Partilho abaixo a notícia sobre os 100 mil hectares que uma empresa tailandesa tem interesse em ter em Moçambique.
Trago a notícia para que cada um possa ler e ajuizar por si próprio. Quero me redimir pelo facto ter questionado o investimento, no sentido de pretendia plantar árvores e ir processar no seu país. De facto a tal empresa, caso a produção dê certo, vai por uma fábrica em Moçambique.
Contudo, mantenho os meus questionamentos sobre o apoio ao projecto, considerando que vai ocupar extensas áreas para monocultura e que cultura!, agravado pelo facto de não termos terra disponível para 100 mil hectares.
A bola está do lado do Governo, que deverá ter discernimento na hora de aprovar o projecto.
A quem se possa ter sentido afectado pelo post, as minhas humildes desculpas.
Em contramãoII
Depois do post de ontem, sobre a requisição, pela Tailândia, dos 100 mil hectares de terra para plantio de árvores para produção de papel, houve um debate interessante que gostaria de alargar.
1. De onde vamos retirar tanta terra para dar aos tailandeses? 100 mil hectares é MUITA terra. Só pelos aproximadamente 7 mil hectares que os americanos e italianos da Anadarko e Eni solicitaram para a planta de liquefacção de gás natural, nos batemos tanto.
2. O meu amigo Nuno Castelo-Branco trouxe ao debate o facto de “os eucaliptos e pinheiros serem a fonte inesgotável para vários tipos de desgraça: incêndios e usura brutal dos solos, desaparecimento de toda a fauna - que já está no lindo estado que sabemos -, etc. Os thais querem produzir pasta de papel? Plantem então esse tipo de árvores na Tailândia, a ver se gostam ou se os camponeses os deixarão fazer isso Lembro-me muito bem de ao fim da antiga Rua do Clube, na Namaacha, existir um pequeno eucaliptal onde por vezes ia brincar com o meu irmão e amigos. Gostava do cheiro e não sei quem o plantou. Era pequeno, talvez decorativo mas sem qualquer impacto ecológico. O eucalipto é uma árvore típica de um nicho bem preciso neste planeta, sendo um desastre para quem ouse incluí-lo na sua flora”.
3. Por sua vez, a minha amiga Afifa Taquidir trouxe a proposta de debate sobre a relacao Eucalipto e Água: “Segundo a pesquisa do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), uma única de 3 anos de eucalipto ‘bebe’ 20 litros de água por dia. Durante os anos seguintes, o consumo aumenta exponencialmente e com a idade de 20 a árvore vai ‘beber’ de 200 litros por dia. Usando o valor mais baixo (20 litros), isso significa que uma única árvore vai consumir 7.300 litros de água por ano e que durante esse mesmo tempo uma plantação típica (1100 árvores / hectare) irá consumir 8.030 mil litros de água por hectare / ano. De notar que, 100.000 hectares são 200 Campos de futebol . Toda a área adjacente ficará sem água nem para agricultura ou animais. Se limitarem-se só ao plantio e exportação do eucalipto, e se soubermos negociar será uma mais valia com a contrapartida de nos sacar os lençóis freáticos. Fábrica de papel será poluição de lençóis freáticos e consequentemente rios. já estamos com problemas de agua no Sul de África. Não aceleremos a seca.”
Chegados aqui, volto a perguntar, que tipo de investimentos queremos? Quais são os pressupostos para aprovar os projectos. De lembrar que estamos a aprovar um projecto quedemanda terra de 3 províncias (o pro-savana).
Depois do post de ontem, sobre a requisição, pela Tailândia, dos 100 mil hectares de terra para plantio de árvores para produção de papel, houve um debate interessante que gostaria de alargar.
1. De onde vamos retirar tanta terra para dar aos tailandeses? 100 mil hectares é MUITA terra. Só pelos aproximadamente 7 mil hectares que os americanos e italianos da Anadarko e Eni solicitaram para a planta de liquefacção de gás natural, nos batemos tanto.
2. O meu amigo Nuno Castelo-Branco trouxe ao debate o facto de “os eucaliptos e pinheiros serem a fonte inesgotável para vários tipos de desgraça: incêndios e usura brutal dos solos, desaparecimento de toda a fauna - que já está no lindo estado que sabemos -, etc. Os thais querem produzir pasta de papel? Plantem então esse tipo de árvores na Tailândia, a ver se gostam ou se os camponeses os deixarão fazer isso Lembro-me muito bem de ao fim da antiga Rua do Clube, na Namaacha, existir um pequeno eucaliptal onde por vezes ia brincar com o meu irmão e amigos. Gostava do cheiro e não sei quem o plantou. Era pequeno, talvez decorativo mas sem qualquer impacto ecológico. O eucalipto é uma árvore típica de um nicho bem preciso neste planeta, sendo um desastre para quem ouse incluí-lo na sua flora”.
3. Por sua vez, a minha amiga Afifa Taquidir trouxe a proposta de debate sobre a relacao Eucalipto e Água: “Segundo a pesquisa do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), uma única de 3 anos de eucalipto ‘bebe’ 20 litros de água por dia. Durante os anos seguintes, o consumo aumenta exponencialmente e com a idade de 20 a árvore vai ‘beber’ de 200 litros por dia. Usando o valor mais baixo (20 litros), isso significa que uma única árvore vai consumir 7.300 litros de água por ano e que durante esse mesmo tempo uma plantação típica (1100 árvores / hectare) irá consumir 8.030 mil litros de água por hectare / ano. De notar que, 100.000 hectares são 200 Campos de futebol . Toda a área adjacente ficará sem água nem para agricultura ou animais. Se limitarem-se só ao plantio e exportação do eucalipto, e se soubermos negociar será uma mais valia com a contrapartida de nos sacar os lençóis freáticos. Fábrica de papel será poluição de lençóis freáticos e consequentemente rios. já estamos com problemas de agua no Sul de África. Não aceleremos a seca.”
Chegados aqui, volto a perguntar, que tipo de investimentos queremos? Quais são os pressupostos para aprovar os projectos. De lembrar que estamos a aprovar um projecto quedemanda terra de 3 províncias (o pro-savana).
Aberta a discussões
Em contramão!!
A Secretária Permanente do Ministério do Comércio da Tailândia está em Moçambique e, no encontro com o Sector Privado, a CTA, disse que precisava de 100 mil hectares de terra (sim, 100 mil. Tudo isso!) para o plantio de árvores para alimentar a sua indústria papeleira. Em seguida, o Sr da CTA diligentemente veio dizer que vão fazer todo esforço para ajudar a Tailândia a alcançar os seus objectivos, portanto, permitindo o país atrair esse investimento (quanto mesmo?).
Pode parecer que soa bem dizer que “vamos atrair esse investimento” para o país. Mas não soa, do todo bem. Moçambique, em particular, e África, em geral, já não são a mesma coisa e, por isso, já não podem aceitar qualquer investimento. Não podemos continuar a ser uma terra de onde os fulanos retiram para irem processar nos seus países. Queremos ser onde eles produzem, processam pagam impostos e geram empregos, que os precisamos aos montes.
Acho muito curioso e estranhissimo, um sector privado que se queixa de falta de oportunidades de negócio, querer entregar terra para ser utilizada para plantar árvores que depois vão em bruto ser exportadas para outro país, deixando quase nada aqui. A luta diligente deveria ser no sentido de dizer aos tailandeses: vamos ajudar-vos, sim, mas queremos, em contrapartida, uma fábrica de papel aqui. Quem não usa papel aqui? O mercado da SADC não precisa de papel?
A CTA na verdade só está a verbaizar o pensamento de um país sem agenda concreta de desenvolvimento, que pensa que ser bom parceiro, ser atractivo, é dar tudo de bandeja, que não sabe tirar benefício do contexto e muito menos do facto de ter recursos de que muitos precisam.
Os grafites valorizaram extraordinariamente no mercado internacional por causa da indústria de baterias para automóveis. Temos várias minas de grafite, pelo menos duas em exploração e tudo vai para fora. Entretanto, compramos baterias de segunda-mão!
Pode parecer que soa bem dizer que “vamos atrair esse investimento” para o país. Mas não soa, do todo bem. Moçambique, em particular, e África, em geral, já não são a mesma coisa e, por isso, já não podem aceitar qualquer investimento. Não podemos continuar a ser uma terra de onde os fulanos retiram para irem processar nos seus países. Queremos ser onde eles produzem, processam pagam impostos e geram empregos, que os precisamos aos montes.
Acho muito curioso e estranhissimo, um sector privado que se queixa de falta de oportunidades de negócio, querer entregar terra para ser utilizada para plantar árvores que depois vão em bruto ser exportadas para outro país, deixando quase nada aqui. A luta diligente deveria ser no sentido de dizer aos tailandeses: vamos ajudar-vos, sim, mas queremos, em contrapartida, uma fábrica de papel aqui. Quem não usa papel aqui? O mercado da SADC não precisa de papel?
A CTA na verdade só está a verbaizar o pensamento de um país sem agenda concreta de desenvolvimento, que pensa que ser bom parceiro, ser atractivo, é dar tudo de bandeja, que não sabe tirar benefício do contexto e muito menos do facto de ter recursos de que muitos precisam.
Os grafites valorizaram extraordinariamente no mercado internacional por causa da indústria de baterias para automóveis. Temos várias minas de grafite, pelo menos duas em exploração e tudo vai para fora. Entretanto, compramos baterias de segunda-mão!
Por favor, senhores. Acordem! Boladas só dão benefício de muito curto prazo e não garantem sustentabilidade, quer para os vossos bolsos, quer para o país. Ajudem o país e ao povo a crescerem, que vocês crescerão também.
Obrigada
Obrigada
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