A maior lixeira de Maputo, do tamanho dos arranha-céus, desmorona e mata 16 pessoas |
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Escrito por Emildo Sambo em 20 Fevereiro 2018 |
Entre as duas e três horas de madrugada de uma chuva que em Maputo não caiu para além de 88.7 milímetros, ouviu-se um estrondo seguido de gritos de pedido de socorro. O luto acabava de se abater sobre Hulene, um bairro pobre que, à semelhança de vários outros da periferia ou mesmo do centro urbano, está longe de experimentar o desenvolvimento.
Numa das habitações soterradas pelo lixo, quatro pessoas da mesma família foram resgatadas sem vida. Alguns cidadãos entrevistados do @Verdade imploraram pela sua retirada daquele sítio, antes que o pior lhes aconteça também.
Trata-se de uma lixeira onde muitas famílias pobres do bairro de Hulene e da periferia buscam meios de sustento. Ali, alguns homens e mulheres, incluindo adolescentes, geraram filhos e outros morreram catando o lixo da sobrevivência.
No caso concreto das vítimas desta tragédia, elas pagaram o preço de estarem num lugar errado mas sem recursos para se instalarem noutro local seguro, pese embora o perigo que sempre esteve à espreita.
David Simango, edil do Conselho Municipal de Maputo, entidade à qual compete a gestão daquele espaço onde diariamente se depositam toneladas de lixo proveniente de quase todas as partes da urbe, confirmou à imprensa que, dos 16 óbitos, 10 são adultos e seis crianças.
Relativamente aos feridos, em número de cinco, três sãos adultos e dois menores de idade. Até ao fecho desta edição, pelo menos três sobreviventes continuam sob cuidados médicos.
A situação, diga-se caótica e chocante, exigiu a presença de várias equipas, tais como da Saúde, da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) e Serviços Nacionais de Salvação Pública (SENSAP).
Contudo, esta última estava desprovida de meios, o que deixou as famílias afectadas e os vizinhos agastados. Só mais tarde – depois de o corpo de salvação pública ter se revelado totalmente incapaz – as autoridades mandaram vir de algures uma pá escavadora para facilitar as operações de resgate.
Importa realçar, aqui e em bom tom, o adágio popular segundo o qual a “união faz a força”. Sem esforços a medir, homens e mulheres deixaram os seus afazeres, arregaçaram as mangas e, por contra própria, efectuaram escavações que se revelaram um sucesso, enquanto aqueles que se fizeram ao terreno com o intuito de ajudar se mostravam inertes dada a ausência de meios para um trabalho complexo.
O risco de aluimento do lixo permanece em Hulene, por isso, 32 famílias foram transferidas para o centro de acomodação instalado no bairro Ferroviário, disse David Simango.
A outra acção que a edilidade planeia levar a cabo rem a ver com o reassentamento de algumas pessoas que vivem nas cercanias da lixeira de Hulene, algumas das quais no passado foram atribuídas terrenos longe daquele espaço, mas, por alguma razão, regressaram.
A lixeira de Hulene, considerada um autêntico atentado à saúde pública, devia ter sido encerrada há bastante tempo. Contudo, todos os planos nesse sentido conheceram sucessivos adiamentos.
O edil ainda argumentou que “todos sabemos que a lixeira deve de ser transferida e há um aterro [de Matlhemele, na Matola] que está em processo de construção. Mas com os corpos ainda frescos discutir isso da nossa parte pode dar a ideia de que queremos nos fugir da nossa responsabilidade. Nós assumimos a responsabilidade de tudo que aconteceu, vamos dar a cara”.
Aquando do lançamento do Programa de Desenvolvimento Municipal de Maputo (PROMAPUTO II), para período 2011-2015, por exemplo, o encerramento da lixeira de Hulene, até 2014, era uma das bandeiras da edilidade.
Na verdade, o plano de fechar o espaço que hoje se transformou num dos maiores pesadelos do município de Maputo remonta há sensivelmente 10 anos, mas nunca passou da ideia e do papel à prática.
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