Lula da Silva já foi preso.
No auge das greves da década de 1980, consideradas ilegais pela ditadura, Lula e outros sindicalistas foram parar à prisão durante um mês. A polícia chegou de madrugada a sua casa, para o prender, e a sua mãe morreu enquanto ele estava encarcerado.
A ordem de prisão ao antigo Presidente brasileiro Lula da Silva foi emitida quinta-feira, por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas Lula já disse que não faz tenções de se entregar à polícia em Curitiba. A concretizar-se a ordem, esta não será a primeira vez que Lula da Silva estará preso: o mesmo já aconteceu em Abril de 1980, 38 anos antes desta sentença.
Para perceber as razões que levaram Lula à prisão é preciso recuar bastante. Corria a década de 1970 quando o brasileiro foi eleito líder do Sindicato dos Metalúrgicos do estado de São Paulo (onde o antigo Presidente está agora), tendo liderado várias paralisações nessa altura – mas, em plena ditadura militar, estas greves eram consideradas ilegais.
No início de Abril de 1980, começou a greve que paralisou 140 mil metalúrgicos que pediam aumentos de salários e melhores condições laborais. A greve foi amplamente publicitada e foram distribuídos panfletos, cartazes e boletins pelas ruas, mas o Tribunal Regional do Trabalho brasileiro acabaria por declarar a paralisação ilegal. E, ao 17.º dia de greve, foi decretada prisão preventiva para Lula e outros 16 sindicalistas.
Lula só ficou a saber disso às 6h, quando três carros da polícia estacionaram diante da sua casa e os agentes bateram à porta, e gritaram: “Luiz Inácio! Abra essa porta!”.
Na altura, Marisa Lula da Silva – a mulher daquele que viria a ser Presidente e que morreu no ano passado – “temia que a polícia invadisse sua casa e promovesse um massacre ali dentro, na frente das crianças”, segundo escreveu a biógrafa de Lula, Denise Paraná. Os agentes entraram, armados, e Lula foi levado. Segundo a BBC, a prisão de Lula e dos seus companheiros foi ordenada sem mandado e não se sabia exactamente quais os crimes de que estavam acusados ou quanto tempo poderiam permanecer detidos.
Lula da Silva foi então levado para o Departamento de Ordem Política e Social (conhecido por DOPS), onde ficaria por 31 dias juntamente com outros companheiros do sindicato, incluindo os advogados Dalmo Dallari e José Carlos Dias. Na prisão, fez greve de fome durante seis dias.
A sua mãe, Eurídice Ferreira de Melo (mais conhecida como Dona Lindu), morreu a 12 de Maio, na sequência de um cancro. Lula pôde sair da prisão, escoltado, para ir ao funeral. Das centenas de pessoas que estiveram presentes, houve quem tentasse impedir o seu regresso à prisão, mas Lula sabia que era mais prudente voltar.
Mesmo atrás das grades, Luiz Inácio Lula da Silva continuou a comandar uma das maiores greves no sector. A ligação de Lula ao sector metalúrgico vinha do seu primeiro emprego, em 1960, como aprendiz de torneiro mecânico.
Num depoimento, Lula viria a dizer que a sua ordem de prisão foi uma “burrice”: “O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar”, afirmou.
O nascimento do Partido dos Trabalhadores
Foi no auge dessas greves que surgiu a ideia de criar um partido operário. Em Fevereiro de 1980, foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo. Muitos dos que assistiram à cerimónia eram sindicalistas, trotskistas, estudantes, líderes de movimentos sociais, católicos progressistas e intelectuais de primeira linha, como Sérgio Buarque de Hollanda (pai de Chico Buarque). A ideia era criar um partido “de baixo para cima”, como defendia Lula.
Ao sair da prisão, em Maio, Lula foi eleito o primeiro presidente do PT. Só dois anos depois é que o Tribunal Superior Eleitoral reconheceu oficialmente o partido.
Passado pouco tempo, ainda em Maio, a prisão de Lula foi revogada. Um ano depois de ser libertado, Lula e outros dez dirigentes foram condenados por “incitação à desobediência colectiva” – mas como os acusados e a defesa não apareceram em tribunal, em sinal de protesto, o julgamento acabou por ser anulado pelo Tribunal Superior Militar. Todo o processo foi por ser mais tarde arquivado pela mesma entidade judicial.
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