Precisa-se, urgentemente, vacina contra o ódio na sociedade Moçambicana.
Há um discurso de ódio, de intolerância, de desrespeito pelas peasoas, uma mentalidade de infalibilidade e de direito divino ao poder, um crer na omnipotência, uma mercadorização da politica e dos valores éticos, que têm de acabar. Levados ao extremo, criam e, como diz Roberto Tibana num outro debate noutro local, albergam assassinos.
Para impermeabilizar a Frelimo, ou qualquer outra organização, contra a infiltração por assassinos e psicopatas, contra ambiciosos sem escrúpulos para quem o vale tudo é tudo o que vale, é preciso mudar muita coisa no discurso e na prática, nas ideias e na cultura. Quando a estratégia, a táctica, a linguagem, a mentalidade e a prática toleradas são de guerra (esmagar, asfixiar, não dar espaço, destruir, governar mil anos, inimigos, traidores, etc,) o terreno está a ser fertilizado para psicopatas ambiciosos ganharem protagonismo e poder.
Está a circular um texto de um dito prof que, no limite, faz a apologia do assassinato do Júnior e da sua madrasta, insinuando, até, que o pai do Júnior foi assassinado pelos seus pares. O indivíduo em causa está a fazer um ode à violência, ao ódio, ao racismo, à xenofobia, à homofobia, à intolerância extremas há 4 anos, em nome da Frelimo. Já se fez protegido de Guebuza e agora faz-se protegido de Nyusi, provavelmente à revelia destes. À medida que sobe no rank da organização, o seu discurso piora e está cada vez mais descontrolado. Tem sido muito criticado por muita gente, incluindo por muitos membros da Frelimo. A mais recente denúncia vem num post de Gabriel Muthisse, que aconselho que sigam. Mas a organização, a Frelimo, nunca se demarcou dele, até aqui, e ele tem-se estabelecido internamente. Porquê? Será que há quem pense que gente desta é necessária para certos trabalhos? É isto que, como diz o Tibana, cria a ideia que a Frelimo alberga assassinos mesmo que não seja uma organização de assassinos?
A denúncia feita por Gabriel Muthisse mostra que os factos são conhecidos e algumas pessoas no seio da Frelimo os repudiam completamente. Mas, até aqui, pelo menos tanto quanto eu saiba, a Frelimo como instituição ainda não se demarcou publicamente destes discursos nem abriu um processo legal contra os indivíduos em causa, que até fazem a apologia do assassinato de membros da Frelimo. Será isto evidência de que no seu seio há indivíduos que não vêem nenhum problema na táctica do vale tudo?
Este discurso de apelo ao ódio como manifestação máxima de lealdade e do poder está presente na política e na economia (por exemplo, na expropriação de terras, no assassinato dos seus ocupantes, empurrando famílias para a informalidade e a ilegalidade, violando as suas mulheres, tudo em nome do progresso e do grande investimento modernizador). Hoje é um dito professor ou um dito comunicador que incitam a violência física contra um membro que não seguiu a disciplina interna e decidiu, pela sua consciência e vontade, criar uma alternativa eleitoral. Amanhã é esse membro ou outro que incita, pratica, deixa praticar ou justifica violência extrema contra famílias camponesas que têm o azar de habitarem por cima de recursos minerais valiosos. Depois de amanhã é um grupo que rapta e espanca ou baleia um analista independente ou oposicionista, ou assassina um jurista ou outro cidadão por causa das suas convicções. No dia seguinte é alguém que discorda da ordem constitucional e desata aos tiros até ser ouvido, descentralizado, desmobilizado e reintegrado, e dado o poder de nomear democraticamente. E assim por diante.
Tudo isto tem de acabar. Para realmente se demarcar de um discurso de ódio político contra um dos seus membros, a Frelimo e todas as outras organizações têm de se demarcar de todo o discurso de ódio, de poder e de controlo sobre os outros, e de recurso à violência como primeira alternativa de quem tem mais poder para exercer o controlo sobre todas as esferas da sociedade. Ou vamos correr o risco de normalizar o ódio e a violência como cultura, método e prática económica, política e social, e a sua denúncia exigirá cada vez mais coragem e será cada vez mais confinada a actos isolados.
Temos de ir muito mais longe do que repetir o discurso mole da tolerância, que coabita com a mentalidade de omnipotência e com a prática de exclusão e ódio.
A questão não é tolerância, mas igualdade. Somos socialmente iguais e temos direitos iguais mesmo sendo humanamente e politicamente diferentes. Ninguém deve ter o poder para escolher ser tolerante (como se fosse superior mas, por razões morais ética tolera os outros) ou odiar. Ou somos iguais, com direitos iguais, com liberdades iguais, ou estamos a construir uma farsa constitucionalmente articulada como democracia que cresce em cima de um barril de pólvora. Assim não dá.
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