O Governo vem denotando inclinação cada vez mais nítida pela opção militar na sua atitude face à actual crise político- -militar. A tónica da “abertura ao diálogo” presente no discurso do Presidente, Armando Guebuza, é considerada ilusória e calculística: ocultar/confundir a opção militar, servir de “margem de recuo” em caso de fracasso. Factos novos ou reforçados, considerados ilustrativos da opção militar: - Acentuou-se o pendor ofensivo/iniciativa operacional das acções das FADM. - Aumentou o grau de prontidão com que as necessidades de aprovisionamento logístico das FADM são atendidas pelo Governo. - O SISE passou a concentrar a sua acção de pesquisa na recolha de informação de interesse militar. - Surgiram rumores internos, considerados “pertinentes”, segundo os quais terá sido solicitada cooperação militar específi ca de países vizinhos. Em meios internacionais de intelligence atentos à actual crise em Moçambique são considerados “verifi cados” dados segundo os quais a opção militar tem por alvo a eliminação física de Afonso Dhlakama, líder da Renamo. Entre os adeptos de tal desfecho predominam chefes militares e a ala mais jovem do gabinete presidencial. No que concerne aos militares é especialmente apontado o actual CEMGFA, Gen Graça Chongo, uma fi gura considerada apagada (AM 771), que veria num tal sucesso uma oportunidade de afi rmação. Entre os jovens do gabinete presidencial avulta o porta- voz, Edson Macuácua (acção concentrada na imprensa e jornalistas). 2 . Em sectores chave da sociedade – alas do regime adversas a A. Guebuza; oposição partidária; organizações; igrejas e meios intelectuais, incluindo imprensa; mas também na população – há a percepção de que a opção militar visa enfraquecer a Renamo, mas também “reforçar” a contestada liderança de A. Guebuza e sua ala. A análise respectiva é a de que, por via de uma bem sucedida demonstração de força para “pôr a Renamo na ordem”, A. Guebuza capitalizará politicamente e em termos de infl uência tendo em vista: - Ganhar ascendente sobre a infl uente ala que o contesta na Frelimo, votando-a assim a um estado de isolamento. - Resolver em conformidade com os seus interesses a questão presidencial; eventualmente lançando a candidatura de sua esposa, Maria da Luz Guebuza. Há a ideia de que A. Guebuza sempre deu preferência a uma solução militar (AM 790), por ver na mesma virtualidades que lhe permitiriam resolver a seu contento os chamados “factores internos adversos”. Ao contrário, uma solução política, por defi nição baseada em concessões à Renamo, agravaria os referidos factores. As concessões a que a Renamo condicionou um compromisso – recenseamento eleitoral credível; composição paritária da CNE – aumentariam a exposição da Frelimo a futuros reveses eleitorais; as irregularidades em que até agora se basearam as vitórias seriam menos possíveis. Um tal cenário fragilizaria A. Guebuza perante seus adversários. A ala interna que contesta A. Guebuza é animada por históricos da Frelimo, alguns dos quais como Sérgio Vieira, Jorge Rebelo e Óscar Monteiro, foram seus apoiantes da sua ascensão a SG do partido e, depois, da sua candidatura presidencial. Juntam-se fi guras prestigiadas como Marcelino dos Santos e Graça Machel. O “protagonismo” adverso a A. Guebuza dos históricos tem dado azo a reacções internamente consideradas “divisionistas”, devido à sua inspiração racial ou tribal. É corrente que tais reacções são patrocinadas por funcionários do círculo presidencial com infl uências na imprensa que as veicula (Domingo, em especial). 3 . A ocupação de Satunjira, pelas FADM, 21.Out, representou uma escalada militar das tensões face à qual o Governo, conforme suas próprias análises, só deverá recuar em duas circunstâncias: - Circunstâncias naturais: porque obteve em campanha clara vantagem sobre a Renamo. - Circunstâncias de contingência: para controlar efeitos negativos de um insucesso e/ou previsões fundadas de ocorrência do mesmo. Esta visão das coisas por parte de A. Guebuza é considerada decorrente de evidências entre as quais avulta a impopularidade de que goza, agora largamente alimentada pela ideia de que pôs em perigo a paz no país – um cenário merecedor de notório repúdio numa população ainda com memória da guerra. A impopularidade de A. Guebuza é de fácil apreensão na presente realidade social política do país. Na chamada vox populi, em especial nos transportes públicos, é o tópico dominante; o fenómeno reproduz a linha crítica em relação a A. Guebuza que a imprensa não ofi cial deixa transparecer. Na medição da importância social e política das críticas internas a A. Guebuza é considerado o facto de congregar personalidades políticas da Frelimo, Renamo e MDM e independentes – razão pela qual se diz que se trata de uma “união nacional”. A sociedade civil organizada é igualmente contundente. A. Guebuza foi o “alvo mais presente” das manifestações anti- -governamentais (AM 793), de 31.Out, Maputo, Beira e Quelimane. É visto como responsável pela crise político-militar e pela criminalidade (raptos) em Maputo. De forma discreta altos funcionários governamentais tentaram impedir as manifestações. (Áfricamonitor i
Wednesday, August 29, 2018
Savana 08-11-2013 - Opção militar para enfraquecer Renamo e isolar oposição in
O Governo vem denotando inclinação cada vez mais nítida pela opção militar na sua atitude face à actual crise político- -militar. A tónica da “abertura ao diálogo” presente no discurso do Presidente, Armando Guebuza, é considerada ilusória e calculística: ocultar/confundir a opção militar, servir de “margem de recuo” em caso de fracasso. Factos novos ou reforçados, considerados ilustrativos da opção militar: - Acentuou-se o pendor ofensivo/iniciativa operacional das acções das FADM. - Aumentou o grau de prontidão com que as necessidades de aprovisionamento logístico das FADM são atendidas pelo Governo. - O SISE passou a concentrar a sua acção de pesquisa na recolha de informação de interesse militar. - Surgiram rumores internos, considerados “pertinentes”, segundo os quais terá sido solicitada cooperação militar específi ca de países vizinhos. Em meios internacionais de intelligence atentos à actual crise em Moçambique são considerados “verifi cados” dados segundo os quais a opção militar tem por alvo a eliminação física de Afonso Dhlakama, líder da Renamo. Entre os adeptos de tal desfecho predominam chefes militares e a ala mais jovem do gabinete presidencial. No que concerne aos militares é especialmente apontado o actual CEMGFA, Gen Graça Chongo, uma fi gura considerada apagada (AM 771), que veria num tal sucesso uma oportunidade de afi rmação. Entre os jovens do gabinete presidencial avulta o porta- voz, Edson Macuácua (acção concentrada na imprensa e jornalistas). 2 . Em sectores chave da sociedade – alas do regime adversas a A. Guebuza; oposição partidária; organizações; igrejas e meios intelectuais, incluindo imprensa; mas também na população – há a percepção de que a opção militar visa enfraquecer a Renamo, mas também “reforçar” a contestada liderança de A. Guebuza e sua ala. A análise respectiva é a de que, por via de uma bem sucedida demonstração de força para “pôr a Renamo na ordem”, A. Guebuza capitalizará politicamente e em termos de infl uência tendo em vista: - Ganhar ascendente sobre a infl uente ala que o contesta na Frelimo, votando-a assim a um estado de isolamento. - Resolver em conformidade com os seus interesses a questão presidencial; eventualmente lançando a candidatura de sua esposa, Maria da Luz Guebuza. Há a ideia de que A. Guebuza sempre deu preferência a uma solução militar (AM 790), por ver na mesma virtualidades que lhe permitiriam resolver a seu contento os chamados “factores internos adversos”. Ao contrário, uma solução política, por defi nição baseada em concessões à Renamo, agravaria os referidos factores. As concessões a que a Renamo condicionou um compromisso – recenseamento eleitoral credível; composição paritária da CNE – aumentariam a exposição da Frelimo a futuros reveses eleitorais; as irregularidades em que até agora se basearam as vitórias seriam menos possíveis. Um tal cenário fragilizaria A. Guebuza perante seus adversários. A ala interna que contesta A. Guebuza é animada por históricos da Frelimo, alguns dos quais como Sérgio Vieira, Jorge Rebelo e Óscar Monteiro, foram seus apoiantes da sua ascensão a SG do partido e, depois, da sua candidatura presidencial. Juntam-se fi guras prestigiadas como Marcelino dos Santos e Graça Machel. O “protagonismo” adverso a A. Guebuza dos históricos tem dado azo a reacções internamente consideradas “divisionistas”, devido à sua inspiração racial ou tribal. É corrente que tais reacções são patrocinadas por funcionários do círculo presidencial com infl uências na imprensa que as veicula (Domingo, em especial). 3 . A ocupação de Satunjira, pelas FADM, 21.Out, representou uma escalada militar das tensões face à qual o Governo, conforme suas próprias análises, só deverá recuar em duas circunstâncias: - Circunstâncias naturais: porque obteve em campanha clara vantagem sobre a Renamo. - Circunstâncias de contingência: para controlar efeitos negativos de um insucesso e/ou previsões fundadas de ocorrência do mesmo. Esta visão das coisas por parte de A. Guebuza é considerada decorrente de evidências entre as quais avulta a impopularidade de que goza, agora largamente alimentada pela ideia de que pôs em perigo a paz no país – um cenário merecedor de notório repúdio numa população ainda com memória da guerra. A impopularidade de A. Guebuza é de fácil apreensão na presente realidade social política do país. Na chamada vox populi, em especial nos transportes públicos, é o tópico dominante; o fenómeno reproduz a linha crítica em relação a A. Guebuza que a imprensa não ofi cial deixa transparecer. Na medição da importância social e política das críticas internas a A. Guebuza é considerado o facto de congregar personalidades políticas da Frelimo, Renamo e MDM e independentes – razão pela qual se diz que se trata de uma “união nacional”. A sociedade civil organizada é igualmente contundente. A. Guebuza foi o “alvo mais presente” das manifestações anti- -governamentais (AM 793), de 31.Out, Maputo, Beira e Quelimane. É visto como responsável pela crise político-militar e pela criminalidade (raptos) em Maputo. De forma discreta altos funcionários governamentais tentaram impedir as manifestações. (Áfricamonitor i
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