Antes de os portugueses se dedicarem ao esclavagismo, já os africanos o faziam
J. A. AlvES AMBRÓSIO
Há meses, no ‘Público’, cem “portugueses afro-descendentes” (assim se apresentavam) publicaram um libelo contra a intenção do actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa avançar para a construção de um Museu dos Descobrimentos e da Expansão. E um dos motivos que mais os indignava, na hipótese de uma tal denominação ser aprovada, era o papel dos portugueses no tráfico dos escravos.
Desataram uma polémica que não tem cessado de aumentar, umas vezes com certeiros contributos para a Verdade, outras com enviesamentos ideológicos inaceitáveis, ou mesmo ignorância e/ou inadmissíveis psicologismos. Outra das diatribes era contra a “evangelização forçada” levada acabo pelos nossos antepassados e contra o… fascismo.
O Leitmotiv de todo o escrito é múltiplo e avantajado: ressentimento, ingenuidade (“a ingenuidade é o humilde parasita da ignorância”, disse Ortega y Gasset), imperícia… Em suma: o mundo do qual os queixosos têm que libertar-se.
Antes de os portugueses se dedicarem ao tráfico dos escravos já eles, africanos, o faziam – e os que embarcavam tinham um prócere religioso a dar a bênção. Os africanos traficavam entre si – e os grandes parceiros dos nossos antepassados foram, precisamente, as autoridades locais. Sob pena de nenhum progresso humano ser possível – o progresso é sempre descoberta – há que assimilar – visceralmente – os conhecimentos que nos vão chegando. Mais. A África negra estava imersa numa vida espiritual tão tenebrosa que, mais que o comércio de seres humanos, era dependente das magia e feitiçaria – e era antropófaga em zonas que iam, ininterruptamente, desde o Senegal, ao longo da costa e para o interior, até ao norte de Angola (Zenza, Bengo), numa extensão de uma inadjectivável ingência. Vd., v.g., mapa da pág. 117 de “Antropófagos”, de Henrique Galvão, Editorial Jornal de Notícias, 1947.
J. A. AlvES AMBRÓSIO
Há meses, no ‘Público’, cem “portugueses afro-descendentes” (assim se apresentavam) publicaram um libelo contra a intenção do actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa avançar para a construção de um Museu dos Descobrimentos e da Expansão. E um dos motivos que mais os indignava, na hipótese de uma tal denominação ser aprovada, era o papel dos portugueses no tráfico dos escravos.
Desataram uma polémica que não tem cessado de aumentar, umas vezes com certeiros contributos para a Verdade, outras com enviesamentos ideológicos inaceitáveis, ou mesmo ignorância e/ou inadmissíveis psicologismos. Outra das diatribes era contra a “evangelização forçada” levada acabo pelos nossos antepassados e contra o… fascismo.
O Leitmotiv de todo o escrito é múltiplo e avantajado: ressentimento, ingenuidade (“a ingenuidade é o humilde parasita da ignorância”, disse Ortega y Gasset), imperícia… Em suma: o mundo do qual os queixosos têm que libertar-se.
Antes de os portugueses se dedicarem ao tráfico dos escravos já eles, africanos, o faziam – e os que embarcavam tinham um prócere religioso a dar a bênção. Os africanos traficavam entre si – e os grandes parceiros dos nossos antepassados foram, precisamente, as autoridades locais. Sob pena de nenhum progresso humano ser possível – o progresso é sempre descoberta – há que assimilar – visceralmente – os conhecimentos que nos vão chegando. Mais. A África negra estava imersa numa vida espiritual tão tenebrosa que, mais que o comércio de seres humanos, era dependente das magia e feitiçaria – e era antropófaga em zonas que iam, ininterruptamente, desde o Senegal, ao longo da costa e para o interior, até ao norte de Angola (Zenza, Bengo), numa extensão de uma inadjectivável ingência. Vd., v.g., mapa da pág. 117 de “Antropófagos”, de Henrique Galvão, Editorial Jornal de Notícias, 1947.
A antropofagia era um problema de tal monta para as autoridades portuguesas que ainda na década de 40 do século passado envidavam os mais apurados esforços para extirpá-la – e quando tal se tornou penoso os canibais foram desterrados para S. Tomé. “Com a penetração dos portugueses – cuja acção missionária se exerceu em grande extensão e profundidade – depois com aconquista e ocupação; mais tarde com a chegada à África de outros povos europeus – principiou a perseguição em regra à antropofagia e outros costumes cruéis dos congueses” (op. cit., pág 116).
Em suma: canibalismo, guerras, magia, feitiçaria, um mundo anímico horrendo, são preferíveis à “evangelização forçada” – mesmo que tenha sido tão forçada como insinuam? E por que será que o actual Poder angolano, o MPLA – e certeiramente –, está tão atento às tentativas de penetração do Islamismo – para o qual a mulher é tão-só a fêmea e a criada? E não me alongo. Mais. Entre os portugueses de topo ora radicados e/ou a prestar serviços e os próceres locais o ambiente é “como se de uma família se tratasse”.
A trabalhar em Portugal há três décadas, pouco falta, o …., já cidadão luso, vem de famílias luandenses cuja antroponímia é portuguesa há várias gerações. Ele ostenta (ostenta porque faz alarde disso) quatro nomes com dois de aristocráticos, digamos, pelo meio. Vive feliz em Portugal e vai mandar vir família. “Há racismo?”, perguntei-lhe. “Nada disso. O racismo dos bairros da periferia de Lisboa, e vivi em vários, é racismo dos pretos. Se um preto arranja uma branca os outros logo querem lixá-lo, porque têm inveja”.
Foi precisamente há dois dias que me esclareceu devidamente sobre este e muitos outros aspectos, quando jantávamos no hotel para o qual o convidei. O que deve a Portugal e aos portugueses, confessa, é imenso e “a Guarda é uma terra de gente excelente, do padre ao patrão, do médico ao técnico, do dono do talho ao empreiteiro, ao…”.
Por mim ganhei um amigo – e não vou deixar de cultivar esta amizade. Lembra-me um almoço que, em Agosto passado, tive, num restaurante da Borgonha ou Franco-Condado, com um motorista TIR alemão. Ensinou-me sobre a Europa e como se faz o transporte rodoviário de bens os mais opulentos através do continente.
Como se tem o desplante de insistir tão acintosamente contra a escravatura – por mais repelente que seja; e é – quando se ignora ou oculta que “tribos africanas chegaram a negociar regularmente os cadáveres”? (pág. 29, op. cit.). Que não culpem os portugueses pela sua missão civilizadora – e missão a que emocionante nível! – porque os lusíadas – sem embargo de todos os seus defeitos – são enformados por um Cristianismo assaz radical e longevo.
O objectivo dos lusos foi a dilatação da fé e do império, a busca de cristãos e da pimenta – olhe-se para Goa –, mas os holandeses recusavam-se a levar missionários para o Cabo, porque tão-só o comércio lhes importava. Quando levaram uma religião instituíram a segregação racial. Sobre o notável serviço prestado a África pelos portugueses e outros europeus, é melhor calarem as críticas.
O despovoamento negro não só é anterior à chegada dos caucasianos à África como se deve aos brancos, talvez, a não extinção da raça negra e – sobretudo – o seu florescimento. Fascista é um tal texto que faz emergir sentimentos de repugnância – e o fascismo, como já aqui o escrevi contra essa inqualificável figura que é Vasco Lourenço, é a força do irracional emergente.
Deixo para o fim o ressentimento que o enforma. Ao afirmá-lo – tão eloquentemente – o que os autores nos dizem, ademais, é que estão aprisionados pelo Passado, que atraem a infelicidade e a doença sobre si próprios, que não têm como escapar à auto-punição. Perdoem, se for o caso; e vão-se tornando sabedores.
A educação é uma primorosa porta para a inteligência e, antes disso, para as adequadas emoções. Os que estão convencidos que o Futuro é o seu presente estão destituídos de optimismo e posteridade. Falar com eles só com um sorriso. É a longo prazo – e só a longo prazo – que as coisas se passam.
Em suma: educação é amor e espiritualidade.
Guarda, 25-IX-2018
O DIABO(Lisboa) – 02.10.2018
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