Friday, October 12, 2018

Os casacos e as camisas sujas das eleições autárquicas

Os casacos e as camisas sujas das eleições autárquicas
Existe uma expressão da política americana, que é o efeito “rabo de casaco” (“coattail effect”, em inglês), que é a capacidade de um líder popular atrair votos para si e para outros candidatos do seu partido numa eleição. Esse líder pode ser do partido, um candidato presidencial ou para a chefia do executivo vitorioso e que com isso cria uma onda eleitoral favorável aos membros do seu partido que concorrem às eleições legislativas. O efeito também se aplica a fortes candidatos em eleições legislativas. Por exemplo, em sistemas eleitorais como o brasileiro, que é de representação proporcional, mas que permite que se vote directamente no deputado e na legenda partidária, candidatos populares como o Tiririca, por exemplo, além de atingirem o quociente eleitoral que lhes garante o assento parlamentar, os votos excedentes da sua substancial votação revertem para a legenda em que estão inscritos e permitem eleger outros deputados. Portanto, permite que outros “apanhem boleia” no seu rabo de casaco.
Os resultados preliminares das eleições autárquicas moçambicanas sugerem que há um efeito “rabo de casaco” reverso. O Marcelo Mosse já o identificou como efeito “camisa suja”, tomando como exemplo Nampula e Quelimane, onde o voto contra a Frelimo, por conta do descontentamento com este partido, argumenta, pode estar a ser determinante para a possível perda do “glorioso” nestes municípios. A hipótese que gostaria aqui de avançar, é de que o efeito camisa suja/rabo de casaco reverso (ou sujo) tenderá a ser mais frequente no actual modelo de eleições locais – agora autárquicas e posteriormente provinciais – adoptado na última revisão do pacote de descentralização.
Esta solução, bastante contestada por vários quadrantes que estiveram fora do pacto bipartidário (Frelimo-Renamo) que “fechou” a eliminação da eleição directa dos presidentes do Conselho Municipal, dentre os quais partidos e organizações da sociedade civil e cidadãos no geral, criou um modelo de eleição que aumentou o poder dos partidos e o seu controlo dos candidatos aos órgãos das autarquias locais. Este modelo foi viabilizado por conveniente argumentação jurídica, que justificou à não necessidade de se fazer o referendo alegando que os fundamentos do direito constitucional ao sufrágio universal haviam sido preservados. Há que se parabenizar a engenhosidade das “partidocracias” do pacto bipartidário na viabilização do seu interesse premente: o de exercer o controlo centralista sobre o projecto de partilha de poder transvestido de descentralização.
No entanto, esta solução vem com um preço. Quando a popularidade de um partido é baixa, o efeito poderá ser devastador, mesmo que o cabeça de lista seja popular ou tenha tido um bom desempenho, sendo incumbente (do governo cessante). No meu entender, o modelo anterior, de separação das eleições para o Executivo e o Legislativo municipais, tinha maior potencial de proteger o candidato ou o partido caso qualquer um dos dois fosse impopular. Esta salvaguarda foi eliminada com o actual modelo. Os elementos que temos até aqui indiciam que a baixa popularidade da Frelimo pode estar a ter efeitos negativos em parte do seu desempenho eleitoral, mesmo em municípios com um bom desempenho do seu executivo, como Matola.
Conforme disse, isto é apenas uma hipótese. Com mais observações podemos no futuro ver se o efeito camisa/rabo de casaco sujo faz sentido e se a escolha do actual modelo eleitoral vai premiar a engenhosidade das “partidocracias”, ou, involuntária e indesejavelmente (na perspectiva dos seus mentores) vai devolver o poder de escolha aos eleitores.
Nota para quem vai comentar: isso não é nenhum convite ao “schadenfreude” (quem não conhece o significado da palavra, que consulte no google 😎 ).
Comentários
Gilio Ayman Al-zawayir Vou ao google depois volto pra comentar, se não voltar é que acabei megas...
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22 h
Alexandre Pelembe Infortunio dos outros, sua alegria _ Schandefreude
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22 h
Carmelo Pontes Assistimos a transmutação do eleitor moçambicano. De passivo para um actor activo protagonista do momento eleitoral. Aguardando o desfecho do pleito eleitoral.
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21 hEditado
Eduardo Santos Mapata Falta retirarmos o chapeu do Sr "do rabo de casaco sujo/camisa"
A moda Narrativa
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21 h
Candido Junior Schadenfreude (IPA: [/ˈʃɑː.dənˌfrɔɪ.də/], literalmente, alegria ao dano) é um empréstimo linguístico da língua alemã para designar o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro.

A palavra deriva do alemão Schaden “d
ano, prejuízo” e Freude “alegria, prazer”.

Existe uma distinção entre schadenfreude discreta, o sentimento íntimo pessoal e schadenfreude pública, que se expressa abertamente mostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um terceiro.

Na língua portuguesa o sentimento de satisfação pelo infortúnio de outro expressa-se na exclamação "bem feito a ele ou ela" (schadenfreude pública).


"Que coisa mais medonha de se imaginar que uma língua possa possuir uma palavra que expresse o prazer que o homem sente para com calamidades alheias; a própria existência da palavra presta testemunho da existência da coisa. E mesmo assim em mais de um idioma tal palavra existe ... fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Schadenfreude
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21 h
19 h
Leonildo Andrassone Nildo Visão de quem pensa o País.
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21 h
Cremildo Churane Hipótese soberba Prof. José Jaime Macuane. Precipitaram-se, olhando no interesse partidário bastante imediatista ( até porque nem estava dentro das reivindicações da contra-parte) e nos retiraram um modelo, na minha opinião, melhor e, já começam a se espelhar os custos dessa decisão.
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21 h
Lazaro Filimone Pene O tiro, pela culatra! Kakaka! Sem ignorar a chamada de atenção do Dr Prof, sobre o conteúdo dos comentários, é verdade que o modelo penaliza mais os partidos em relação ao regime anterior.
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14 h
Cremildo Churane Penaliza os partidos mas prejudica sobremaneira candidatos que tiveram bom desempenho nas suas autarquias porque o eleitorado olha todas as acções negativas feitas pelo partido ao nível nacional e local e imputa automaticamente ao candidato.
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58 min
Nelson Matsinhe Plenamente de acordo, o modelo actual vai sacrificar candidatos, a vincar, não terão outra hipótese senão alinhar, garantir a coerência partido vs candidato. O maior peso no entanto vai ao partido, seu mérito será determinante.
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21 h
Elídio Mavume #FAZ #SENTIDO.
Assim sendo, a falta de credibilidade de alguns candidatos, pode causar danos ao seu PARTIDO, assim como o PARTIDO que não tem credibilidade aceitável no eleitorado, pode ofuscar a imagem do seu candidato. 


Então, os partido precisam começar a caminhar de uma forma linear com os seus servidores. 

Me sentindo com efeitos de
(Schadenfraude)
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21 h
Zé Joel Uma tese um tanto quanto problemática, olhando os cenários. Frelimo, em tese, perdeu Matola, porque?? Frelimo Ganhou Maputo ou Tete Porquê?? MDM ganhou Beira mas tambem perdeu Noutros sítios..
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21 h
José Jaime Macuane Zé Joel, a Frelimo e o MDM, em todos os lugares que indicou, não perderam eleições (ainda), mas a tendência leva a crer que haverá perda de votos do incumbente. Esta é a premissa para se avaliar o desempenho como negativo.
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14 hEditado
Calvino Cumbe Matola é o exemplo, Calisto Cossa o " bem amado", a Frel o " mal amado".
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21 h
Roberto Julio Tibana Parabéns prof. Jose José Jaime Macuanepor uma hipótese de pesquisa muito interessante para além de bem plausível. O problema em testá-la é que não temos em Moçambique inquéritos das determinantes do sentido de voto, sobretudo como intenção, sendo as restrições legais a esse tipo de inquéritos uma das causes dessa lacuna. Assim estamos intelectualmente castrados, pois com a falta dessa matéria prima dificilmente podemos passar da formulação das hipóteses para o seu teste empírio. Algo que até acaba prejudicando os partidos políticos (excepto aquele partido que tem acesso aos estudos tealizados pelos serviços de inteligência do Estado!). Ainda assim, um estudo depois das eleições talvez pudesse elucidar-nos mais se a hipótese se mantém. 

Mencionou Matola como um exemplo em que o atual Presidente do CM eventualmente poderá ser penalisado pela impopularidade do partido a que pretence, já que ele é tido como de bom desempenho. Aí há mais que se diga. Eu moro na Matola, e tomando o microcosmo do meu bairro (e outros bairros vizinhos, aquí na Matola semi-rural), eu teria uma apreciação muito diferente deste caso. Os habitantes da Matola semi-rural são como que os enteados esquecidos e desprezados do Conselho Municipal. Se a CNE pudesse aceitar o desafio que lhe lançamos de publicar os editais de TODAS as Mesas de Voto, teríamos um bom material para um estudo de "tira-teimas" sobre este assunto. Eu acho que a Matola semi-rural rejeita o Calisto Cossa por causa do abandono a que foi votada e por causa da sua arrogância, não tanto por ele pertencer a FRELIMO. Se fôr uma pessoa que aprende isto lhe dará uma lição valiosa para a sua carreira política se tiver ambições de levá-la mais a frente..
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17 hEditado
Aitofel Alberto Vilanculo Bem visto meu Caro. Subscrevo
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15 h
José Jaime Macuane Caro Prof. Roberto Julio Tibana. Obrigado. Ponto pertinente sobre a Matola, é uma das coisas a levar em conta para a qualificação do desempenho. O meu ponto de partida é de que Calisto é um dos edis da Frelimo considerado como tendo bom desempenho comparado aos outros, como, por exemplo, o de Maputo. Provavelmente o bom desempenho pode ser mais problematizado e operacionalizado em indicadores concretos, como os que as suas considerações sobre a Matola semi-rural sugerem. Infelizmente o bom desempenho é aferido a partir de impressões gerais, porque não existe uma pesquisa especifica sobre o índice de aprovação. Infelizmente a Matola também não foi incluída no Estudo do Barometro da Governação Local do IESE, o que nos daria elementos mais concretos. Mesmo assim, creio que é um ponto de partida válido, nem que seja a título de exemplo. Mas na verdade isso não importa muito aqui, porque poderia ser outro exemplo com mais elementos sobre o desempenho. O que importa é o que refere sobre o acesso aos editais. Isso permitiria que se fizesse muitas análises, como diz, que beneficiariam aos políticos. Mas parte deles, principalmente os que podem decidir pela acessibilidade desses dados, não parece estar interessada nisso, pelas razões que coloca no seu post sobre Mikhatine. Também me parece anacrónico que se impeça a realização de pesquisas de tendência de voto depois do início da campanhas. A rationale para isso, pelo menos há tempos, era de que isso influenciaria (indevidamente) o voto. Estranho, parece que o eleitor moçambicano é mais idiota ou estático, e que a sua opinião possa mudar mais com a informação sobre a tendência de voto dos outros do que com a campanha eleitoral. As pesquisas de opinião podem eventualmente influenciar votos, mas o seu lado manipulativo pode ser limitado se as pesquisas forem registadas em órgão relevante, que deve incluir a sua consistência metodológica (estatistica), para evitar este tipo de coisas. No Brasil, as pesquisas de tendências de votos devem ser registadas. A falta de pesquisas de opinião também pode favorecer a fraude, porque as pessoas não têm ideia sobre a magnitude de apoio que as diferentes forças têm.
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14 hEditado
Roberto Julio Tibana Obrigado Prof. por um retorno ainda mais elucidativo. Oxala um dia chguemos a um ambiente em que os anacronismos a que muito bem se refere tenham sido ultrapassados. Bem haja.
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13 h
Óskar Ndzucula Acho k este modelo trás uma inovação no que concerne a partilha de poder, pois queira sim ou não... Vó ter de criar, "intendimentos" políticos
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16 h
Aires Cafre Well told!
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5 h
Ledzpires Pires (schadenfreude) 😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂
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