)
e Metuchira, no posto administrativo de Inchope, em Manica.
Os cortes foram originados por
inundações, com correntes de
águas atravessando a estrada
sempre da esquerda para a direita – para quem faz o percurso no
sentido Chimoio-Beira – o que
sugere que o empreiteiro chinês,
não terá feito pontões suficientes
para em pico de cheia deixar passar a água ao longo do aterro e por
baixo da estrada. A EN6 sofreu
quatro cortes na zona de Nhamantanda.
Na área de monte Chiluvo, a
acumulação das águas, do lado
do monte que agrega a principal
plataforma de antenas de comunicação da região centro de Moçambique, terá provocado um
deslizamento de terra, criando
um rio de lama que destruiu residências precárias numa aldeia
próxima.
Um morador contou que se ouviu uma espécie de explosão no
monte Chiluvo e se formou um
rio de lama que desceu rápido em
direcção às habitações, além de ter
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TEMA DA SEMANA 4 Savana 22-03-2019
ouvi um barulho, parecia um explosivo, e começou a descer água,
lama, pedras e árvores, e quando
vi aquilo fugi”, explicou Julião Pedro, descrevendo um cenário nunca antes visto na aldeia.
Glória Pedro, uma moradora da
aldeia, contou que perdeu duas
casas, destruídas com o rio de
lama que invadiu as habitações,
e teve de recorrer à residência de
seus parentes para se abrigar.
As autoridades governamentais
tentam mobilizar o empreiteiro
chinês para reparar os quatro cortes verificados e que interromperam toda a circulação de e para o
porto da Beira, afectando as comunicações com o Zimbabwe, o
Malawi e a Zâmbia. Uma primeira estimativa indica que desvios
provisórios, “se a chuva ajudar”,
poderão estar concluídos já no
domingo.
Na Beira, as comunicações telefónicas foram parcialmente reestabelecidas quarta-feira e a energia
eléctrica, a partir de geradores
fornecidos pela EDM ( Electricidade de Moçambique) deve
começar a funcionar quinta, abastecendo hospitais, escolas e o sistema de bombagem de água à cidade. A energia através dos postos
eléctricos foi reestabelecida até ao
Dondo, a 30 Km da Beira, mas na
capital de Sofala, a subestação da
Munhava sofreu grandes danos
e uma parte da rede de postes de
média está ainda em baixo.
Ocorte de estrada pode
estar a criar défice na
resposta pela assistência
às vitimas, estando muitos a enfrentar fome nos centros
de acomodação onde estão alojados.
A assistência humanitária ainda
não chegou a milhares de pessoas
afectadas pelo ciclone Idai no
centro de Moçambique e vários
camiões de ajuda da ONU, estão
sem acesso às zonas com maior
número de necessitados devido
aos cortes de estradas e desabamento de pontes.
Por ser uma região politicamente
favorável a oposição, os afectados
acusam as autoridades de os estar
a marginalizar nos apoios.
“As pessoas estão a tentar a sua
maneira para conseguir comida”
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“entulhado” a estrada com pedras.
“Eu estava dentro de casa com
os meus filhos, quando saímos
vimos lama descendo para a estrada e nas casas e fugimos”, disse
Carlitos Francisco, um morador
local.
Um outro morador, disse que,
quando alguns moradores avistaram a lama, começaram a fugir
alertando o perigo aos restantes,
tendo por isso se evitado o pior.
“Eu estava na machamba à procura de maçaroca, de repente
Edifícios arrasados pelos ventos fortes no centro da cidade
Estradas e pontes não escaparam à fúria do IDAI 2DHURSRUWRSHUGHXTXDVHWRGRVRVVHXVKDQJDUHV GDQLÀFDQGRDYL}HVHKHOLFySWHURV
Estradas em Manica viraram um autêntico lamaçal
Força Aérea sul-africana está em peso no resgate
explicou Carlos Zambo, um professor
desabrigado pelo ciclone na cidade de
Chimoio.
A assistência humanitária está a fazer-
-se por via aérea e há equipas de socorro internacionais já a operar no terreno como a força aérea sul-africana e
a marinha de guerra indiana. Ambas
as equipas têm sido fundamentais no
resgate da população na vila do Búzi,
completamente cercada pelas águas. A
maior preocupação neste momento é o
resgate de cem mil pessoas no distrito
de Búzi.
Os aviões que têm sobrevoado Búzi
mostram uma área com 48 km da largura completamente submersa. As
imagens obtidas apontam que a vila
de Búzi, onde se estima residirem 2500
crianças, possa estar submersa em 24
horas. Mas as últimas informações davam conta que tal não iria acontecer.
“As proporções deste desastre estão a
aumentar a cada minuto e a Save the
Children está gravemente preocupada
com as crianças e as suas famílias ainda em risco à medida que as águas das
enchentes continuam a subir”, explicou
Machiel Pouw, responsável pela Save
the Children em Moçambique.
Esta sexta-feira são esperadas várias
equipas multidisciplinares de Portugal,
despachadas para a Beira a bordo de
dois aviões cargueiros C-130.
O Conselho de Ministros reuniu-se
terça-feira na Beira, tendo sido declarada a “Situação de emergência nacional”,
uma medida extrema que permite ao
governo e às instituições subordinadas accionar mecanismos rápidos no
plano da migração e emissão de vistos
para pessoal humanitário internacional, desembaraço alfandegário de bens
e equipamentos de auxílio, para além
de eventuais requisições civis de bens e
equipamentos. Dados divulgados pelo
Conselho de Ministros na terça-feira
indicavam a morte de 202 pessoas, dos
quais 141 na província de Sofala. Há
um total de 1.385 feridos. Igualmente,
ficaram destruídas 23 mil casas, 30 unidades sanitárias e 507 salas de aulas.
A Organização Meteorológica
Mundial (OMM) admite que o ciclone Idai possa ser um dos piores
desastres climáticos no hemisfério
sul, a confirmar-se o número de vítimas da catástrofe.
TEMA DA SEMANA Savana 22-03-2019 5
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SOCIEDADE 6 Savana 22-03-2019
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República de Moçambique
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
DIRECÇÃO DA JUSTIÇA DA CIDADE
2º CARTÓRIO NOTARIAL DA CIDADE DE MAPUTO
HABILITACÃO DE HERDEIROS
POR ÓBITO DE “GLÓRIA INÁCIO
MAVULULE”
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0,1,67e5,2'$-867,d$
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0$55,0(620$/$1*$µ
O
perito em Direito Internacional André Thomashausen não tem
dúvidas de que a defesa
do antigo ministro das Finanças
Manuel Chang está deliberadamente a apostar em tácticas
dilatórias, com o recurso a expedientes que têm travado a sua
extradição para os EUA.
Para Thomashausen, a África do
Sul não tem alternativa senão
extraditar Manuel Chang para
os EUA, ao abrigo do acordo de
extradição vigente entre os dois
países.
O protocolo da SADC evocado
pela justiça moçambicana para
requerer o julgamento do ex-governante no país ainda não está
em vigor, considera o jurista.
O antigo-ministro das Finanças volta no dia 26 deste mês ao
tribunal, para mais uma audiência em torno do seu processo de
extradição. Manuel Chang está
detido na África do Sul desde o
dia 29 de Dezembro, no âmbito de um pedido de extradição
expedido pela justiça norte-
-americana. Há duas semanas, o
Departamento da Justiça Americano anunciou os restantes
co-acusados de Manuel Chang.
Trata-se de Teófilo Ngangumele
e António Carlos do Rosário [e
não Carlos Agostinho de Rosário, como por lapso escrevemos
na nossa última edição], duas
peças-chave no esquema das
dívidas ocultas, que também se
encontram detidos em conexão
com o caso. Outro co-acusado é
Najub Allam, um alto funcionário da Privinvest.
Considera que as diligências a
que os advogados de Manuel
Chang têm lançado mão são dilatórias e que visam arrastar o
caso na justiça sul-africana por
razões meramente financeiras?
São tácticas muito evidentemente
dilatórias, mas em muitos aspectos
também manifestam ignorância
da lei e falta de experiência com
direito das extradições.
O recurso da defesa de Manuel
Chang ao presidente Cyril Ramaphosa é uma forma de politizar o caso e tentar capitalizar
uma eventual simpatia política,
dados os laços entre o ANC e a
Frelimo?
Não. Muito tarde, no processo,
estes advogados lembraram-se de
consultar a Lei da Extradição da
África do Sul nº 67 de 1962, a tal
que foi revista em 2001 e 2004.
Descobriram que os pedidos de
extradição que não podem invocar
um acordo de extradição (por tal
acordo não existir) devem seguir
um processo diferente, nos termos
do artigo 3 (2) dessa lei, que prevê
que o chefe do executivo, na África do Sul, o presidente, deve em
primeiro lugar decidir se a pessoa
procurada por um outro Estado
André Thomashausen:
Defesa de Chang está a usar tácticas dilatórias
pode ou não pode ser extraditada.
A razão do tratamento distinto de
pedidos baseados num acordo de
extradição e pedidos feitos na falta
de um tal acordo está na regra fundamental do direito internacional
público que não impõe aos estados
um dever geral de conceder pedidos de extradição e assim os tais
pedidos só se tornam vinculativos
nos casos em que existe um compromisso legal nos termos de um
acordo de extradição. A falta de
um acordo de extradição válido
entre Moçambique e a África do
Sul é agora admitida pelos advogados de Chang, com o pedido
que fizeram que uma decisão preliminar pelo presidente da África
do Sul nos termos desse artigo 3
(2) é requerido por lei. Isso depois
de eu ter explicado isso numa entrevista à Rádio Nacional. Extraordinariamente, ao longo destes meses, nenhum jurista envolvido nas
muitas iniciativas para evitar que
Chang vá prestar testemunho nos
EUA reparou que o Protocolo da
SADC sobre Extradição não está
em vigor, devido ao não cumprimento da regra do artigo 31 desse
Protocolo.
É juridicamente atendível a pretensão da justiça moçambicana
de ter Manuel Chang julgado em
Moçambique?
Não, o artigo 15 do acordo de extradição entre os EUA e a África
do Sul torna isso impossível, a não
ser que a África do Sul queira cometer uma violação desse acordo
que, aliás, também foi transformado em lei interna da África do Sul.
Uma decisão em violação do tal
artigo 15, assim também constituirá uma violação do princípio do
Estado de direito e seria invalidada
em última instância pelo Tribunal
Constitucional.
Que argumentos serão razoáveis
para a África do Sul rejeitar o
pedido da justiça moçambicana
e atender ao pedido norte-americano?
São os critérios contidos no artigo
15 do acordo de extradição com
os EUA, nomeadamente, a prioridade que deve ser dada a pedidos
baseados em acordos formais de
extradição, a seriedade dos crimes
inculpados, a data e o lugar da
consumação dos crimes inculpados, a anterioridade do pedido dos
EUA, o balanço dos interesses dos
estados afectados, a nacionalidade
das vítimas dos crimes inculpados
e se o país que deve ceder a extradição a outro Estado terá a possibilidade de apresentar pedidos de
extradição subsequentemente ao
julgamento do arguido.
Assim fica claro que Moçambique sempre poderá apresentar
um pedido de extradição ulterior,
depois do julgamento de Chang
nos EUA, já que Chang não arrisca pena de morte e execução nos
EUA, ficando assim disponível
para uma eventual e subsequente
extradição para Moçambique.
André Thomashausen
TEMA DA SEMANA Savana 22-03-2019 7
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SOCIEDADE 8 Savana 22-03-2019
A
40 dias de complementar 24 anos de existência,
a Liga Moçambicana
dos Direitos Humanos
(LDH) está à beira de ver o seu
percurso interrompido de forma
inglória.
Nesta terça-feira, 19, a Nona Secção Laboral do Tribunal Judicial
da Cidade de Maputo (TJCM),
presidida pela juíza Cleonisse de
Jesus Salvado Bispo, determinou a
venda, em hasta pública, do património da LDH. A licitação irá decorrer no próximo dia 10 de Abril.
Na sua exposição, o TJCM refere
que correm éditos fazendo saber
que, no dia 10 de Abril de 2019,
pelas 10 horas, na sala de sessões
da Nona Secção Laboral, será
posto em praça, pela primeira vez,
para ser vendido em hasta pública,
ao maior laço oferecido acima de
11.236.800,00, o imóvel penhorado na execução a correr nos termos dos autos de acção emergente
do contrato de trabalho número
123/2015, movida pelos exequentes Luís Bitone Nahe, Arquimedes Varimelo, Salvador Nkamate e
João Nhampossa, contra o executado Liga Moçambicana dos Direitos Humanos.
O imóvel em alusão localiza-se
na Avenida Maguiguana, número
2219, r/c, cidade de Maputo. Durante muitos anos, o imóvel acolheu a sede da organização.
O edifício foi arrendado a terceiros,
funcionando actualmente como
pensão e como fonte de receitas
para a organização.
A anterior direcção da Liga, que
tinha como presidente Alice Mabota, deixou o edifício em 2014,
quando passou para um novo imóvel oferecido pela Diakonia, no
quadro do Programa AGIR, financiado pela Suécia.
Sabe o SAVANA que a penhora
do património da Liga deriva de
um conjunto de acções judiciais
intentadas por trabalhadores que
exigem o pagamento de oito meses
de salários não liquidados.
No total, a LDH deve cerca de
1.300 mil dólares, o equivalente
a 78 milhões de meticais aos seus
credores, maioritariamente trabalhadores, num total de 194.
Porém, a acção em causa foi intentada por quatro antigos trabalhadores, nomeadamente: Luís
Bitone Nahe, actual presidente da
Comissão Nacional dos Direitos
Humanos, Arquimedes Varimelo,
Salvador Nkamate e João Nhampossa advogados e professores universitários.
O grupo reclama o pagamento de
nove milhões de meticais referentes a oito meses de salário não pagos em 2014.
Contactado pelo SAVANA, Salvador Nkamate referiu que a acção
judicial deriva da falta de pagamento de salários por um período
Por decisão judicial
Por Raul Senda
de oito meses sem a devida explicação.
Segundo o jurista, foram quatro
colaboradores que intentaram a
acção, mas a mesma abrange oito
trabalhadores e o valor de indeminização deverá ser de 1.125 mil
meticais por cada pessoa.
Ao SAVANA, Paulo Nhancale,
presidente da Comissão Interina da LDH, referiu que a decisão
constituiu um verdadeiro golpe
visto que, internamente, se estava
a trabalhar no sentido de resolução
da situação.
Segundo Nhancale, quando a sua
equipa assumiu a direcção da Liga,
em Outubro de 2017, encontrou
uma organização totalmente moribunda, com enormes dívidas em
salários e outras despesas de funcionamento, como água e luz, na
ordem de 78 milhões de meticais.
“Quando assumimos a direcção,
até o edifício sede da Liga estava
penhorado. Negociámos com as
partes e conseguimos um meio-
-termo, incluindo o nosso edifício
principal. Hoje, quem olha para a
Liga pode pensar que nada está a
ser feito, mas conseguimos salvar
parte do património”, vangloriou-
-se.
Sobre a venda do edifício da antiga
sede, Nhancale referiu que a vontade da sua equipa era de não se
chegar aos extremos.
Porém, algumas forças estranhas
obstruíram todos os esforços.
Nhancale disse que, no processo de
restruturação da LDH, a sua direcção contactou alguns doadores
que se predispuseram a retomar
o financiamento à organização,
mas não conseguiram canalizar
os fundos, porque todas as contas
da organização estão na alçada da
justiça.
Todo o dinheiro que entra nas contas da Liga, continuou, é imediatamente sacado pelos bancos para
satisfazer os direitos dos credores
em resposta às várias decisões judiciárias tomadas contra a Liga.
Vendo-se num beco sem saída, a
equipa que substituiu Alice Mabota chegou a conclusão de que devia
vender o edifício novo a fim de saldar as dívidas e libertar a Liga da
justiça.
“Infelizmente, quando nos preparávamos para vender o edifício,
recebemos um ofício do tribunal a
embargar a venda, sob a alegação
de que o imóvel não era completamente propriedade da Liga. Recorremos da decisão e ganhámos
a causa”, assinala o presidente da
comissão interina da LDH. Mesmo assim, o doador e a anterior
presidente recorreram da decisão
da venda e o processo está parado.
“Portanto, foram essas incertezas
que fizeram com que parte dos trabalhadores avançasse com as suas
acções judiciárias e dessa forma
forçar a venda do nosso património. É muito triste”, lamentou.
É frustrante conviver com
estas realidades
Alice Mabota, antiga presidente da
LDH, diz que fica magoada cada
vez que vê a organização mergulha
neste tipo de polémicas.
Sublinha que criou a Liga com
muito sacrifício e a todo o custo
procurou potenciar a organização
de património que pudesse garantir a sua existência, mas que, infelizmente, um grupo de gananciosos e mercenários está a levar tudo
abaixo.
“É uma dor de alma saber que o
imóvel que a Liga adquiriu com
muito sacrifício está a ser vendido para responder às ganâncias
de pessoas que a própria Liga ajudou a crescer como profissionais
e como homens. São jovens que
chegaram à Liga totalmente anónimos, sem nenhuma experiência e
hoje tornaram-se referências. Isso
doe-me. Nunca vou perdoá-los e
a história vai chamar a consciência
deles”, lamentou.
De acordo com Mabota, não se
percebe que pessoas que entraram
na Liga para defender uma causa
tomaram a decisão de demandar à
organização, simplesmente porque
estava a passar por dificuldades financeiras.
Conta a activista que a Liga tinha
mais de 100 colaboradores que
com a crise da organização ficaram
sem salários.
Porém, o grosso desse grupo compreendeu a situação, porque acreditava que as dificuldades seriam
superadas.
Estranhamente, um grupo de pessoas que estavam na Liga a tempo
parcial, visto que também eram
docentes universitários a tempo
inteiro, tomaram a decisão de demandar à Liga.
“Os senhores João Nhampossa e
Arquimedes Varimelo foram dispensados para continuar os seus estudos, com salários pagos, na totalidade, pela Liga, o senhor Bitone,
mesmo como colaborador da Liga,
dirigia uma organização, dentro da
Universidade Eduardo Mondlane,
que seguia os mesmos objectivos
da Liga, até os doadores eram os
mesmos. Isso, sob ponto de vista
ético é censurável. Fui questionada
pelos doadores, mas naquele meu
espírito de ajuda, não coloquei entraves nisso. Hoje, como agradecimento, respondem-me com este
tipo de acções. Nada me resta, se
não dizer obrigado”, desabafou.
Sobre as acusações da nova direcção, segundo as quais, está a obstruir o processo da venda do novo
edifício, Mabota referiu que nunca
esteve à favor da venda do património da Liga, porque foi adquirido para garantir a sustentabilidade
da organização.
Contudo, diz que nunca obstruiu a
venda do edifício que hoje funciona como sede da organização, porque não tem poderes para tal.
O que aconteceu, segundo Mabota,
é que foi notificada pelo doador, a
Diakonia, para testemunhar se estava a par da venda do imóvel ao
que se recusou e manifestou a sua
oposição à liquidação do mesmo.
“Os meus colegas estão enfurecidos, porque testemunhei contra a
venda do imóvel. Eu Alice nunca
intentei nenhuma acção. O doador,
na qualidade do dono edifício, é
que recorreu ao tribunal”, disse.
Segundo a defensora de direitos
humanos, o desejo de vender o
imóvel não é actual. Em 2014, os
colegas foram pedir-lhe para vender a casa onde funciona a sede da
LDH.
Alice Mabota diz que não aceitou,
porque não é uma casa qualquer,
mas um edifício doado em honra
e reconhecimento do que a Liga
fazia em prol dos cidadãos.
“Vender significa que estou a trair
aquilo que foram os objectivos da
doação da casa. Não é a Liga que
comprou para se dizer que estamos
em crise e podemos vender. Na altura, eu disse que não sou capaz,
vamos falar de tudo, menos vender
esta casa”, refere, acrescentando
que os seus colegas entenderam o
seu finca-pé como arrogância, falta
de respeito e desprezo.
Sublinha que foi daí que começou
toda a campanha contra si, apimentada com acusações de que
quer dirigir sozinha a LDH e que
era tempo de sair do poder, porque
estava há muito tempo.
Recordar que o imponente edifício
onde funciona a sede da LDH, na
Av. 24 de Julho em Maputo, foi
adquirido com fundos da Agência
Sueca de Desenvolvimento Internacional (ASDI), numa operação
intermediada pela Diakonia.
Por decisão do tribunal, o edifício que albergava a antiga sede da LDH vai à venda no proximo dia 10 de Abril
Património da LDH à venda
Alice Mabota
Savana 22-03-2019
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10 Savana 22-03-2019 PUBLICIDADE SOCIEDADE
D
esde as primeiras eleições
que, “de forma brilhante”, a
Frelimo convenceu a oposição, a sociedade civil e a
comunidade internacional de que
a reforma eleitoral era uma procura
constante da democratização do sistema político. Mas, na realidade, o
objectivo essencial era manter o controlo do poder, garantir a dominação
e manter a oposição no jogo. A constatação está na última edição (2018)
dos “Desafios para Moçambique”,
uma publicação anual do Instituto
de Estudos Sociais e Económicos
(IESE).
No artigo intitulado “uma economia
política da reforma eleitoral em Moçambique”, assinado pelo académico
Marc De Tollenaere, membro fundador do IESE, o autor defende que as
eleições não têm constituído os alicerces de uma maior democratização
no país. Pelo contrário, elas têm sido
apenas o alicerce da contínua dominação pela Frelimo das esferas política e económica.
O autor começa por lembrar a célebre reacção de Mobutu Sese Seko
à derrota de Kenneth Kaunda, nas
primeiras eleições multipartidárias
na Zâmbia, em 1991, quando o ditador congolês questionou “como é que
uma pessoa pode perder umas eleições que ela própria organiza”.
Depois refere que a reforma eleitoral tem sido uma característica
permanente na política moçambicana, desde a introdução das eleições multipartidárias em 1994, com
o pressuposto de que as sucessivas
reformas consolidariam a democracia moçambicana, que tornariam as
eleições transparentes, livres e justas,
que seriam essenciais para pacificar a
concorrência política e que as eleições
dariam a todos os cidadãos moçambicanos uma voz e uma representação
significativas no processo político.
Especialista em processos eleitorais,
Marc De Tollenaere anota que, embora tenham sido aprovados novos
“pacotes eleitorais”, antes de todos
os ciclos eleitorais (1997-98, 2003,
2007-08 e 2013), as eleições continuam a ser uma fonte de conflito e a
maioria dos potenciais eleitores virou
as costas às eleições desde 2004.
Para ele, as eleições não se tornaram os alicerces da democracia em
Moçambique. Nem mais. Desde o
momento de transição do monopartidarismo para o multipartidarismo, a
Frelimo construiu um equilíbrio de
poder na governação que penderia e
continua a pender a seu favor.
Aponta para as várias irregularidades
que sempre ensombraram as eleições
moçambicanas, desde enchimento
de urnas, problemas com cadernos
eleitorais, exclusão das assembleias
de voto do apuramento, falsificação
de folhas de resultados, anulação de
votos válidos até a exclusão de candidaturas.
Dá o exemplo das três últimas eleições, referindo que, apesar de ter sido
claramente documentada a ocorrência de fraude, a legitimidade da
Frelimo para governar não foi fundamentalmente posta em causa, pois “o
nível de irregularidades não afectaria
o resultado final”, uma narrativa que,
para o autor, já se tornou padrão em
Moçambique, “ignorando o facto de
a fraude repetida pôr em causa a credibilidade das eleições.
“A questão central não é o impacto
que a fraude e a má conduta têm tido
nos resultados, mas sim o efeito adverso que tiveram sobre o empenhamento dos cidadãos nos processos
eleitorais”, rebate.
Renamo apanhada em
armadilha
Com efeito, assinala o artigo, de
cada vez, a conclusão era de que, na
sua maioria, os problemas eleitorais
poderiam se resolver melhorando a
legislação.
E nas duas primeiras rondas de reforma eleitoral (1997 e 2001-2003),
a Frelimo engajou-se num processo
consensual no qual o resultado deveria ser negociado e acordado com a
Renamo.
Mas aí, a Renamo foi apanhada pela
Frelimo numa “armadilha de minoria”, na qual, de negociação em negociação, as partes acabavam por assentar num acordo que assegurava a
continuação de um firme controlo da
Frelimo das deliberações dos órgãos
da administração eleitoral a todos
os níveis, mesmo que a maioria dos
membros da Comissão Nacional de
Eleições (CNE) fosse indicada pela
chamada sociedade civil.
“Os procedimentos vagos de selecção e nomeação permitiram efectivamente a dominação por parte do
partido no poder”, refere.
Ponto de viragem
Mas houve um significativo ponto
de viragem na relação entre as partes,
quando a Frelimo decidiu aprovar
um novo pacote eleitoral com a sua
própria maioria.
“Estimulada por um forte desempenho eleitoral em 2004 (e pelo enfraquecimento da Renamo), a Frelimo
cessou, em 2007, as negociações que
vinha mantendo há um ano e aprovou, unilateralmente, um novo pacote de legislação eleitoral”, lembra
o artigo.
Sublinha que esta viragem veio alterar a natureza das relações entre os
dois partidos, podendo ser considerada o início de um período em que
a linguagem e as posições se foram,
gradualmente, tornando mais radicais de ambos os lados.
“A Renamo perdeu os seus direitos
de co-parceiro relativamente à democracia moçambicana”, destaca.
Ainda assim, a reforma eleitoral
continuou a fazer parte da agenda
política, tanto é que, após as eleições
Para o estudioso, se a Frelimo puder
manter o actual sistema eleitoral e
puder manter o seu apoio eleitoral,
nada lhe poderá correr mal num futuro previsível.
Mas isso são duas vezes “se”. O primeiro “se” tem que ver com o controlo do sistema eleitoral.
Refere que, até agora, a Frelimo foi
forçada a aceitar modificações no
sistema eleitoral de que não teria
tomado a iniciativa (por exemplo,
representantes partidários a todos
os níveis do STAE), em algumas
eleições municipais teve de aceitar a
derrota (em 1999 escapou por pouco), e defronta-se novamente com
desafios, por exemplo, em relação à
eleição de governadores provinciais.
Para Marc De Tollenaere, estes aspectos mostram, pelo menos, que
manter o controlo sobre o sistema
eleitoral nunca é infinito. Tem de
ser, activamente, preservado e requer
uma vigilância e uma intervenção
constantes.
Quando decorre o debate sobre o
novo pacote legislativo, o académico
lembra que os limites legais já foram
e voltarão a ser violados, mas só em
parte e com uma subtileza que garanta reconhecimento internacional
e legitimidade.
“Tal como fez relativamente aos
desafios anteriores, a Frelimo assegurar-se-á de que não serão introduzidas alterações ao sistema eleitoral
que possam complicar os resultados
das eleições”, avança, deixando claro
que, mesmo com o novo pacote legislativo, “a essência do sistema será
preservada”.
“O PRI perdeu o seu domínio no
México, entre outras coisas, porque
foi forçado a concordar com reformas eleitorais que fizeram das instituições eleitorais mexicanas das mais
robustas e avançadas do mundo”,
compara.
O segundo “se” é mais difícil. De
acordo com o artigo, já há poucas
dúvidas de que o eleitorado da Frelimo já não está imbuído de convicções ideológicas.
Diz que foi construída uma vasta
rede clientilista que rende até três
milhões de eleitores, mas apesar dos
grandes esforços em campanhas, total controlo dos recursos do Estado
e intimidação mais ou menos dissimulada ou aberta, o partido no poder
não consegue mais de três milhões
de votos.
“O clientelismo revelou-se uma base
fiável para dominar as eleições, mas
é também um calcanhar de Aquiles.
São imprevisíveis os efeitos de uma
erosão da capacidade de sustentar a
rede clientilista existente”, anota.
E porque a perda de acesso aos recursos do Estado é uma das causas
fundamentais para a perda de poder
pelos partidos dominantes, o artigo lembra que, em Moçambique,
a ajuda externa diminuiu, a carga
da dívida é elevada e comprime o
orçamento do Estado, várias empresas estatais passam por crises de
liquidez, as notações de crédito estão
baixas, limitando o acesso ao crédito
comercial.
Mais ainda, os funcionários públicos perderam privilégios, o conflito
armado interno absorveu recursos,
o custo de vida aumentou e a qualidade e quantidade dos serviços estão
sob maior pressão do que antes.
“Em suma, há menos recursos para
manter os clientes satisfeitos e
torna-se mais difícil convencer um
número suficiente de cidadãos de
que podem contar com o partido no
poder para melhorar o seu nível de
vida”, conclui.
Trata-se de um novo desafio para a
Frelimo, pelo menos na era multipartidária, e que pode ser muito mais
difícil de controlar do que a administração das eleições.
“A economia política da reforma
eleitoral é benigna para o partido no
poder, mas a economia política do
seu clientelismo pode revelar-se diferente. A ausência de rivais no acesso aos recursos do Estado significa
que não são necessárias fraudes que
alterem os resultados nem repressão
violenta para manter o domínio. No
entanto, uma redução repentina e
considerável de recursos pode forçar
o partido no poder a voltar a essas
medidas mais radicais”, ironiza.
E porque “é improvável um problema ser resolvido por aqueles que o
criaram”, o autor entende que a reforma eleitoral que aprofunda a democracia, provavelmente não surgirá
de negociações entre a Frelimo e a
Renamo, como nos têm feito crer
nos últimos anos.
Afirma mesmo que a reforma eleitoral não alterará a natureza do autoritarismo competitivo em Moçambique, tanto dentro da Frelimo como
relativamente à oposição.
“Este autoritarismo poderá mudar devido a uma crise de sucessão
dentro do partido no poder que leve
a uma deserção significativa e/ou
devido a uma crise de recursos que
reduza os meios necessários para
sustentar o clientelismo político de
uma fracção suficientemente grande
do eleitorado”, refere.
de 2009, os doadores chegaram até a
condicionar a continuação do apoio
orçamental a um compromisso por
parte do governo de realização de
uma reforma eleitoral.
Facto é que, apesar das reformas quase permanentes e do “bom aconselhamento” repetido por observadores
e especialistas eleitorais, alguns dos
problemas nunca foram resolvidos. O
exemplo é o processo de apuramento,
que continua a ser excepcionalmente
longo. Mas também os procedimentos de apelação e contestação que, na
prática, não funcionam. E ainda a
impunidade que prevalece nos órgãos
de administração eleitoral, que são
politizados, em vez de serem neutros.
Autoritarismo eleitoral
Marc De Tollenaere enquadra Moçambique no chamado regime autoritário eleitoral, no qual as eleições servem, principalmente, para perpetuar o
domínio do partido no poder.
Trata-se de regimes definidos como
aqueles que estabelecem eleições plurais como percurso oficial para o poder e não estabelecem a competição
eleitoral como único jogo aceitável.
Regimes que, “ao mesmo tempo que
instituem o jogo eleitoral (a disputa
por votos), introduzem dois metajogos: o jogo da manipulação autoritária, no qual os partidos no poder
procuram controlar os resultados da
competição eleitoral, e o jogo da reforma institucional, em que os partidos da oposição procuram desmantelar as restrições não democráticas que
prejudicam a sua luta pelos votos”.
O regime autoritário é ainda descrito
como trágico e brilhante ao mesmo
tempo. Trágico porque os autocratas
usam os instrumentos da democracia
para sustentar o seu regime e brilhante porque as elites e os eleitores do
partido da oposição acabam por desempenhar um papel activo na manutenção do equilíbrio.
“O facto de a Frelimo ter conseguido
liderar a transição democrática desde
a sua fase inicial, manter-se na liderança e manter a Renamo bloqueada
Frelimo autoritária
nos seus próprios termos, resultou em
instituições eleitorais reféns da competição entre a Frelimo e a Renamo,
não se desenvolvendo como árbitro
independente da concorrência política”, aponta.
“De forma brilhante, a Frelimo convenceu a oposição, a sociedade civil
e a comunidade internacional de que
a reforma eleitoral era uma procura constante da democratização do
sistema político. Na realidade, tinha
como função essencial manter o controlo, garantir a dominação, manter
no jogo a oposição”, anota.
Significa que as eleições reforçam
a posição do partido dominante, a
Frelimo adquire uma aura de invencibilidade e muitos cidadãos sentem
que é inútil votar porque, de qualquer
forma, já se sabe quem é o vencedor.
“Um quarto de século de reforma
eleitoral contribuiu para (…) o autoritarismo eleitoral. As eleições não
têm constituído os alicerces de uma
maior democratização, têm antes
sido o alicerce da contínua dominação pela Frelimo das esferas política e
económica”, conclui.
Mas as eleições também têm servido
para resolver a competição entre as
elites dentro da Frelimo, em eleições
internas que, ironicamente, também
são ensombradas por denúncias de
fraudes no apuramento e compra de
votos.
Os dois “se” de que depende o futuro da Frelimo
As eleições não têm constituído os alicerces de uma maior democratização, têm
antes sido para a contínua dominação da Frelimo
Por Armando Nhantumbo
Savana 22-03-2019 11 PUBLICIDADE
12 Savana 22-03-2019 Savana 22-03-2019 17
NO CENTRO DO FURACÃO
Numa tarde quente, em Julho de 2014, o Presidente
Goodluck Jonathan ligou
e pediu para que me juntasse imediatamente a ele para uma
reunião com um dos seus principais
conselheiros, o Chefe do Estado
Maior da Marinha, e dois representantes de uma empresa de construção naval do Médio Oriente.
Quando cheguei, 15 minutos mais
tarde, a reunião já tinha começado,
e o Presidente pediu ao seu conselheiro para que me explicasse a
essência da proposta que estava a
ser analisada. Estava habituada a
ser chamada de emergência ao gabinete do Presidente para assuntos
importantes. O Presidente tinha
uma boa prática de saber quando
solicitar um apoio ou reforço adicional. Nessas ocasiões, eu escutava-o atentamente para absorver
cuidadosa e rapidamente quer as
questões materiais, quer a atmosfera do encontro, porque, regra geral,
estavam envolvidas várias somas
de dinheiro ou problemas complicados. De acordo com o Chefe do
Estado Maior da Marinha, o seu
sector via-se confrontado com um
enorme desafio relacionado com o
seu equipamento que estava obsoleto. Isso tornava difícil a realização
das suas funções de patrulhamento
e protecção das águas territoriais do
país. O estaleiro naval não estava
devidamente equipado para levar
a cabo operações de manutenção e
reparação da frota naval.
A proposta de negócio apresentada
pelo grupo de Abu Dhabi consistia
em que o governo concessionasse
o estaleiro, que depois seria reabilitado e reequipado para uso como
base para a construção, reparação e
manutenção de embarcações. Particularmente, um dos principais equipamentos da marinha da Nigéria, o
NNS Aradu, que tanto precisava de
reparação poderia ser reequipado e
modernizado no estaleiro, em vez
desse trabalho ser feito no estrangeiro. Tudo o que era necessário,
de acordo com o Chefe do Estado
Maior da Marinha, era que o sector
garantisse um fornecimento adequado de embarcações para a reparação durante o período de vigência
do memorando de entendimento
com a empresa e/ou garantir a aquisição de novas embarcações a serem
construídas no estaleiro em número
suficiente que permitisse que a empresa recuperasse o seu investimento numa margem de rentabilidade
razoável.
Quando perguntei qual seria a
magnitude deste investimento,
como é que seria feito, de onde viriam os recursos, que tipo de fontes
de receitas seriam necessárias para
garantir a recuperação do investimento, e qual seria a duração do
contrato, os representantes da companhia - dois jovens - mostraram-se
surpreendidos e irritados. Pareciam
estar convencidos de que estavam
no gabinete presidencial para finalizar o negócio, não para responder a
perguntas incómodas, colocadas por
alguém com quem até então ainda
não se tinham encontrado. O Chefe
do Estado Maior da Marinha disse
que este arranjo não acarretaria custos ao governo. A empresa estava
preparada para investir um total de
2 biliões de dólares no negócio.
Nesse momento, apercebi-me de
que havia uma armadilha, e que
tinha sido por isso que o presidente me mandara chamar. Já estava
preocupada com a ideia de ter que
garantir um número suficiente de
embarcações para reparação ou fabrico para permitir que a empresa
recuperasse o seu investimento. E
agora tínhamos este investimento
de 2 biliões de dólares. O Chefe do
Estado Maior da Marinha virou-se
para os dois jovens empresários, pedindo-lhes respostas e explicações
para as minhas inquietações.
Privinvest
Eles explicaram que a empresa, um
grande e bem conhecido consórcio
de construções navais conhecida
pelo nome de Privinvest, estava preparada para modernizar o estaleiro e
montar uma infraestrutura moderna de construção de novas embarcações. Para este fim, iriam contactar
um sindicato bancário que poderia
conceder 2 biliões de dólares em
empréstimos a serem contraídos em
nome da empresa, mas com garantias do governo nigeriano.
Finalmente, o negócio estava em
cima da mesa. O governo teria que
garantir o empréstimo, as fontes de
receitas suficientes para permitir a
sua amortização, e uma margem
de sobra para os investidores. Nesses termos, quem é que não gostaria de investir na Nigéria? Como é
que uma proposta de investimento
que remete ao governo todo o risgas através do fundo de contingência do Presidente”.
Este desentendimento com os militares foi muito difícil para mim e
para o meu pessoal, e eu não queria
que a marinha reavivasse este argumento de que o Ministério das
Finanças não estava a prestar a devida atenção aos militares. Foi nesta
perspectiva que eu disse ao chefe
do Estado Maior da Marinha que
falaria com o presidente sobre o assunto, e trabalharia com o meu pessoal na elaboração de uma proposta
viável para a solução do problema.
O presidente, na sua qualidade de
comandante-em-chefe das Forças
Armadas, reconheceu que o chefe
do Estado Maior da Marinha tinha
razão, mas sublinhou que tínhamos
que encontrar uma solução que não
criasse dificuldades para o país, com
dívidas como a Privinvest estava a
propor.
Convidei a equipa do departamento
das parcerias público-privadas do
Ministério das Finanças, chefiada
pelo Dr. George Nwangwu, para
uma chuva de ideias comigo, e propusemos um investimento conjunto
entre a marinha e a Privinvest nos
moldes de uma SPV. A entidade
iria se encarregar da reabilitação do
estaleiro, da reparação e restauração
de velhas embarcações e construção
de outras novas. O estaleiro representaria a participação do governo.
A Privinvest iria contribuir com
pelo menos 200 milhões de dólares,
e a SPV iria contrair os empréstimos necessários em seu próprio
nome. O governo federal ajudaria
em garantir que todas as entidades
marítimas fizessem uso das novas
infraestruturas para as suas necessidades. A nova empresa iria também tentar vender os seus serviços a
outras empresas do ramo, incluindo
nos países vizinhos.
Rejeição da proposta da
Privinvest
Convidamos a Privinvest para discussões nessa base, e os seus representantes de uma maneira geral
concordaram com as nossas propostas, mas insistiram que o Ministério das Finanças deveria assinar um
acordo com uma garantia de execução que assegurasse que o governo
federal continuaria a garantir os
empréstimos da SPV no valor de 1,8
biliões de dólares. Mais uma vez recusei essa proposta, mesmo sabendo
que tal seria a contragosto de algumas pessoas. Foi assim que terminamos o mandato sem termos fechado
o negócio, que é a forma como eu
entendia que a proposta deveria terminar. Havíamos trabalhado muito
para demonstrar à marinha a nossa
vontade de encontrar uma solução
viável. Ao mesmo tempo, tínhamos
conseguido evitar o que constituía
uma proposta financeira muito arriscada para o governo.
Como a Privinvest tentou ludibriar o governo da Nigéria
co pode ser levada à sério? Pedi aos
investidores para que apresentassem
o seu plano de negócio, e disseram
que não tinham – pelo menos, não
naquele momento. Manifestei as
minhas reservas ao presidente e
informei que a referida garantia
equivaleria ao governo contrair uma
dívida, o que para tal tinha que ter
a aprovação da Assembleia Nacional. Teríamos de incluir o projecto
no nosso sistema de análise sobre
a sustentabilidade da dívida, como
forma de testar a capacidade do país
de absorver e amortizar mais empréstimos, particularmente se estes
tivessem que ser em termos comerciais. O Presidente disse, imediatamente, que dadas as questões que eu
havia levantado a proposta carecia
de mais trabalho, e que por isso os
investidores e a Marinha deveriam
trabalhar comigo e com o Ministério das Finanças para resolver todas
as questões pendentes. Se a proposta se mostrasse viável, poderíamos
voltar a falar com ele.
Eu conseguia ver que os representantes da Privinvest não estavam satisfeitos, e que não estavam à espera
deste tipo de encontro. O conselheiro presidencial tinha um semblante
de quem estaria a dizer, “eu já tinha
dito”, como que a pensar, “basta envolver esta mulher, isto não vai funcionar”. O chefe do Estado Maior
da Marinha parecia estar surpreendido, mas procurou ser construtivo,
garantindo ao presidente que continuariam a trabalhar comigo e com a
minha equipa. Os representantes da
Privinvest disseram que tinham que
partir, mas que voltariam a Abuja
dentro de semanas para prosseguir
com as discussões.
De volta ao meu gabinete, consultei membros da minha equipa para
colher as suas sensibilidades. Todos
concordaram que a minha avaliação
estava correcta: teríamos de contabilizar a garantia como um empréstimo, e em função disso avaliar se
era uma prioridade suficientemente
elevada para justificar que o governo contraísse tal empréstimo em
termos comerciais. Para além disso,
deveríamos, de facto, obter aprovação da Assembleia Nacional.
Desde o perdão da dívida junto do
Clube de Paris que consegui obter
em 2005, durante a governação do
Presidente Olusegun Obasanjo, que
permitiu à Nigéria libertar-se de
uma massiva dívida de 30 biliões
de dólares, a dívida externa do país
tem vindo a ser gerida com muita
cautela. No meu regresso ao governo, como Ministra das Finanças em
Agosto de 2011, continuei a trabalhar com o Departamento de Controlo da Dívida, com a finalidade de
manter uma cuidadosa gestão da
dívida externa. Optamos principalmente por empréstimos concessionais de instituições multilaterais e
da China. Um empréstimo comercial de 2 biliões de dólares iria aumentar o saldo da nossa dívida externa de 8,82 biliões de dólares (até
Dezembro de 2013) por uma margem de 23 por cento. Pareceu-me
claro que o proposto investimento
não fazia sentido, e que teríamos
de apresentar as nossas conclusões
na próxima reunião. Não podíamos
entalar o país nesse tipo de dívida!
Dias depois, o chefe do Estado
Maior da Marinha veio ter comigo,
e eu expliquei-lhe as implicações
financeiras do projecto, assim como
o facto de que não podíamos envolver o país nestas rígidas obrigações
financeiras. Ele estava triste e disse
que a marinha estava à beira de não
ser capaz de cumprir com as suas
obrigações devido ao estado delapidado do seu equipamento. Como é
que eles poderiam combater o roubo de petróleo, patrulhar as águas
territoriais contra a pirataria, e desempenhar um papel positivo na
luta contra o terrorismo sem equipamento adequado? Ele defendeu
que algo devia ser feito para se conseguir trabalhar com a Privinvest,
dado que há meses que a marinha
já vinha negociando com a empresa,
tendo chegado mesmo a assinar um
memorando de entendimento.
Boko Haram
A agitação e os fortes argumentos
do chefe do Estado Maior da Marinha fizeram-me lembrar de um incidente anterior com o exército, em
relação à guerra contra o Boko Haram, o grupo terrorista que tem estado a devastar a região do nordeste
da Nigéria. Nessa altura, o Ministério das Finanças era visto como não
estando suficientemente a apoiar os
esforços dos militares. Seria difícil, e
até perigoso, se a marinha adoptasse
a mesma linha de pensamento.
A partir dos princípios de 2014 que
o nível de destruição causada pelo
Boko Haram começou a aumentar, e os nigerianos não estavam
satisfeitos com a aparente lentidão
dos militares em conter a situação.
Quando pressionados a explicar as
suas acções, as forças armadas diziam que o seu orçamento era fraco,
o que colocava o Ministério das Finanças no centro do debate. O meu
pessoal não queria que o Ministério
fosse acusado de não estar a apoiar
as nossas forças de segurança, numa
altura em que era preciso proteger
vidas humanas e bens. Na altura, fiz
uma abordagem sobre a situação do
orçamento militar. O jornal Vanguard, na sua edição de 24 de Maio
de 2014, captou a essência da minha explicação num artigo em que
a jornalista Emma Ujah referia-se a
uma afirmação “atribuída aos militares de que eles não estavam a ser
adequadamente financiados para
fazer face à insegurança provocada
pelo Boko Haram”, e citava-me a
responder que “a administração Jonathan colocava prioridade sobre a
segurança (do país), especialmente
numa altura em que a nação estava em guerra contra os terroristas.
Como tal, quase um quarto de todo
o orçamento de 2014 tinha sido
alocado ao sector da segurança, o
que inclui os militares, a polícia e
outras instituições de segurança no
país”. Para além disso, Ujah citava-
-me a dizer que estávamos “a trabalhar em estreita colaboração com o
sector da defesa. Acabo de falar com
o chefe do Estado Maior General e
outros. Temos que apoiar muito os
nossos homens e mulheres em uniforme, porque eles estão a pôr em
risco as suas vidas para o nosso bem
e estão envolvidos numa tarefa difícil – a guerra contra o terrorismo
– o que nunca tivemos antes, portanto queremos apoia-los nessa luta.
Penso que o orçamento da defesa é
tratado de forma expedita. Já disponibilizamos o dinheiro que eles
precisam para este ano (...) Todos
os seus salários e outras despesas são
pagas tempestivamente. Há outras
necessidades de fundos adicionais, e
às vezes estas necessidades são paPor Ngozi Okonjo-Iweala*
Averdadeira dimensão do que acabamos por poupar ao governo, com a rejeição da proposta da Privinvest, viria
a tornar-se ainda mais clara depois de
eu sair do governo, quando tomei conhecimento dos problemas que Moçambique enfrenta em
relação aos 850 milhões de dólares da dívida da
Ematum, contraída na mesma relação que nos
estava a ser proposta, por mais ninguém que a
própria Privinvest. Sabe-se que o empréstimo,
que de forma significativa aumentou a dívida
externa de Moçambique, não teve a aprovação
do Parlamento. Quando a informação chegou
ao Fundo Monetário Internacional causou
mais dificuldades económicas à Moçambique.
Posso imaginar a mesma situação para a Nigéria, se tivéssemos aceite a proposta da Privinvest. Ao assumirmos uma posição firme contra
a proposta, que nos colocaria sob o risco de enfurecer importantes parceiros, salvamos o país
do que se tornaria num grande embaraço e uma
insustentável situação fiscal.
A benevolência oriental
Esta não foi a única proposta de que tivemos
de resgatar o país. Em Abril de 2013, eu estava de viagem fora do país, quando o presidente
Jonathan ligou a convidar-me para um encontro
com um consórcio de empresários nigerianos e
estrangeiros. Um dos promotores era um homem da África do Norte que pareceu ter acesso
a importantes líderes mundiais. O presidente
queria que eu avaliasse se a proposta era algo que
a Nigéria poderia abraçar.
No dia seguinte, encontrei-me com um dos promotores, um jovem nigeriano que disse que o
grupo já tinha discutido o assunto com o presidente e alguns dos seus conselheiros, e que também já havia se encontrado como o meu vice-
-ministro, o Dr. Yerima Ngama. Todos tinham
manifestado o seu apoio em relação à proposta.
De acordo com a proposta, benfeitores sedeadas
no Médio Oriente, disponibilizariam entre 2 e
3 biliões de dólares em donativos à Nigéria para
o financiamento de projectos, desde que fossem
satisfeitas algumas condições.
O dinheiro tinha que ser aplicado em projectos previamente acordados entre as duas partes,
com resultados específicos. Estes seriam avaliados ao longo de um determinado período, e o
dinheiro seria disponibilizado em tranches. Se
o país conseguisse obter todos os resultados,
o dinheiro continuaria como donativo, mas se
houvesse falhas, seria convertido em empréstimo a ser amortizado a uma determinada taxa
de juro. Os benfeitores contratariam consultores para avaliar se os objectivos estavam a ser
alcançados. Parecia tudo muito bonito para ser
verdade. O meu senso comum dizia-me que não
se disponibilizam biliões de dólares dessa forma.
Para além disso, havia uma armadilha: como garantir a isenção e objectividade dos consultores
responsáveis pela avaliação do desempenho dos
projectos? Se houvesse discordância sobre se um
objectivo foi ou não alcançado, quem faria a arbitragem? Quando pedi um documento a detalhar o plano, o jovem explicou que o responsável
pelo fundo poderia visitar a Nigéria para se encontrar comigo.
Cerca de um mês depois, um homem branco,
mais velho e com sotaque britânico, encontrou-
-se comigo em Abuja. Disse-me que o Fundo
tinha a sua sede na Holanda e que recebia as
suas subvenções a partir de membros da família
real saudita, que punham de lado parte da sua
riqueza para ajudar países em desenvolvimento,
especialmente em África, na prossecução das
suas responsabilidades religiosas de ajudar os
menos afortunados. Apresentou-me um documento que detalhava a proposta precisamente
nos mesmos moldes em que ela me tinha sido
descrita anteriormente. Mais uma vez procurei
saber sobre as modalidades a serem seguidas
para verificar se um determinado objectivo tinha
sido alcançado ou não, assim como da taxa de
juro a ser aplicada caso o donativo seja convertido em empréstimo. Ele respondeu que a taxa de
juro era negociável, mas que seria concessional.
Ao fim do encontro, fiquei com a impressão de
que isto era uma fraude de 3 biliões de dólares,
que envolveria o país numa grande dívida devida
a uma entidade dúbia, e com prolongados e dispendiosos processos judiciais. Portanto, recusei a
oferta, o que deixou desiludido o meu interlocutor e os seus parceiros e colaboradores nigerianos. Expliquei isto ao presidente, que me disse
que não se sentia confortável com a proposta,
e que apoiava completamente a minha posição.
Os dois episódios foram apenas alguns de vários projectos e propostas financeiras apresentadas ao presidente e outros membros do governo. Os dois destacam-se pelo seu tamanho,
o tempo, dedicação e seriedade com que foram
seguidos pelos seus promotores. A maior parte
das propostas eram mais modestas, mas sempre
contavam com o apoio de alguns sectores no
governo ou outros dirigentes políticos. Rejeitar
constantemente estes esquemas era constrangedor e significava ter que acumular inimigos que
entendiam que os seus bolsos estavam a ser desapossados. Mas independentemente de quem
ficou desiludido, recusar dívidas de cerca de 5
biliões de dólares, que teriam de certeza endividado ainda mais o país tornou-se num motivo
de orgulho para toda a equipa do Ministério das
Finanças.
*Antiga Ministra das Finanças da Nigéria. Extractos do seu livro intitulado Face to face with
Corruption (De caras com a Corrupção)
Os problemas de Moçambique
Jonathan Goodluck era o presidente da Nigéria quando a Privinvest tentou vender o Projecto Segurança Costeira
Savana 22-03-2019
EVENTOS
13
0DSXWR GH0DUoRGH $12;;9,1o 1315
EVENTOS
F
oi reaberta, na semana
passada, no posto administrativo de Ressano Garcia, no distrito
da Moamba, na província de
Ressano Garcia recebe
agência bancária renovada
o compromisso firme com a
evolução, com o futuro e com
a inovação.
Rui Barros referenciou ainda que a reformulação das
agências bancárias, que gradualmente tem vindo a implementar para melhor servir,
insere-se no âmbito de uma
das apostas estratégicas do
grupo, trazendo os serviços
financeiros do país para um
novo patamar de desenvolvimento.
Contudo, a administradora
do distrito de Moamba, Guilhermina Kumagwelo, agradeceu pela reabertura do balcão
modernizado, acreditando ser
uma grande contribuição na
cultura de boa gestão e segurança dos valores monetários.
O Barclays Bank Moçambique é membro do Grupo
ABSA, com presença em 12
países do continente africano e
mais de 42.000 colaboradores.
Conta com uma rede de 44
balcões a nível nacional. (C.C)
O
Millennium bim
foi distinguido
pela prestigiada
revista “ Global
Finance” como “Melhor
Banco de Moçambique
2019”, sendo uma referência internacional que
respeita a informação dos
mercados financeiros e
análise do sector bancário.
O anúncio foi feito em
Nova Iorque, no âmbito
da 26ª edição do Annual
Best Bank Awards 2019,
no qual foram anunciados outros vencedores em
BIM distinguido melhor banco
mais de 150 países de todo o
mundo.
Esta é a 10ª vez consecutiva
que o Bim é premiado por
esta instituição como Melhor
Banco, fruto do seu desempenho no sector bancário moçambicano. Esta escolha foi
feita com base numa análise
criteriosa de um júri constituído por executivos financeiros corporativos, banqueiros e
consultores bancários.
Segundo Joseph Giarraputo,
director editorial da Global
Finance, classificar-se entre
os melhores bancos do mundo é cada vez mais difícil. As
expectativas dos clientes e dos
prestadores de serviços financeiros nunca foram tão altas, e
isto deve-se à exigência de entregar produtos feitos à medida, em tempo real e com total
segurança.
O crescimento em activos,
a rentabilidade, o âmbito da
cobertura global, as parcerias
estratégicas, o desenvolvimento de negócios e a inovação
em produtos e serviços, foram
alguns dos principais critérios
de solidez para a escolha do
Millennium bim como melhor
instituição financeira de Moçambique.
Por outro lado, José Reino da
Costa, PCE do Millennium
bim, reitera que o prémio é
um reconhecimento importante que os encoraja a trabalhar com mais empenho para a
satisfação dos seus clientes.
Costa acrescenta ainda que
a 10ª conquista consecutiva
deste prémio é fruto de um
trabalho em equipa e que apenas com dedicação diária e total dos seus colaboradores foi
possível este reconhecimento
internacional.
A eleição foi reforçada por um
estudo de opinião da revista
internacional, cujos leitores
são maioritariamente líderes de opinião do mercado
financeiro internacional,
analistas de acções de crédito em todo o mundo,
seguradoras, empresas, correctores e consultores.
Contudo, à esta eleição da
Global Finance como “Melhor Banco de Moçambique 2019” junta-se a outros
prémios internacionais de
relevo atribuídos pela Euromoney e Global Finance
“Best Digital Bank”, entre
outros, que fazem do Millennium bim a instituição
bancária mais premiada do
país. (C.C)
Maputo, a agência bancária
do Barclays Bank, facto que
marca um passo importante
naquilo que tem sido a reformulação de toda a rede de
agências desta entidade bancária.
A agência foi totalmente renovada com o pressuposto de
acelerar o processo de bancarização nesta área, para criar
maior inclusão financeira das
comunidades, como também
orientar os clientes para uma
visão de negócios, habilitando-os para a actual conjuntura
do sistema financeiro.
O balcão foi inaugurado pelo
governador da Província de
Maputo, Raimundo Diomba.
Na ocasião disse acreditar que
a abertura de novas agências
vai responder à crescente demanda de produtos e serviços
bancários, transações, poupança e crédito, contribuindo,
deste modo, para o desenvolvimento económico do país.
Entretanto, o administrador
delegado do Barclays Bank
Moçambique, Rui Barros, sublinhou que ao reabrir este
balcão, que representa a nova
imagem, dinâmica e totalmente orientada para o cliente, está
a fazer uma aposta clara no
desenvolvimento do comércio
formal na história de Ressano Garcia, demonstrando
Savana 22-03-2019 EVENTOS
14
O
Ministério da Agricultura e Segurança
Alimentar realizou na
passada sexta-feira, um
seminário cujo objectivo era reflectir e debater sobre as vias a serem tomadas em torno da gestão
pós-colheita no país.
Segundo a directora nacional de
Extensão Agrária, Guilhermina
Matiquite, após o processo produtivo, uma parte desta produção
é perdida devido as causas que
se relacionam ao processo de colheita, incluindo limpeza da produção, tratamento, conservação e
processamento de modo a garantir disponibilidade para o consumo ou mesmo para a venda.
“O que acontece em Moçambique é que acabamos tendo perdas
que chegam a ser mais de 30% do
volume total da produção colhida, significando que se Moçambique produz mais de 3 toneladas
de milho por ano, mais de 30%
desta produção é perdida devido
a práticas inadequadas de gestão
pós-colheita.
Moçambique perde entre 30 e 40% da produção após colheita
Estamos perante uma situação
em que, em Moçambique, não se
vive necessariamente uma situação de fome por falta de alimentos, mas pela gestão ineficiente da
produção”, frisou.
De acordo com Matiquite, “enquanto não for adequada as práticas da gestão pós-colheita, não
será possível atingir o objectivo
de acabar com a fome, os agricultores irão produzir e mesmo
assim haverá problemas de disponibilidade de alimentos. É preciso
que este assunto seja debatido e
sejam encontradas soluções para
garantir disponibilidade e aproveitamento total do que o produtor colhe na sua parcela de produção”.
Matiquite fez notar que para a
redução das perdas pós-colheita,
existem alguns projectos específicos como o projecto de Gestão de
Pós-colheita implementado pelo
consórcio FANRPAN, HELVETAS e AGRIDEA, a operar nas
províncias de Cabo Delgado e
Nampula.
Estes projectos, tem como objecA
União Geral de Cooperativas (UGC), através
da sua Escola Técnica Padre Prosperino
Gallipoli, graduou, na semana
passada, em Maputo, cerca de
145 técnicos médios nas diversas
áreas lecionadas pela instituição.
Foram graduados 44 técnicos
médios em Contabilidade e Auditoria, 73 técnicos médios em
Aduaneiro e Comércio Exterior,
21 técnicos médios em Gestão
Empresarial e Bancária e 7 técnicos médios em Gestão de Recursos Humanos.
Segundo o director executivo
da UGC, Fernandes Domingos,
esta graduação demonstra claramente que os graduados reúnem
UGC gradua
145 técnicos médios
um certo número de requisitos,
facto que deve constituir bastante orgulho, mas realça que não é
o fim da caminhada, pois agora
inicia a nova etapa que deve ser
guiada com responsabilidade e
desafios acrescidos.
Domingos fez recordar aos graduados que o seu sucesso vai depender em grande medida dos
resultados que obtiverem e da
postura que forem a manter nas
comunidades onde irão desenvolver as suas actividades.
Entretanto, ciente dos constrangimentos existentes no mercado
de trabalho, o director apela que
os mesmos optem em criar os
seus próprios empregos, quando
possível, de maneira a reduzir os
índices de desemprego no país.
tivo último produzir e disseminar
tecnologias melhoradas de gestão
pós-colheita, destacando-se, para
o efeito, o silo metálico.
Por sua vez, o Ministério da
Agricultura e Segurança Alimentar pretende desenvolver um
plano de acção de gestão pós-colheita, que será realizado através
de uma consultoria estimada num
valor de 6 milhões de meticais. A
consultoria terá uma duração de
três a quatro meses, significando que, antes do final do ano de
2019, Moçambique terá um instrumento orientador na área de
pós-colheita.
Moçambique conta com o apoio
da Cooperação Austríaca para o
Desenvolvimento na realização
do estudo e do plano que será
implementado em âmbito nacional.
Savana 22-03-2019
EVENTOS
15
PUBLICIDADE
O Fundo das Nações Unidas para População - UNFPA, é uma agência internacional de desenvolvimento que trabalha em prol de um
mundo onde cada gravidez é desejada, cada parto é seguro e o potencial de cada jovem é realizado. O UNFPA solícita candidaturas
GH FLGDGmRVPRoDPELFDQRV TXDOLÀFDGRVHH[SHULHQWHVSDUD DV VHguintes vagas:
Posto # e título: Posto nº 21962, Gestor do
Projecto - Censo
Tipo de contrato: Fixed Term Appointment, NOC
Local de Trabalho: Maputo
Duração: 12 Meses
Prazo de Candidatura: Submissão de candidaturas
até 29 de Março de 2019
Link para Aplicação:
https://www.unfpa.org/jobs/national-post-project-manager-census-maputo-mozambique-no-c
Requisitos:
*UDXXQLYHUVLWiULRDYDQoDGRHPGHPRJUDÀD HVWDWtVWLFD GHVHQYROvimento social e/ou outro campo de ciências sociais relacionadas.
&LQFR DQRVGHH[SHULrQFLDSURÀVVLRQDOHPJHVWmR FRRUGHQDomR
de projetos nacionais ou seus componentes; Mínimo de cinco (5)
Anúncio de Vaga
DQRVGHH[SHULrQFLDQRWUDEDOKRFRPLQVWLWXLo}HVJRYHUQDPHQWDLV RUganização de desenvolvimento bilateral / multilateral e / ou ONU;
)RUWHVKDELOLGDGHVGHDQiOLVHTXDQWLWDWLYDGHGDGRV ([FHOHQWHVFRQKHcimentos em construção de parcerias, coordenação de doadores e gesWmR UHODWyULRVEDVHDGRVHPUHVXOWDGRV ([FHOHQWHFRPXQLFDomRRUDOH
escrita em inglês e português.
3URÀFLrQFLDQDVPDLVUHFHQWHVDSOLFDo}HVGHVRIWZDUHGHHVFULWyULR LQcluindo aquelas usadas para processamento de dados do Censo; Capacidade de tecnologias de informação para se familiarizar com o sisWHPD(53 SRUH[HPSOR 3HRSOH6RIW 6$3 RXRXWURVLVWHPDLQWHJUDGR
baseado na web.
Para mais informações relacionadas com os termos de referência, os
interessados podem tê-las através do link acima mencionado.
Como se candidatar: As aplicações/candidaturas devem ser submetiGDVDWUDYpVGROLQN 1mRKiQHQKXPDFREUDQoDGHWD[DGHFDQGLGDWXUD
processamento ou de outra natureza. O UNFPA não solicita ou procura obter informações dos candidatos quanto ao seu estado de HIV ou
6,'$HQmRGLVFULPLQDFRPEDVHQDVLWXDomRGH+,9H6,'$
UNFPA, Fundo das Nações Unidas para População
Av. Julius Nyerere, 1419, PO Box 4595,
Maputo, Mozambique
Savana 22-03-2019 EVENTOS
16
P
erante a situação calamitosa vivida na zona
centro do país, em
consequência do ciclone Idai, a Cervejas de Moçambique (CDM) doou, esta
semana, o equivalente a 100
mil dólares através do Instituto Nacional de Gestão de
Calamidades (INGC).
CDM apoia vítimas do
ciclone IDAI
De acordo com o administrador da
CDM, Hugo Gomes, o apoio provido é insuficiente para a magnitude da catástrofe humanitária vivida,
mas acredita que com esta acção vai
ajudar a amenizar a situação que se
encontram muitos concidadãos.
Adicionalmente, a Cervejas de
Moçambique suspenderá o investimento em publicidade que passa
na televisão, rádio e imprensa
escrita, durante uma semana,
convertendo deste modo o
valor para o apoio às vítimas
do Idai.
Contudo, para além da doação, a CDM informa que as
suas plataformas digitais de
comunicação estão focadas
em campanhas de angariação
de fundos para as vítimas.
A
Eni através da sua subsidiária Eni Rovuma
Basin (ERB) e a Universidade Lúrio assinaram,
na semana passada, um memorando de entendimento para o
desenvolvimento comunitário
e a protecção da biodiversidade
na cidade de Pemba e na Ilha de
Vamizi, na província de Cabo
Delgado.
Esta iniciativa enquadra-se no
âmbito da implementação do
plano de sustentabilidade do projecto Coral Sul e na visão da Eni
de que o desenvolvimento das
comunidades salvaguarde o meio
ambiente, que constitui uma área
de extrema importância.
O acordo assinado prevê a implementação de um projecto-piloto
que consiste na criação de um
viveiro de corais no Santuário
Marinho da Ilha de Vamizi, em
parceria com as comunidades
costeiras.
A Ilha de Vamizi é rodeada por
recifes de corais que constituem
importantes ambientes marinhos
e possuem uma rica biodiversidade, sendo fundamental tanto ecológica como economicamente.
Na última década o Conselho
Comunitário de Pesca da Ilha
tem mantido o santuário marinho em 50% das águas para
preservar os estoques de peixes e
promover a segurança alimentar
no futuro.
De acordo com o director geral
da ERB em Moçambique, Filippo Maioli, esta parceria irá contribuir para melhoria da conscientização de conservação da
biodiversidade nas comunidades
costeiras de Cabo Delgado sobre
a importância dos recursos mariEni e UniLúrio firmam
parceria
nhos para a subsistência, enquanto aumenta a empregabilidade da
população local.
Entretanto, com esta parceria
espera-se ser possível envolver as
comunidades costeiras durante
a fase de criação e monitoria do
viveiro, bem como estudantes finalistas da Faculdade de Ciências
Naturais da UniLúrio na Cidade
de Pemba.
Venda de
Propriedade
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18 Savana 22-03-2019 OPINIÃO
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www.savana.co.mz
Cartoon EDITORIAL
A
natureza encontra sempre uma forma de nos fazer lembrar
que ela não precisa de nós, que nós é que precisamos dela.
E por vezes fá-lo da forma mais violenta, para que a mensagem nunca se perca.
E o ciclone Idai, que na semana passada se abateu sobre o centro de
Moçambique, foi a forma mais eloquente dessa lembrança, com um
nível de devastação nunca visto na nossa história moderna. Calcula-
-se que seja o maior desastre natural até aqui registado no hemisfério
sul. A cidade da Beira, o segundo maior centro urbano do país, ficou
completamente obliterada, e todo o vale circundante, compreendendo as bacias dos rios Púnguè, Revué e Búzi, transformou-se num
grande oceano. A Estrada Nacional Número Seis, principal via de
acesso ao mar para os países e regiões do interior, e ainda numa
fase avançada de reconstrução, num investimento de 600 milhões
de dólares, ficou submersa e cortada em quatro pontos. A economia da região ficou praticamente paralisada. Numa contagem ainda
crescente, mais de 200 pessoas perderam a vida e várias centenas de
outras permaneceram longos dias entaladas em cima de árvores ou
dos restos dos poucos edifícios que conseguiram resistir à devastação; sem alimentação, sem água, e à mercê dos mosquitos que têm
nestas condições climáticas o seu habitat natural. Há pessoas que
ainda são dadas como desparecidas, sem contacto com os familiares.
Sem energia eléctrica, equipamentos vitais nos hospitais deixaram
de funcionar. Todos perderam os poucos haveres que tinham. Terão
que começar tudo do zero, se é que haverá, algum dia, um novo
ponto de partida.
Moçambique está de luto. O esforço de reconstrução é ainda incalculável, e qualquer tentativa de comparação com o desastre natural
que em 2000 se abateu sobre a região sul do país é um exercício em
futilidade.
Infelizmente, há gente importante, influente e poderosa neste mundo, que ainda acredita que as mudanças climáticas são uma farsa.
A localização geográfica de Moçambique, na chamada Zona de
Convergência Tropical, torna o país vulnerável a estas calamidades,
caracterizadas, nesta época do ano, por chuvas de curta duração mas
intensas, acompanhadas de ventos fortes, neste caso atingindo a incrível velocidade de perto de 200 quilómetros por hora. É mais do
que o suficiente para derrubar qualquer espécie de obstáculo que se
coloque no seu caminho; como um míssil invisível.
E é aqui onde se revelam as fragilidades de um país que no meio de
tantas outras dificuldades, terá, nos próximos anos, de empreender
um esforço titânico para se refazer desta calamidade. Se eventos
naturais extremos se tornam inevitáveis, há o outro lado da história,
que tem a ver com a forma violenta como o ser humano lida com
o meio ambiente. A ocupação desordenada de espaços, a construção em zonas impróprias para habitação, a passividade das autoridades perante o fenómeno, a impiedosa delapidação dos recursos
florestais, a ausência de valas de drenagem são alguns dos elementos
que contribuem para que não seja possível mitigar os efeitos destes
fenómenos. Isto, para além da inadequada preparação que se revela
na tomada de medidas de prevenção, como por exemplo, evacuando
as pessoas dos lugares vulneráveis.
A impreparação das autoridades para o que era previsível é visível
em todo o lado. As primeiras equipas de mergulhadores que se fizeram aos locais atingidos para resgatar pessoas vieram do estrangeiro.
De onde também veio a maior parte dos helicópteros actualmente
envolvidos nas operações de resgate. A informação sobre a movimentação e natureza violenta do ciclone era sabida vários dias antes,
mas as autoridades limitaram-se a emitir alertas, sem qualquer tipo
de acção de evacuação preventiva nas zonas de risco. E na ausência
de meios para lidar com a catástrofe que se avizinhava, ninguém se
lembrou de fazer pedidos antecipados de apoio por parte da comunidade internacional.
São algumas das questões com que teremos de nos confrontar nos
próximos dias, à medida que nos formos preparando para a próxima
acção da natureza.
A impotência do homem
perante a natureza
S
ofro de hiperidrose. Transpiro
como um cão, não importa a
temperatura ambiente. Basta
qualquer estria de ansiedade
ou um incómodo, mesmo por identificar, e transformo-me no Incomati. Há
uns dias que se me abriram os diques.
Mudo três vezes de roupa ao dia. Não
cessa. Sei do que é. É da cicatriz aberta
na Beira. Contrariando o Prof. Pangloss do Cândido do Voltaire, este não é
o melhor dos mundos possíveis.
Nem consigo imaginar: todos os acessos à cidade cortados, inundações (a recepção do China Town é submarina);
centenárias figueiras da índia arrancadas como se fossem caniços; no aeroporto, dentro de um hangar, os aviões
dedicaram-se às cambalhotas; a igreja
do Macuti tombada; as fábricas de
pantanas; os postes eléctricos dobrados
como palitos; milhares de edificações
carecas, sem cobertura; ficou igualmente ao léu a ala da cirurgia do Hospital da Beira, literalmente, entra-se
nas urgências como num atalho para
o céu; cem mortos contabilizados e
mil desaparecidos; centenas de pessoas
penduradas nas árvores, à espera de um
anjo-helicóptero; a cidade sem luz, sem
água, sem caixas bancárias, metade dos
hotéis arrombados; o riso cínico das pilhagens, etc., etc; podendo o pior ainda
sobrevir, com mais inundações.
Nem consigo imaginar: diz a Cruz
Vermelha que 80% da cidade da Beira
está destruída, todos os arredores estão
debaixo de água.
Dirão os “profetas”: foi um castigo de
Deus. Não, absolutamente, não. Os homens, que estavam avisados, é que não
fizeram o suficiente. Ou, talvez, tenha
sido um erro criar Deus e depois dar-
-lhe livre arbítrio. Seja qual for a tutela,
o resultado é este sofrimento e a evidência: neste rincão, a natureza persiste
em fazer gato-sapato dos homens e das
calamidades destino.
A Beira é, diga-se, há muito uma cidade ensimesmada, triste; estava transA Beira: a cicatriz aberta
formada no seu própria caricatura - depressiva e deprimida.
Há oito anos, entrevistei no Bulhão
(shooping que me dizem ter vindo
abaixo) uma mulher vítima da violência doméstica. Veio ao meu encontro uma mulher radiosa, um clone da
actriz Romy Schneider. Terminava o
mestrado em Física, absoluta raridade
em Moçambique. Mas estava visivelmente perturbada e era absolutamente
um mistério que ela voluntariamente se
sujeitasse - o que a levava a entalar o
seu pé na cadeira em que se sentava?
Afinal, era o clima da cidade. Aquela,
foi a primeira de muitas entrevistas. Ao
fim de oito dias de entrevistas, inquietei-me: pode uma cidade sobreviver à
depressão que causa nas suas mulheres mais bonitas, à irracionalidade de
torná-las infelizes? Um mau sintoma,
o clima social da cidade era pantanoso.
Há quatro anos passei lá dez dias sem
conseguir trabalhar devidamente, devido aos ininterruptos cortes de luz.
Imaginei o que seria seis meses naquele regime - para além do desgaste dos
materiais, a improdutividade. Outro
mau sintoma.
O ano passado fui lá lançar um livro
com o Mbate Pedro. O ambiente cultural era o de uma aldeia, desacostumada. Numa cidade que já foi borbulhante
de cultura, de onde provém metade dos
escritores deste país. Desacostumara-
-se, vivia para as vitualhas, a ebriedade,
uma por outra visita ao casino china. É
nada, para uma cidade àquela escala.
Uma cidade não pode ser só infra-
-estruturas e transacções económicas
– não é isso que lhe dá um cariz, uma
personalidade. Uma cidade sem um
património intangível forte perde o direito ao nome.
Digo aos alunos que Moçambique reúne as condições propícias ao desenvolvimento da Tragédia como género literário. Por causa das clivagens sociais, da
especial gramática que liga existentes
e ancestrais, do modo como aqui se
vivencia o presente e a História, e dos
conflitos que se sucedem à ascensão de
uma consciência individualista num
corpo social de mentalidade colectivista – em Moçambique há um comportamento humano de referencial pré-
-sísmico, que tende às polarizações, aos
atritos entre a lei, os costumes e os homens; o qual é propício aos condimentos da Tragédia. A puta da inclemência
e da frequência das calamidades ajuda.
Mas, face a tanta inclemência, merda
para a literatura - há momentos em
que apenas o silêncio é digno. Há momentos em que o excesso só ulcera e é
penalizador vivermos num país sempre
aquém da catarse.
Que dizer a quem perdeu o telhado,
marido, dois filhos, ou viu a avó levantar voo quando lhe faltavam dois passos para se refugiar em casa?
Que dizer quando uma cidade inteira
foi estripada, estuprada, fustigada poro
a poro por uma maquinação natural e
tudo retrocede quando à partida já era
tão difícil?
Que cidade se levanta depois de uma
injustiça cósmica tão flagrante?
A esta hora, no porto de Maputo os jovens solidarizam-se e recolhem donativos para a Beira. É a Sociedade Civil
que se mobiliza – essa mesma que, em
nome de interesses corporativos, nunca
é respeitada.
Do que a Beira necessita, além de muita solidariedade, é de visão e projecto e
de um sinal de grandeza dos líderes políticos, que os mesmos encontrem nesta
cicatriz uma necessidade de redenção.
Não é só o património imobiliário ou
as infra-estruturas que é preciso resgatar; a Beira precisa de um projecto
que lhe seja uma alma. É preciso agora
exigir o impossível, uma mentalidade
nova e a festa de pertencermos.
Mudo outra vez de t-shirt, numa exsudação sem remédio. Coço a cabeça
imaginando como de helicóptero a
cidade há-de parecer bombardeada. A
minha testa goteja. Estudo para estalactite.
Savana 22-03-2019 19
cava as relações internas, tornava
mais agitadas as águas das relações
internacionais, em particular com a
França, procurando novos aliados,
sobretudo na África subsariana, onde
estabeleceu ligações com grupos rebeldes no norte do Mali.
Em 2005, foi internado num hospital
em França, com problemas gástricos
e a sua situação de saúde foi-se complicando ao longo dos anos seguintes.
Com uma saúde mais frágil, Bouteflika indicou para primeiro-ministro
Abdelaziz Belkadem, em 2006, para
garantir a sua influência de poder,
com este a anunciar uma reforma,
muito contestada, que permitia ao
presidente mandatos ilimitados.
Com esta medida, Bouteflika concorreu e ganhou um terceiro mandato, em 2009, debaixo de uma escalada
de protestos, alguns dos quais iniciados por jornalistas (em 2010), que se
queixavam de problemas de liberdade de imprensa.
Em 2013, Bouteflika sofreu um AVC
e quase desapareceu da cena pública,
o que não o impediu de ser reeleito
para um quarto mandato, em 2014,
apesar do boicote de vários partidos
da oposição.
Uma das raras aparições aconteceu
em 2017, em imagens transmitidas
pela estação televisiva estatal de uma
reunião de gabinete, em que anunciou medidas económicas restritivas,
como a diminuição das importações,
para fazer frente à débil situação financeira da Argélia, provocada pela
baixa do preço do petróleo.
A partir desse momento, Bouteflika
passou a ser “a moldura”, a fotografia
que o representava, mas sem aparecer.
Contudo, em Fevereiro passado
anunciou a sua candidatura a um
quinto mandato, provocando uma
escalada de contestação nas ruas de
várias cidades argelinas, com as próprias forças de segurança a mostrarem solidariedade com os manifestantes.
Perante o agravar da situação, em 11
de Março, o presidente Bouteflika,
regressado de mais um tratamento
numa clínica suíça, renunciou a procurar um quinto mandato, explicando que ficará no cargo até que o seu
sucessor seja eleito, sem determinar
uma data para esse acto eleitoral.
(Lusa)
OPINIÃO
624
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Portal: https://oficinadesociologia.blogspot.com
A
bdelaziz Bouteflika está no
poder há duas décadas, mas
há sete anos que aqueles que
o elegeram quatro vezes presidente da Argélia quase não o veem,
havendo quem suspeite que ele é um
fantoche político.
Aos 82 anos e com dois ataques cardíacos no boletim médico, a 10 de
Fevereiro, Bouteflika anunciou que
se recandidataria a um quinto mandato presidencial, apesar de quase já
ninguém o ver, “ao vivo”, há sete anos.
Nas cerimónias públicas, a presença
de Bouteflika tem sido substituída
por um quadro com a sua fotografia,
a que chamam “moldura”.
A “moldura” tem-se passeado por
inúmeros pavilhões, salas de aula,
edifícios autárquicos e estádios, representando um presidente que se
tornou uma figura pessoalmente invisível, mas politicamente imbatível.
Nas eleições de 2014, meses depois
de um AVC que o levou para um
quarto de hospital, Abdelaziz Bouteflika conseguiu ser eleito com 81%
dos votos, sem fazer um único discurso de campanha e quase sem aparecer publicamente.
Os opositores começaram a desenvolver uma “teoria da conspiração”,
segundo a qual Bouteflika é um fantoche que serve os interesses de uma
clique que se organizou à sua volta,
com inúmeros e inconfessáveis interesses económicos e empresariais.
A Argélia possui a quinta maior
reserva mundial de gás natural e o
sector dos hidrocarbonetos é respon-
%RXWHÁLND RLQYLVtYHO PDVLPEDWtYHOSUHVLGHQWHGD$UJpOLD
sável por mais de 60% das receitas
orçamentais e representa quase a totalidade das exportações.
Muitas das empresas exportadoras
de gás e petróleo são controladas por
figuras que frequentam a Mouradia,
o palácio presidencial de Argel, e que
foram construindo uma poderosa
teia de interesse à volta da figura tutelar de Bouteflika.
Os críticos do regime chamavam a
esse grupo “le pouvoir” (“o poder”) –
uma espécie de colectivo opaco que
toma as decisões em nome do presidente.
Com o agravamento da situação
de saúde do presidente, em 2013, a
‘entourage’ que se formara à volta
de Bouteflika começou a mostrar
fraturas, com numerosos conflitos
internos no governo e no palácio
presidencial.
Em 2015, com o afastamento de
Mohamed Mediène, o líder dos serviços de inteligência e uma das figuras mais próximas do presidente, percebeu-se que alguma coisa de muito
relevante tinha mudado no círculo de
Bouteflika, sem se saber exactamente
com que influência e conhecimento
do próprio líder.
Bouteflika sempre deu muito relevo
à questão das ligações de confiança e
de fidelidade.
Ele próprio, nunca largou a mão ao
presidente Houari Boumédienne, até
à sua morte, em 1978, de quem foi
ministro dos Negócios Estrangeiros
ao longo dos primeiros anos da independência da Argélia.
A guerra contra os colonos franceses apenas terminou em 1962, após
um longo período de resistência e de
golpes e contra-golpes, em que Bouteflika foi sempre uma figura revolucionária relevante - apesar das suas
origens modestas, todos lhe reconheciam forte autoridade.
Poucos dias depois de Abdelaziz
Bouteflika ter nascido, em 02 de
Março de 1937, os pais levaram-no
até ao xeque de Zawiya, para pedir a
bênção para o bebé.
O xeque recitou um verso do Corão
e disse: “Esta criança terá um grande
destino”.
Ujda
A família, de posses modestas, vivia
em Ujda, uma cidade do nordeste de
Marrocos, a 12 quilómetros da fronteira com a Argélia, historicamente
território de vários conflitos pela sua
posse, tendo sido a única cidade de
Marrocos que esteve sob o domínio
do Império Otomano.
Mas as origens familiares de Bouteflika eram argelinas e, apesar de ter
feito a sua formação académica e religiosa em Ujda, aos 19 anos juntou-
-se à Frente de Libertação da Nacional (FLN) da Argélia e, em 1960, já
liderava o movimento no sul do país,
contra as forças colonialistas.
Com a independência, Bouteflika assumiu cargos governamentais e chegou ao lugar de presidente das Assembleia Geral das Nações Unidas,
em 1974, onde foi frequentes vezes
alvo de críticas por parte do governo dos EUA, pelas suas posições
relativamente à situação no Médio
Oriente.
Também na Argélia, a sua figura envolveu-se cedo em polémicas, tendo
sido processado por alegadamente
ter roubado dinheiro das embaixadas,
entre 1965 e 1979, e condenado pelo
Tribunal de Auditores Financeiros.
Após a morte do presidente Boumédienne, em 1978, Bouteflika teve
dificuldade em afirmar politicamente
as suas ambições de poder e foi relegado para segundo plano, tendo feito
parte discreta da oposição a sucessivos governos, antes da guerra civil
que assolou o país e que durou de
1992 até 1999.
Durante a guerra-civil, Bouteflika
reassumiu protagonismo e, em 1994,
após o assassínio de Mohamed Boudiaf, recusou assumir o lugar de presidente, alegando que o exército não
lhe dava os poderes necessários para
exercer o cargo.
No lugar ficou Liamine Zéroual, que,
em 1999, sem explicação aparente,
interrompeu o seu mandato presidencial e convocou eleições antecipadas, que foram vencidas, com 74%
dos votos, pelo candidato independente Bouteflika.
Os adversários queixaram-se de falta
de transparência e Bouteflika, com
a sua legitimidade condicionada, foi
obrigado a uma série de reformas políticas, que referendou, para assegurar
um mandato estável.
A sua primeira preocupação foi retirar a Argélia do isolamento internacional, com várias acções de diplomacia e a intensificação de relações
com vários países africanos, nomeadamente, com Marrocos.
Em 2004, foi eleito para um segundo
mandato, com 85% dos votos, com
o reconhecimento de observadores
internacionais, que lhe permitiram
uma maior legitimidade e aumento
de poder, sobretudo à custa de controlo estatal da produção energética e
do sistema mediático.
Neste segundo mandato, procurou
ainda a pacificação e a reconciliação
de grupos desavindos, dando amnistia a todos aqueles que tinham estado
envolvidos em assassínios durante a
guerra-civil, o que lhe permitiu anos
de maior estabilidade.
Mas ao mesmo tempo que pacifiA
violência parece ser evidente. Mas há um problema: e se a
violência não for violenta, mas podendo a este nível ser até
mais violenta do que a violência violenta? E se a violência não
violenta for a causa da violência violenta?
Acontece que temos da violência, por um lado, uma concepção imediata, instantânea, visível, quer dizer uma concepção não processual,
daquela processualidade que, agindo por acumulação progressiva de
causas e de contextos, explode um dia. Por outro lado, temos uma
concepção que objectivamente exclui que as coisas estáveis e pacíficas
possam ser violentas ou dar origem à violência.
Quer dizer, a nossa concepção é a do ruído, da explosão, a daqueles
momentos veementes que escamoteiam as condições violentas não violentas que, por acumulação progressiva, geram a repentinidade da violência violenta que parece, afinal, não radicar nessas condições.
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O
australiano, assombrado pelas grandes batalhas entre
hostes cristãs e muçulmanas,
ergue-se em defesa do mundo branco em vias de ser submergido
pelas hordas de Alá e sacrifica-se em
pose heroica na litania divulgada antes de atacar as mesquitas de Christchurch.
“A minha identidade é europeia e,
mais importante, o meu sangue é europeu”, proclama Brenton Tarrant e,
com esta insana declaração, o terrorista australiano exige honra e respeito
no vetusto, camaleónico e omnipresente universo racista.
À imagem de Anders Breivik, o assassino de Christchurch exarou manifesto contra a ameaça apocalíptica
muçulmana e tal como o norueguês
pretende aproveitar-se do tribunal
para exaltação e exemplo na cruzada
pela defesa do “homem branco”.
O australiano, assombrado pelas
grandes batalhas entre hostes cristãs
e muçulmanas, ergue-se em defesa do
mundo branco em vias de ser submergido pelas hordas de Alá e sacrifica-se
em pose heroica na litania divulgada
antes de atacar as mesquitas de Christchurch.
O inspirador norueguês dizia ser o
redentor de uma nova Ordem do
Templo, elite capaz de suportar o insuportável, como advogara Heinrich
Himmler para os seus SS.
Tarrant, por seu turno, admite que
penará na prisão para, quiçá um dia,
ser galardoado com o Nobel da Paz e
vale-se do cativeiro de Nelson Mandela para suas quimeras.
De facto, é um igual de Dylann Roof,
o racista branco que massacrou nove
negros na Igreja de Charleston, na
Carolina do Sul, em Junho de 2015.
Breivik, pretensa vítima da “tirania
islâmica e multiculturalista”, tentou
fazer do tribunal uma plataforma de
propaganda, mas falhou no confronto
entre o delírio ideológico e a evidência do massacre.
O réu, testemunhas de defesa e acusação, psiquiatras, advogados e procuradores fizeram-se ouvir durante 43
dias no tribunal de Oslo.
No final de Agosto de 2012 Breivik
foi condenado a cumprir pena de prisão até máximo de 21 anos.
O julgamento do terrorista que matara 77 pessoas em Oslo e na ilha de
Otøya a 22 de Julho de 2011 realizou-
-se em estrita legalidade e poderá servir de exemplo para a justiça neozelandesa.
Homogeneidade da nação, pureza de
sangue, grandeza da raça - é trilogia
do racismo branco ainda que sirva
qualquer xenofobia e, por isso, é patente igualmente na Coreia do Norte,
um dos destinos das errâncias do terrorista australiano.
O australiano revolta-se contra “a
grande mudança” em que multidões
muçulmanas ocuparão o mundo que
o branco criou, paranoia muito acentuada em grupos racistas brancos de
extrema-direita da Austrália.
“Le Grand Remplacement” é, contudo, expressão retomada recentemente
do jargão racista gaulês pelo publicista francês de extrema-direita Renaud
Camus.
Assim se transmuta, passado um século, o anti-semitismo de Maurice
Barrès, em tiradas contra a emigração
muçulmana da África e do Magreb
manobrada por “elites mundialistas”.
Os Templários, a tradição e mitologia
das armas na cruzada contra muçulmanos, perpassam, sem surpresa, nas
fantasmagorias do australiano e o
ricochete de atentados de terroristas
em nome de Alá será tão inevitável
quanto a exige a jihad, a reconquista
de Al Andalus, a instauração do Califado.
Madre Inquisição
Dos antípodas a Tomar são omnipresentes estes maniqueísmos ideológicos totalitários e as tradições alimentam-se das suas terras sagradas.
Pregador do autoritarismo corporativo monárquico, católico e racista
impenitente, António Sardinha é
presença constante desde as primeiras
décadas do século XX nesse mundo
de desvario que se soletra em português.
Os poemas em que o ideólogo do integralismo lusitano dizia verter “meu
ódio de cristão, de português” contra
judeus, mouros, ciganos, são respigados sem que se lhes dê atenção, até
um dia...
As tiradas do homem de Monforte
andam por aí nos tugúrios e palacetes
dos sicários da extrema-direita:
“São moiros e ciganos
quem governa.
Nunca será bastante a pena eterna pr’a
quem desfez
a raça com torpeza!
Oh Santa Inquisição, acende as chamas!
E no fulgor terrível
que derramas,
Vem acudir à Pátria Portuguesa!”
2K6DQWD,QTXLVLomR DFHQGHDVFKDPDV
Por João Carlos Barradas
20 Savana 22-03-2019 OPINIÃO
SACO AZUL 3RU/XtV*XHYDQH
Mesmo com o aviso prévio não
foi possível minimizar os impactos fortemente negativos
do ciclone IDAI. A região
centro do País, com maior incidência para
as províncias de Sofala e Manica, ao ser
devastada pelo referido ciclone, deixou
a nu que a aposta e o comprometimento
para com o desenvolvimento é crucial para
qualquer País, incluindo Moçambique,
para minimizar as fraquezas do ser humano diante de eventos naturais severos.
O ciclone deixou a segunda cidade mais
importante de Moçambique praticamente irreconhecível. Falou-se mesmo de uma
cidade da Beira afectada em 90%. Só 10%
supostamente resistiu. As imagens transmitem tristeza generalizada, são um claro
indicador de regressão no bem-estar social, cultural, económico. Aos problemas
de fornecimento de energia eléctrica, de
cuidados de saúde, de acessibilidade aos
,'$, PHOKRUHVGLDVYLUmR
pontos críticos e menos críticos, de comunicação com familiares, de localização deste ou
daquele familiar, juntam-se questões básicas
como não ter o que comer, o que vestir, não
ter o necessário apoio que, pelo tamanho da
aflição, parece tardar ou ser ignorado; não ter
como enterrar os mortos. Enquanto isso, uns
e outros vão tendo a sorte de ser resgatados,
alimentados e acomodados.
Os bairros mais pobres da cidade da Beira,
mais extensos que o centro, bairros frágeis a
avaliar pelo tipo de material usado nas construções, certamente que não podiam resistir
a um evento desta envergadura com ventos
a rondar os mais de 200 Km/hora e chuvas a
inundarem tudo quanto é canto. Bairros pobres que são o rosto do subdesenvolvimento
e, por isso, sem um mínimo de robustez ou
de materialidade necessária para resistir a
este tipo de devastação criada pela natureza.
Em pouco tempo o número de óbitos subiu
de perto de uma centena para mais de duas
centenas, o que é lamentável. O mundo não
ficou alheio ao problema. O Papa lamentou a
situação, olhando para a dimensão do evento não só em Moçambique, mas também no
Zimbabwe e no Malawi. Tanto a partir de
vários pontos de Moçambique como internacionalmente a preocupação em ajudar, em
solidarizar-se com as vítimas deste evento
natural, tem sido uma realidade ainda que a
inacessibilidade constitua um obstáculo no
terreno. O movimento interno e externo de
ajuda, pelo crescente ímpeto, inspira cada
vez mais fé, mais esperança, em alcançar dias
melhores. Esta possibilidade, por sua vez,
leva-nos a crer numa rápida capacidade de
resiliência económica, social e cultural das
regiões atingidas, com maior destaque para a
cidade da Beira pela sua importância central
e irradiadora de desenvolvimento.
A possibilidade de resiliência económica, social e cultural não é uma miragem. Esta capacidade, porém, pode vir a ser afectada pela
realidade económica de Moçambique à
luz da problemática das dívidas ocultas
em ano de eleições. Mas, julgamos que
a comunidade internacional saberá separar o trigo do joio. A região centro do
País necessita de vários apoios para se
reerguer uma vez normalizada a situação
calamitosa mais mediatizada. Como os
eventos da Natureza são recorrentes e
podem voltar a surpreender pela negativa a mesma região ou uma outra de Moçambique concordamos ser necessário
adequar o tipo de habitações, em particular, bem como as obras públicas, no geral, àquilo que é a possibilidade de maior
resistência a este tipo de fenómenos.
No entanto, a concretização sustentável
desta possibilidade implica, sem dúvida,
desenvolvimento, ou seja, o abandono da
prática de mão estendida. Seja como for,
é preciso seguir em frente.
E
m Abril de 2011, o presidente Jacob
Zuma, através de um dos seus colaboradores mais próximos, soube que eu
tinha relações directas com o representante, em Madrid, do Conselho Nacional
de Transição (CNT), o movimento de oposição ao regime do coronel Muammar Gaddafi, na Líbia.
Este meu contacto derivou de velhas amizades na África do Norte e de contactos com
homens de negócios espanhóis.
Naquela altura, Já estava em curso, na Líbia,
uma guerra de pequena intensidade, movida
por forças de oposição ao regime ditatorial
do coronel Gaddafi.
O presidente Zuma mandou informar-me
que estava envolvido, como chefe de Estado
africano, nas negociações de paz na Líbia e
pensava que, para estabelecer a paz, era necessário convencer o CNT a ser mais flexível
e a deixar Gaddafi sair da Líbia, pois, segundo as informações em sua posse, o CNT não
queria Gaddafi fora do país, para evitar uma
oposição desestabilizadora do futuro Governo democrático.
E porquê mandou ele informar-me sobre
essa situação?
Esclareceu-me que era necessário salvar a
vida de Gaddafi (e sua família) e que a África
do Sul se propunha recebê-lo no seu território. Pediu para eu contactar o CNT e tentar
convencê-lo de que a África do Sul podia receber Gaddafi e garantir que ele não iria ter
actividade política em território sul-africano.
Era um objectivo humanitário. Salvar a vida
de Gaddafi.
Após obter autorização do Presidente da
República de Moçambique e após fazer os
necessários contactos em Madrid, parti, nos
finais de Abril de 2011, para Espanha, onde
tive vários encontros com o representante,
em Madrid, do CNT, o senhor Omar, provavelmente um nome de código, ex-notário
no Estado líbio.
Ficou acordado que o encontro com o Dr.
Issawi Ah, conhecido como o ministro dos
Negócios Estrangeiros do CN’T, devia ter
lugar em Madrid. Contudo, por razões de segurança, no dia 4 de Maio de 2011 o encontro foi fixado para o dia seguinte, 5 de Maio,
não em Madrid, mas em Roma.
Partimos no primeiro voo de Madrid para
Roma, eu, o notário Omar e um homem de
negócios espanhol que pediu para não ser
identificado publicamente.
O encontro teve lugar num hotel 5 estrelas
de Roma, altamente guardado por várias
viaturas, homens fardados e armados, no
exterior, e um grande número de agentes de
segurança à civil, visivelmente armados de
pistola e com telecomunicações no interior
do hotel.
Enquanto esperávamos, tivemos ocasião de
verificar no detalhe o poderoso dispositivo
de segurança montado pelo Governo italiano.
O nosso encontro aconteceu Já por volta das
16h00 e teve a duração de uma hora e dez
minutos.
Quem estava presente?
O Dr. Issawi Ali, ministro dos Negócios Estrangeiros do CNT;
O arquitecto Fathi, assessor e intérprete do
ministro;
Omar, o representante do CNT em Madrid;
Eu próprio e o homem de negócios espanhol.
Feitas as apresentações, o Dr. Issawi deu-me
a palavra para apresentar o assunto que motivou a nossa deslocação a Roma.
Informei que estava ali a pedido do presidente Zuma e informei que a missão dos Chefes
de Estado da União Africana (UA) a Trípoli
e Bengazi tinha conseguido convencer Gaddafi a negociar com os chamados “rebeldes”.
Por outro lado, o presidente Zuma, que estava naquele momento na China no quadro da
reunião dos países do BRICS (Brasil, Rússia
Índia, China e Africa do Sul), pedia mais
flexibilidade ao CNT nas negociações para
estabilizar o país. Emiti também a opinião,
a pedido de Zuma, de que era aconselhável
que a solução para a paz fosse predominantemente encontrada com o envolvimento
dos africanos, evitando, dentro do possível, a
interferência dos países ocidentais.
Por outro lado, informei também que a África do Sul estava disponível para receber Gaddafi e a sua família, num exílio humanitário
e sem actividade política.
O Dr. Issawi agradeceu a mensagem do presidente Zuma, disse que tinha boas referências sobre a minha pessoa e até me convidava
para, de algum modo, ser assessor no CNT,
antes e depois de tomar o poder. Afirmou
que todo o apoio para a paz é bem-vindo e
que a guerra tem de acabar o mais rapidamente possível.
Quanto ao coronel Gaddafi, afirmou que
não tinha condições nem queria negociar directamente com ele e que até seria bom que
ele abandonasse o país.
Pediu para o presidente Zuma confirmar
se podia receber Gaddafi e a sua família na
África do Sul. Se fosse possível, Gaddafi
devia deixar a Líbia antes de 16 de Maio,
data em que o Tribunal Internacional iria
condenar Gaddafi por crimes contra a Humanidade e emitir o consequente mandato
de captura.
O Dr. Issawi esclareceu, de seguida, que o
CNT pode ter sido considerado inflexível
pela missão dos Chefes de Estado da UA,
pois o CNT recusou a proposta de um “cessar-fogo imediato e sem condições” porque
isso não era de todo aceitável “sem resolver
primeiro o destino de Gaddafi”.
Por fim, como orientado pelo presidente
Zuma, coloquei a questão de saber se o CNT
aceitaria uma comissão de alto nível da UA
que dialogasse com Gaddafi e com o CNT
em separado, para finalmente se encontrar
uma saída por todos aceitável e estabelecer a
tão desejada paz.
O Dr. Issawi aceitou a proposta dizendo que
tinha todo o interesse no envolvimento directo da UA, que, aliás, terá sempre de estar
presente, qualquer que seja a solução final.
Sublinhou que o envolvimento da África do
Sul como parte da SADC e como membro
do Conselho de Segurança das Nações Unidas é muito importante e concluiu: “Neste momento, queremos que todas as forças
activas se concentrem para tirar Gaddafi do
país”. Consideravam que Gaddafi fora do
país ficava politicamente neutralizado. Na
despedida, insistiram que não são “rebeldes”,
são “freedom fighters”, que pretendem estabelecer um Governo democrático e relações
internacionais saudáveis.
O relatório do encontro foi transmitido de
imediato ao presidente Jacob Zuma.
A 8 de Maio do mesmo ano, Zuma confirmou que podia receber Gaddafi e a sua família na África do Sul. Um (jacto executivo)
estava permanentemente de prevenção num
país da região, para expressamente o transportar para a África do Sul.
A 11 de Maio, o CNT deu o seu acordo final
para facilitar a saída de Gaddafi, o que foi
transmitido a Pretória no mesmo dia.
Sabemos que Gaddafi acabou por recusar a
proposta de Jacob Zuma de o retirar em segurança da Líbia. Gaddaffi não quis sair.
No dia 16 de Março de 2011, o Tribunal
Internacional emitiu o mandato de busca e
captura contra Gaddafi.
Do que sabemos, o CNT continuou as suas
acções para recuperar 3 000 milhões de dólares colocados por Gaddafi no exterior, como
nos havia afirmado Issawi Ali.
Como se sabe, o coronel Gaddafi foi assassinado a 20 de Outubro de 2011, em Sirte,
sua terra natal, onde nasceu a 7 de Junho de
1942.
Quando encontro o presidente Zuma, ele
sempre lamenta que Gaddafi não tenha aceitado sair da Líbia para se exilar na África
do Sul, recordando o nosso trabalho, que foi
feito em vão. Uma missão humanitária que
pretendia contribuir para a paz na Líbia.
*Extractos do livro do autor, intitulado, “A Caminho da Paz Definitiva – O Iceberg, o Interesse Nacional e a Segurança do Estado”
Por Jacinto Veloso*
&RPRWHQWHLVDOYDU0XDPPDU*DGGDÀ
Savana 22-03-2019 21 PUBLICIDADE
COMUNICADO | Nº 03 | Março de 2019
Cessação de mandato dos membros da Comissão Nacional
de Eleições: Ambiguidades para gestão das eleições gerais e
provinciais de 2019
Omandato dos membros da Comissão Nacional de Eleições (CNE)
é de seis anos, sendo que os mesmos são eleitos em Sessão
Ordinária da Assembleia da República, nos termos da lei1
. Para o
presente mandato, uma parte dos seus membros (11) tomou posse
no dia 22 de Maio de 2013 e outra (7) em Abril de 2014. Neste sentido,
o mandato dos 11 membros cessa no próximo dia 22 de Maio do
presente ano, e os restantes em Abril de 2020.
O fim do mandato dos membros da CNE irá decorrer num contexto em
que o país estará a seis meses da realização de um processo eleitoral2
complexo, resultado da negociação com vista ao alcance de uma paz
definitiva e estabilidade política.
Neste sentido, o Instituto para Democracia Multipartidária (IMD)
entende que alguns aspectos devem merecer uma reflexão profunda
para garantir a gestão do processo eleitoral, tendo em conta a
transição de mandatos dos membros da CNE, nomeadamente:
& Precaridade de tempo de familiarização dos novos
membros com o processo eleitoral — de 22 de Maio (data
provável do início de mandato dos novos membros) para
Outubro3
contam-se seis meses. Esta situação pode de per
si trazer algumas implicações para a eficiência do processo
eleitoral uma vez que os novos membros podem não ter um
aprendizado suficiente para gerir a complexidade do contexto.
& Reforma de legislação e ampliação de matéria de gestão
eleitoral — em consequência dos ajustes na estrutura
político-administrativa, a legislação eleitoral irá se modificar,
peculiarmente no que concerne aos mecanismos de realização
de eleições ao nível provincial, tendo se introduzido a
eleição do Governador Provincial (numa estrutura de cabeça
de lista). Esta inovação legislativa pode trazer de certa
forma uma animosidade por parte dos actores políticos e
consequentemente uma maior pressão sobre os Órgãos de
Gestão Eleitoral.
A complexidade da matéria eleitoral para uma agenda que se
apresenta relativamente ajustada, parece anunciar um conjunto de
ambiguidades. Da gestão da transição para aprendizagem de possíveis
novos membros pode tornar ainda mais complexa a tarefa da CNE e,
até mesmo beliscar a lisura do processo bem como a credibilidade e
legitimidade da sua actuação4
.
Assim, o IMD alerta para os desafios de uma reforma sobre a CNE num
contexto de complexidade e sensibilidade eleitoral (administrativa
e politicamente), sobretudo no que concerne a credibilidade das
1
Vide nº 1 e 2 do artigo 13 da lei n° 9/2014, de 12 de Março que altera a n°6/2013, de 22 de Fevereiro.
2
No dia 15 de Outubro Moçambique vai acolher VIª Eleições Gerais (Eleição do Presidente da República e Eleição dos Membros da
Assembleia da República) e IIIª Eleições Provinciais, de onde vão sair os governadores provinciais. 3
Mês da realização das eleições gerais e provinciais de 2019.
4
Se de forma recorrente o apuramento e a anunciação dos resultados tem sido uma das fases de muita contestação, gerir tal
momento com uma CNE inexperiente pode elevar o grau de risco de violações e atropelos. Ou seja, ter uma CNE inexperiente
constitui um risco.
eleições. E chama atenção para a necessidade de tomada de medidas
que possam garantir um ambiente de realização de eleições ordeiras,
começando pela organização dos Órgãos de Gestão Eleitoral, factor
fundamental para harmonia e transparência do processo.
Existem alguns cenários prováveis que pode-se acautelar para que a
cessão de mandatos e mudança dos membros de CNE não coloque
em causa a gestão eleitoral, nomeadamente:
& Estender o mandato dos membros que cessam — para
garantir uma concentração na gestão das eleições próximas, um
arranjo político poderia garantir que o mandato dos membros
que cessam em Maio de 2019 continuasse até 2020, altura em
que os sete membros que tomaram posse em Abril de 2014
cessam os seus mandatos. Isto iria garantir simultaneamente
a estabilidade e harmonização do processo de tomada de
posse entre os membros, evitando a existência de dois grupos
de vogais. Neste cenário, seria necessário algum artifício na lei
para a extensão dos mandatos dos membros. Esta pode ser
uma das soluções mais razoáveis tendo em conta o contexto
complexo e o tempo ajustado para uma renovação profunda
da CNE.
& Harmonizar os ciclos eleitorais e de mandatos da CNE — na
base da perspectiva acima, de forma mais sustentável ainda,
seria recomendável harmonizar o ciclo eleitoral com o ciclo de
mandato dos membros da CNE. Não é razoável que o ciclo de
mandatos dos membros da CNE seja desajustado com o ciclo
eleitoral, sobretudo de eleições presidenciais e legislativas,
onde se demanda mais estabilidade organizativa.
Seja qual for a via, o IMD adverte para uma cautela, dada a
sensibilidade do assunto, e sobretudo para a necessidade de uma
clarificação legislativa apropriada, pois, a lei da CNE deixa espaços
para interpretações ambíguas, como por exemplo:
: Se o mandato é do órgão ou dos membros;
: Condição de cessação efectiva do mandato, condicionada a
tomada de posse de novos membros. Não está claro sobre o
tipo de actos que os membros que cessam podem produzir
enquanto os novos não tiverem tomado posse, sobretudo
tratando-se de um ano eleitoral e de um processo complexo
como o presente.
IMD – Instituto para Democracia Multipartidária
Av. Salvador Allende nº 753, Maputo/Moçambique
Office: +258 84 306 6565
imd@imd.org.mz I www.imd.org.mz
22 Savana 22-03-2019 DESPORTO
As Familias Bila e Ubisse
comunicam com profundo
pesar e consternação o falecimento da sua ente querida ELISA AZARIAS BILA,
ocorrido no dia 18/03/19 no
Hospital Central de Maputo,
vítima de doença, cujo funeral se realizou na quarta-feira, 20/03/19 no cemitério da
Machava-Bedene. Que Deus
a tenha na sua glória.
ELISA AZARIAS BILA
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Faleceu
O Conselho de Administração e os
trabalhadores da mediacoop comunicam com pesar e consternação o falecimento da sra. ELISA AZARIAS
BILA, irmã do seu trabalhador e colega Miguel Bila, ocorrido no dia
18/03/19 no HCM, vítima de doença,
cujo funeral se realizou na quarta-feira, 20/03/19 no cemitério da Machava-Bedene. À familia enlutada apresenta as mais sentidas condolências.
ELISA AZARIAS BILA
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Faleceu
Agenda Cultural
Cine-Gilberto Mendes
Sextas, Sábados, Domingos e Feriados 18h30
Apresenta“Mae Coragem”
Maputo Waterfront
Todas Sextas, 19h
Jantar Dancante com Alexandre Mazuze
Todos Sábados, 19h
Música com Zé Barata ou Fernando Luís
Todos Domingos, das 13/18h
Animacao com DJ
Chefs Restaurante
Todas Sextas, 19h
Música ao vivo
Visite agora e mantenha-se informado,
(integridade & independência)
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O
presidente da Federação
Moçambicana de Patinagem, Nicolau Manjate,
sustenta que o nosso país
está num processo de renovação da
sua selecção, razão pela qual não se
pode exigir resultados imediatos,
porque este processo leva o seu
tempo. Mesmo assim garante que,
contrariamente à última prestação
no africano de Angola, em que ficou em segundo lugar, no mundial
do grupo “B”, a realizar-se em Barcelona, o país voltará ao grupo de
elite. A seguir, os excertos relevantes da entrevista.
Moçambique caiu para o grupo no
recém terminado campeonato africano. O que falhou?
-No desporto existe o momento de
pico e o hóquei não foge à regra,
e nós temos de compreender que
esta selecção já deu o que tinha a
dar. Assim, temos de preparar uma
nova selecção, razão pela qual estamos a trabalhar com jovens para,
daqui a dois ou três anos, serem
estes os grandes pivôs do hóquei
em patins no país. É claro que, nesta fase de adaptação, não se pode
esperar grandes resultados, mas
acredito que com esforço e muito
trabalho a modalidade voltará aos
seus melhores tempos.
Está a assumir que o fracasso da
nossa selecção se deveu à falta de
experiência dos atletas?
- Sim, nós estamos a renovar a selecção e, às vezes, temos de assumir
esses riscos, mas todos começaram
assim. Eles deram o melhor de si,
contudo, há sempre um momento
de declínio. A aposta nos jovens é
uma medida acertada em todos os
aspectos e estou em crer que teremos uma selecção muito mais forte.
Por quê é que a selecção apostou
nesses novos talentos agora, a poucos meses do arranque do mundial?
-Estamos com este projecto há
sensivelmente quatro anos, e as
crianças começaram nos iniciados. Quando criamos a escola de
hóquei, em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane, na
componente de desporto, trabalhamos com esses miúdos e eles foram
distribuídos pelos clubes. São essas
crianças que foram subindo gradualmente e alguns já são sub- 19.
Portanto, estamos a formar uma
equipa virada só para a futura selecção nacional.
Era esta a prestação que a FMP esperava da nossa selecção?
-Naturalmente que não era isto
que esperávamos, mas devo dizer
que houve trabalho que nos garante que, no mundial de Barcelona,
passaremos para o grupo “A”.
Adversidades
Consta que a preparação da selecção não foi das melhores...
-Bem, é preciso notar que a preparação para uma competição é
sempre marcada por vários condicionalismos , como as questões
logísticas e a programação. Isto
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Por Paulo Mubalo
apanhou-nos de surpresa, porque
em princípio estávamos a nos organizar para acolher o africano, contudo, sem explicação, este passou
para Angola. Quer isto dizer que
trabalhamos um bocado apertados
e isso pode ter influenciado a nossa
prestação.
Há muitas versões sobre o próximo
mundial...
- Continuamos, sim, no mundial,
mas devo esclarecer que, em função do novo figurino que vigora a
partir deste ano, os quatro lugares
não precisam de concorrer. Os
restantes países têm de concorrer
e à África, neste momento, apenas
cabia um lugar para passar. O resto teremos de competir e, se chegarmos ao segundo classificado no
mundial do grupo “B” , passaremos
a competir a final do grupo de elite. Temos esperanças de que vamos
chegar lá, até porque Angola passou por uma situação similar no
mundial passado. Portanto, com esforço e preparação mais atempada,
vamos conseguir e esta preparação
vai começar em breve. Repito: temos a obrigação de vencer o grupo
“B” , ou pelo menos o segundo lugar, para passarmos para a final do
campeonato.
Insisto, houve muitas interpretações em relação a este mundial. O
presidente reitera que Moçambique tem chances, ainda este ano, de
jogar no mundial do grupo “A”?
- Pois, claro. A única diferença é
que, no lugar de ser corporizado por
16 países, como era anteriormente,
agora passou para oito países, e
esses oito países têm de disputar a
eliminatória regional, em representação da África, América Latina
, Europa, ou seja, os únicos países
que não disputam são os primeiros
quatro classificados.
Contrariamente às outras selecções nacionais a de hóquei enfrentou muitas dificuldades , especialmente a financeira. Até que ponto
isto contribuiu para o seu desempenho ?
-Tivemos apoio de uma empresa nacional, e, se isso não tivesse
acontecido, refiro-me aos apoios,
não teríamos estado lá. Pode ter
havido um atraso na disponibilização desses valores, mas nós demos
prioridade à selecção que estamos
a preparar.
Frequentemente, Moçambique
joga com moçambicanos radicados
no estrangeiro. Terá sido fácil contar com a prestação desses atletas?
-Vieram sim, mas o banco era
pouco e a uma determinada altura notou-se um cansaço. Contudo,
vamos acautelar estes aspectos no
próximo mundial.
O presidente e o seu staff assumem
as culpas pela prestação pouco conseguida da selecção?
- Eu avalio positivamente a prestação da selecção, porque - sejamos
francos - não é fácil destronar Angola em sua casa, com toda a logística, mas Moçambique deu o que
tinha a dar, demonstrou, mais uma
vez, a sua qualidade e perícia no
hóquei em patins. Portanto, eu reconheço a entrega dos atletas e dou
os meus dou-lhes parabéns. Mesmo esses miúdos, que se estrearam
contra o Egipto, fizeram um bom
trabalho, marcaram golos e contribuíram para a vitória de 12 a 2 .
A selecção começou a treinar com
a dupla Pimentel/ Tivane e só depois é que contou com a prestação
do técnico português Pedro Nunes.
Esta forma de trabalhar é eficaz?
- Esta maneira de trabalhar não é
eficaz. Mas -como disse - a programação deste africano foi feita
em cima do joelho, e nas próximas
participações teremos que nos preparar atempadamente, com toda a
logística direccionada para o objectivo que se pretende alcançar.
O objectivo é ganhar e para conseguirmos isso temos de estar organizados e faremos isso.
Há a percepção de que o hóquei é
um dos parentes mais pobres do
governo...
-Esta entrevista tem em vista fazer-se a avaliação da prestação de
Moçambique no africano, e quanto
ao que afirma é sua percepção. Nós
trabalhamos em conjunto, pensamos em conjunto e enfrentamos os
desafios em conjunto. Aliás, todos
estamos empenhados no desenvolvimento da modalidade. Suportar
uma modalidade não é fácil. A nível do mundo , a Inglaterra já faltou
a um campeonato, a Argentina já
chegou ao mundial com dificuldades. Ou seja, certos países, que nem
podíamos imaginar, também têm
dificuldades.
Nicolau Manjate, presidente da FMP
Savana 22-03-2019 23 PUBLICIDADE DESPORTO
24 Savana 22-03-2019 CULTURA
A
história da dança contemporânea em Moçambique
é recente. Data de 1995 e
é resultado do “nascimento de um novo vocabulário gestual,
que reflete várias metamorfoses
das práticas de dança deste período” diz-nos a renomada bailarina
e coreógrafa Maria Helena Pinto em sua tese de doutoramento
“Devir(es) Contemporâneos.
Desde o seu surgimento até aos
dias de hoje, a dança contemporânea, no país, é alimentada por um
grupo de bailarinos e coreógrafos,
que embora enfrentem enormes
dificuldades, tudo faz para manter
viva essa prática. Dentre eles, sem
dúvidas, se destacam Maria Tembe,
Judith Mulapha e Panaibra Canda,
o trio responsável pelas performances “Solo para Maria” e “O Meu
género Mora Aqui”, que foram
apresentadas na última sexta-feira,
dia 15 de Março, no Centro Cultural Brasil Moçambique (CCBM),
ainda no âmbito da celebração da
semana da Mulher.
As performances foram autênticas
e deslumbrantes obras de arte, cujos
sentimentos e paisagens interiores
por elas provocadas têm o condão
de não se deixarem traduzir em
palavras, mas como é nossa tarefa
verbalizar o mais profundo e inefável suspiro da alma tentaremos
aqui descrever e analisar o momento mágico que os solos destas duas
mulheres proporcionaram ao público que esteve presente no auditório
Vinícios de Moraes do CCBM.
Uma mulher, um caminho, infinitos obstáculos e uma titânica força
Dança Contemporânea e a temática da mulher
“Solo para Maria” e “Meu género mora aqui”
Por Venâncio Calisto
performance de Maria Tembe
de vontade compõem o cenário, o
enredo e a dramaturgia das duas
performances. O palco, que é o
mesmo para as duas, figura uma
negra passarela rodeada de luz e
basta um gesto para aquele lugar se
transformar em outros, no tortuoso
quotidiano em que muitas mulheres se encontram enclausuradas.
Contrariar o destino e lutar contra
todas forças que atentam a materialização do sonho do herói constitui o núcleo central de toda narrativa e aqui não é diferente. Tanto no
“Solo para Maria” interpretado por
Maria Tembe e coreografado por
Panaibra Canda, assim como no
solo “O Meu género mora aqui” da
polivalente Judith Mulapha, assistimos a uma luta empreendida por
uma mulher multiplicada em várias
outras que sonham ver os seus direitos e dignidade respeitada.
No “Solo para Maria”, que dura
25 minutos, somos confrontados
por uma cena em que temos uma
mulher em trânsito, em constante
movimento de ir-vir, vai atrás da
luz que lhe acena o norte, o lugar
do sonho. Mas a treva não dá tréguas, agarra-se a ela, tenta impedi-
-la de prosseguir. Dá-se o combate.
E é fascinante como a luta dessa
personagem – representando todas
mulheres que reivindicam um espaço de dignidade e respeito no seio
das sociedades – é metaforizada em
movimentos, cujo ritmo de beleza
de execução nos enchem de deleite.
A bailarina deste solo, a Maria
Tembe, é um dos grandes exemplos
de superação que temos no país. A
deficiência física de que padece, e
que para a maioria serviria de entrave, nela se transforma em mais
uma fonte de inspiração e recurso técnico ao serviço da sua arte.
Não tem os membros inferiores
mas dança como se os tivesse e ou
fosse uma super mulher. Voa e trepa paredes com uma habilidade e
mestria de encantar. É sem dúvidas
um grande exemplo de luta e determinação, por isso este solo tem o
cunho auto-biográfico.
O outro exemplo de que é possível
contrariar o abismo podemos encontrar na performance “O Meu
género Mora aqui” coreografado
e interpretado por Janeth Mulapha, outra fascinante bailarina. Em
cena, temos uma mulher ou várias
mulheres que têm a missão de empreender uma jornada épica com
o destino a um lugar de liberdade. O caminho que se deve seguir
é feito de um fio preto e fino que
serpenteia o palco. Cada personagem é representada por um sapato de salto-alto. E cada vez que a
bailarina tomba é uma mulher que
perde, o sapato é arrumado e a outra tenta a sua sorte. A mulher que
vence tem direito a um microfone
como troféu. Finalmente, ela ganha
a liberdade de expressar-se e pode
proclamar, sem medo nem amarras,
que o seu género mora aqui. Não
será também a reivindicação do espaço da mulher na sociedade?
A dança contemporânea é caracterizada por não se prender a padrões
pré-estabelecidos, por isso a sua
forma e conteúdo são diversificados e estão em constante criação
e transformação. Talvez seja essa a
explicação para que estas performances, criadas há mais ou menos
três anos, conservem ainda o frescor e uma abordagem temática tão
actual. Sempre apetecível de se ver.
performance de Judith Malapha
D
e 25 a 30 do corrente mês,
o Centro Cultural Brasil-
-Moçambique (CCBM)
acolhe a 1ª Semana do
Teatro do CCBM, que, sob o tema
“Teatro e Diversidade: A Dimensão Humana”, pretende celebrar o
dia Mundial do Teatro, assinalado
a 27 de Março.
De acordo com uma nota do
CCBM, trata-se duma mostra de
teatro que junta seis espectáculos
destinados a todos públicos, de
diferentes grupos, que apresentam
temas e estéticas singulares para
fazer uma releitura intertextual da
dramaturgia contemporânea e fazer
reflectir a todos, artistas e público,
sobre a condição humana a partir
de vários prismas da nossa vida.
Fazem parte do evento os grupos:
Grupo de Teatro Girassol, O Grupo Teatral Mintsu, o Grupo de
Teatro do CCBM, o Grupo Cultural Hanya Arte, o Grupo de Teatro GrowUp e também vai passar
uma leitura dramática de Expedito
Mostra de Teatro no CCBM
Araújo e da actriz Melanie de Vales. “Nesta mostra far-se-á valer o
poder do teatro: de contar, de contestar, de reinventar, de transformar,
pra melhor, a vida, sempre”, sentencia, em jeito de convite, Expedito
Araújo, curador do evento.
Lembrar que, as comemorações
do dia Mundial do Teatro, a 27 de
Março, acontecem, anualmente,
desde 1961, data fixada pelo Instituto Internacional de Teatro com
o objectivo de promover esta arte
junto das pessoas. Mundialmente,
para comemorar, acontecem várias
apresentações teatrais grátis ou
com preços muito baixos e se aproveita para lembrar das obras e dos
artistas mais importantes do teatro.
(V.C)
Savana 15-03-2019 25 PUBLICIDADE
Savana 22-03-2019 27 OPINIÃO Venâncio Calisto (Texto) Naita Ussene (Fotos) O
ciclone IDAI, que tem vindo a desencadear a maior tragédia de todos os tempos no centro do país, com o agravante para as cidades da
Beira e Dondo que se encontram engolidas pela água, exige de todos
nós, não só um gesto de solidariedade para com as vítimas desta catástrofe, mas também uma profunda reflexão sobre as medidas de prevenção
em casos de futuros desastres.
Não podemos continuar desarmados em plena guerra aberta. A natureza é
impiedosa, mas não será tarefa da administração pública impedir que não
sejamos apanhados tão desprevenidos?
Talvez por isso Eneas Comiche, presidente do Conselho Municipal da Cidade Maputo, escuta, com toda atenção do mundo, as ideias do moçambicano
Mateus Magala, vice-presidente dos Serviços Institucionais e Recursos Humanos do Banco Africano de Desenvolvimento e antigo PCA da Electricidade de Moçambique (EDM). Enquanto isso, ao fundo, Agostinho Vuma,
Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique
(CTA), em contraste, sorri para os holofotes em pose de modelo fotográfico.
Rola a película do filme diante dos nossos olhos e as imagens que se seguem
figuram conversas aos pares, umas ao abrigo de atmosferas mais sérias e outras nem tanto. Num quadro, a ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Vitória Diogo, contracena com Victor Miguel, da Associação dos
Panificadores, noutro, Guilherme Machado, responsável pelo subsector no
pelouro de Agro-negócios na CTA, faz par com Max Tonela e mais adiante
Leonardo Simão, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação,
confidencia com Simione Santi e por aí vai. Espera. Alguma coisa pausou a
fita.
Que poder de hipnose estará contido no documento que suga toda a atenção do ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane e Carmelita
Namashilua, ministra da Administração Estatal e Função Pública? Será a
fórmula mágica para secar as águas que fazem festa no centro e minorar o
sofrimento do povo, que enquanto aguarda pelo apoio humanitário vindo de
todos lados, há quem bem ao seu lado vende-lhe o pão a balúrdio, numa clara
exaltação ao egoísmo e desumanidade.
A fórmula mágica?
À HORA DO FECHO
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1315 Diz-se... Diz-se
IMAGEM DA SEMANA
Ofuturo da antiga embaixadora de Moçambique
nos Estados Unidos da
América (EUA), Amélia
Matos Sumbana, 70 anos de idade, será decidido pelos tribunais
superiores, mormente, o Tribunal
Superior de Recurso ou o Tribunal
Supremo.
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(R.S.)
Ex-embaixadora condenada a 10 anos de prisão
Futuro de Sumbana entregue
aos tribunais superiores
Cidade da Beira
Amélia Sumbana
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